quarta-feira, 30 de abril de 2014

Este mês em leituras: Abril 2014

Abril, águas mil, diz o ditado, mas tem sido um mês bonito, e ultimamente com a presença regular de sol e calor... dá vontade de sair e ler ao ar livre. Um bom mês em termos de leituras, ainda que aqui no blogue seja mais irregular, mas pelo menos vou postando quando estou inspirada.

Livros lidos



Opiniões no blogue


Os livros que marcaram o mês

  • Fangirl, Rainbow Rowell - adorei a protagonista, os seus interesses e a sua evolução ao longo da história... a autora sabe escrever sobre personagens desta idade, sobre novas experiências e sobre crescer como ninguém que já li;
  • The Ring and the Crown, Melissa de la Cruz - uma boa surpresa duma autora que já conhecia, um tipo de história que nunca a vi escrever, mas com a qual conseguiu fazer algumas coisas interessantes;
  • Pivot Point, Kasie West - uma história fascinante sobre futuros paralelos e sobre escolhas;
  • Apreciada, Caragh M. O'Brien - depois de um primeiro livro pouco inspirado, achei este muito melhor, deu-me muito em que pensar;
  • Don't Look Back, Jennifer L. Armentrout - outra boa surpresa de outra autora que já conheço, num género que ainda não a tinha visto escrever, mas que usou de uma maneira bem satisfatória e cativante.

Outras coisas no blogue


Aquisições

O Desejo mais Escuro, Gena Showalter
Apreciada, Caragh M. O'Brien
Se Disser Que Te Amo, Vou Ter de Te Matar, Ally Carter
Quando Aqui Estavas, Daisy Whitney
Longbourn - Amor e Coragem, Jo Baker
A Escolha dos Três, Stephen King
A Rosa de Prata, Susan Carroll
Rosa Candida, Auður Ava Ólafsdóttir
O primeiro porque ainda não ganhei balanço para continuar a ler a série em inglês, e pronto, pelo menos vou lendo na minha língua. Os cinco seguintes consegui comprar com descontos em cartão, gastando quase nada. Prometi a mim mesma que daria uma segunda oportunidade ao Stephen King, apesar de não ter achado o primeiro livro da série grande coisa, o que quer dizer que estou com uma vontade duvidosa para o ler, mas não consigo afastar a curiosidade mórbida de tentar perceber o que é que toda a gente vê na série e no autor. O penúltimo livro da pilha é uma continuação da respectiva série, e o último ganhei num passatempo.

Soul Screamers volume four, Rachel Vincent
Don't Look Back, Jennifer L. Armentout
The Ring and the Crown, Mellisa de la Cruz
The Winner's Curse, Marie Rutkoski
O primeiro traz uma história extra passada neste mundo, e estava a um preço jeitoso, por isso aproveitei. O segundo e o terceiro são de autoras que sigo atentamente (o primeiro também encaixa nesta categoria). E o quarto, bem, ouço falar dele há quase um ano, preciso de descobrir o que se passa para gerar tanto burburinho.

A banda desenhada do mês entre as revistas da Disney e as da Marvel em português. O único livro de BD foi o Fábulas - Lendas no Exílio da Panini brasileira, que adquiri numa loja que faz importação deste material, na Feira da Ladra.

A ler brevemente

Maio vai ser o mês em que dou um passo maior que a perna, quase de certeza. Mas há tanta coisa boa a sair neste mês, e algumas coisas boas que ficaram para trás, por isso aqui fica uma pilha maior que o normal. Um ou outro livros são para desafios pessoais, outros são coisas que quero ler, outros coisas que ando a adiar há algum tempo... e tenho ali uma pilha enorme de livros-que-ainda-me-hão-de-chegar, porque Maio é um mês delicioso para lançamentos de séries e autores que sigo em inglês, para não falar de que em português também vão sair algumas coisa interessantes... o ano todo tem sido uma seca de lançamentos editoriais decentes, e agora sai-me uma trovoada. Enfim... o City of Heavenly Fire é apenas wishful thinking, já que só sai no fim do mês e à velocidade a que as coisas me têm chegado, provavelmente só lhe meto as mãos em cima em Junho. Mas não custa sonhar.

terça-feira, 29 de abril de 2014

Não julgues um livro pela capa: Penguin Essentials

Creio que podia preencher esta rubrica só com capas feitas por e para a editora Penguin. Conhecidos pelos seus paperbacks, esta editora esmera-se no design das suas capas, criando coisas giríssimas que me deixam sempre a salivar só de olhar para as capas dos livros. Esta colecção, Penguin Essentials, reúne livros importantes do século XX e oferece-lhes uma roupagem diferente conforme o livro.


Gosto imenso do pormenor de usarem um estilo gráfico diferente para cada livro. Formam uma colecção heterogénea, mas tão bonita. Creio que os meus favoritos são o Lucky Jim (capa central da última linha), pelo ar de banda desenhada; o Hell's Angels (central da segunda linha), pelo estilo de tatuagem que tem; e The Prime of Miss Jean Brodie (direita na segunda linha), Lady Chatterley's Lover (esquerda da última linha) e A Room with a View (direita na última linha), porque têm todas um estilo floral, feminino ou até sensual, mas lindíssimo.

segunda-feira, 28 de abril de 2014

Don't Look Back, Jennifer L. Armentrout


Opinião: Sigo esta autora desde quase que começou a lançar livros como se não houvesse amanhã, e li quase todos os seus livros publicados... o que quer dizer que conheço o seu estilo e me sinto confortável com ele, ou não leria tantos livros dela. Por outro lado, conhecendo o seu estilo, é difícil surpreender-me. O que até posso dizer que aconteceu aqui. Don't Look Back é um livro um pouco diferente daquilo a que Jennifer L. Armentrout me habituou, mas que continua a ter a marca da autora e que conseguiu igualmente cativar-me.

