Opinião: Eu tencionava mesmo esperar pelo novo ano para ler este livro, em particular tencionava esperar pela edição semelhante às minhas outras da Rainbow, mas que se lixe, não resisti. Percebi que valia a pena aproveitar esta edição, a que chamam edição internacional, e que é bem grande e baratinha. Além disso, encaixa perfeitamente no meu mini-desafio de leituras natalícias, e tem o bónus de eu ter acabado por ler toda a obra publicada da autora este ano, por isso juntou-se o útil ao agradável.
Depois de ter a oportunidade de ler toda a sua obra, creio que uma das melhores coisas da Rainbow Rowell, possivelmente a que mais me cativa, é a maneira como ela escreve os seus personagens e as relações entre eles. Não importa o ponto em que estejam na vida, ou o tipo de problemas que enfrentam, ela escreve-os de maneira tal que é tão fácil empatizar com eles, compreender aquilo por que passam, e acompanhar a sua evolução.
É fascinante. Já tive oportunidade de acompanhar um primeiro amor e problemas familiares (Eleanor & Park), a saída da zona de conforto ao entrar para a faculdade (Fangirl), o firmar da vida adulta, entre trabalho e amor (Attachments), e agora de ler sobre um casamento em crise (este Landline). E sendo possivelmente aquele com o tema mais afastado das minhas vivências, não pude deixar de imergir na vida dos personagens, analisar as suas decisões de vida, e entender o que correu mal.
Georgie McCool é argumentista de televisão em Los Angeles, e tem finalmente a oportunidade por que tanto esperou: a de ter a sua própria série produzida. Mas isso implica que fique em LA durante o Natal, quando a família já tinha planeado visitar os pais do marido, Neal, durante as festas. Neal parte para o Nebraska com as filhas de ambos e sem Georgie, deixando-a a perguntar-se se o seu casamento não terá chegado ao fim.
Um ponto bem interessante na história é a ideia detalhada que dá da relação da Georgie e do Neal. Através de flashbacks acompanhamos o nascer da sua relação, e os pontos importantes da mesma, os altos e baixos, as suas personalidades, o que os atrai e afasta, as suas qualidades e defeitos, e é uma descrição fascinante, porque não se podem apontar dedos.
São precisos dois para dançar o tango, e um casamento é um encontro de partes a meio do caminho. Tanto um como o outro têm algum tipo de responsabilidade no caminho que tomaram e ao ponto a que chegaram. Georgie é deleixada e alheada, não só com o marido, mas também consigo própria, contudo sempre o foi, mesmo antes do casamento, assim como sempre foi trabalhólica. O Neal é um doce de pessoa, mas nunca teve objectivos claros, e é péssimo a comunicar. O resultado é este impasse que faz perguntar se o amor chega para manter estas duas pessoas juntas.
A questão do telefone "mágico" é curiosa. Não interessa tanto o como ou o porquê, apenas a maneira como afecta a Georgie no seu percurso. O telefone é apenas um meio para ela se aperceber do estado a que o seu casamento chegou, e para lembrá-la do amor que sente pelo Neal, e do bom que o casamento lhes trouxe, e para a ajudar a perceber o que fazer agora.
Depois de o Neal partir com as meninas, a Georgie não consegue perceber o que aconteceu, se acabou tudo, e por isso fica algo descontrolada, o que gera algum tipo de interacções engraçadas - com os que estão à sua volta e com o telefone. No entanto, a coisa que mais me fascinou acerca do telefone é o modo como no fim de contas aquele pequeno loop temporal acabou por encaixar perfeitamente. (Gosto muito de histórias que mexem com a linha temporal, mas tem tudo que fazer sentido.)
Dos personagens secundários, destacaria as miúdas da Georgie e do Neal, a Alice e a Noomi, que são tão fofas, particularmente a Noomi, que cumprimentava as pessoas com "miaus"; ou o Seth, o parceiro de escrita da Georgie, e um daqueles tipos que acha que é a melhor coisa do mundo, e por isso foi tão divertido vê-lo entalado numa espécie de existência Peter Pan.
Destacaria também a família da Georgie, cheia de pequenas idiossincrasias bem engraçadas - gostei especialmente da irmã Heather, que por ser tão mais nova tem uma perspectiva de vida tão diferente, e consegue mesmo assim ser uma personagem tridimensional e interessante. (E já agora, adorei o momento do parto da cadela da mãe da Georgie. Hilariante.)
