terça-feira, 20 de maio de 2014

Looking for Alaska, John Green


Opinião: Vejo-me na estranha posição de ter de comentar um livro que deve tanto a um certo e determinado acontecimento - que eu não posso revelar qual é, por ser a modos que um spoiler, ainda que quem queira pode facilmente ler nas entrelinhas do título e da sinopse e perceber o que é -, um acontecimento que dirige praticamente a narrativa, e que eu não posso mencionar directamente por essa razão. É muito estranho, mas vamos lá ver se consigo fazê-lo.

Sendo este o meu primeiro livro do autor, compreendo agora o seu apelo. John Green escreve de uma maneira muito honesta sobre a experiência adolescente, de maneira que senti como real, ainda que não tenha passado pelo mesmo que os personagens. E mais, escreve duma maneira bastante inteligente, sem ser pretensiosa, contemplativa, sem ser aborrecida, e cativante, sem ser enjoativa.

Miles Halter procura algo mais que a sua curta existência lhe trouxe, e na tentativa de agitar um pouco as coisas, decide ir para um colégio interno, onde fará um grupo de amigos que vão tornar a sua vida um pouco mais interesante. Vejo que há uma série de comparações que se fazem com este livro, mas a melhor que me ocorre é O Clube dos Poetas Mortos, pela atmosfera de ambas as histórias.

Fascinou-me a conhecer estes jovens e um pouquinho mais das suas personalidades, das suas idiossincrasias. Fazem todo o tipo de erros e asneiras próprias da idade, num esforço para crescer e compreender um pouco melhor o seu mundo. Achei piada à série de partidas (a primeira não, que foi mesmo perigosa) que fazem ou de que se tornam vítimas (bem, também não sou fã daquela que deu cabo dos livros da Alaska, que crime!), e a minha favorita é a última, pela mesma razão pela qual o Eagle a apreciou.

É desconcertante para mim pensar no protagonista. Normalmente costumo ligar-me ao protagonista/narrador das histórias que leio, o que facilita a minha imersão na história, mas desta vez o Miles é tão distante da minha perspectiva que isso não aconteceu. Não que tenha impedido que goste da história, até me deu uma distância adequada para a apreciar. Mas é diferente do que estou habituada.

O Miles é totalmente choninhas, completamente afastado do protagonista ideal. É passivo, deixando que as coisas lhe aconteçam, em vez de lutar por elas. E sem ele, a história não resultava. A sua atitude quase reverencial e intocável em relação à Alaska é o que faz funcionar a segunda parte do ponto de vista narrativo. A personalidade da Alaska fica indefinida, um enigma para os rapazes, e é isso que faz funcionar o mistério que ela lhes deixa. Este grupo de rapazes não percebe nada de raparigas, e essa incompreensão perpetua o mistério e mantém o fascínio. Lembra-me um pouco de As Virgens Suicidas por esse aspecto.

E a história também é sobre luto, e continuar a viver depois de uma tragédia, e de como miúdos tão novos não merecem ter que o saber ou que o descobrir. Lembro-me de uma certa cena em que uma certa coisa é anunciada a qualquer coisa como 200 adolescentes e o resultado disso é impressionante, pela histeria, e pela falta de ferramentas para lidar com uma tal revelação. É um pouco assustador, até. Mas também triste.

Creio que posso dizer que fiquei bem impressionada com esta primeira tentativa a ler John Green. Normalmente coisas que trazem muito hype atrás fazem-me alergia e fujo delas (acho que já aqui disse assim um milhão de vezes que detesto expectativas, especialmente falsas), mas fico contente por finalmente me ter decidido a experimentar ler o autor. Não há de ser o último que leio dele.

Páginas: 240

Editora: Dutton (Penguin)

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