segunda-feira, 30 de junho de 2014

Este mês em leituras: Junho 2014

E o Verão está aí! Que o calor nos possa trazer boas leituras, estejamos em férias ou não. Possivelmente, a Feira do Livro que terminou no meio do mês já o fez.

Livros lidos


Opiniões no blogue

  • Eleanor & Park, Rainbow Rowell;
  • A rainha manda: O Filho das Sombras, Juliet Mariller;
  • Prodigy, Marie Lu;
  • Curtas: How to Tell If Your Cat is Plotting to Kill You, Matthew Inman; O Tigre Assassino Ataca de Novo, Bill Watterson; Contos dos Subúrbios, Shaun Tan;
  • City of Heavenly Fire, Cassandra Clare;
  • The Fault in Our Stars, John Green;
  • Curtas: Parabéns, Calvin & Hobbes, Bill Watterson; O Diário de um Banana, Jeff Kinney; Batman: Ano Um, Frank Miller, David Mazzucchelli, Richmond Lewis;
  • Meg Cabot: Nicola e o Visconde, Victoria e o Charlatão.

Os livros que marcaram o mês

  • City of Heavenly Fire, Cassandra Clare - o fim de uma série que tenho seguido avidamente, foi uma boa leitura, deixou-me satisfeita com o ponto onde deixou os personagens, e deixou-me muito curiosa para o que a autora tem planeado a seguir;
  • The Fault in Our Stars, John Green - fiquei surpresa com a maneira como o autor abordou o tema, mas foi uma surpresa boa;
  • A Noite de Todas as Almas, Deborah Harkness - fiquei impressionada com o tipo de coisa que a autora está a tentar fazer aqui... não é perfeito, mas é fascinante.

Outras coisas no blogue


Aquisições

As aquisições do mês referentes à Feira do Livro já foram descritas aqui.

 
City of Heavenly Fire, Cassandra Clare
Ruin and Rising, Leigh Bardugo
Os últimos livros de duas séries muito esperadas. Estou muito animada, mas com um pouco de receio de pegar no Ruin and Rising.

O Olhar do Amor, Bella Andre
A Bibliotecária, Logan Bell
Da colecção de livros eróticos que o Correio da Manhã acabou de começar.

Juro Dizer a Verdade, Toda a Verdade e Nem Sempre a Verdade, Ally Carter
A Vidente de Sevenwaters, Juliet Marillier
Quando Éramos Mentirosos, E. Lockhart
Comprados com descontos em cartão. Estou a gostar imenso dos livros da Ally Carter, e estou intrigada com o da E. Lockhart. Ando há algum tempo com vontade de ler a autora. E bem sei que ainda não estou actualizada com Sevenwaters, pelo menos não até este livro, mas tendo em conta que os livros desta editora desaparecem praticamente das livrarias depois de deixarem de ser novidades, e tendo em conta o preço, que é uns 3 euros mais barato que a edição anterior do livro, e os livros desta editora costumam ser bem puxados nesse aspecto... tinha de o trazer cá para casa, mesmo que não seja para ler já.

A 5ª Vaga, Rick Yancey
A Caçadora, Susan Carroll
Um muito obrigada à Elphaba do As Histórias de Elphaba, e já agora à editora também, pela oportunidade de participar e ganhar um passatempo do primeiro livro. O segundo faz parte da colecção que estou a fazer pelo Círculo de Leitores.

Revistas e banda desenhada do mês. As revistas LER foram oferta durante a Feira do Livro nos stands da Porto Editora/Bertrand. De resto, temos aqui as revistas da Goody de banda desenhada da Disney (aproveitei para adquirir as Comix do Mundial, apesar de não ser hábito comprar estas revistas), e as revistas Marvel em português da Panini.

A ler brevemente

Portanto, temos aqui algumas repetições do mês passado... os CTT e o Book Depository gostam de aderir à forma de tortura conhecida como "privar um leitor de um livro de que está à espera", um tipo de tortura lenta, mas muito eficaz. No caso em questão, a vítima foi o All Lined Up, que nunca mais aparecia, e tendo em conta que já tinha passado um mês do envio, contactei o site e vão-mo mandar outra vez. Espero que desta vez não morra à espera.

As outras repetições são o Dreams of Gods and Monsters, que eu tencionava ler este mês, mas por alguma razão obscura comecei a meter outras coisas à frente dele, e acabei por não o ler; e o Rivals in the City, que eu tencionava mandar vir do Book Depository, só que não consegui antes de o porem a um preço ridiculamente caro, e depois tentei mandar vir do Play, que tem um sistema espectacularmente complicado em que me exigem que faça uma espécie de verificação do cartão com que estou a pagar a compra, só que depois o menu de verificação está em branco, e aqueles tolos não me sabem resolver o problema, e pronto, eles é que perdem vendas. Acabou por ser a jen7waters do Cuidado com o Dálmata a dar-me uma dica para conseguir mandar vir o livro a um preço mais adequado. (Muito obrigada! :D)

Fora isso, lerei em princípio o Champion da Marie Lu para uma leitura conjunta; e gostava de ler o A 5ª Vaga do Rick Yancey, Quando Éramos Mentirosos da E. Lockhart, e Ruin and Rising de Leigh Bardugo. Fora isso, gostava também de ler um par de livros para o meu projecto da Meg Cabot, por isso dois candidatos possíveis são o Rosa Selvagem e o Um Pequeno Escândalo.

domingo, 29 de junho de 2014

Uma imagem vale mil palavras: The Fault in Our Stars (2014)

Esta é capaz de vir a ser uma opinião curta, curtíssima, já que acabei de ler o livro e não vou ter que comentar propriamente a história, apenas o como foi adaptada, e o filme em si.