Gostei bastante do fim, porque obriga a Georgie a perceber umas coisas que lhe tinham passado completamente ao lado, e porque a faz perceber o que é realmente importante, e que às vezes o "grande gesto" tem um certo peso. Não é tudo perfeito, não nos é prometido um felizes para sempre, porque a vida real não funciona assim, mas creio que o que nos é dado chega, uma vontade de fazer melhor e de fazer resultar as coisas. É tudo o que posso pedir.
Entre as pequenas coisas que me frustraram, destacaria a personalidade da Georgie. Primeiro, porque o Neal vai de férias com as miúdas, e ela começa logo a fazer um grande filme, sem saber exactamente o que é que ele tem em mente. Depois, porque ela é tal e qual um gatinho recém-nascido, é incapaz de cuidar de si própria. Não se lembra de comprar roupa nova quando precisa, não sabe cozinhar nem para se salvar, não anda com uma carteira sequer (só um cartão de crédito e a carta de condução no porta-luvas do carro, que me parece super-bizarro, mas enfim) e quando vai à aventura no fim do livro, vai completamente despreparada, e era capaz de morrer congelada se não fossem dois bons samaritanos.
O Neal também é um bocadinho frustrante por um lado por andar ali à deriva em 1998, e nunca saber bem o que quer da vida. Era um bom cartoonista, aparentemente, e tenho pena que nunca tenha tentado profissionalizar-se. Seria algo bastante compatível com a sua vida em 2013. Por outro lado, ele é mesmo introvertido, e nunca abre a boca, e é impossível perceber o que lhe vai na cabeça. Não sei se teria resultado, mas gostava que ele tivesse deitado cá para fora as suas frustrações para com a Georgie, não me parece nada saudável guardar tudo lá dentro. Suponho que já ficava contente se pudesse ler qualquer coisa do ponto de vista dele.
E falei dos bons samaritanos ali em cima: eu sabia que o livro tinha um cameo de personagens do Fangirl, mas durante a leitura e quando cheguei à parte que aparecem nem me lembrei disso. Sabia que me eram familiares, e que eram importantes de algum modo, mas só cheguei lá bem depois de terminar este livro. Sou uma esquecida. Contudo, até foi engraçado, ler essa passagem sem ideias pré-concebidas.
Em suma, é um livro delicioso, muito ao estilo da autora, e quem é fã vai provavelmente gostar, quem não conhece, também não recomendaria começar por este. (O melhor para começar mesmo é o Eleanor & Park, que por acaso até vai sair em português em Janeiro. *winkwink* Depois, talvez o Fangirl.) É uma história bastante realista, e mesmo quando os personagens me irritavam um pouco, era impossível não os compreender, ou perceber o que estavam a passar. O ponto forte da autora é escrever bem sobre os tons de cinzento que constituem a vida, e este é só mais um bom exemplo disso.
Depois de ter a oportunidade de ler toda a sua obra, creio que uma das melhores coisas da Rainbow Rowell, possivelmente a que mais me cativa, é a maneira como ela escreve os seus personagens e as relações entre eles. Não importa o ponto em que estejam na vida, ou o tipo de problemas que enfrentam, ela escreve-os de maneira tal que é tão fácil empatizar com eles, compreender aquilo por que passam, e acompanhar a sua evolução.
É fascinante. Já tive oportunidade de acompanhar um primeiro amor e problemas familiares (Eleanor & Park), a saída da zona de conforto ao entrar para a faculdade (Fangirl), o firmar da vida adulta, entre trabalho e amor (Attachments), e agora de ler sobre um casamento em crise (este Landline). E sendo possivelmente aquele com o tema mais afastado das minhas vivências, não pude deixar de imergir na vida dos personagens, analisar as suas decisões de vida, e entender o que correu mal.
Georgie McCool é argumentista de televisão em Los Angeles, e tem finalmente a oportunidade por que tanto esperou: a de ter a sua própria série produzida. Mas isso implica que fique em LA durante o Natal, quando a família já tinha planeado visitar os pais do marido, Neal, durante as festas. Neal parte para o Nebraska com as filhas de ambos e sem Georgie, deixando-a a perguntar-se se o seu casamento não terá chegado ao fim.
