quinta-feira, 30 de abril de 2015

Este mês em leituras: Abril 2015

Este foi um mês... calminho, no que toca a leituras, e ao movimento no blogue também. Tenho tido uns horários movimentados, que não me deixam muito tempo ao fim do dia para me concentrar e escrever uma opinião, o resultado sendo que durante a semana não tenho conseguido publicar nada. De qualquer modo, tenho lido mais pausadamente, permitindo-me um descanso entre livros, se for preciso, e tem corrido bem, por isso mantenho-me satisfeita com as minhas leituras.

Livros lidos

Faltam os audiolivros que "li" este mês:
The Raven Boys e Cruel Beauty.

Opiniões no blogue

  • Meg Cabot: O Diário da Princesa VII: A Princesa vai à Festa; Sweet Sixteen Princess; Valentine Princess; O Diário da Princesa VIII: A Princesa em Mudança;
  • The Return, Jennifer L. Armentrout
  • Curtas BD: Batman: Asilo Arkham, Grant Morrison, Dave McKean; Batman: Gótico, Grant Morrison, Klaus Janson; Batman: Presa, Doug Moench, Paul Gulacy;
  • The Raven Boys, Maggie Stiefvater;
  • Não Sou Esse Tipo de Miúda, Lena Dunham.

Os livros que marcaram o mês

  • The Raven Boys, Maggie Stiefvater - voltei a ouvir audiolivros, e foi um bom retorno, conheci uma autora da qual muito tinha ouvido falar, que me deu uma boa surpresa ao apresentar uma bela história, um mundo intrigante e um grupo de personagens cativantes;
  • A Quimera de Praga, Laini Taylor - é Laini Taylor, que mais posso dizer... reler o livro fez-me recordar coisas boas e rever a história, ter saudades, além de que ler com conhecimento prévio do fim e dos pormenores é algo que dá uma outra perspectiva;
  • Cruel Beauty, Rosamund Hodge - este marcou, sim, mas mais pela negativa... brevemente hei de fazer uma opinião e explicar melhor, mas apesar de ter algumas coisas boas, teve outras que me deram urticária, e por isso não foi a melhor das leituras, mesmo tendo eu começado eu a leitura predisposta para gostar dela;
  • O Diário da Princesa IX e X, Meg Cabot - quanto mais avanço na série, e especialmente agora que chego ao fim, mais aprecio a mestria da autora, porque sinto que ela programou as coisas duma maneira extraordinária, e tem incorporado umas boas mensagens na narrativa; surpreendeu-me o quanto os livros me fizeram pensar.

Outras coisas no blogue


Aquisições

Temos ali o Noites Perversas da Gena Showalter, da Harlequin. Passei os últimos livros que li da autora a queixar-me, ela parece já não ser o que era, e tenho ponderado se quero continuar a lê-la. Só que ainda não me decidi, ela deixa-me mesmo na dúvida, e então atrevi-me a trazer este livro para casa (faço qualquer coisa que convença a Harlequin em Portugal a publicar mais autoras do género). É parte de um spin-off da série principal, a dos Guerreiros do Submundo, portanto vamos lá ver o que sai daqui.

No Dia do Livro, dei um presente a mim própria, e adquiri O Único e Incomparável Ivan, Valquíria e Slated. A editora destes dois últimos tem publicado agora umas coisas giras, estou para ver se aqui estão para ficar. (Torço para que sim.)

Encontrei O Primeiro Amor à venda algures, e aproveitei. Acho que esta edição deve estar descatalogada, porque já não se encontra em lado nenhum... e isso seria uma vergonha e uma bela perda. Ouço falar tanto da Judy Blume e do seu Forever (este livro), que até parece mal nunca a ter lido.

Por fim, dois livros adquiridos com dinheiro em cartão, Não Sou Esse Tipo de Miúda, porque estava curiosa, e A Quimera de Praga, da qual já sou fã e já li... ao ponto de comprar o livro mesmo quando já tenho em inglês. (Sim, sou fã a esse ponto, e sim, para mim a autora é boa a esse ponto.)

Banda desenhada do mês. As revistas Disney, seguidas de dois volumes da série Fables em português do Brasil. Levei um ano, mas lá me deu para arriscar e ler mais um pouco da série, para me decidir sobre ela. De seguida, um par de livros que encontrei a um preço brutal na Fnac. Eu sei que aquele é o volume 4 de Saga, e ainda nem tenho o segundo, porque tinha acabado de o encomendar quando vi este - mas estava a um preço tão bom. Estou a tentar ler os livros aos poucos, porque depois quando chegar ao fim não tenho mais nada, estando dependente do ritmo de produção artística dos autores... mas não me faz mal nenhum tê-lo cá por casa à espera de chegar a sua vez.

Black Hole suscita-me alguma curiosidade, e como estava a um preço agradável, aproveitei. O livro de personagens dos Vingadores comprei por piada, e por fim seguem-se os livros da colecção Novela Gráfica. Cada vez que vou à livraria levantar o meu exemplar até me atiro para o chão. É que não há mesmo um par de livros com o mesmo tamanho em toda a colecção.

A ler brevemente

Volto a repetir-me nalgumas leituras, porque quero mesmo pegar-lhes. Preciso tanto de ler o The Winner's Crime, mas tenho de estar com a cabeça no lugar certo, porque merece mesmo isso. Também gostava de pegar no The Young Elites, Uma Nova Esperança, e The Mime Order. Tenho ainda as leituras da Meg Cabot projectadas, prevejo ler Uma Menina Igual às Outras, e a sua sequela.