Surpreendentemente, a narrativa é muito próxima da do livro. Cortam pouquíssimas coisas, e mudam ocasionalmente a ordem de cenas ou falas ou condensam-nas, e em geral fazem sentido. No final mudam um pouco a ordem das coisas, o que em parte me fez confusão por não ser assim que li, e em parte percebo, porque é mais eficaz para quem não tenha lido.

E pronto, é um filme simples, uma história simples, com pequenos momentos da vida, com consciência do quanto ela custa, mas sem deixar de ter esperança. Rever a história permite-me avaliar melhor alguma cenas agora que já conheço a narrativa na sua totalidade. É possível perceber o comportamento horrendo do Peter van Houten em Amsterdão à luz das revelações que vêm depois. E também um pouco do comportamento do Gus em Amsterdão, apesar de eles terem cortado uma cena importante nessa parte. E é possível apreciar aquilo por que passam tantos pais, sempre em pânico e receio de ver o pior acontecer, e a dor que acompanha todo o processo.

Gosto bastante do elenco. A Shailene e o Ansel fazem um bom trabalho a fazer-nos esquecer que fazem de irmãos noutro filme, o que já é muito bom. Creio que a Shailene capta bem a voz da Hazel, aquela combinação auto-depreciativa e desconsolada, mas com um certo sentido de humor; e o Ansel é uma boa surpresa, evocando perfeitamente a teatralidade e atitude ligeiramente excessiva do Gus. (Podemos revirar os olhos juntamente com a Hazel nas primeiras cenas.)

Gosto bastante dos pais da Hazel, e acho imensa piada que a mãe seja uma espécie de fangirl da Hazel e do Gus. (Sou capaz de ter passado uma boa parte do tempo a guinchar para mim própria que o Sam de True Blood não tem idade para ter uma filha da idade da Hazel. O actor em questão parece-me sempre mais novo do que realmente é.) E o Isaac é um personagem fantástico, por isso é um prazer ver o actor fazer jus às suas cenas.

Uma pequena menção para o grafismo, que nas mensagens de SMS está muito adequado ao estilo dos posteres e do genérico, e do próprio livro. E para as cenas em Amsterdão, bem giras. E ainda para a banda sonota, que tem uns bons momentos, e é raro eu reparar na banda sonora.

Acho que é uma história bem gira, foge um pouco do cliché no que toca ao tema, e creio que vai agradar quer a quem conhece o livro, como a quem não conhece, o que é raro. Vale a pena ver, e fiquei mesmo satisfeita, o que também não é muito comum eu dizer de adaptações de livros.

quarta-feira, 25 de junho de 2014

4 anos

Pensei muito no que dizer num post deste tipo. 4 anos? Não posso dizer que quando comecei esta pequena aventura tivesse em mente chegar tão longe. (Eu sei, não tenho grande confiança na minha regularidade e persistência.) A verdade é que cheguei, e descobri um novo mundo. A uma actividade que eu adoro fazer (ler), juntei uma que descobri que também me dá muito gozo fazer (opinar sobre o que leio).

Como em todas as coisas que gostamos de fazer, há sempre altos e baixos. Um dia traz uma leitura cujos méritos apetece cantar aos céus, outro dia fico desapontada porque não vou poder continuar a seguir uma série em português. Um dia estou a babar para uma capa linda (também tenho desses dias), outro dia estou a puxar os cabelos por um livro dum autor favorito ir sair a um preço ridículamente caro (sim, hoje é um desses dias).

A verdade é que o modo como me relaciono com as leituras mudou muito nestes anos. Dantes lia mais como uma borboleta, pousando aqui e ali, pegando no que me apetecia sem planear muito. Agora estou muito mais atenta às novidades que saem, mas também tenho um sentido mais apurado do que me pode vir a agradar, e acabo por perder menos tempo com leituras menos boas.

Descobri a maravilha que é encomendar livros em inglês, e o resultado é que hoje em dia os livros em inglês são mais de metade dos livros que leio. Por duas razões: a acessibilidade a uma série de coisas que não estão publicadas cá e que possivelmente não virão a ser; e o facto de cada vez ter mais razões para estar desapontada com a edição em português. Séries penduradas, traduções e revisões de meter medo ao Dracula, e, factor principal, os preços.

Eu bem gostava de comprar mais em português, mas depois olho para o preço e passo meia hora a resmonear por causa disso. Mais vale poupar-me e nem olhar, para bem da minha paz de espírito. E ir olhar babada para mais uma edição hardcover em inglês toda gira. (Que dizer? Sou susceptível a uma capa bonita, como qualquer pessoa.)

E venha mais um ano, com altos e baixos, que eu estou cá para o receber. Desde que hajam livros, há de correr tudo bem. (De preferência livros bons. Mas eu não sou esquisita. Muito.)

segunda-feira, 23 de junho de 2014

Nicola e o Visconde, Victoria e o Charlatão, Meg Cabot


Título original:
Nicola and the Viscount (2002)
Victoria and the Rogue (2003)

Páginas: 260/248
Editora: Bertrand

Tradução:
Maria José Santos
Sara Rodrigues

Sou uma grande fã destes livros. Li-os vezes sem conta quando era mais nova, depois de serem lançados. (Há uns bons 10 anos... o tempo passa.) Têm uma pitada de várias coisas que me agradam. Um tom de romance histórico, mas mais apontado para uma audiência YA. Uma homenagem e reminiscências de autoras do género, e até de autoras que escreviam na época em questão. Heroínas ao jeito da Meg Cabot. Uma bela história para me divertir por umas horas.