Don't Look Back é um thriller/mistério que conta a história de Samantha, uma jovem que aparece a caminhar sozinha, numa estrada, sem memória de quem é ou o que fez. Reintegrada na sua vida, descobre que a Sam antes-da-amnésia era uma rapariga jovem, bonita, rica, a caminho duma faculdade prestigiada e com um namorado de sonho, mas também que era a menina-má-mor da escola, odiada por todos e desafiada por ninguém. Bem, talvez por Cassie, a sua (aparentemente) melhor amiga, mas também rival, que desapareceu na mesma noite que Sam.

Gostei muito do modo como a autora apresentou a questão da amnésia e de como a Sam lidou com ela. Sem os filtros que a antiga Sam tinha, criados por anos de emoções e memórias e o peso que trazem, a nova Sam permite-se ser mais genuína, quase como se tivesse nascido de novo. É uma coisa muito interessante de ver, porque toda a gente espera que ela volte a ser a miúda mesquinha que era, e ficam surpresos cada vez que ela faz algo simpático.

A Sam, por sua vez, não consegue compreender como se tinha tornado nesta pessoa horrível, e tenta regenerar as pontes que tinha queimado, e opor-se às injustiças que anteriormente tinha praticado. Morri a rir na primeira cena dela com o Carson, um rapaz que a velha Sam tinha tratado mal, mas que a nova Sam achava giro, e ao qual perguntou se era ele o seu namorado.

Por falar nisso, achei curioso (mas plausível) como, na ausência da lembrança de emoções e das memórias que as suportam, a nova Sam não sentia nada por aquele que era de facto o seu namorado, o Del. Acaba por ser um pormenor que sugere que por vezes nos agarramos demasiado às coisas, instigados pelo passado e pelo que nos recordamos, mas que no presente podem já não ser as mesmas que nos recordamos.

Uma parte importante da amnésia é conhecer e compreender as relações da Sam com os que a rodeiam. A relação com a mãe é a mais complicada, porque a velha Sam parecia comportar-se muito de acordo com os seus valores, mas sempre a causar sarilhos e a revoltar-se contra isso. A relação com a Cassie também era complicada, pela amizade/rivalidade que partilhavam. Com o Del, o namorado de antes, era bastante turbulenta e cheia de altos e baixos.

Com outras pessoas que tinha afastado acabou por conseguir reaproximar-se delas, como o Scott, o irmão gémeo, que no início está céptico sobre a amnésia mas acaba por protegê-la e defendê-la; ou a Julie, uma ex-amiga com quem partilhava interesses. Outras afasta da sua vida, por serem demasiado tóxicas.

Com outras ainda, é mais complicado. O Carson é um amigo de infância, um jovem pelo qual a pré-adolescente Sam se permitiu ter uma paixoneta, mas que a Sam adolescente reduzia ao filho do jardineiro, insultando-o. Tinham os seus momentos, mas geralmente evitavam-se. Por isso é uma reviravolta gira a Sam permitir-se sentir-se atraída por ele e permitir-se algo que sempre se recusara. O Carson é um bom rapaz, e gentil e paciente, mas que vê através das parvoíces dela, e isso faz dele um bom par para ela.

Outro aspecto da narrativa que achei fascinante é a exploração do stress pós-traumático da Sam. Com amnésia, e em paranóia pelo que passou, a Samantha tem dificuldade, em certos momentos, em destrinçar o que é verdadeiro e o que é ilusão ou memória. O modo como ela começa a duvidar do seu instinto é preocupante, assim como a maneira que o seu subconsciente arranja para a avisar. Mas, por outro lado, esta situação mostra o uso de um medicamento psiquiátrico de forma positiva. Gosto que se tenha fugido ao cliché de um personagem precisar de acompanhamento terapêutico e se fazer disso um bicho de sete cabeças.

Quanto ao objectivo do mistério, que é descobrir quem fez.. passei o livro todo a analisar possíveis suspeitos e suas motivações, e o motivo da pessoa que o fez até me passou pela cabeça, mas não o levei a sério como suspeito porque representava uma quebra de confiança tão grande... pontos bónus para isso. Além de que me manteve a tentar adivinhar até ao último segundo.

Em suma, esta foi uma boa leitura, que conseguiu manter o suspense e reter a minha atenção durante todo o livro. A Samantha foi uma boa protagonista, determinada em mudar, em ser melhor do que era, e acompanhei com gosto o seu percurso. Soube-me bem, a leitura.

Páginas: 384

Editora: Disney Hyperion

domingo, 27 de abril de 2014

Curtas: BD e contos

Tortured, Caragh M. O'Brien
Ruled, Caragh M. O'Brien
Dois contos passados no mundo da trilogia Birthmarked, Tortured e Ruled ocorrem respectivamente antes e depois de Prized/Apreciada, o segundo livro, acompanhando ambos o mesmo personagem, o Leon. (Tenho a sensação que a autora é uma fangirl do Leon, já agora.)

Tortured lida com as consequências que o Leon tem de enfrentar por ter ajudado a Gaia no fim do primeiro livro, Birthmarked. É uma situação complicada, porque ele é filho adoptivo do homem mais poderoso do Enclave, mas isso não o protege de ser torturado e tratado de forma mesquinha como vingança por tal "crime".