Deste mês, gostava de ler O Primeiro Amor, e os dois volumes de Fables. E com uma bênção dos deuses dos CTT, espero receber os livros que estão ali nomeados. Quero tanto saber como a história acaba para a Penryn e o Raffe (End of Days) e para a fantástica Scarlet e o Robin (Lion Heart, e eu morro se não me chegar em Maio). Mal posso conter-me da excitação para os ler. E em adição, temos A Court of Roses and Thorns, de uma autora que já é favorita, e que promete continuar a sê-lo.

segunda-feira, 27 de abril de 2015

Não Sou Esse Tipo de Míuda, Lena Dunham


Opinião: Este não é, necessariamente, um livro que eu leria habitualmente. Raramente leio não ficção, e a probabilidade de ler algum tipo de memória ainda é menor. No entanto, o livro foi alvo de destaques por toda a parte o ano passado, e o que li fez-me pensar que podia vir a gostar da leitura. Quando saio da minha zona de conforto tento ao menos ter uma ideia do que tenho à frente, para não ir com expectativas erradas, e assim diminuo a probabilidade de detestar a leitura só porque fui ao engano.

E acabou por ser uma boa leitura. Não tenho nada a ver com Lena Dunham, em personalidade ou experiências, mas não tive dificuldade em seguir o seu relato. Primeiro porque ela escreve com uma certa clareza, não só na escrita como uma clareza de espírito, um sentido avaliador certeiro acerca da pessoa que é e dos momentos que experienciou.

É interessante ver a sua perspectiva sobre certas coisas, ciente das suas falhas e problemas, e refrescante, também - ela pode soar algo egotista, mas é cândida acerca disso. Além disso, achei interessante vê-la recontar pedaços da sua vida sobre perspectivas diferentes, em partes diferentes do livro, acrescentando pormenores à medida que o livro avançava.

Depois porque ela é apenas um pouco mais velha que eu, é tecnicamente da minha geração, e apesar de culturalmente e socialmente não termos muito em comum, certas experiências dela podem ser vistas a modos como que universais. Problemas e dramas específicos da idade e posição na vida, ou questões particulares e singulares mas que se apresentariam a qualquer um em qualquer lado. (É verdadeiramente trágico ler sobre a sua experiência de violação e perceber como se afastou mentalmente da mesma, como se negou considerá-la como tal.)

A tradução pareceu-me razoavelmente boa, mas gostava de deixar de ver tradutores portugueses a cometer erros tão crassos como traduzir "call my father" por "chamar o meu pai", em vez de "telefonar ao meu pai". É tão errado, especialmente quando o resto do trabalho está quase irrepreensível.

De qualquer modo, diria que foi uma boa leitura, e uma boa surpresa. Não sei se esperava vir a gostar genuinamente de ler o livro, mas este trocou-me as voltas e revelou-se. Mostrou ser uma memória cativante e recheada, mesmo vinda de alguém tão jovem, e passei um bom bocado com ela, mostrando-me a perspectiva de alguém tão diferente de mim, mesmo suspeitando eu de que teria muita dificuldade em ser amiga de alguém como a Lena na vida real. Felizmente, tudo o que era preciso aqui era ler o livro, e isso fiz com gosto.

Título original: Not That Kind of Girl (2014)

Páginas: 288

Editora: Presença

Tradução: Maria de Almeida

sábado, 25 de abril de 2015

The Raven Boys, Maggie Stiefvater


Opinião: E finalmente posso dizer que li um livro da Maggie Stiefvater! Se bem que a parte do ler é relativa, tecnicamente ouvi o livro, já que tinha a versão audiolivro cá por casa. E suponho que posso dizer que foi um bom retorno aos audiolivros; mesmo não tendo apreciado particularmente o narrador, acabei por gostar muito da escrita da Maggie e da história que ela conjurou.

Esta é a história de Blue Sargent, uma jovem numa família de médiuns que não possui nenhum talento, e que toda a vida ouviu previr que mataria o seu amor verdadeiro com um beijo. É também a história dos Raven Boys, um conjunto de rapazes da selecta escola privada de Aglionby, um grupo de jovens ricos mas desajustados com um objectivo singular.

E posso dizer que fiquei surpreendida com o quanto acabei por gostar da história e da escrita da Maggie. Gostei tanto da maneira como ela descreve as coisas, as voltas de frases que dá, a maneira como põe as coisas. Consegue escrever uma história com pendor sobrenatural, e ainda assim, escrever de modo tão natural, tão terra-a-terra.

Consegue fazer-me acreditar num bando de adolescentes que meteu na cabeça que há de encontrar o local de repouso eterno de um rei galês que terá sido trazido da sua terra natal para terreno americano. Ou na magia das pequenas coisas, na magia do dia-a-dia.

Fiquei fascinada com a demanda destes personagens. A sinopse do livro sugere um conflito de natureza mais romântica, e as raízes do mesmo estão lá; mas não é coisa que domine a narrativa, dando lugar à procura das linhas Ley e da sua importância para encontrarem Glendower, o monarca galês.

Achei o conjunto de personagens muito cativante, e fiquei fã de como a Maggie os descreveu e desenvolveu. A Blue, com a sua maneira desprendida, espirituosa e bondosa, e como cresceu numa casa de mulheres sem dar em doida. (Estou a brincar. Mais ou menos.) O ambiente feminino é delicioso, e gostei de conhecer as meninas da casa, as suas singularidades, e como encaixam umas nas outras.

Os Raven Boys titulares são outro exemplo perfeito de uma caracterização cuidada e brilhante por parte da autora. Sinto que com o livro fiquei a perceber quem são, o que os move, como funcionam. Adorei que aceitassem a Blue nas suas fileiras sem drama. Como ela se imiscuiu tão determinadamente. Ah, e acho que preciso que alguém dê um abraço ao Ronan e ao Adam, porque beeeeem, nas suas curtas vidas foram expostos a demasiado.

Gostei muito da veia sarcástica do Ronan, a necessidade dele de pessimismo, mesmo tendo bons princípios. Quanto ao Adam, compadeci-me da vulnerabilidade em que a sua situação o deixa, o orgulho que não o deixa aceitar mais, a sua incapacidade em deixá-la. Fiquei muito contente ao vê-lo fazer a coisa certa num certo momento, porque achei mesmo que ele ia deixar-se subjugar.