Nicola e o Visconde conta a história de Nicola Sparks, uma jovem orfã que está na sua época de debute, mas que suspira pelo irmão de uma das suas amigas de escola, o titular Visconde, ou como ela e a sua melhor amiga Eleanor lhe chamam, o deus. Quando, para sua surpresa, o Lorde Sebastian Bartholomew começa a devotar-lhe as suas atenções, e rapidamente a Nicola está noiva dela. A perspectiva de casar com um deus é deveras excitante... mas depois Nicola começa a ouvir insinuações sobre Sebastian, e pior, insinuações que vêm da parte do Nathaniel Sheridan, o irmão de Eleanor, e pessoa junto da qual a Nicola não consegue manter a compostura...

Esta é uma história divertida, e apesar de hoje reconhecer que é a das duas a menos boa, em termos de escrita, continua a ser a minha favorita. Divirto-me imenso com as trocas de palavras entre a Nicola e o Nathaniel, e acho que são o casal mais forte dos dois livros. Apesar das suas discussões e diferenças de pontos de vista, são iguais, intelectualmente, e sei que nunca vão deixar de ter coisas para dizer um ao outro, o que é importante na sua vida futura. Consigo vê-los em velhinhos, a Nicola ainda a defender os méritos dos poetas, o Nat a deitá-los abaixo.

A história, contudo, é a mais fraca e menos preenchida. Quando penso nela, só vejo o drama de quererem forçar a Nicola e vender o terreno da sua casa ancestral, para se construir um caminho de ferro por cima, e de ela não querer vender. Como premissa, não é tão interessante, e acho que se gasta rapidamente.

Como personagens de destaque, para além dos protagonistas, diria que a Eleanor é uma melhor amiga e uma irmã muito interessante; o Harold é um personagem divertido e caricato, pela maneira como se apresenta; e a Lady Sheridan, apesar de aparecer pouco, parece uma senhora bem sensata e uma boa figura materna.

Victoria e o Charlatão relata a história de Victoria, uma jovem que viveu quase toda a sua vida na Índia e volta a Inglaterra para para o debute, e com o objectivo expresso de arranjar marido. Mas até os tios que deixou na Índia ficariam surpresos com a rapidez com que atingiu o seu objectivo: pois ficou noiva do conde de Malfrey ainda no navio! Victoria está deliciada com o noivo, Hugh, e está decidida a ajudá-lo a pôr as suas contas em ordem com a sua herança. Mas Jacob Carstairs, o jovem capitão que viajava no mesmo navio, e que parece aparecer nos momentos mais inoportunos, começa a lançar suspeitas sobre Hugh, o que deixa Victoria indignada... mas ao mesmo tempo, não consegue deixar de pensar nele. Que maçada!

A Victoria e o Jacob, como casal, são tão divertidos. A Victoria mete-se na vida de toda a gente, e o Jacob mete-se na vida dela, por isso de certo modo estão bem um para o outro. Adoro quando ele faz algo particularmente insolente e ela se põe a bufar de indignação. Hilariante. No entanto, são o casal que parece ter menos em comum, ou pelo menos aquele que pareço ter mais dificuldade em visualizar em velhinhos. A não ser que aí ainda estejam a discutir. Isso consigo ver. E temo por eles porque às vezes parecem não compreender muito bem como o outro funciona, ou parecem esperar que o outro mude. (Podem esperar sentados.)

Quanto à história, é mais interessante e mais cativante. A Victoria viveu quase toda a vida na Índia, o que gera um choque de culturas e costumes muito giro. Enquanto que em Inglaterra é esperado que ela se porte como uma menina de boas famílias, mantendo o decoro, na Índia tinha mais liberdade e andava mais à vontade. A Victoria está habituada a resolver as coisas por si própria, mas em Inglaterra é esperado que seja passiva... o que é um dilema curioso.

A outra coisa que gosto na história é a queda da Victoria para tentar resolver a vida dos que a rodeiam. Foi isso que a pôs a caminho de Inglaterra, pois os tios finalmente deram pelas suas interferências e quiseram "livrar-se" dela... e isso gera situações engraçadas. A maneira como ela gere a sua família, os tios, os primos, e a cozinheira... muito bom.

Entre os dois livros, tive oportunidade de avaliar a tradução, e tenho a dizer... há 10 anos, os tradutores e revisores faziam tanta asneira como hoje. A diferença é que eu hoje consigo ver quando estão a fazer asneira. Entre um personagem mudar de nome entre Peter e Pedro, traduzirem "novel" por "novela" (não são a mesma coisa), ou "season" por "temporada de férias" (também não é a mesma coisa)... bem, não são muitas, mas existem. Além disso, alguma linguagem usada é mais antiquada - o que até faz sentido num livro passado no século XIX -, mas tendo em conta o público-alvo, acho que essa opção era desnecessária.

domingo, 22 de junho de 2014

Uma imagem vale mil palavras: Como Treinares o Teu Dragão 2 (2014)

Sou uma grande fã do primeiro filme. Tem uma combinação de coisas que me agradam, fantasia, dragões, uma certa piada, e uma narrativa e uma mensagem bem giras. Estava muito animada para ver o que iam fazer com este filme, especialmente porque os personagens cresceram visivelmente, e queria ver como é que isso mudava a dinâmica da história.

A coisa do salto temporal surpreendeu-me num sentido muito específico. Ambos os filmes podem ser vistos como narrativas coming of age, com objectivos diferentes, e achei que em termos de faixas etárias os personagens podiam ser no primeiro filme mais pré-adolescentes, e neste podiam ser mais adolescentes, pré-adultos. Mas o filme revela que o Hiccup tem 20 anos e passaram 5 anos desde o último filme... a mim isto não me faz diferença, mas tenho receio que um afastamento da idade do público base do filme os afaste do mesmo. E agora que me prometeram uma trilogia, eu quero que isso se venha a concretizar.