Um ponto bem interessante na história é a ideia detalhada que dá da relação da Georgie e do Neal. Através de flashbacks acompanhamos o nascer da sua relação, e os pontos importantes da mesma, os altos e baixos, as suas personalidades, o que os atrai e afasta, as suas qualidades e defeitos, e é uma descrição fascinante, porque não se podem apontar dedos.
São precisos dois para dançar o tango, e um casamento é um encontro de partes a meio do caminho. Tanto um como o outro têm algum tipo de responsabilidade no caminho que tomaram e ao ponto a que chegaram. Georgie é deleixada e alheada, não só com o marido, mas também consigo própria, contudo sempre o foi, mesmo antes do casamento, assim como sempre foi trabalhólica. O Neal é um doce de pessoa, mas nunca teve objectivos claros, e é péssimo a comunicar. O resultado é este impasse que faz perguntar se o amor chega para manter estas duas pessoas juntas.
A questão do telefone "mágico" é curiosa. Não interessa tanto o como ou o porquê, apenas a maneira como afecta a Georgie no seu percurso. O telefone é apenas um meio para ela se aperceber do estado a que o seu casamento chegou, e para lembrá-la do amor que sente pelo Neal, e do bom que o casamento lhes trouxe, e para a ajudar a perceber o que fazer agora.
Depois de o Neal partir com as meninas, a Georgie não consegue perceber o que aconteceu, se acabou tudo, e por isso fica algo descontrolada, o que gera algum tipo de interacções engraçadas - com os que estão à sua volta e com o telefone. No entanto, a coisa que mais me fascinou acerca do telefone é o modo como no fim de contas aquele pequeno loop temporal acabou por encaixar perfeitamente. (Gosto muito de histórias que mexem com a linha temporal, mas tem tudo que fazer sentido.)
Dos personagens secundários, destacaria as miúdas da Georgie e do Neal, a Alice e a Noomi, que são tão fofas, particularmente a Noomi, que cumprimentava as pessoas com "miaus"; ou o Seth, o parceiro de escrita da Georgie, e um daqueles tipos que acha que é a melhor coisa do mundo, e por isso foi tão divertido vê-lo entalado numa espécie de existência Peter Pan.
Destacaria também a família da Georgie, cheia de pequenas idiossincrasias bem engraçadas - gostei especialmente da irmã Heather, que por ser tão mais nova tem uma perspectiva de vida tão diferente, e consegue mesmo assim ser uma personagem tridimensional e interessante. (E já agora, adorei o momento do parto da cadela da mãe da Georgie. Hilariante.)
Gostei bastante do fim, porque obriga a Georgie a perceber umas coisas que lhe tinham passado completamente ao lado, e porque a faz perceber o que é realmente importante, e que às vezes o "grande gesto" tem um certo peso. Não é tudo perfeito, não nos é prometido um felizes para sempre, porque a vida real não funciona assim, mas creio que o que nos é dado chega, uma vontade de fazer melhor e de fazer resultar as coisas. É tudo o que posso pedir.
Entre as pequenas coisas que me frustraram, destacaria a personalidade da Georgie. Primeiro, porque o Neal vai de férias com as miúdas, e ela começa logo a fazer um grande filme, sem saber exactamente o que é que ele tem em mente. Depois, porque ela é tal e qual um gatinho recém-nascido, é incapaz de cuidar de si própria. Não se lembra de comprar roupa nova quando precisa, não sabe cozinhar nem para se salvar, não anda com uma carteira sequer (só um cartão de crédito e a carta de condução no porta-luvas do carro, que me parece super-bizarro, mas enfim) e quando vai à aventura no fim do livro, vai completamente despreparada, e era capaz de morrer congelada se não fossem dois bons samaritanos.
O Neal também é um bocadinho frustrante por um lado por andar ali à deriva em 1998, e nunca saber bem o que quer da vida. Era um bom cartoonista, aparentemente, e tenho pena que nunca tenha tentado profissionalizar-se. Seria algo bastante compatível com a sua vida em 2013. Por outro lado, ele é mesmo introvertido, e nunca abre a boca, e é impossível perceber o que lhe vai na cabeça. Não sei se teria resultado, mas gostava que ele tivesse deitado cá para fora as suas frustrações para com a Georgie, não me parece nada saudável guardar tudo lá dentro. Suponho que já ficava contente se pudesse ler qualquer coisa do ponto de vista dele.