O Noah, bem, eu percebi que algo se passava, porque a Maggie teve um cuidado extremo em não descrevê-lo demasiado, em não envolvê-lo demasiado nos acontecimentos, para não suspeitarmos logo do que se passa com ele. Já o Gansey deve ser a alma mais bem resolvida de todo o livro, o que é refrescante e fascinante. É engraçado ver como ele toma um papel de "pai", de líder, de responsável.

A sua demanda e as razões para a continuar são bem interessantes; e acho curioso o modo como ter crescido com dinheiro o torne algo alheio aos problemas que esbanjar e distribuir dinheiro indeterminadamente traz. Falta-lhe a maturidade para perceber isso, mas isso também lhe confere uma aura de inocência curiosa. Achei delicioso como ele e a Blue começam com o pé esquerdo, porque só torna as coisas mais giras de acompanhar. É definitivamente uma questão que começa subtil, mas que tenho a certeza que vai-se tornar tortuosa muito rapidamente.

Fiquei muito investida no mistério de Cabeswater e na procura de Glendower, e todos os pequenos acontecimentos e detalhes foram ou são mote para eu formar um monte de teorias na minha cabeça sobre para onde a Maggie vai levar isto. (A minha favorita é que alguém no meio disto tudo vai-se revelar a reincarnação do Glendower. Com a maneira como a Maggie escreve, estou pronta a acreditar em reincarnação também.)

Quanto ao narrador do audiolivro, gostei que falasse com sotaque, porque sugeria o espaço em que os personagens se moviam. Mas de resto não sou a maior fã. Ele fazia uma coisa com algumas personagens femininas, de tentar fazer uma voz fininha, que não me agradou propriamente.

Quanto à experiência de ler um audiolivro em geral, bem, é singular. Frustra-me um pouco não ver os nomes escritos, porque este livro tem montes de nomenclatura estranha, e que precisava de ver escrita. (Fui à procura antes de opinar aqui.) E pergunto-me se não reterei melhor as coisas, os pormenores, a ler em vez de ouvir.

É que o meu hábito quando leio é ouvir música para abafar o ruído de fundo; neste caso estou a ouvir um livro, e a tendência é para me distrair e perder ocasionalmente uns quantos segundos. Espero ter conseguido apanhar tudo, e tenciono comprar o livro em papel (fiquei fã e vou continuar a série), por isso hei de dar uma olhadela para me certificar que sim.

E sim, como é óbvio no parágrafo anterior, tenciono continuar a ler a série. Fiquei mesmo fascinada com a escrita da Maggie Stiefvater e com como ela cria a sua história, com os conceitos que já apresentou, e com a promessa de mais coisas boas para breve. Além disso, com aquela declaração cliffhangeresca do Ronan? Como é que ela me pôde deixar assim pendurada? Arghhh.

Páginas: Duração: cerca de 11 horas

Editora: Scholastic

domingo, 19 de abril de 2015

Curtas: Colecção 75 Anos de Batman #4-6

Batman: Asilo Arkham, Grant Morrison, Dave McKean
É uma sensação singular opinar sobre este livro. Consigo apreciar o trabalho envolvido, consigo avaliar a história de um ponto desligado, e até de gostar de certas coisas, mas não sei se é uma coisa que releria, algo que me deixe saudades. Não me provocou emoções, um elemento de ligação, algo que me cativasse e intrigasse particularmente. Não estou habituada a relacionar-me com os livros assim. É desconcertante. Sinto que uma obra tão experimental devia ao menos provocar algum tipo de reacção.

Asilo Arkham conta uma noite passada nesse espaço. Os pacientes do asilo soltaram-se e tomaram conta dele, e exigem que o Batman se venha juntar a eles. (Ideia interessante.) O resultado é uma noite paralisante e inesquecível para o Batman. Intercalada com esta narrativa principal, é-nos contada a origem do asilo, e a história do seu fundador, o Dr. Arkham.

Esta não é uma história típica do Batman, pela tensão a que o submete, a exposição aos seus demónios e aos do asilo. A própria casa onde a acção decorre é quase uma personagem, e o percurso por esta ao longo da noite está recheado de momentos com um certo simbolismo, pequenos detalhes que pedem para ser interpretados e montados.

Foram pontos interessantes de explorar, e gostei de tentar perceber o subtexto, e de acompanhar a história por trás do asilo; mas confunde-me por vezes ler este tipo de histórias, em que eu não sei se o simbolismo é tão acessível que eu percebi tudo, ou tão complicado que eu não percebi nada. Lendo opiniões de outras pessoas no Goodreads, apontam coisas que a mim me pareceram óbvias, o que me fez perguntar se não estava a perder alguma coisa mais profunda. Ou seja, a história em si é capaz de ser um bocadinho pretensiosa no modo como expõe as suas ideias, o que por sua vez obscura o seu objectivo.

A arte é impressionante, particularmente pela combinação de meios, e pela altura em que foi executada, em que imagino que montar certas coisas pedia um esforço e um engenho singulares. Acabei por gostar.

Batman: Gótico, Grant Morrison, Klaus Janson
Esta é uma história também pouco usual para o Batman, mas por uma razão diferente. O vilão deixa uma ambiguidade sobre a sua origem, aparentemente sobrenatural, e essa dúvida que permeia a narrativa, combinada com a atmosfera, dá-lhe o tom gótico do título.

É uma questão estranha de considerar. A história é aparentemente passada nos primeiros tempos do Batman, o que sugere uma inserção na continuidade normal do personagem, mas ao mesmo tempo o aspecto sobrenatural não encaixa bem com ele. Acaba por ser uma história que pede que uma pessoa não pense muito para resultar, o que é o oposto da anterior (ou talvez não), coisa curiosa tendo em conta que partilham o mesmo argumentista.