Fico triste, porque a sensação que tenho é que ele nunca teve uma vida familiar normal, sendo visto mais como um "apêndice", pelo menos da parte do pai. A madrasta, a Genevieve, mostrou-se mais preocupada e interessada, a ponto de enfrentar o marido, e por essa razão fico curiosa por ver o papel que ela terá no terceiro livro. Gostava de conhecer melhor a dinâmica familiar do Leon, porque creio que isso afecta o modo como ele vê o mundo.

Ruled mostra um pouco a situação em Sylum após os acontecimentos do Prized, o segundo livro, dando umas pistas acerca das mudanças no terceiro livro. Mas foca-se principalmente num parto que a Gaia vai fazer e no qual o Leon está presente, compreendendo melhor o que ela faz e partilhando esse momento com ela. Tenho pena do rapaz, ele ali a suspirar pela Gaia, e a moça sempre a dar-lhe para trás... a ver se eles finalmente se entendem no terceiro livro.

Cat versus Human, Yasmine Surovec
Sigo o blogue em que a autora publica os seus comics, Cat versus Human, e divirto-me imenso com as piadas que faz em torno de gatos, das suas idiossincrasias, e de ser um dono de gatos. Adoro as piadas da cat lady, daquilo que os gatos fazem à cama dela (especialmente quando ela lá está a dormir), o modo como o marido é arrastado para ser uma cat person e adorar os bichinhos que têm lá em casa, aquilo que os gatos lhe fazem à casa, ao computador, às cortinas, ao sofá...

Gosto muito do tipo de desenho que a autora usa, é simples mas eficaz a contar a história de cada gag, e as cores têm uma paleta reduzida, mas que a autora faz funcionar a seu favor. Gosto muito do grafismo, e acho que usaram o formato pouco usual do livro de forma a funcionar a seu favor.

Fábulas - Lendas no Exílio, Bill Willingham, Lan Medina, Steve Leialoha, Craig Hamilton
Esta é uma premissa fabulosa - personagens de histórias encantadas, contos de fadas e outros que tais, expulsos da sua terra natal, refugiam-se em Nova Iorque e formam uma comunidade que faz por se manter despercebida entre os humanos.

E considerando aquilo que apresenta acerca das lendas e personagens, fiquei fascinada com os pedacinhos de informação... o Príncipe Encantado é um vagabundo que se aproveita da bondade de todas as mulheres com quem se envolve? A Bela, quando zangada com o monstro, fá-lo reverter à forma original? Fantástico.

O problema é que a história não aproveita muito bem essa premissa... perde-se um pouco no enredo principal, que é o mistério do assassinato de um dos personagens de lendas. Só que o mistério é tão básico e tão simples que eu percebi logo o que tinha acontecido. Portanto, o enredo principal é um veículo para explorar este mundo... mas como o enredo principal é tão fraquinho, mata um pouco a grandiosidade que a história podia vir a ter.

Sobre a arte, não tenho grande coisa a dizer, não é particularmente memorável... à excepção do trabalho com as vinhetas, especialmente quando lhes põem molduras que evocam os contos de fadas. Acho as capas visualmente muito mais interessantes.

sábado, 26 de abril de 2014

Quando Aqui Estavas, Daisy Whitney


Opinião: Este é um livro sobre luto, sobre fazê-lo, sobre compreender as razões que levam alguém, e as razões para ficar. Danny Kellerman terminou o secundário, e a sua mãe não está cá para a sua cerimónia de graduação, como tinham projectado. A sua batalha contra o cancro terminou dois meses antes.

No início do livro Danny está envolto numa nuvem de tristeza, fúria, e desprezo. Faz um monte de asneiras só porque pode, porque ninguém está responsável por ele, e ninguém está para o responsabilizar pelas asneiras que faz. (O pai morreu 6 anos antes.) A mãe morreu antes de o poder ver graduar-se, Danny tem de lidar com heranças, contas e investimentos, e bens pessoais, entre os quais as perucas da mãe, e a rapariga da sua vida terminou com ele no ano anterior, de modo abrupto.

É interessante, ainda que exasperante, ver as reacções do Danny no início do livro. Dominado pelo luto e pela dor, faz um monte de porcaria que me fez revirar os olhos pela infantilidade de algumas coisas... mas consegui compreender o porquê de o fazer. Era a sua maneira de exprimir a dor, um comportamento bastante típico de um miúdo, e acabou por gerar um momento engraçado, o discurso de final de ano que o Danny fez.

Tenho de reconhecer, a voz narrativa que a autora usa evoca bem um rapaz de 18 anos. Combina bem aquele quê de honesto (diverti-me com a sua avaliação de que não terá sido um bebé planeado), irritante, pouco subtil (é um rapaz de 18 anos, afinal), emocionalmente confuso, e a tentar evitar determinadamente a dor. E é por isso que gostei de acompanhar a sua evolução ao longo da história. O Danny vai para o Japão tentar compreender os últimos dias da mãe, para se sentir mais perto dela e fazer as pazes com a sua morte.

Achei fascinante conhecer um bocadinho do Japão pelos olhos de um visitante frequente, e apreciei a viagem do Danny pelos últimos dias da mãe. Grande parte das coisas que ele tinha de descobrir e perceber eram claras à partida para mim, mas não foi por isso que ver o Danny percorrer esse caminho se tornou aborrecido.