Acho que se nota bastante que em termos de animação, os computadores podem fazer mais e melhor. Adorei como desenvolveram o comportamento do Desdentado, muito à vontade com o Hiccup e cheio de travessuras e de novas habilidades. Não sei explicar bem, a primeira cena deles mostra o que quero dizer. Gosto muito do ar dos dragões novos que conhecemos, e dos novos locais também. Os personagens jovens envelheceram bem, gosto das diferenças que encontro na Astrid, por exemplo. E estou fascinada com as estrutura facial da Valka.

Aprecio a dinâmica introduzida por os personagens serem mais velhos. A Astrid e o Hiccup têm uma relação mais física-tipo-adultos e menos toca-e-foge-tipo-miúdos, o que é bom e refrescante. (Com um pormenor totalmente irrelevante mas completamente fofinho, em que ela lhe faz uma trancinha ou nó no cabelo no início do filme, e aquilo mantém-se no sítio até ao fim. Pontos bónus aos animadores por isto.) Oh, bolas, e ter dois dos rapazes do grupo (o Escarreta e o Perna de Peixe) atrás da rapariga (a Brutália, a gémea) é super divertido. Especialmente quando ela encontra outra pessoa por quem se interessa, o que gera cenas hilariantes, por esse interesse ser algo mal dirigido. (São cenas de "hormonas adolescentes" que funcionavam igualmente bem se os personagens tivessem uns anos a menos...)

Sobre os personagens em geral, gosto mesmo da atitude da Astrid, sempre a aplicar-se e a fazer mais e melhor. O Perna de Peixe diverte-me porque está sempre com os cartõezinhos a tentar identificar o dragão que têm à frente. O dragão da Volka interessou-me porque achei que havia ali uma história a contar... A Volka tem uma história muito interessante, e traz algumas coisas boas para a história. O Bocarra faz jus ao nome, sempre a lançar comentários divertidos e inoportunos no momento certo. O Estóico, bem, eu não sei porque é que toda a gente acha sempre que ele vai reagir às coisas pior do que realmente reage, porque geralmente até faz jus ao seu nome... reagindo estoicamente.

Sobre a história, acho que foi bastante equilibrada para permitir o crescimento do Hiccup e pô-lo na posição que precisava para aceitar a responsabilidade. Trazerem de volta a mãe foi uma coisa importante, porque lhe permite ancorar-se e ver que não foi trocado no berço nem nada, é mesmo filho dos seus pais. Neste caso, puxando mais à mãe, "pelo seu lado dramático" (nas palavras dele), e pelo lado revolucionário. É adequado que ele tenha sido o agente de mudança que a mãe não pôde ser. E acho que precisava de ver os pais juntos, porque foi uma coisa que nunca teve, ver dois adultos a funcionar como um casal.

Quanto a um certo e determinado acontecimento... NÃO GOSTEI. Quero dizer, compreendo a sua necessidade em termos narrativos... mas partiu-me o coração.

Quanto ao vilão... tem uma história de fundo simples, mas que podia ser facilmente a de qualquer um dos nossos personagens, se lhes tivesse acontecido o mesmo. Esta personagem abre algumas possibilidades de worldbuilding que se calhar não foram totalmente exploradas, mas espero que venham a ser. Fico com questões sobre os alfas, e sobre aquele bastão que ele portava...

Acho que é um filme, aliás, um par de filmes, que vale muito a pena ver. Tem coisas para os mais novos, mas também para os mais velhos. Tem um bom sentido de humor e de aventura, uma bela história clássica, dragões fascinantes (ahhh, adoro o Desdentado), um mundo com muito potencial e um elenco de personagens muito divertidos. Espero curiosamente (e ansiosamente) o próximo filme que me prometeram.

Ah, e como P.S. ... coitadas das ovelhas.

sábado, 21 de junho de 2014

Curtas: Calvin & Hobbes, o Banana e o Batman

Esta é daquelas edições especiais que vale mesmo a pena. É positivamente deliciosa. Com vários ensaios escritos pelo próprio Bill Watterson, dão a sua visão sobre uma série de coisas que o interessam no seu ramo de trabalho: sobre o estado da própria banda desenhada, sobre o seu método de trabalho, as suas influências, a sua postura quanto à estrutura das pranchas de domingo e ao licensing dos personagens - enfim, nestes últimos casos, algumas coisas que lhe deram dores de cabeça enquanto trabalhou em Calvin & Hobbes. Os ensaios em si são fascinantes. Mostram uma pessoa que gosta mesmo do que faz, com integridade, e que quer fazer o melhor para a sua arte. Acaba por fazer muito sentido que tivesse parado de trabalhar na tira quando parar, antes de ficar sem coisas para dizer, e de a deixar "gasta".

Fora os ensaios, a maior parte do livro consiste em tiras e colecções de tiras escolhidas pelo autor, com alguns comentários seus. Umas vezes a explicar de onde lhe veio a ideia para a tira, outras a comentar que a história não resultou tão bem, outras a mostar as suas favoritas ou que mais gostou de fazer, comentários a personagens e enredos, bem, e tudo. É uma visão honesta e descomprometida sobre o seu trabalho, e muito refrescante. Curioso que as tiras devem estar por ordem cronológica, e nota-se muito bem a evolução no seu trabalho - no traço dos personagens, na legendagem, no trabalho nas pranchas de domingo, nas quais teve mais liberdade, mais para o fim.

Ora, bolas (para usar uma das piadas do livro), este livro é hilariante. Muito sintonizado com a mentalidade de um miúdo desta idade, cheio de aventuras, desventuras, problemas e preocupações. O Greg é um miúdo sem muitas qualidades redentoras, o que torna mais divertido vê-lo meter-se em sarilhos e retirar nenhuma moral quando as coisas correm mal. Algumas das sequências mais engraçadas são a do teatro, da casa assombrada, ou a dos cartoons, em que por uma vez, o Greg paga pelas asneiras que fez e o Rowley, o melhor amigo, fica com os créditos do trabalho dos dois (e do Greg). Justiça poética.