Pondo reticências de lado, a história acaba por ter o seu fascínio precisamente pelo tom gótico, pela existência de um mal quase impossível de derrotar, de alguém que passou muito tempo a fazer muito mal. Pela presença de mosteiros abandonados e maldições terríveis, mortes violentas e lendas esquecidas. Pelo contraponto entre os percursos do Batman e do seu antagonista.

A arte contribui para a atmosfera gótica, com o seu detalhe, e a palete de cores sóbria e restrita, e ajuda a conjugar o enredo.

Batman: Presa, Doug Moench, Paul Gulacy
Este livro é dos três aquele que tem a história que mais me agradou, provavelmente. É que o Batman enfrenta não só o antagonista, o Dr. Strange, como a atmosfera de hostilidade que este e as circunstâncias geram em Gotham contra o herói. Torna-se um belo desafio para o personagem, e uma forma de examinar os seus motivos.

É uma história que também decorre nos primeiros tempos de Bruce Wayne como Batman, pois há algures uma referência que me parece ser a Batman: Ano Um. Tudo começa quando o Dr. Strange, entrevistado na televisão sobre o Batman, discorre sobre os seus problemas mentais, e o que poderá levá-la a fazer o que faz. Isso faz com que a polícia seja obrigada a formar uma unidade anti-vigilante, o que leva à escalada dos acontecimentos, e com uma ajudinha do Dr. Strange, o virar da opinião pública contra o Batman.

O interessante sobre o Dr. Strange e as suas acções é que ele tem o melhor palpite para descobrir a identidade do Batman. As suas conclusões são certeiras, excepto num ponto que parece descurar, e que o Gordon identifica logo. Chega muito perto de ameaçar verdadeiramente o Batman. E é simplesmente um tipo que passa por psiquiatra mas é mais doido que outra coisa, ao ponto de ser arrepiante, a sua atitude.

Entre as aparições notáveis na história, destacaria o (aqui) capitão Gordon, sempre constante e sólido, ele próprio um herói por resistir à corrupção do dia-a-dia. E a Catwoman, pelas poucas aparições mas que me deixaram curiosa por ver o que ela andava a fazer nesta altura.

quarta-feira, 15 de abril de 2015

The Return, Jennifer L. Armentrout


Opinião: Estava um pouco incerta do que esperar deste livro. É um spin-off duma série anterior da autora, a série Covenant (que já terminou), e cheguei à conclusão que gostei muito de a seguir. O que resulta em recear esta nova série, porque o foco é ligeiramente diferente, sendo que personagens adorados não voltam ou não fazem uma aparição no livro.

Também há o facto de o Seth ser o protagonista, o que é algo estranho porque eu sempre estive dividida quanto ao que pensar dele. E depois, tinha as minhas dúvidas quanto a haver história ou mitologia para explorar neste mundo. (Para não falar de que detestei, com a fúria de mil sóis, um dos últimos livros que li da autora, quando costumo gostar bastante do que ela escreve.)

Quanto ao (pen)último aspecto, não precisava de recear. Há algumas lacunas na mitologia explorada na série anterior (uma ou outra já me tinha ocorrido), e são suficientes para criar uma base sólida para esta série/trilogia (acho que está anunciada como trilogia). Gosto mesmo da natureza do que a Josie é, e de que aprendemos sobre ela e outros como ela. Além disso, a questão dos Titãs ficou em suspenso na série Covenant, e por isso é muito bom vê-la aqui explorada, com vista a ser resolvida, suponho (e espero).

Só gostava que houvesse um pouco mais de tempo de antena para esta exploração do mundo e do enredo. Eu sei que os géneros primários do livro são New Adult e Romance Paranormal, ambos com bastante foco no romance, e no geral gostei desse aspecto, mas a verdade é que afasta do worldbuilding e do avançar da narrativa (que se foca mais numa viagem de fuga e chegada a um santuário, com um momento de perigo como clímax, tudo para avançar o romance), e pergunto-me como este vai evoluir nos próximos livros, já que a parte do romance ficou bem encaminhada.

Detestaria ler conflitos românticos desnecessários, criados só para manter a história dos livros seguintes. Além disso, apesar de não ser muito óbvio, parece que o enredo vai evoluir numa direcção com bastante acção, e gostava que o drama amoroso (por favor, um triângulo não!) não afastasse a escrita deste aspecto da narrativa.

Apesar de não termos a presença de dois personagens que eu matava para voltar a ver, ou ler, eles estão muito presentes na narrativa. A Alex, particularmente, pela sua relação com uma boa parte dos personagens que realmente aparecem na história. A sua presença sente-se em muita coisa, especialmente porque as suas acções levaram os acontecimentos até aqui, e porque a sua relação com o Seth é o motor para o estado em que ele está no livro.

De qualquer modo, voltam muitos favoritos. O Apollo, que mostra um lado novo dele, mas continua inconveniente como sempre. O Deacon e o Luke, que são um casal adorável, e que recebem a Josie fabulosamente. (E adorei que fosse o Deacon a contar à Josie da Alex. Claramente o Seth não estava num ponto em que podia deitar aquilo tudo cá para fora, e o Deacon também tem direito à história, por estar relacionado com os envolvidos.) Ah, e o Marcus, de quem - como a Alex - aprendi a gostar, particularmente nos últimos livros, pela relação que desenvolve com a sobrinha. É sempre uma presença sólida, mesmo na face da tragédia.

É algo interessante ler o ponto em que o Seth está. Oh, ele continua a ser um idiota em muitas coisas, e continuo com a vontade ocasional de que lhe caia qualquer coisa em cima, mas depois tem uns momentos adoráveis que são desarmantes. É tão estranho, mas no bom sentido, acho. De qualquer modo, gosto muito da caracterização que a Jennifer lhe dá no livro. Explica bem o estado mental dele depois das suas acções terríveis, e mais ainda, esclarece a sua história e como ele veio a ser a pessoa que é. Sem o desculpar, o que não é nada mau; apenas dá uma ideia clara de como veio parar aqui.

