segunda-feira, 26 de maio de 2014

Era uma vez...: Days of Blood and Starlight, Laini Taylor


Opinião: Vou fazer esta opinião em jeito de nova rubrica, uma em que recapturo um livro que já li há algum tempo e que, por uma razão ou outra, não cheguei a comentar aqui no blogue, o que não é muito comum, mas acontece. No caso presente, Days of Blood and Starlight de Laini Taylor. Li-o há qualquer coisa como ano e meio, na altura em que fiz uma pausa aqui no blogue - houve um ou outro livro dessa época que ficou por opinar, e curiosamente até foram dos bons. Mas ainda tenho as notas que fiz acerca do livro na altura, e voltei a folheá-lo para rever os pontos e as partes importantes, e sendo assim sinto-me apta a fazer uma opinião em condições, que o livro merece.

Acho que a primeira coisa que tenho a dizer é que a autora nunca vai pelo caminho mais óbvio. Já não me recordo o que pensei que ela ia fazer quando terminei o primeiro livro, Daughter of Smoke and Bone, mas de certeza que não era isto. A sua imaginação e o modo como tece a narrativa é qualquer coisa de fabuloso, e usando uma prosa lírica e lindíssima, consegue fazer com que nada na história pareça supérfluo; e melhor ainda, consegue transmitir coisas e temas profundos e emocionais e que dão que pensar e que me deixam maravilhada com o modo como ela consegue construir uma tapeçaria tão bem feita e tão harmoniosa.

Focando-me na protagonista, Karou, é quase doloroso pensar no percurso dela durante a história, porque está carregado de culpa, grande parte dela infundada, mas que a leva a, digamos, vender a alma ao Diabo e fazer coisas que podem não ir propriamente de encontro ao seu código moral - e a Karou fá-las na mesma, em jeito de penitência por se ter atrevido a sonhar com um mundo diferente, quem sabe melhor que o que conhece. O seu envolvimento com os chimaera é um pormenor muito interessante da narrativa, mas ao mesmo tempo é manchado pela manipulação de um determinado personagem. Contudo, a Karou percebe que tem de lutar para que ela e os seus possam escolher um caminho diferente daquele em que estão presentemente, e também esse esforço leva a decisões difíceis e dilemas espinhosos.

Quanto ao Akiva, está por sua vez a tentar também libertar os seus, apenas num sentido diferente, mais literal. Os "anjos" (uso esta palavra entre aspas porque são anjos em aparência, mas não anjos como os conhecemos, na concepção biblíca) são um povo guerreiro, e estão em guerra há séculos com os chimaera, todavia começam a ver-se as fendas numa muralha bem construída. Há quem questione a necessidade da brutalidade da guerra, e Akiva e os seus companheiros têm nas mãos a oportunidade para mudar as coisas, aqui também com uma certa intervenção e manipulação de personagens manhosos. E também aqui o caminho está ladrilhado com perda. Mas fico contente pelo novo caminho que os Misbegotten tentam escolher.

Creio que o que mais aprecio na história é as perguntas que a autora levanta. Como manter-se bom e justo em tempos difíceis. Como resistir à violência e à sede de vingança se é tudo o que se conhece no momento. Como evitar resvalar para a selvajaria, quando toda a esperança parece perdida. Como ganhar coragem para questionar tudo, e procurar uma alternativa. E sobretudo, como aceitar de novo a esperança quando ela parecera impossível de alcançar, quando já nem se conhece o significado da palavra.

Uma pequena grande (acho que não posso dizer pequena, que a Zuzana zanga-se) menção para a Zuzana e o Mik, que são os melhores amigos que uma heroína podia ter. São um casal absolutamente adorável, com uma química giríssima, e uns diálogos fantásticos, e até hilariantes, no caso da Zuzana. E apesar do perigo, não deixam de procurar e apoiar a Karou. São uma pequena (ups) grande lufada de ar fresco entre os chimaera, uma muito necessária. E ainda uma menção para o Ziri, um chimaera que se torna muito importante no caminho da Karou, um jovem tremendamente corajoso e com estômago para suportar fazer uma coisa terrível.

Em suma, a Laini Taylor é uma escritora fabulosa, e creio que tudo o que sai da pena computador dela é positivamente genial. Tem tudo a seu favor: uma escrita bela, um worldbuilding interessante, e uma capacidade deslumbrante para apresentar uma boa história.

Páginas: 528


Editora: Hodder & Stoughton


Lido em: Novembro de 2012

3 comentários:

  1. Fiquei muito interessado, tem todos os elementos que procuro num livro!
    Só gostava que houvesse uma edição portuguesa

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Uma vez ouvi dizer que a Porto Editora tinha os direitos para a edição portuguesa, mas se os têm, nunca fizeram nada com eles, infelizmente. :/ É uma pena, porque a série é lindíssima e a Laini Taylor uma autora bem talentosa. ;)

      Eliminar