Parte do interesse da história prende-se não só com o que Danny compreende acerca da mãe, mas com as pessoas da vida dele, e um novo entendimento que ele ganha acerca delas. A Laini, irmã adoptiva e afastada da família desde que o pai morreu, ganha dimensão com a razão do seu afastamento, algo emocional e relacionada com a procura das suas raízes. A Holland, a ex-namorada que continua a aparecer, sempre presente, cujo afastamento me parecia tão estranho e ridículo até conhecer as razões que tinha, que são de partir o coração.

Outros personagens secundários contribuem para a história, marcando-a. A cadela Sandy Koufax, parte irrevogável da vida do Danny, que o acompanhou em tudo. A Kate, amiga da mãe de Danny e mãe de Holland, uma mulher determinada mas incapaz de lidar com um Danny em luto. A Kana, a miúda japonesa que acompanha Danny por Tóquio, a qual eu adorei pela sua irreverência.

Creio que algumas das minhas partes favoritas da narrativa são aquelas que têm os flashbacks da vida de Danny com a família. Deram a conhecer melhor a sua história, permitindo dar dimensão à carência que sente, permitindo compreender o seu processo de luto. É uma boa maneira da autora permitir ao protagonista fazer as pazes com a dor que sente por todos os abandonos que sentiu nos seus curtos 18 anos.

É um livro bonito e simples, uma história coming of age sobre luto e sobre continuar a viver depois da perda. Deixou-me curiosa acerca da autora.

Título original: When You Were Here (2013)

Páginas: 244

Editora: Asa

Tradução: Inês Castro

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Apreciada, Caragh M. O'Brien


Opinião: Este livro foi uma boa surpresa. Gostei do primeiro livro da trilogia, mas também o achei... fraco. Faltava-lhe algo. A autora tinha que trabalhar melhor o enredo. Os personagens não cativavam e a história não transmitia uma mensagem clara. Apesar disso, a premissa era muito interessante e acabou por ser uma leitura que "embalava" e de viragem voraz das páginas. Portanto não sabia bem o que esperar do segundo volume, mas aquilo que recebi foi bem mais do que estava à espera.

Gostei muito mais deste livro. Suponho que algumas coisas menos boas que apontei no primeiro ainda estão lá, em parte... mas sinto que a autora as soube trabalhar melhor. O ritmo da narrativa não me pareceu tão estranho, e fiquei mais investida nos personagens e nas relações estabelecidas neste livro. A autora consegue apresentar uma sociedade totalmente diferente da do primeiro livro, e melhor, achei esta sociedade fascinante e com algo para dizer sobre as relações humanas.

Gostei mais do worldbuilding neste livro, creio que fez tudo mais sentido para mim. Os dois aspectos que condicionam Sylum são bastante... científicos, e nisso tenho de louvar a autora, porque ela parece ter feito alguma pesquisa para criar pelo menos situações cientificamente plausíveis. Tanto no aspecto número 1, que afecta a população masculina, e que encaixou mesmo bem com algo que estudei no meu curso... como no aspecto número 2, que além de explicar o porquê das pessoas se verem impossibilitadas de sair de Sylum, ainda explica (na minha opinião, já que a autora não tornou isso claro) o tipo de atitude que os habitantes de Sylum têm.

Também achei mais interessante o tipo de sociedade que a autora construiu. É uma sociedade matriarcal, e as mulheres mandam e têm o poder, sim... mas continuam tão prisioneiras do sistema como se fosse uma sociedade patriarcal. O poder que detêm é ilusório, se acabam por ter as suas opções tão limitadas - ou casam e viram uma máquina de parir, ou tornam-se "soltas" e vêem direitos básicos serem-lhes recusados, em troca dos direitos que clamam para si. Esta sociedade é um comentário sobre como a desigualdade entre os seus elementos não é a resposta, e é uma análise fantástica sobre relações entre homens e mulheres, com certas nuances que a autora introduz.

Apreciei ler sobre certas subtilezas da sociedade, como o equilíbrio de poder associado ao toque - uma coisa aparentemente tão simples tendo um significado tão grande. Gostava que a Gaia tivesse compreendido melhor e mais cedo como é que esta sociedade funcionava, as suas regras... mas no caso particular em que estou a pensar, creio que o Peter estava ciente de que a Gaia não compreendia as ramificações das acções de ambos. Gera uma discussão curiosa sobre consentimento e escolha.

Quanto à Gaia e aos seus pretendentes... é engraçado vê-la numa posição em que se vê alvo de tanta atenção. Mencionei o que achava do Peter (basicamente é um pateta que não tem bom senso nenhum); já o Will parece-me uma rapaz com a cabeça no lugar, que pelo menos respeita a Gaia... gostei mais do jeito discreto dele.

O Leon, esse, coitado, tem a cabeça feita num oito, vindo duma situação terrível, e ainda vem-se meter neste manicómio que é Sylum. Lida inicialmente um bocado mal com o que encontra, mas tenho de reconhecer, tinha razão em puxar as orelhas à Gaia. Ela precisava disso. Aliás, ele lida com a Gaia duma maneira... nada aborrecida. Compreende-a e aceita-a melhor do que ela pensa, apesar de ser péssimo a exprimir afecto, o que é tremendamente irritante, mas estranhamente cativante. Bem, pelo nunca haverá um momento enfadonho com eles os dois. Não me facilitam a vida, mas vou torcendo por eles.