O design do livro é bem giro, em estilo de caderno (diário não, o que Greg diz que não tem paciência para diários), com um tipo de letra adequado e desenhos a acompanhar a narração, para explicar o que está a acontecer. As ilustrações são ao mesmo tempo engraçadas e de traço caricaturado e estranho, adequadas a um miúdo desta idade.

Batman: Ano Um, Frank Miller, David Mazzucchelli, Richmond Lewis
É um pouco difícil para mim avaliar o impacto que esta história terá tido no seu meio e no personagem, especialmente quando a história é mais velha do que eu e a sua abordagem é tudo (ou a maioria) do que conheci do Batman.

Contudo, é uma história interessante, especialmente pelo foco no Jim Gordon. Fiquei com pena dele, vir meter-se no buraco que é Gotham City, e ser parcialmente corrompido, mas sempre tentando manter-se íntegro, e fazer o seu trabalho. O Bruce Wayne vai mostrando como se torna no Batman, sempre por tentativa e erro, metendo-se me mais sarilhos do que será razoável conseguir sair. (Uma das vezes sobrevive a um prédio em chamas e uns quantos tiros... para 9 dias depois, estar a esquiar. *facepalm*) Tendo em conta que o Bruce é um ser humano, com capacidades espectaculares, mas sem super-poderes...

Gostava de ter visto um bocadinho mais do Harvey Dent e do que andava a fazer, porque nem sempre era claro. E da Selina, que se transforma em Catwoman perante os nossos olhos, mas não tem conseuência na narrativa, é apenas uma sidenote. Gosto do ritmo, de a história se passar ao longo de um ano, e do tom negro. É engraçado reconhecer onde certas cenas nos filmes do Batman do Christopher Nolan terão sido inspiradas. (A coisa dos morcegos e do manto de disfarce que dão, por exemplo.) Não me passou ao lado a menção ao Joker. Ah, e alguém ensine ao Frank Miller a duração da gestação de um bebé humnao, que 10 meses não são de certeza.

A arte dá o tom à narrativa, escura, cheia de sombras. Gosto bastante dos detalhes das cenas, mas não sou fã das caras dos personagens. A coloração é gira, muito a acompanhar a arte, com cores escuras e fortes, e muitas sombras para o Batman. Mas nos extras do livro vi scans das páginas na impressão original e fiquei curiosa em ver como ficariam, pareceram-me um tudo-nada mais claras e coloridas.

Esta edição traz uns extras, esboços das páginas e dos personagens, scans do argumento, comparações entre a impressão original e o desenho a tinta, ou entre o desenho a tinta, e a coloração sem a arte final, e ainda algumas capas. Destaque para as pranchas do desenhador em homenagem ao que conheceu do Batman na infância, muito giras. Em geral, uma boa colecção de extras, com um pouco de tudo, mas que me atiçou ainda mais curiosidade sobre como este processo funciona.

quinta-feira, 19 de junho de 2014

The Fault in Our Stars, John Green


Opinião: Caríssima Internet, eu sinto-me defraudada. Em todos os comentários que eu tenho lido por aí, toda a gente fala de como este livro é triste e choraram, e assim... mas ninguém me disse que o livro era hilariante! Quero dizer, é um livro sobre cancro, é dado adquirido que vai ter partes tristes e é bem mais fácil fazer chorar o leitor com este tema. Agora falar sobre cancro e mortalidade com sentido de humor, isso sim, é difícil.

Por isso, considero serviço público esclarecer quem me esteja a ler: sim, é possível que o livro vos faça chorar, dependendo da vossa sensibilidade ao tema. No entanto, se tiverem um sentido de humor com uma pitada de negro e mórbido, também se vão rir. Eu ri, à gargalhada, às vezes. A minha irmã achou que eu estava a ficar maluca, por me rir tanto, e por tudo e por nada, ao ler o livro.

Só que identifiquei-me com o tipo de humor da Hazel e do autor, que encontravam a piada no triste e no horrível. Na possibilidade de morrer, nos tratamentos, nas sequelas que deixam, no modo com as pessoas tratam os doentes com cancro. Porque este estado de "ter cancro" gera às vezes situações bizarras, e encontrar o humor nelas e rir um bocadinho é melhor do que remoer nelas e deixar-se afundar no desespero.

Portanto, sim, fartei-me de rir, e acho que é um livro melhor por isso, porque como disse, é mais difícil fazer humor, e encontrar o humor numa situação tão trágica.

Acho que é uma coisa boa que tenha lido este livro a seguir ao Looking for Alaska, porque ambos lidam com luto adolescente e com enfrentar a mortalidade quando se é tão jovem, ainda que o façam de maneiras diferentes. No Looking for Alaska, o luto era "fresco" e os mecanismos para lidar com ele passavam questionar a própria mortalidade e perseguir um mistério que não o era, propriamente.

Neste livro, os protagonistas já tiveram o seu confronto com a mortalidade há anos, e desenvolveram mecanismos para lidar com isso, para lidar com a doença todos os dias. Por isso, é interessante ver quais são, e como lidam com isso. A Hazel tem o sentido de humor e um certo sentido trágico e uma paixão por certos programas de televisão. O Gus, bem, suspeito que aquele charme todo seja parte do mecanismo com que lida com a situação, para não falar da queda dele para filosofar e questionar, que deve ter sido desencadeada com o tal confronto com a mortalidade.

Que mais há a dizer? Esta é também uma história de amor, que é agridoce pela incerteza de que é portadora. De aproveitar os pequenos momentos. De aceitar aqueles que nos amam, e de aceitar o seu sofrimento quando partirmos. De fazer paz com aquilo que não podemos mudar. Há uma simplicidade na história que não a diminui, apenas a torna mais bonita.