Além disso, é muito divertido vê-lo com a Josie, ver a sua relação evoluir, e vê-lo transformar-se num grande e fofo ursinho de peluche no que toca a ela. Bolas, a certa altura ele até acha que se está a transformar no Aiden, o que me fez morrer a rir, porque eles eram tão antagonísticos um com o outro que a noção de terem algo em comum é demasiado boa.

Gostei da Josie como protagonista. É um bocado difícil vir na esteira de alguém como a Alex, que é tão expansiva e cheia de personalidade, e uma protagonista difícil de esquecer. Alías, dei por mim ocasionalmente a compará-las, ou a lembrar-me da Alex e do que faria nessa ocasião - especialmente pela ligação que ambas partilham (e não é o Seth). Mas a Josie ganhou-me o coração aos poucos, e acabei a gostar bastante dela.

É bastante fácil de perceber o que ela está a passar, e ela reage de forma relativamente credível, e melhor, exige ser treinada para se defender, para nunca mais ficar, ou sentir-se, indefesa numa luta. Só faltou que ela pudesse usar essas capacidades duma forma prática, mas espero que o seu novo estado e o evoluir do enredo que se prevê lhe traga alguns momentos de acção.

Em suma, acabou por ser uma boa leitura, e uma boa e muito bem-vinda surpresa, especialmente depois da minha experiência anterior com a autora. Gostei do que ela está a tentar fazer, apesar do género e do foco da história mudar um bocadinho, e estou intrigada com a exploração de novos aspectos deste mundo. Fico com vontade de seguir a Josie e o Seth na próxima aventura.

Páginas: 352

Editora: Hodder & Stoughton

domingo, 12 de abril de 2015

O Diário da Princesa VII e VIII, Sweet Sixteen Princess, Valentine Princess, Meg Cabot

Meg Cabot

Título original: Party Princess (2006) / Sweet Sixteen Princess (2006)
/ Valentine Princess (2006) / Princess on the Brink (2006)

Páginas: 308 / 96 / 96 / 256

Editora: Bertrand / HarperCollins / HarperCollins / Bertrand

Tradução: Sandra Esteves / - / - / Andreia Mendonça

Cada vez mais fico contente com a minha decisão de ir relendo os livros da Meg Cabot, já lá vai quase um ano. Esperava totalmente que a releitura me pudesse trazer algum tipo de desilusão ou desencanto, porque já não sou a mesma pessoa que era quando li da primeira vez. O que serviu para mim no passado podia não resultar agora, podia ser demasiado juvenil, ou demasiado irritante, ou pronto, demasiado afastado de mim.

Só que nada disso aconteceu. Quanto mais avanço na série, mais fascinada fico com a maneira como a autora planeou e evoluiu certas coisas. Como os eventos funcionam perfeitamente, como fazem sentido, como pequenos detalhes denotam o que virá a acontecer. Há uma certa caracterização dos personagens e dos acontecimentos que é brilhante, e fico muito impressionada que os livros tenham sobrevivido ao teste do tempo.

Nestes dois livros e duas novelas que os intercalam, seguimos a Mia num ponto crítico da sua história, prestes a chegar à recta final. Em A Princesa Vai à Festa, Mia descobre que a Associação de Estudantes a que preside está falida, quando precisam urgentemente de fundos para os eventos do final do ano lectivo. Além disso, o Michael vai organizar uma festa em casa, o que faz a Mia entrar em pânico, porque não é "uma rapariga de festas".

Em Sweet Sixteen Princess, uma história curta, Mia vai fazer 16 anos, um marco na sua vida, e parece que toda a gente tem uma opinião sobre o assunto, incluindo a Grandmère, que quer fazer da festa uma extravagância como as daquele programa da MTV sobre o 16º aniversário de adolescentes americanos. Já em Valentine Princess, a Mia encontra um diário antigo e somos levados para trás no tempo, até ao primeiro Dia de S. Valentim que ela e o Michael partilham - se ao menos o Michael concordasse em festejar o dia e não ser um completo cínico.

Em A Princesa em Mudança, encontramos o ponto de viragem da série. A Mia está à beira de um ataque de nervos com um novo ano, o comportamento excessivo da Lilly e da Grandmère, e muito, muito mais; e para ajudar à festa, o Michael recebeu um convite para ir viver para o Japão desenvolver uma tecnologia que criou e que pode vir a mudar o mundo - o que quer dizer que ele e a Mia estariam separados e a namorar à distância durante um ano ou mais.

A lição que mais aprecio que a série transmite é a de que é ok fazer asneiras. Passar-se da cabeça, enervar-se com as coisas, não conseguir resolvê-las à primeira. Ter inseguranças, e lidar mal com as circunstâncias. A Mia pode ser uma princesa, mas ainda é como todos nós. É uma adolescente, uma miúda inexperiente e em muitos casos atirada para situações que não está preparada para enfrentar. Através dos seus erros podemos aprender, e podemos aceitar errar.

Gosto muito de ver a evolução dela ao longo da história. Achei que ia achar a Mia irritante com os seus dramas, mas acabei por engraçar com ela, entendê-la, perceber como é que ela funciona, e como é que isso evolui para os dramas que parecem tão exagerados, mas que acabam por se resolver de modo simples. Isso acaba por culminar na "implosão" que ela tem no nono livro, e achei interessante a caracterização de ansiedade crónica que a autora apresenta. Acaba por ser subtil e construída ao longo de tantos livros, mas as acções da Mia acabam por fazer muito sentido.

Adoro o grupo de amigos da Mia, e gosto tanto da ideia de terem vindo a crescer, a juntar-se aos poucos ao grupo. Mostra como uma miúda discreta e introvertida como a Mia acaba por ser o centro da reunião de pessoas tão díspares, e de como ela consegue gerar consenso. Adoro a Tina, e como ela se juntou com o Boris e eles se dão tão bem, e a Shameeka tornada cheerleader que não deixou o seu grupo, e a Ling Su artista e a Perin com a sua ambiguidade.