Quanto à Gaia... bem, a miúda sabe mesmo como arranjar sarilhos mal chega a algum lado, e é bastante fã de gestos grandiosos, se para aí estiver virada. É engraçado como mal chega a Sylum e começa logo a quebrar regras... depois tenta integrar-se, tentando aceitar e cumprir as regras, só que isso também não corre muito bem. Mata-lhe completamente o espírito.

É curioso o equilíbrio de forças, ou de convicções (será a melhor palavra) que se gera entre a Gaia e a Matriarca. É em parte um conflito geracional, entre jovens e velhos (se é que posso chamar velha à Matriarca)... mas também uma questão de convicções. A Gaia acredita no seu trabalho de parteira e na protecção das suas pacientes... é fascinante, como a autora conseguiu meter ali uma discussão pró-escolha/pró-vida, e ainda mais sem ninguém lhe cair em cima, considerado que os americanos são um tudo-nada conservadores.

A Gaia tem uma evolução intrigante, com muitos avanços e recuos, mas quando é preciso, o coração dela está no sítio certo. Talvez até demais, porque quando mete uma coisa na cabeça, ou se dedica a uma coisa, leva tudo à frente, e às vezes esquece-se um bocadinho dos que a rodeiam. Espero que entretanto melhore um pouco e conheça duas coisas novas, sensibilidade e ponderação.

A parte final do livro põe as coisas num ponto que me deixa com muita vontade de ler o próximo. As mudanças em Sylum prometem. Enfim, acho que diria que este livro me deu muito mais que pensar que o outro. Fico feliz por ver que este livro é melhor que o anterior. Às vezes o segundo livro de uma trilogia é mais fraco, e anima-me ver que aqui não é o caso.

Título original: Prized (2011)

Páginas: 432

Editora: Everest

Tradução: Maria João Rodrigues

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Picture Puzzle #87


O Picture Puzzle é um jogo de imagens, que funciona como um meme e é postado todas as semanas à quarta-feira. Aproveito para vos convidar a juntar à diversão, tanto a tentar adivinhar como a fazer um post com puzzles da vossa autoria. Deixem as vossas hipóteses nos comentários, e se quiserem experimentar mais alguns puzzles, consultem a rubrica nos seguintes blogues: Chaise Longue.

Como funciona?
  • Escolher um livro;
  • Arranjar imagens que representem as palavras do título (geralmente uma imagem por palavra, ignorando partículas como ‘o/a’, ‘os/as’, ‘de’, ‘por’, ‘em’, etc.);
  • Fazer um post e convidar o pessoal a tentar adivinhar de que livro se trata;
  • Podem ser fornecidas pistas se estiver a ser muito difícil de acertar no título, mas usá-las ou não fica inteiramente ao critério do autor do puzzle;
  • Notem que as imagens não têm de representar as palavras do título no sentido literal.

Puzzle #1
Pista: título de mistério em português.

Puzzle #2
Pista: romance contemporâneo em português.

Divirtam-se!

domingo, 20 de abril de 2014

TAG - Venha o Diabo e Escolha

A Jojo do Os devaneios da Jojo desafiou-me a responder a esta TAG... complicada, por sinal, lol. Aqui vão as minhas respostas ainda mais complicadas. :P

1) Preferias só poderes ler um livro por ano e saberes que
ias adorá-lo imenso ou leres vários e não gostares muito deles?
Ahhhh não consigo imaginar a minha vida a ler tão pouco e ser apresentada a tão poucos mundos diferentes. Quase que preferia não ler, de todo. Mas se tenho de escolher, suponho que escolho o primeiro. Tem é de ser um livro que seja do outro mundo, ou não valeria a pena.

2) Preferias nunca poderes conhecer o teu autor(a) favorito/a ou nunca
mais poderes ler mais livros do/a mesmo/a a partir deste momento?
As probabilidades de eu conhecer o meu autor favorito (qualquer um dos meus autores favoritos, mesmo) é diminuta, e honestamente, às vezes é melhor manter o mistério em relação a alguém que admiramos do que correr o risco de nos desapontamos. Portanto, escolho a primeira opção, e continuar a ler os livros desse(s) autor(es).

3) Preferias ser obrigado a ver sempre os filmes
antes de leres os livros ou nunca veres os filmes?
Ahhh eu não seria capaz de deixar de ver os filmes de adaptações, bons ou maus. Divirto-me bastante a comparar os dois, a ver como alguém transmite a mesma ideia num outro meio artístico. Já tenho visto filmes antes de ler o livro respectivo, e é um prazer quando o realizador consegue transmitir as ideias da narrativa, por mais complexa que seja. Portanto, a primeira opção.

4) Preferias matar uma das tuas personagens favoritas
de sempre ou deixar um dos piores vilões escapar impune?
A vida é injusta, either way, não é? Gosto bastante quando os autores tomam opções controversas, afastando-se dos finais felizes, e lembrando-nos disso. Faz-me sentir que os personagens são mais reais. Não quereria ser responsável pela morte de um personagem favorito, ainda assim, suspeito que seria preferível a deixar escapar alguém que viesse a magoar muitas outras pessoas.

5) Preferias ser um tributo nos Jogos da Fome ou que
a pessoa mais importante para ti no mundo o fosse?
A primeira. Mas quase de certeza que ou morria na matança inicial, ou conseguia fugir apenas para ser apanhada por uma das aquelas armadilhas horrendas dos Produtores dos Jogos.

6) Preferias que a tua série favorita de sempre nunca tivesse
existido ou que o/a autor(a) nunca a conseguisse acabar?
Considerando séries que acompanho e estão a meio, em termos de escrita, ou séries que acompanhei e tinham potencial para mais, tendo sido interrompidas por alguma razão... acho que consigo lidar melhor com imaginar "o que podia ter acontecido" do que passar sem ter lido qualquer dessas séries.