Entre personagens secundários, apreciei muito os pais da Hazel, que vivem com este medo há anos, de perder a filha a qualquer momento, mas continuam a ter uma atitude muito positiva, a preocupar-se com a Hazel nas coisas pequeninas, a estabelecer limites, a continuar a viver. E gostei do Isaac, pela sua forma de exteriorizar as coisas (vamos lá dar cabo duns troféus), porque representa uma forma diferente de exteriorizar o sofrimento da Hazel ou do Gus, uma forma menos artificial, por esse sofrimento ser mais recente.

Uma parte muito interessante do livro é a relação que a Hazel e o Gus desenvolvem com um livro, An Imperial Affliction. É um livro que acaba a meio duma frase, sem ter um fim concreto, mostrando a arbitariedade da vida e da morte, e os protagonistas (mais a Hazel) não se conformam. Uma história com um fim é uma coisa que se pode controlar, e creio que a Hazel a sentiria como um conforto, já que não pode controlar o seu próprio fim.

Além disso, a procura por um fim para esta história leva-os a procurar o contacto com o escritor, e essas são das cenas mais caricatas de todo o livro, especialmente quando a Hazel lhe dá uma descasca. Sou capaz de ter rido quando ele "reaparece" à Hazel, apesar de o momento em questão ser, er, bastante sério. O Peter van Houten tem as suas razões para o modo como vive, e não foi difícil de as adivinhar, e é uma pena que isso o impeça de continuar a dedicar-se à escrita.

No fim de contas, creio que a Hazel é uma melhor personagem por tudo o que passou durante a história. A sua atitude em relação à vida em geral, e aos pais e à doença em particular, mudou para melhor. Apesar da sua perspectiva no início, de querer poupar aos pais, e aos que a amam, da dor quando partir, creio que no fim aceita que essa dor vale os bons momentos. É uma boa perspectiva para se ter.

Páginas: 336

Editora: Dutton (Penguin)

quarta-feira, 18 de junho de 2014

Picture Puzzle #94


O Picture Puzzle é um jogo de imagens, que funciona como um meme e é postado todas as semanas à quarta-feira. Aproveito para vos convidar a juntar à diversão, tanto a tentar adivinhar como a fazer um post com puzzles da vossa autoria. Deixem as vossas hipóteses nos comentários, e se quiserem experimentar mais alguns puzzles, consultem a rubrica nos seguintes blogues: Chaise Longue.

Como funciona?
  • Escolher um livro;
  • Arranjar imagens que representem as palavras do título (geralmente uma imagem por palavra, ignorando partículas como ‘o/a’, ‘os/as’, ‘de’, ‘por’, ‘em’, etc.);
  • Fazer um post e convidar o pessoal a tentar adivinhar de que livro se trata;
  • Podem ser fornecidas pistas se estiver a ser muito difícil de acertar no título, mas usá-las ou não fica inteiramente ao critério do autor do puzzle;
  • Notem que as imagens não têm de representar as palavras do título no sentido literal.

Puzzle #1
Pista: título de YA paranormal publicado em inglês.

Puzzle #2
Pista: título de ficção histórica publicado em português.

Divirtam-se!

terça-feira, 17 de junho de 2014

Uma imagem vale mil palavras: Maleficent (2014)

Gosto de retellings. Gosto da ideia de recontar uma história sob o ponto de vista de outra pessoa, e rever aquilo que sabemos, talvez encontrar uma surpresa ou duas pelo caminho. Uma história contada por pessoas diferentes há de ter versões diferentes, e é muito apelativo examinar essas versões e comparar o modo como divergem.

Portanto, acho que posso dizer que estava curiosa em ver como este filme ia abordar uma nova versão duma história tão conhecida como a Bela Adormecida. Um pouco relutante, talvez, também, em ver como iam lidar com uma personagem tão má, que acaba a amaldiçoar um bebé, e um reino inteiro por arrasto.

Fiquei dividida. Por um lado, o filme apresenta uma série de coisas que me agradam, faz funcionar uma parte do retelling bem, e mostra ter tanto potencial... por outro, não cumpre exactamente esse potencial, e em termos de escrita tem umas falhas mais lá para o fim que acabam por diminuir o significado do que tinha sido contado para trás, tornando a história mais fraca por isso.

Começando pelas partes que me agradaram, e que na verdade constituem assim qualquer coisa como 80 ou 90% do filme - portanto, pode-se dizer que são as partes mais significativas. Adorei o visual do filme, muito bonito, em particular as cenas em Moors, e algumas cenas que remetem para o filme da Bela Adormecida. Só me faltou bater palminhas de felicidade ao ver a Maleficent usar magia, porque pareciam mesmo as cenas originais, ou a piada visual com o bolo que as fadas criam.

Em geral, gostei da readaptação da história que conhecemos. A Maleficent é apresentada como uma personagem simpática, que protege o seu mundo, e que tem uma boa razão para agir como uma bruxa malvada pelo resto do filme. (Com grande excepção para a maldição posta numa bebé indefesa que não lhe fez mal nenhum. O que se fosse bem trabalhado, poderia levar a uma hipótese de redenção. Mas note-se que eu disse se, e não quando. Já falo disso daqui a pouco.) Não gosto da ideia de ela ficar vulnerável às mãos dum palhaço como o Stefan, mas compreendo que isso encaixe com o tipo de pessoa que ele é.

Gosto muito da ideia da relação que se desenvolve entre a Maleficent e a Aurora. É enternecedor ver o interesse que ela desenvolve pela menina, deixando-se encantar pela bebé (quem é que podia resistir?), e aproveitando para trollar as fadas que cuidavam da Aurora sempre que podia. De forma muito relutante, toma a posição de uma espécie de guardiã e amiga da jovem, e as cenas delas estão cheias de potencial, ainda que não totalmente realizado. (Gostava de ter visto mais cenas delas em Moors, a cimentarem a sua aproximação.)