Desta vez junta-se ao grupo um rapaz que eles conheciam como o rapaz que não gostava de milho no chili, e é curioso ver como alguém sobre quem tinham certas expectativas e preconceitos acaba por se revelar algo diferente e novo. Sei o que acontece com o J.P., e por isso posso apreciar certos pontos do seu comportamento que revelam coisas que viremos a descobrir, mas também é divertido apreciar a sua integração no grupo.

Volto a falar, mais uma vez numa opinião, na Lilly e na amizade com a Mia. Gosto de ver os pequenos detalhes da sua relação, e de como certas coisas demonstram que elas não funcionam bem juntas. A Lilly é muito assertiva, meio mandona, algo manipulativa, e como a Mia ainda está a tentar aprender a ser uma líder, deixa-se muito facilmente arrastar pelos esquemas e manipulações dela. A Lilly tem também um comportamento completamente inadequado e impositivo, e espantoso é como as coisas não haviam explodido antes. Só quando a Mia tem um acumular de problemas, e um momento de fraqueza, é que as coisas descarrilam.

Sobre a Mia e o Michael, oh céus, eu adoro-os, são muito giros, e no seu melhor fazem um bom casal. Gosto de como se aproximaram, de como são diferentes e em posições diferentes da vida, e ainda assim conseguiram encontrar-se e juntar-se. Só que também é óbvio que este não é o momento certo para eles, e portanto a notícia do Michael ir para o Japão é apenas a machadada final.

É que por um lado, a Mia não está preparada para ter a maturidade que uma relação com o Michael, mais velho, pede. E o Michael, bem, não está preparado para fazer concessões. É muito dogmático, recusando-se a fazer coisas contra as quais tem algum problema insignificante, e que podia experimentar fazer porque são importantes para a Mia. No caso do Dia dos Namorados, ele acaba por admitir que é um palerma, mas há muita coisa em que não cede, e há muita coisa a que é alheio, e é claro que assim as coisas não correm bem.

Desta vez, não me posso queixar da tradução, porque comparando a minha experiência com as anteriores, esta foi muito calminha. Gostei da tradutora do sétimo volume, porque fez um bom trabalho, e porque retomou o hábito das notas de tradução, e me lembrou um pouco do Mário Dias Correia, o tradutor dos dois primeiros livros, e que tinha um trabalho fantástico. A tradutora do oitavo livro tentou fazer as notas também, mas é capaz de ter abusado um bocadinho, e também dei por algumas frases mais estranhas.

Enfim, a partir daqui estou com a vontade toda para a leitura dos volumes finais, por trazerem o fim da história, ou pelo menos deste ciclo, e porque sei que gosto de como as coisas terminam, por isso sei que a leitura vai ser um prazer, dramas incluídos.

domingo, 5 de abril de 2015

Uma imagem vale mil palavras: Insurgente (2015)

Eu não fiz aqui opinião do Divergente quando saiu o ano passado e fui vê-lo; e não tencionava também fazer opinião deste. Mas depois vi a opinião da Christine sobre o filme (que, já agora, é tão fixe e divertida a falar sobre livros, e por isso é a única pessoa que consegue fazer-me dar ao trabalho de a seguir semiregularmente no YouTube), e ela disse tanta coisa com que eu concordava, que acabou por me incitar a pôr por escrito os meus pensamentos e opiniões sobre o filme.

Contudo, primeiro, e brevemente, algo sobre o Divergente e porque é que não o opinei na altura: na sua maioria foi um filme que se manteve fiel ao livro, ou fez adaptações que faziam sentido dentro do mundo, e gostei de acompanhar os personagens. No entanto, não foi um filme que me arrebatou como o livro tinha feito. E credo, mudaram tanta coisa no fim, na ordem dos acontecimentos e no modo como se deram, que saí do cinema completamente confusa, a tentar perceber para que é que aquilo tinha sido inventado, quando o final do livro resultava perfeitamente.

Sobre este Insurgente, bem, até pode ser considerado uma história contada de maneira bem sucedida, do ponto de quem vai ver um filme só pelo filme, ou de quem não conhece os livros. Quanto ao resto dos espectadores, aqueles que leram e vão ver uma adaptação dum livro que gostaram... ehhhh. Não sei se vão encontrar aqui grande coisa para gostar.

É que a sensação com que fiquei é que as pessoas envolvidas na produção deste filme não se deram ao trabalho de ler e estudar o texto-base, ou simplesmente estavam-se a borrifar para fazer uma adaptação relativamente fiel. Quero dizer, ao fim de tanto tempo a reflectir sobre as adaptações de livros que li e que não li, aceito bastante bem modificações feitas que ajudem ao contar da mesma história noutro meio.

Só que sinto que a única modificação que fez sentido neste filme foi simplificarem o enredo, em comparação com o livro. Sou a primeira pessoa a admitir que o Insurgente tem um enredo convoluto, e que os sítios todos aonde os personagens vão, ou todas as coisas que acontecem, podem não fazer sentido num filme, que ficaria demasiado confuso.

O problema é que o livro também é um muito marcado pela viagem interior da Tris, a sua luta com as suas acções passadas, a culpa que sente, e como isso influencia o seu posicionamento como Dauntless, Abnegation, e Divergent, as características que exibe ou pensa exibir de cada facção. E, oh meu, fizeram um PÉSSIMO trabalho a espelhar isso no filme.

A Tris tem pesadelos, o que como técnica de storytelling podia ser bem útil no filme, mas estão mal colocados, há partes deles que não fazem sentido, e não dão uma sensação ominosa, um peso emocional que nos permita perceber onde está a cabeça da Tris. O resultado é que chegamos à cena onde ela é obrigada a contar a verdade entre os Candor e aquilo é mais patético do que triste e aflitivo.