7) Preferias nunca ter conhecido esta comunidade literária na internet
ou teres de deixar de fazer parte dela para sempre obrigatoriamente?
É um pouco difícil de imaginar a minha vida nos últimos anos sem ter começado a blogar e entrado para este cantinho da internet. Custa-me deixar de ter lido o que li e aprendido o que aprendi durante estes anos, mas ainda assim acho que prefiro não ter conhecido do que ter de deixar. Não consigo imaginar para já o meu futuro sem isto.

8) Preferias que um livro que encomendaste chegasse a tua casa numa
edição super feia, mas em óptimas condições ou que chegasse a tua
cada na edição que querias, mas toda estragada, sem poderes reclamar?
Acho que ficava muito zangada se encomendasse uma edição para me enviarem outra. Quero receber aquilo por que paguei. Se vier estragada, bem, não posso reclamar com os responsáveis do envio, mas sempre posso dar nas orelhas dos CTT.

9) Preferias que os teus livros, por conta de
uma tragédia, ardessem ou se afogassem?
Ah, tenho uma comichão a ver livros a arder... e deve fazer cá uma sujeira. Marginalmente, prefiro a segunda. Ei, já tive livros a levar um banho de mar e sobreviveram.

10) Preferias rasgar a capa de um
livro ou sujá-la com algo que não saia?
Acho que prefiro sujar a capa. Tenho a sensação que era capaz de chorar se rasgasse uma capa por acidente.

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Desafio a responder à TAG quem quer que se sinta com vontade de responder a estas questões aterradoras. ;)

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Pivot Point, Kasie West


Opinião: Esta história tinha o potencial para correr espectacularmente bem ou espectacularmente mal. A ideia de vidas/futuros paralelos é complexa, e tem que ser bem executada para fazer sentido... e aqui isso aconteceu. A autora Kasie West consegue trabalhar esta premissa de modo a apresentar uma história absorvente e aparentemente simples, mas com muito para dar.

Addison "Addie" Coleman é uma jovem com super-poderes. Quando confrontada com uma escolha, pode procurar o seu futuro e ver as consequências de cada opção que tem à disposição. No inicio do livro, é confrontada com o divórcio iminente dos pais e com uma escolha: ficar com a mãe, e continuar a viver no Compound, um local que alberga outras pessoas com super-poderes; ou sair do Compound com o pai, e ir viver entre os Norms, as pessoas normais/sem super-poderes, e ter uma vida completamente diferente de tudo o que já conheceu.

Addie usa então o seu poder para a ajudar a escolher. Os dois futuros alternativos que tem à disposição são apresentados em capítulos alternados, e isto é feito de maneira estupendamente descomplicada, porque eu nunca tive dificuldades em passar de um futuro para o outro, nem tive problemas em os distinguir. A autora dá uma vida diferente à Addie em cada um, e ela própria é uma pessoa ligeiramente diferente em cada um, devido ao que vai acontecendo. (Pontos bónus por conseguir apresentar de modo satisfatório o que são essencialmente duas histórias diferentes em apenas um livro.)

Contudo, ao mesmo tempo, é fascinante ver os futuros a desenrolar-se de forma paralela, com muitos pontos em comum, que acabam por se diferenciar apenas pela presença ou não da Addie. Há muita coisa que acontece na mesma sem a presença dela, e outras coisas em que a presença dela é crucial para alterar o curso dos eventos. Faz reflectir no impacto de um indivíduo nas vidas dos que o rodeiam, e em como pequenos detalhes podem ou não mudar o curso da história.

Uma menção ao modo como a autora escreve o livro: adoro o seu sentido de humor e como apresenta a história e a protagonista... e aplaudo a maneira como desenvolve o enredo. A evolução paralela dos dois futuros é perfeita. Pelo menos não lhe encontrei problemas, e eu sou muito esquisitinha no que toca a histórias que metam mexer com o futuro.

Gostei muito da heroína, e da maneira como a autora a escreveu. A Addie é uma jovem bem resolvida, com a cabeça no lugar, relativamente madura, com um bom sentido de humor e com uma personalidade que me agrada. Enfrenta escolhas difíceis, mas é justa e sacrifica uma potencial felicidade pessoal pelos que ama.

Achei muito interessante o modo como o livro apresenta os dois potenciais interesses amorosos. Como os futuros que vemos não estão escritos em pedra, sendo apenas isso, possibilidades, permite explorar uma situação mais que batida duma nova forma. É engraçado, porque um dos rapazes eu topei logo à distância... era demasiado perfeito para ser verdade, e passei o tempo todo desconfiada dele. Ainda tentei achar-lhe piada, mas não consegui. Apenas fiquei com alguma pena dele no fim, porque me pareceu uma pessoa fraca e facilmente manipulada pelos outros - o que é irónico, tendo em conta aquilo que é capaz de fazer.

O outro rapaz é muito próximo do par perfeito para a Addie. É gentil, engraçado, com gostos compatíveis com os da Addison, e desenvolve uma amizade próxima com ela. É muito giro ver o modo como se aproximam, e uma delícia vê-los juntos. Melhor, também tem uma boa cabeça, quando há a possibilidade de algo os separar dá à Addie a oportunidade de se explicar, e aceita-a pelo que é, e aquilo que ela precisa de fazer.

