sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Uma imagem vale mil palavras: O Hobbit - A Batalha dos Cinco Exércitos (2014)

Bem, não me queria armar em espertalhona e dizer que eu bem disse, e que eu sabia, mas a verdade é que tinha uma ideia certeira ao torcer o nariz quanto a este esticanço do livro para três filmes. Com o material novo introduzido, dois teria sido o ideal; porque este terceiro filme falha um bocado em termos narrativos, e em bastar por si só.

Se visse os três filmes de seguida talvez não me fizesse diferença. Em conjunto acredito que façam uma narrativa mais coesa e satisfatória. Mas assim, a transição entre o segundo e terceiro (este) filmes é fraca. Não basta o segundo filme ter acabado numa cena extremamente anti-climática, com o Smaug a dirigir-se para a Cidade do Lago... este filme pega logo no momento a seguir.

O que é que isto quer dizer? Bem, passou um ano. O espectador médio (eu incluída) não teve oportunidade de rever o segundo filme, e não tem bem presentes as posições e preocupações dos personagens... por isso, sei lá, seria adequado um par de cenas para (re)conhecermos e nos voltarmos a preocupar com as gentes da Cidade do Lago, e o Bard e a Tauriel e os anões que por lá ficaram. Ora não há nada disso, e começamos logo em força com o dragão a bufar e a deitar fogo, e somos logo lançados na acção - não me parece um modo orgânico de começar a história.

E depois a partir daqui? Bem, o filme dá jus ao nome. Muita conversa e muita preparação para a titular batalha, e depois a dita cuja. Talvez isso me tenha feito parecer que o filme se arrastou um bocadito.

Oh, até gostei da exploração da história aos poucos, o crescendo para a batalha, mas quando chegámos às lutas em si, dei por mim às vezes a pensar "mas este tipo nunca mais morre?": no caso de Bolg e Azog, ambas as cenas duraram e duraram, e em ambos os casos bem que podiam ter sido derrotados mais cedo. (Ainda percebo o arrastar do Azog - temos de justificar a perda que inflige.)

Em certos pontos, tornou-se fácil perder o curso da batalha, quem estava aonde; e fiquei com a sensação que exageraram um pouco a seriedade da dificuldade que as coisas estavam para a equipa anões-humanos-elfos. Por muito que a chegada das águias tenha salvo as coisas, pergunto-me se elas seriam capazes de virar a batalha assim tão facilmente. Bem, em suma, aborreci-me um nadinha com tanta luta, e isto é vindo duma pessoa que adorava As Duas Torres por causa da batalha de Helm's Deep, portanto...

Bem, por outro lado, os efeitos visuais estão fantásticos, mesmo a jeito para a versão XPTO (IMAX+3D+HFR), e contribuíram para animar as cenas de batalha e manter o interesse. É algo de espantoso voltar ver as acrobacias do Legolas, ainda mais com aquela definição toda, que dão um novo ar àquela coisa de ele andar a saltar por cima das coisas (e das pessoas). As cenas do Smaug no início também estão boas, e destacaria também a apresentação de algumas das criaturas da Terra Média (minhocas gigantes! *tosse*Dune*tosse*; as montadas fabulosas dos anões e do Thranduil!), ou a cena em Dol Guldur com os Nazgûl e o Necromante.

Alias, a cena em Dol Guldur deve ser das minhas partes favoritas. É que não só temos direito ao Elrond e ao Saruman a distribuir porrada entre os Nazgûl, como também à Galadriel em modo sombrio e BAMF a tentar expulsar o Necromante. É lindo de observar.

Acho que uma das coisas que gostaria de destacar no filme e na trilogia é o desenvolvimento dos personagens e da relação entre eles, tanto o bom como o mau. Mudaram um pouco a dinâmica que o Bilbo tem com os anões, e a proeminência que tinha em certas partes; mas acabei por ficar satisfeita com o papel dele, e com o trabalho do Martin Freeman, que se revelou perfeito para o estoicismo e poder de encaixe que o Bilbo tem. Além disso, o Bilbo tem sempre as melhores tiradas.

Também acho que acabaram por trabalhar bastante bem o Thorin, um pouco diferente do livro, o que não é necessariamente mau, porque o Thorin do livro é resmungão até dizer chega, e não é difícil aceitar que tenha perdido a cabeça por causa da Arkenstone. Com esta versão do personagem podemos acompanhar uma queda de graça, e apreciar a relação que o Thorin e o Bilbo têm, e como a preocupação do Bilbo dirige a sua conduta no decorrer dos acontecimentos.