Não digo que a Shailene não se esforce, mas também não tem muito por onde trabalhar. E no seguimento disto, credo, nem sequer desenvolveram em condições a relação da Tris com a Christina, o conflito óbvio e subjacente às revelações feitas. No livro ela já não é trabalhada da melhor maneira, mas aqui tinham uma oportunidade para fazer melhor, e nop, decidiram ser medíocres e ainda fazer pior.

No primeiro filme conseguiram transmitir bem a atmosfera deste mundo, um com alguma tecnologia, mas que não era muito presente, pois nem todos tinham acesso ou necessidade dela, numa cidade meio destruída e em ruínas. Aqui, bem, de repente este pessoal evoluiu tanto tecnologicamente que até admira que se mantenham em Chicago em vez de irem explorar lá para fora ou assim. (A tecnologia é tão boa que a Tris nunca tem uma escova de cabelo, mas consegue rímel ou pestanas postiças ou lá o que é, ao ponto de se tornarem distractivas nos close-ups.)

É que eu não consegui levar a sério aquelas coisas que se apontavam para as pessoas e diziam de que facção eram, ou que percentagem de Divergentes eram. Primeiro, er, lol? Percentagem de Divergente? Estão a brincar comigo? Ou se é, ou não se é, não há cá meios termos, minha gente, mas que parvoíce é esta? (Se usarem a explicação do terceiro livro para se ser Divergente, ainda faz menos sentido. Mas a lógica foi janela fora nem meia hora de filme tinha passado, por isso...)

Eu até consigo perceber porque é que inventaram isto, para justificar a obsessão da Jeanine pela Tris, só que no livro a obsessão baseava-se mais no facto da Tris ter gorado os planos da Jeanine e ter conseguido escapar sucessivamente. Não vejo porque é que isso não haveria de resultar no filme, se bem explicado.

E depois, esta tralha da percentagem de Divergente leva a que a Tris tenha 100%, o que é completamente ridículo e hilariante. De repente parecia que a Tris era o chosen one duma profecia qualquer dum livro de fantasia épica, e eu perguntei-me se ainda estava a ver o mesmo filme.

Depois, ainda no que toca a tecnologia... as simulações. Para que fique claro, eu gosto do conceito das simulações, e de como vão dar acesso ao endgame do filme. Gosto da ideia de um Divergente enfrentar simulações de todas as facções, e gosto porque toda a trilogia se baseia no uso de soros e simulações, e esta invenção para o filme, talvez a mais inspirada, faz muito sentido dentro disso.

O problema é que tive muita dificuldade em levar a sério aquelas cobras mágicas aqueles cabos mágicos que descem do tecto e se introduzem na pele duma pessoa em vários pontos aleatórios. Porque, como é que funcionam? Querem mesmo que eu acredite que cabos tão frágeis suportam o peso duma pessoa de 50 ou 60 quilos e a fazem pairar no ar, dar voltas e cambalhotas, e sei lá que mais? Caramba, que isto não faz sentido nenhum.

E depois as próprias simulações são tão exageradas que também é difícil levá-las a sério. Quero dizer, não consegui ver perigo nenhum numa casa mágica voadora a arder (simulação dos Dauntless). Podia ser algo igualmente perigoso mas baseado na realidade dos personagens, porque o que a casa voadora conseguiu fazer foi afastar-me da história perante a irrealidade da mesma, em vez de me envolver. Aqui seria mais efectiva uma situação que me fizesse duvidar se aquilo não era mesmo real, como a dos Erudite mais à frente tentou fazer.

É claro que depois os criadores do filme dão um tiro no pé e mostram que não percebem nada das facções ou do mundo que estão a trabalhar. A "simulação" que a Tris passa como sendo Abnegation é ridícula. Abnegation é sobre viver para o outro, tomar acções que não partem duma motivação egoísta. E, tenham paciência, poupar o Peter naquelas circunstâncias é tudo menos Abnegation. Talvez Amity, mas claro, quiseram guardar Amity para a cena seguinte. Que também não faz sentido, porque se a Tris já estiver completamente resolvida no que toca aos seus problemas, não há enredo para a terceira parte dos filmes. (Ainda por cima dividida em dois. Yeeeeah. Isto tem ar de que vai correr mesmo bem.)

Acho que só me falta cascar no final do filme. A revelação massiva, em vez de compartimentalizada, que acontece... bem, vai ser o caos. Começo a perguntar-me se vão ter enredo para sequer um filme, quanto mais para dois. Ou isso, ou vão tentar fazer uma coisa tão grandiosa, tão diferente do que o livro é, que eu não vou reconhecer a história. Já a canibalizaram para este filme, porque não fazê-lo para a esticar para dois filmes? Bolas, cada vez gosto menos da ideia destas adaptações, que me estão a estragar os livros. Ao menos com os Jogos da Fome têm feito um melhor trabalho.

Coisas que gostei: bem, se ignorar o contexto, visualmente o filme até está bom. Gosto muito das paletas que escolheram para o vestuário das facções. O visual da cidade em ruínas, o contraponto com o espaço dos Amity, entre a Natureza. Até as simulações. A dos Dauntless parecia feita por alguém que andou a ver muito Inception, mas no bom sentido, suponho.

O elenco é bastante decente, se bem que a produção parece não saber o que fazer com eles. O actor do Marcus quase não aparece, a Octavia Spencer só faz uma perninha que não lhe dá muita margem. O Uriah parece que só foi introduzido porque os fãs pediram por ele, porque não fazem com ele nada de relevante, e as cenas com ele seriam iguais estivesse ali ou não. O actor do Caleb teve um par de momentos interessantes. Já a Kate Winslet nem sempre me pareceu a 100%, às vezes parecia que faltava ali qualquer coisa para eu acreditar completamente nela como Jeanine.

A Naomi Watts só me fazia pensar "mas como é que uma mulher tão nova tem já um filho homem matulão como o Theo James?", portanto creio que podiam ter trabalhado um pouco melhor a caracterização dela. No entanto, gostei tanto do que fizeram com o Peter. Ele continua a ser desprezível, mas conseguiram, num dos raros momentos de inspiração dos criadores, fazer das atitudes dele o comic relief do filme, encontrar o humor no vira-casacas e cobarde que ele é, e fazer-nos rir com isso.