Quanto às reviravoltas que levam aos finais de cada futuro...confesso que andei um pouco perdida entre suspeitos, e quem e o que exactamente é que andava a acontecer. Foi uma surpresa, e até gostei da maneira como a autora trabalhou as coisas, mas não sei se as pistas falsas que a autora andou a plantar funcionaram bem a favor da história.

Relativamente ao final e à escolha que a Addie tem de fazer... não posso dizer qual é, mas posso dizer que fiquei orgulhosa dela pela escolha e opções que toma, apesar de desejar que ela pudesse escolher sem os constrangimentos que determinaram a sua escolha. (E não, isto não é um paradoxo, esta conversa de escolhas e determinismos. Ela continua a ter uma escolha. Só que o tipo de pessoa que ela é determina que só existiria um futuro no qual pudesse viver consigo mesma.) Preferia é que a autora tivesse permitido que a Addison tivesse mais tempo para ponderar na importância das escolhas, e em como estas afectam os que a rodeiam. E que pudéssemos ter visto melhor a reacção dela depois de conhecer a fundo as duas hipóteses à sua frente.

No fim de contas, é um livro enganadoramente simples, que começa por ter um tom contemporâneo, descrevendo os pequenos detalhes das duas vidas que a protagonista leva em cada futuro... mas evoluindo para uma história que questiona a importância de um indivíduo no decorrer dos acontecimentos e o o poder de uma escolha na vida de uma pessoa e nas vidas dos que a rodeiam. É um livro bastante esperto no modo como apresenta a história, e foi uma delícia de leitura.

Páginas: 352

Editora: Harper Teen (Harper Collins)

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Picture Puzzle #86


O Picture Puzzle é um jogo de imagens, que funciona como um meme e é postado todas as semanas à quarta-feira. Aproveito para vos convidar a juntar à diversão, tanto a tentar adivinhar como a fazer um post com puzzles da vossa autoria. Deixem as vossas hipóteses nos comentários, e se quiserem experimentar mais alguns puzzles, consultem a rubrica nos seguintes blogues: Chaise Longue.

Como funciona?
  • Escolher um livro;
  • Arranjar imagens que representem as palavras do título (geralmente uma imagem por palavra, ignorando partículas como ‘o/a’, ‘os/as’, ‘de’, ‘por’, ‘em’, etc.);
  • Fazer um post e convidar o pessoal a tentar adivinhar de que livro se trata;
  • Podem ser fornecidas pistas se estiver a ser muito difícil de acertar no título, mas usá-las ou não fica inteiramente ao critério do autor do puzzle;
  • Notem que as imagens não têm de representar as palavras do título no sentido literal.

Puzzle #1
Pista: título de romance contemporâneo em português.

Puzzle #2
Pista: título de romance mais ou menos histórico em português.

Divirtam-se!

terça-feira, 15 de abril de 2014

The Ring and the Crown, Melissa de la Cruz


Opinião: Este livro foi um belo presente e uma boa surpresa. Não estava à espera de gostar tanto. Gosto muito da Melissa de la Cruz e por isso vou seguindo o que lança, mas sempre com a noção de que o livro que tenho nas mãos não vai mudar o meu mundo. Apenas agitá-lo por algumas horas. A sinopse deste livro deixou-me interessada, claro, mas depois de ter acabado a série Blue Bloods não sabia se a autora era capaz de me voltar a encantar. Parece que não precisava de me ter preocupado.

É uma história simples e complexa ao mesmo tempo. Apresentando um elenco numeroso de personagens, bastantes dos quais têm direito a POVs, é uma história de intriga palaciana, com drama romântico à mistura. Mas a melhor parte é o mundo apresentado: um cruzamento entre fantasia e história alternativa, em que a preponderância de Avalon nunca se esbateu, levando a um mundo em que a magia, não a ciência, é o motor de evolução, e em que a Inglaterra venceu de modo triunfal a França na Guerra dos Cem Anos, ganhando domínio sobre o território francês e criando o Império Franco-Britânico.

Fascinante, apesar deste cenário de fundo ser apenas isso mesmo, apresentado para suportar a história contada. Não que me incomode, a maneira como foi trabalhado funciona bem assim, mas morri de curiosidade de saber mais sobre este mundo.

O enredo foca-se na viragem iminente de paradigma no Império: a rainha Eleanor e o seu Merlin, Emyrs (sim, é mesmo o Merlin) estão no fim da sua vida e preparam-se para passar o testemunho às suas sucessoras, a princesa Marie-Victoria e a feiticeira Aelwyn. Mas para isso, elas passarão por uma série de provas, considerar os seus desejos e deveres para o futuro, e lidar com uma ameaça ao império.

O elenco de personagens é abundante, mas não tive dificuldade em acompanhá-lo, e mais, acabei por me apegar a quase todos os personagens. O desenvolvimento dos mesmos não é extenso, mas é o suficiente para os tornar em pessoas de carne e osso para o leitor.

Sendo que muitos dos personagens se debatem com a questão de seguir aquilo que os faz felizes, ou aceitar as responsabilidades que recaem nos seus ombros, os desenvolvimentos românticos acabam por ocupar parte significativa e impelir o enredo, até porque estas são pessoas com papéis importantes no seu mundo, em que qualquer decisão que tomem vai mudar a vida de muitos. A autora acaba por levantar questões interessantes e resolver as coisas de modo bastante inesperado, trocando-me completamente as voltas.

