Esta publicação tem na sua origem uma premissa bem
interessante, a de dar destaque à cultura e mitologia portuguesa como ponto de
partida para ficção especulativa. Missão cumprida. Os contos apresentados transmitem
no geral uma sensação de "portugalidade", que apenas não me foi tão evidente
nos últimos dois contos.
O design está relativamente bem trabalhado. Gosto dos fundos
usados para contornar o problema do aborrecido que seria a página em branco, e cada conto
está acompanhado por uma ou várias ilustrações adequadas. Adoro a ilustração da capa.
O reparo que tenho a
fazer prende-se com a revisão e edição, que poderiam ter sido mais cuidadas.
Também me confundiu o facto de os autores virem identificados por vezes no
início, por vezes no fim do texto. E a paginação é um tudo-nada estranha, já
que a segunda página (e aqui não estou a contar com a capa) está numerada como... 3.
Sonhos numa Noite de Natal, Marcelina Leandro - Curto mas
eficaz a transmitir a sua ideia, podia ser mais claro em certas passagens. A
ideia de "ler" os sonhos é bem gira, e gostei da reviravolta final.
Vinho Fino, Inês Montenegro - Um bom design na primeira página, em forma de garrafa. A ideia é provocadora, a dos parasitas, e o
cenário do Douro é perfeito. Acho que acabou por se tornar o meu favorito do
conjunto.
Como Portugal foi Salvo pelos Pastéis de Nata, Catarina Lima
- Arrasta-se um pouco na primeira parte, levando demasiado a chegar ao clímax
(o terramoto). O gag da miúda a ver a bruxa a voar e o namorado não acreditar é
divertido. A noção de os pastéis terem salvo Portugal também. É um dos contos
que precisava de mais uma revisão, notei algumas trocas de letras.
A Guerra do Fogo, Nuno Almeida - A efabulação em torno da
figura histórica cria um conto cativante. Pelo título não estava a ver qual o acontecimento focado, mas a figura histórica em questão foi fácil de adivinhar. Tem
um ritmo lento, mas funciona bem com este conto.
A Cidade das Luzes, José Pedro Lopes - Este conto precisava
de ser melhor editado, algumas frases soaram-me estranhas, as revelações à
volta das luzes tendem para info-dump mal feito, e a relação entre Débora e Ivo podia ser mais trabalhada. Mas a ideia base é fabulosa, aquilo que as luzes significam e como
isso foi a base para estabelecer um governo autoritário e uma sociedade
apática.
A Passagem Uivante, Pedro Cipriano - Tem um final e uma mensagem fortes, mas
é curto, não dá tempo para nos ligarmos ao personagem principal ou para
compreendermos este mundo.
Obrigado pelo comentário. Teremos em atenção as críticas que fez :)
ResponderEliminarDe nada. Espero impacientemente pelo próximo número. ;)
EliminarQuero muito pegar num exemplar da Lusitânia.
ResponderEliminarBoas leituras :)
Obrigada! Penso que através do blogue da Lusitânia deve dar para encomendar um exemplar... espero que gostes. ;)
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