Ainda na questão de potencial não realizado, acho que fiquei desapontada com a utilização dos personagens do Diaval e do Príncipe Phillip. O filme tem uns tons feministas que me soariam bem, não fosse o facto de se basearem em não haver personagens masculinos fortes. (O Stefan não conta, que é a modos que um vilão.) O Phillip é um patetazinho que para ali anda, sem rumo nenhum, que só serve para nos rirmos dele. E o Diaval é um personagem engraçado, o sidekick perfeito... mas é um personagem tão interessante que merecia mais tempo de antena.

Chegamos ao meu maior problema: o fim. O filme é uma boa adaptação da história original, com pequenas e grandes reviravoltas que funcionam muito bem dentro da história que conhecemos - incluindo a cena do beijo, que é uma ideia fantástica.

Agora o fim... não faz sentido, não encaixa tematicamente com a história que foi contada no filme, e não encaixa logicamente com a história que conhecemos do conto. É demasiado... cor-de-rosa. Se formos com a premissa que o filme apregoa, que "a história que nos foi contada não é bem assim", temos de considerar que parte dos eventos do que realmente aconteceu são semelhantes ou ecoam o que está no conto. E até à cena do beijo, são-no.


E depois vem o fim do filme, que é completamente oposto ao conto. Acho que faria mais sentido um final mais trágico, que envolvesse a morte da protagonista, e em que o rei sobrevivia. São os vencedores que escrevem a História, e faria mais sentido que o conto acabasse como o conhecemos com este cenário, em que o rei pode contar a sua versão (distorcida), mas a Maleficent não.

A outra razão pela qual acho que o final devia ter sido mais trágico... a Maleficent nunca se redimiu do que fez, ao amaldiçoar a bebé Aurora. Uma espécie de sacrifício teria sido uma boa maneira de obter redenção, e encaixaria suficientemente bem com o conto para me satisfazer.

Portanto, é como disse no início - um filme bastante decente, bem giro durante 85% do tempo... e depois vem o final e borra a pintura toda. Nas mãos de um argumentista mais talentoso (ou talvez um que não estivesse tanto a tentar lamber as botas à Angelina), isto podia ter sido tão melhor.

segunda-feira, 16 de junho de 2014

City of Heavenly Fire, Cassandra Clare


Opinião: Esta foi uma leitura em parte bastante esperada e em parte algo temida. No primeiro caso porque é o fim de uma série de 6 livros que sigo há tanto tempo e com tanto apreço; no segundo porque, bem, é o fim, e porque às vezes parece que a autora gosta de nos torturar com o que acontece às personagens, e eu às tantas já estou a imaginar um cenário bem pior do que o que provavelmente se vai passar. Acho que este foi um desses casos: estava a imaginar uma coisa terrível, emocional, devastadora (ler: Clockwork Princess), e obtive uma leitura mais leve e prazerosa e descomplicada que me satisfez bastante como final da hexalogia e que deixou muitos dos meus personagens favoritos num bom lugar. (Ou num que me agradou.)

Começando pelo início - o prólogo, que serve dois propósitos. O primeiro, mostrar a consequência da criação dos Endarkened por Sebastian e demonstrar de que é que estes são realmente capazes, e como é que estão a aumentar as suas fileiras. É horrível ver que um amigo tão depressa pode tornar-se em inimigo, e ver que não há volta desse estado.

O segundo é apresentar alguns personagens do Instituto de Los Angeles que deverão ser protagonistas da próxima série da autora, The Dark Artifices. E tudo o que este prólogo e este livro conseguiram fazer foi tornar-me super-fã da família Blackthorn e da pequena Emma Carstairs. Porque estes miúdos passaram por tanto, e tiveram de aturar tanto, que só dá vontade de lhes dar um abraço enorme e distribuir chapadas a quem mais quiser fazer-lhes mal. Perderam parte da família, de várias maneiras, o que deixa o mais velho, o Julian, com 12 anos, a achar que tem de ser o pai para os 4 irmãos mais novos - e parte-se-me o coração, porque parte da separação que tiveram de suportar é culpa da Clave, uma instituição que os devia proteger.

Entretanto, Sebastian continua a perseguir e a ameaçar a Clave e Idris, só para provar que pode e até que ponto é invencível. É fascinante, perceber que é o Sebastian que permite mais algum worldbuilding e conhecer novos aspectos deste mundo, como as coisas que envolvem os Endarkened, e o novo "mundo" que é apresentado. Que, devo acrescentar, foi muito interessante de conhecer, especialmente ao perceber que de certa maneira é um espelho do mundo Shadowhunter que conhecemos. Tanto potencial...

A narrativa evolui de forma satisfatória, distribuindo bem o tempo e espaço pelos personagens e pelas várias linhas de enredo. Deu-me gozo segui-los a todos, apesar de o facto de a história estar assim tão espalhada levar a um abrandamento do ritmo do enredo, e levar a que o livro seja tão longo. Sinto que podia estar mais curto, mais ajustado, mas também não sei onde cortaria. Gostei de seguir o percurso de todos e não saberia onde eliminar coisas.

Gosto de pensar na Clary e no Jace desde o primeiro livro e em ver como evoluíram ao longo das histórias. A Clary tornou-se parte dos Shadowhunters de pleno direito, sempre pronta a lutar por tornar o seu mundo melhor; e quanto ao Jace, apesar de ser um personagem muito divertido no início, com o seu sarcasmo auto-depreciativo, prefiro-o agora, em que continuando a ter a sua personalidade arrogante, é mais ciente dos seus defeitos e inseguranças, e confidencia e confia na Clary quanto a eles. É um passo importante para crescer como pessoa, e ainda bem que o deu. Para além disso, agrada-me vê-los como um casal de iguais. Como Shadowhunter, a Clary arrisca-se quando tem de o fazer, e o Jace aceita-o sem tentar interferir na sua decisão.