Acho que no meio disto tudo o que me mete mais medo é que vão continuar com o mesmo realizador deste filme para o Allegiant. Se eu já não gostei da maioria das escolhas dele agora, o que irá acontecer no futuro, quando a base é uma história ainda mais controversa? Volto a dizer, aceito mudanças que favoreçam o contar da história num meio tão diferente da leitura como é o cinema, mas peço que façam sentido dentro do mundo que se está adaptar, ou não vale a pena de todo pagar os direitos e adaptar. Foi aqui que este filme falhou para mim, e tenho pouca fé de que melhore, apesar de ser (ou tentar ser, pelo menos) eternamente optimista nestas coisas.

sexta-feira, 3 de abril de 2015

Uma imagem vale mil palavras: Cinderella (2015)

Eu às vezes já tenho receio de ir ver estas coisas. Especialmente quando são baseadas em filmes que marcaram a minha infância, porque as expectativas são grandes, e o potencial para saírem goradas é enorme.

Portanto, pouco ou nada esperava, e por isso acabei agradavelmente surpreendida; encontrei um filme que me encheu as medidas, que adicionou um pouco à história sem a canibalizar ou distorcer, e que me deu vontade de abraçar toda a gente envolvida na produção, porque está tão giro e fofo e adorável e... ok, já chega de adjectivos.

As principais diferenças que a história apresenta em relação ao filme animado ou às várias versões do conto prendem-se com vários aspectos. Um é que desenvolvem mais a história da Ella com os pais, o que dá uma boa base para compreender o carácter e os valores dela ao longo da história. Os elementos mais problemáticos da narrativa são trabalhados e/ou explicados de modo a fazerem sentido no mundo real - isto é, no mundo real se este tivesse magia -, o que acaba por ser importante, porque uma adaptação com pessoas de carne e osso pede um bocadinho mais de realismo. (E um bocadinho menos de coisas incríveis como a Cinderela e o Príncipe apaixonarem-se após uma noite no baile, ou ele só a reconhecer depois de lhe meter o sapato no pé.)

Gostei tanto da personalidade da Ella. O modo como foi educada deu-lhe uma personalidade gentil e doce, mas também os seus valores, e nem mesmo quando as coisas se tornam difíceis os abandona. O seu feitio leva-a a praticar pequenos actos de bondade, que a madrasta e as meias-irmãs são rápidas a aproveitar, não admirando assim que de repente ela se veja praticamente criada das outras. Uma jovem naquela época, com aquelas circunstâncias, tinha poucas escolhas, e é visível que a Ella faz o melhor que pode com o que tem e tendo em vista aquilo que deseja.

A madrasta é apresentada duma maneira fantástica, nada cartoonesca, e as suas motivações fazem perfeitamente sentido dentro da sua história, personalidade e objectivos. E é por isso que é um óptimo contraponto à Ella. Deixou que as circunstâncias a amargassem e a tornassem no que é; enquanto que a Ella recusa-se a deixar-se abater, mantendo-se bondosa e corajosa mesmo nas adversidades, mesmo quando seria mais fácil agir doutra maneira. Há uma força interior poderosa e serena nesse tipo de coisa que me agrada.

Também gostei muito das cenas que vi do palácio e dos seus habitantes. Os esquemas do Grão-Duque; o capitão da guarda e a sua queda para ver o humor nas situações, e a sua relação com o Príncipe; até a relação do Príncipe com o pai. Essa parte foi muito interessante, porque ajuda a caracterizá-lo, e curiosamente estabelece uma ligação com o percurso da Ella. Ele é, antes de ser um príncipe, um jovem a perder o pai. A sua última cena com ele é comovente e tem um detalhe mesmo bonito no fim, quando os dois se abraçam, e ele se enrosca na cama junto ao pai. Perder alguém torna-nos pequeninos outra vez.

O elenco é fantástico, acho que não há ninguém de quem eu me possa queixar, pelo contrário, todos me deram um gozo imenso em acompanhar. As meias-irmãs desbocadas e com um feitio horrível, mas que deram tantas cenas engraçadas. O capitão da guarda, pelo seu humor. O Grão-Duque, pelos seus esquemas.

A gloriosa Cate Blanchett, que é tremendamente credível como madrasta má, e ainda me fez acreditar naqueles vestidos doidos. A Lily James, que conseguiu equilibrar o feitio doce da Ella, mostrando que não é pateticamente ingénua. O Richard Madden é totalmente adorável e felizmente bastante afastado do Robb Stark, que a última coisa que eu precisava era de me lembrar da cena final dele em Game of Thrones, sob pena de ficar traumatizada.

Os valores de produção são extraordinários. Os cenários, os figurinos - os vestidos! ahhh so pretty... o da Ella no baile é delicioso, assim como muitos outros que vemos na cena (e os das meias-irmãs são hilariantes de tão shiny e de tão mau gosto), e como o da Fada Madrinha. Visualmente o filme está fantástico e cativante. (E os ratinhos! Tão fofos. Adorei que os sons que faziam remetiam para as falas dos ratos do filme animado.) A única coisa de que me poderia queixar é que a banda sonora podia puxar um pouco mais à banda sonora do filme animado. A memória auditiva podia trazer alguma nostalgia do filme animado e envolver mais o espectador.

Resumindo, diria que é um filme que vale a pena para quem gostou do filme animado e gostaria de ver uma reinterpretação que se mantém fiel e ao mesmo tempo inova em pequenos detalhes, contando uma história nova e já conhecida ao mesmo tempo. Tem momentos que dão que pensar, está bem construído, mais bem pensado do que esperaria, é deslumbrante visualmente, e conta com um bom elenco. Vou querer rever bem mais que uma vez.