A relação que me fez alguma comichão ao longo da trilogia é o par Tauriel-Kili. Aceito o conceito e a ideia, mas a execução acabou por ser muito fraquinha. Não há momentos suficientes para o par brilhar, e o seu fim é ridículo. Bem, o da Tauriel, pelo menos. O destino do Kili é conhecido de quem tenha lido o livro; à Tauriel nem é dado qualquer tipo de fecho sobre o seu arco narrativo.

A sua última cena é uma conversa com Thranduil que explora um pouco a situação em que está, mas não esclarece nada sobre o que lhe vai acontecer daqui para a frente. A personagem é como que largada. Até acredito que o Peter Jackson tenha filmado mais qualquer coisa para ela e que a cena tenha sido cortada na edição, mas é um mau serviço feito a uma personagem que foi introduzida de propósito para o filme.

Uma pena, porque a Tauriel podia ter sido um belo comentário à atitude geral e posição dos elfos de Mirkwood, e um bom contraponto aos mesmos, mas perdeu-se no meio dum pseudo-triângulo amoroso mal amanhado. Tanto a Evangeline Lilly como o Aidan Turner mereciam um pouco mais que isto para trabalhar.

Gostei do bocadinho maior dedicado ao Thranduil, mas também a história dele não fica bem fechada, e o fantástico Lee Pace bem que podia ter mais um pouco de tempo de antena. Já o Bard é menos desenvolvido que nos livros, particularmente a sua linhagem, mas mantiveram coisas suficientes para ficar satisfeita. Também cortaram muito do Dain e da sua importância, e pelo que vi no filme era um personagem que adorava ter visto mais desenvolvido.

Em suma, estou dividida. Isto é claramente um trabalho de amor, e estou grata por poder ter visto mais da Terra Média no ecrã; no entanto, há demasiadas coisas na adaptação d'O Hobbit que me deixam frustrada. Consegui imergir na história durante partes desta trilogia, contudo não com a avidez que tinha na trilogia original.

É inútil fazer comparações com tanta distância temporal, mas é o mesmo material e fi-lo, em parte. Talvez eu já não tenha a mesma capacidade de maravilhamento, ou talvez tenha uma menor tolerância para asneiras. Talvez uma década e outros constrangimentos possam desculpar algumas coisas. De qualquer modo, seria interessante fazer o exercício de ver estes três filmes, e depois os d'O Senhor dos Anéis. (Versões extendidas à mistura.) Um dia hei de me dedicar a isso.

3 comentários:

  1. Eu gostei muito do filme :)
    Para mim é algo de inevitável, apesar das falhas ou escolhas que discordo. Também acho que três filmes, para um livro tão pequeno e de acção tão rápida, é demasiado...
    O que me chateou mesmo neste 3º filme foi a morte de Smaug. Andámos dois filmes à volta do dragão, para nos primeiros minutos arrumarem com essa questão (já para não falar que é efectivamente em torno de Smaug que acaba por andar o livro, sendo a sua derrota o ponto de viragem). Na minha opinião acabou por perder todo o seu impacto...

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    1. Acho que o único que me encheu mais as medidas foi o segundo, se excluir o final anticlimático. :P É claro que é bom voltar à Terra Média, e a minha experiência ao ver os filmes é um pouco colorida por isso (e imagino que se vir os três filmes de seguida vou gostar muito mais). Mas também é por isso que passei o tempo à espera de deixar-me encantar, e não foi coisa que aconteceu totalmente, porque tive muita dificuldade em desligar a vozinha interior crítica. xD

      É que em termos da história não faz sentido nenhum, não é? O Smaug é a modos que o endgame do livro, derrotá-lo é o climax do mesmo, e a Batalha acaba por ser uma espécie de afterthought das consequências da derrota do dragão - era tão importante para o Tolkien que o Bilbo está inconsciente durante a maior parte dela. xD

      E pronto, assim mataram a importância do Smaug, que desgraça. Com tanto esforço nos efeitos visuais do bicho, bem que podiam ter-lhe feito jus. -.-

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    2. Exactamente o que eu pensei em relação ao Smaug e à batalha!
      Se bem me lembro a batalha dos cinco exércitos é quase que meramente mencionada no livro, tal como disseste acaba por ser uma das consequências da derrota do dragão. Para além de que para uma história em que o protagonista é o Bilbo, o coitado mal apareceu neste terceiro filme :p

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