E falei dos bons samaritanos ali em cima: eu sabia que o livro tinha um cameo de personagens do Fangirl, mas durante a leitura e quando cheguei à parte que aparecem nem me lembrei disso. Sabia que me eram familiares, e que eram importantes de algum modo, mas só cheguei lá bem depois de terminar este livro. Sou uma esquecida. Contudo, até foi engraçado, ler essa passagem sem ideias pré-concebidas.
Em suma, é um livro delicioso, muito ao estilo da autora, e quem é fã vai provavelmente gostar, quem não conhece, também não recomendaria começar por este. (O melhor para começar mesmo é o Eleanor & Park, que por acaso até vai sair em português em Janeiro. *winkwink* Depois, talvez o Fangirl.) É uma história bastante realista, e mesmo quando os personagens me irritavam um pouco, era impossível não os compreender, ou perceber o que estavam a passar. O ponto forte da autora é escrever bem sobre os tons de cinzento que constituem a vida, e este é só mais um bom exemplo disso.
Páginas: 320
Editora: St. Martin's Press (MacMillan)
Eu adoro-a mas a Georgie consegue ser tão frustrante! por todas as razões que apontaste (fiquei horrorizada quando ela me sai de casa para apanhar o avião e nem carteira, nem casaco, nem NADA! eu nem consigo ir ali à esquina sem levar tudo atrás!!).
ResponderEliminarÉ mesmo incrível como é que a RR consegue fazer com que a gente se identifique com estas personagens mesmo que o percurso delas não tenha nada a ver com a nossa vida. Eu conseguia perceber o lado dos dois, as frustrações dos dois, a razão dos dois, e não sou casada à quase 15 anos.
Queria TANTO mais cenas com eles mais jovens, diverti-me imenso com aqueles momentos em que a Georgie ia meter conversa com o Neal enquanto ele estava a desenhar. Fazia-me lembrar a Cath e o Levi, mas com os sexos invertidos. xD Personalidades tão diferentes mas tão perfeitos um para o outro.
Esqueci-me de dizer que o Seth tirava-me do sério, ele é o típico gajo que se acha a última bolacha do pacote, que não há concorrência possível e que basta estalar os dedos e para as miúdas virem todas a correr, comprometidas ou não. Chateava-me sempre que ele se punha com graçolas em relação ao Neal, uma pessoa que ele sabia que a Georgie gostava---comportamento desprezível. >_>
EliminarCéus, a Georgie era uma tontinha, quero dizer, quem é que não vai às compras quando precisa de roupa, ou soutiens??? Aquela coisa de andar a ajeitar o arame do soutien não faz sentido nenhum. xD
EliminarPois, isso é que foi fascinante, achei que um casamento em crise não fosse nada que me atraísse, mas deu para perceber tão bem os dois lados, como é que as coisas correram mal...
Bem, acho que o que gostava mesmo é o tempo em que eles eram jovens, mas pela perspectiva do Neal. Nunca lhe conseguimos entrar na cabeça, o rapaz é muito discreto. xD
Loool, o Seth era uma boa peça, era. Acho que ele esteve o tempo todo, quando eram novos, a meter-se com todas as miúdas que podia e a aproveitar-se do fascínio da Georgie, pensando que quando lhe desse na telha, a conseguia conquistar sem problema. Só que o Neal apareceu em cena, ela apanhou outro comboio, e as picardias dele com o Neal eram por causa disso, de algum ciúme e inveja. Bem feita, todo armado em bom, a Georgie com problemas, e ele acha que é a melhor altura para revelar que gosta dela. -.- Só não lhe liguei mais porque dava para perceber que era inócuo e que a Georgie só tinha olhos para o Neal. :D
Estou a ler agora o meu primeiro livro de Rainbow Rowell, Fangirl, e estou a adorar. Já andava com esta escritora na minha wishlist há imenso tempo, e acho que a seguir vou ler os restantes livros publicados. Ainda me conseguiste deixar com mais vontade. :P Beijinhos
ResponderEliminarQue bom, mais uma fã da autora. :D Ela tem um jeitinho fantástico para nos encantar, fico contente que te tenhas atrevido a experimentar, e ainda bem que te agradou. ;)
EliminarEu recomendaria deixares este para o fim, é o livro com temas mais "adultos", e imagino que seja mais agradável de ler quando já se está à vontade com a autora... mas quando lhe chegares, vais ter uma bela surpresa, sob a aparição de um parzinho adorável do Fangirl. ^_^
Beijinhos e boas leituras. :)