Opinião: Este livro prometia ter uma premissa bem interessante e quase provocante, com a ideia de uma rapariga que escrevia cartas a rapazes que amou, em jeito de despedida do que sentiu por eles - e depois as cartas são enviadas inesperadamente. Confesso que estava à espera que uma série de sarilhos loucos entrasse em cena, e apesar da história ter sido um pouco diferente das minhas expectativas, acabou por ser bastante saborosa, permitindo-me um bom bocado.
Lara Jean, a protagonista, é uma jovem que mora com o pai e as duas irmãs, tendo a mãe morrido há algum tempo. É introspectiva, retraída, caseira, inocente. Até pode ser irritante, no início, vê-la negar-se uma série de coisas, retrair-se, evitar arriscar-se, ter medo de tanta coisa. Mas é um retrato credível de alguém que viveu protegida e privilegiada, e uma bela maneira de mostrar alguma evolução da personagem ao longo do livro.
Gostei muito da família dela, e da sua dinâmica. Como a mãe morreu, a Margot, a irmã mais velha, e a Lara, a irmã do meio, acabaram por se tornar as cuidadoras e organizadoras da casa, tomando conta da irmã mais nova, a Kitty (adorei a Kitty, tão fofa), e ajudando o pai no que podem. A relação familiar é fantástica, com muito apoio e entreajuda, e cumplicidade.
Só tinha um problema: senti que a Margot era uma especie de bengala e que estava num pedestal para a Lara Jean, o que a levava no início a endeusar a irmã, não se permitindo ve-lhe defeitos, e a diminuir-se em relação a ela, o que não era saudável. Depois a situação evolui, graças ao que as cartas fazem e a Lara ganha um bocadinho mais de confiança, o que foi agradável de ler.
Quanto à questão principal das cartas, foi uma coisa bastante mais interessante do que pensei que seria, tendo em conta que o desenrolar das coisas é mais quieto e calado (ao jeito da Lara) do que esperava inicialmente. As cartas, e as paixonetas que representavam, acabavam por ser um tampão para a Lara, uma maneira de não se arriscar e tentar levar a paixoneta a outro nível; e por isso foi recompensador vê-la confrontar-se com esses sentimentos, e perceber o que realmente queria.
Dos cinco rapazes ela cruza-se com quatro, um de relance, outro é apenas um amigo, e os outros dois, bem... é complicado. Um é uma paixoneta impossível (talvez por isso a Lara a manteve tanto tempo), outro marca uma reaproximação inesperada e surpreendente, e o que começa como uma brincadeira e uma forma de lidarem com os problemas de cada um sem se magoarem acaba por dar uma certa reviravolta e obrigá-los a crescer. Não é fácil, porque há uma série de constrangimentos e coisas que precisam de ser resolvidas antes de tudo, mas já fiquei feliz por termos momentos deliciosos e podermos apreciar a aproximação, e as complicações também.
Aquele fim... céus, ainda estou a tentar perceber qual de duas hipóteses é que aquele fim representa. Que tortura! Eu preciso de saber o que a Lara Jean vai fazer a seguir! É a única coisa que me deixou menos contente com a leitura. Por um lado, é um final aberto interessante, e até podia funcionar como stand-alone, mas sabendo que há uma sequela preferia que fosse um final mais fechado, mais resolvido. Está lá representado o início da mudança para os protagonistas, mas ainda não é coisa assente, e gostaria que o tivesse sido. Por outro lado, raramente a vida é assim tão perfeitinha, por isso acaba por ser realista. Raio do fim, que me deixou dividida.
De qualquer modo, foi uma bela leitura, e fico contente por me ter aventurado nela. O estilo de Jenny Han é um estilo calmo, contemplativo, mas conseguiu apresentar uma família fantástica, lembrar que etnia é apenas mais uma coisa que somos, e não uma questão que tem de ser batalhada a cada momento (é o mundo que temos, infelizmente), criar um desenvolvimento fascinante para uma protagonista tão introvertida, e apresentar uma história doce e deliciosa.
Título original: To All the Boys I've Loved Before (2014)
Páginas: 272
Editora: Topseller
Tradução: Rui Azeredo
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