Acho que os meus personagens favoritos foram o Wolf e a Ronan, dois personagens prontos a quebrar regras e a libertar-se da sua vida, mas constantemente a ser relembrados das suas responsabilidades. Achei tão divertida a maneira como se conheceram e adorei segui-los na sua corte enviesada por essa Londres fora. A Marie-Victoria, a futura rainha, por sua vez, sonha com uma vida simples e com um jovem guarda com quem formou um laço profundo. Irritou-me um pouco que ela fosse tão cega e desconsiderasse as suas responsabilidades daquela maneira, mas achei piada à sua personalidade discreta e culta.

Até da Isabelle fiquei a gostar, apesar de ela ter um feitiozinho mesmo horrível e meter-se em buracos que devia ter mais bom senso para não se meter. A sua história é complicada, e mais complicada fica ao longo do livro. O Leopold é credível como o charmoso com uma personalidade algo repugnante. E a rainha Eleanor e o Merlin, bem, esses têm mais na manga do que seria de esperar.

A reviravolta final... ah, as pistas estavam lá, e até foram bem plantadas, mas eu não vi o vilão até ser tarde de mais. Fiquei mesmo boquiaberta, e algo perdida, com as revelações. Achei que as coisas foram reveladas mais num tell do que num show, mas o conteúdo foi tão absorvente que nem me dei conta quando estava a ler. E fiquei curiosa em ver como isto se ia reflectir no desenrolar dos acontecimentos a partir daqui.

Agora quando cheguei ao final, mesmo... custou-me. Estava a chegar ao fim do livro e a pensar "mas isto não pode acabar já aqui", primeiro porque não queria abandonar este mundo, e depois porque apesar da autora fazer um bom trabalho a apresentar um final adequadamente fechado, há tanta coisa por explorar que seria um desperdício se não houvessem mais livros passados neste mundo. Não parece haver grande informação sobre uma sequela, mas vi por aí a referência a isto ser uma "série", o que pressupõe sequelas. E me deixou muito feliz.

Em suma, não é uma obra-prima, nem um livro tão complexo como pareceria, mas à mesma bastante satisfatório e cativante. A autora costuma criar cenários de fundo bem interessantes para os seus livros, e este não é excepção. Dou por mim a devorar os livros dela e parece que não vou parar tão cedo.

Páginas: 384

Editora: Disney Hyperion

domingo, 13 de abril de 2014

Se Disser que Te Amo, Vou Ter de Te Matar, Ally Carter


Opinião: Que livro bem giro. Soa um pouco mais juvenil do que estava à espera, mas assim que ajustei as minhas expectativas, acabei por me entreter com a leitura. A protagonista é Cameron "Cammie" Morgan, uma jovem de 15 anos que estuda no Colégio Gallagher para Raparigas Excepcionais. O Colégio Gallagher aparenta ser uma escola privada para meninas privilegiadas, mas isso é tudo fachada.

Na verdade, as jovens estudantes ocupam o seu tempo a ter disciplinas como Operações Secretas, Continentes do Mundo, Línguas Antigas, Cultura e Assimilação, ou Protecção e Aplicação. Sim, o Colégio Gallagher é essencialmente uma escola de futuras espias. Aceitando as melhores alunas do país, e geralmente jovens cujos pais pertencem à comunidade de inteligência secreta, preparando-as para um futuro em que possam vir a servir o seu país.

Parece uma premissa um pouco irreal, mas a autora fá-la resultar, integrando-a com sentido de humor no mundo de um grupo de raparigas adolescentes. É bem divertido ver que estas miúdas espertas e engenhosas, capazes de falar 14 línguas, ficam completamente bloqueadas quando se trata de falar... "rapaz".

A Cammie é uma boa protagonista, conhecida por "Camaleão" por passar muito bem despercebida, conhecedora de muitos dos segredos de Gallagher, pois a mãe assumiu o posto de directora da escola e a Cameron passa muito tempo de férias por lá. Ainda a lidar com o desaparecimento e morte assumida do pai, apreciei a sua evolução neste aspecto, especialmente quando tenta poupar a amiga do mesmo desgosto que carrega.

Outra parte do percurso da Cameron que apreciei foi o desenrolar da relação com o Josh. Como mencionei ali em cima, as miúdas de Gallagher não percebem nada de rapazes (é uma pena, seria de esperar que com a preparação para serem espias, o sexo oposto fosse um dos assuntos abordados), e as cenas em que Cam e as amigas tentam perceber o interesse do Josh pelas suas acções são tão engraçadas (especialmente quando a Macey se põe no papel de tradutora). Além disso, é interessante ver o modo como a protagonista lida com o tipo de enganos que precisa (precisa mesmo?) de usar na relação com o Josh.

Se bem que a minha parte favorita do livro é aquela que não tem muito destaque... ou pelo menos, eu gostava que aparecesse mais. Adoro as cenas em que as raparigas fazem "coisas de espia", ou usam as suas capacidades e talentos adquiridos em Gallagher para resolver as coisas. Tanto na investigação ao Josh, como nas cenas em que fazem trabalho de campo para as aulas - essas são as minhas cenas favoritas.

Em termos da narrativa e desenrolar do enredo, já o disse por alto no início do texto, são relativamente simples e menos complexos do que esperava, mas isso em si não é um defeito, desde que as expectativas estejam no sítio certo. O livro é claramente mais apontado para o espectro mais jovem do YA, mas consegue ser satisfatório e agradável, e terrivelmente divertido. Espero vir a ler o próximo livro.

Título original: I'd Tell You I Love You, But Then I'd Have to Kill You (2006)

Páginas: 304

Editora: Booksmile

Tradução: Rita Figueiredo