Quanto à Isabelle e ao Simon... ai. *suspiro* Adoro a Isabelle e o seu jeito corajoso, despreocupado, feroz, e sei que é difícil para ela abrir-se e dar o seu coração, por isso gosto muito de vê-la com o Simon, que é totalmente diferente dela, muito pouco Shadowhunter. É por isso que me custa vê-los passar pelo que passam mais para o final da história. O Simon faz uma coisa nobre e justa, mas que tem repercussões em toda a gente, e apesar de eu ter uma ideia de como isso podia vir a ser resolvido, fiquei ainda assim desolada por vê-lo a acontecer. Quero muito ver o que vai acontecer a partir daqui.

Sobre o Alec e o Magnus... que vontade, céus, de lhes enfiar o juízo na cabeça à força toda. Passam por momentos difíceis, e acho que podemos ver que apesar de ser um personagem que não se presta a gostarmos dele, o Alec é um personagem fantasticamente multi-facetado. Passa o livro com o coração nas mãos, mas nunca lhe vemos um queixume, e é sempre o primeiro a agir, com uns reflexos óptimos. É o personagem mais conservador do grupo, e é aquele que consigo ver no futuro a tomar um lugar importante, à frente dum Instituto, ou na Clave. E apesar de tudo, ele vê que as práticas da Clave estão ultrapassadas e que só fazem asneira, por isso gostava de pensar que o Alec (e os outros também) pode vir a ajudar a mudar um bocadinho a Clave no futuro, para melhor, claro.

Ainda tenho de mencionar a Maia, que tem um percurso fabuloso. Que rapariga incrível, corajosa. Enfrenta a perda e o arrependimento, mas consegue agir para além disso e tomar as rédeas do seu cantinho do mundo, trabalhando e dando a sua contribuição para que o Mal não vença. Pensando em retrospectiva, a sua história é o tipo de história que normalmente é dada a um personagem masculino, por isso aprecio a inversão de género que a autora faz num trope tão machista.

Tenho de mencionar a Tessa, porque independentemente do que soubermos da trilogia The Infernal Devices, sabemos que ela está viva nesta altura, e devo dizer que me perguntei onde estaria ela, e se não estaria envolvida nos acontecimentos. A autora apresenta uma boa solução para a manter mais ou menos afastada, mas ainda assim a contribuir - e é uma solução que me deixou interessada em saber mais, porque acrescenta mais um pouco ao worldbuilding. Morri de felicidade só de a ver interagir com pessoas que são descendentes daqueles que ela conheceu na trilogia, e adorei saber que ela esteve mais envolvida na vida da Clary do que pensamos.

Sobre a família Blackthorn já falei, adorei conhecer esta trupe de irmãos, e tenho a certeza que me vou divertir com eles. Estou interessada no Ty, porque tem uma perturbação no espectro do autismo, e quero ver como é que a autora vai continuar a caracterizá-lo. Também estou curiosa acerca do destino da Helen e do Mark, que de certo modo foram abandonados pela Clave; e acerca da Emma Carstairs e do Julian. Acho que a decisão que eles tomaram foi precipitada, e condicionada por factores externos que não a deviam condicionar. E por isso não me admiro que esta decisão vá dar problema nos The Dark Artifices. Gostei muito da Emma, que tem um feitio giro, bem destemida e lutadora.

Sobre o Irmão Zachariah, tenho a dizer que foi muito bom ver o que finalmente acontece e lhe resolve o, er, problema dele. E é muito interessante vê-lo como um Shadowhunter de pleno direito, já que no passado haviam condicionantes para ele não o ser. E também é muito excitante vê-lo interagir com certos personagens e ver a sua nostalgia pelo passado.

Aliás, o livro está cheio de referências a livros passados, em certos momentos The Bane Chronicles, mas também, e especialmente, a trilogia The Infernal Devices, o que foi simplesmente delicioso. Especialmente pequenos detalhes, como ver a Emma lembrar que o pai falava sempre tão bem dos Herondale, e em como a família Carstairs tinha uma dívida para com eles. E, já agora, prevejo que alguns personagens hão de ir parar a Los Angeles para visitar os Blackthorn, eventualmente.

O final do livro tem vários aspectos que gostava de abordar. Um é a resolução do conflito com o Sebastian. Eu *sabia* que a Clary e o Jace andavam a tramar alguma, por isso não foi exactamente uma surpresa. (Se bem que aprecio a poker face que tiveram de fazer o tempo todo.) Mas as consequências foram-no. Temos um vislumbre daquilo que poderia ter sido, e é muito triste pensar em como as coisas realmente foram. Sem querer, o Valentine volta a ser o vilão no meio disto tudo, pois foi ele que fez com que o caminho tomado fosse este.

Sobre a Clave, estou furibunda com eles. A Clave tem boas pessoas, pessoas razoáveis e que até são bons líderes - gostei bastante da postura da Jia Penhallow, a Consul, a tentar fazer o melhor que podia, mas que tinha as mãos atadas, politicamente -, mas parece que a maioria são uns velhos do Restelo. Compreendo que uma estrutura como a da Clave leve a muita entropia e muita incompetência, contudo não lhes posso perdoar o preconceito e a incompreensão que os levou a desistir e afastar a Helen e o Mark Blackthorn.

O epílogo foi surpreendentemente emocional. Ver os personagens todos no mesmo local, a festejar, a partilhar um momento; ver as últimas pontas serem atadas e novas possibilidades a serem apresentadas. Foi uma boa leitura, um óptimo final para uma série favorita, e que me deixou com vontade de mais, e de conhecer a nova série.

Páginas: 752

Editora: Margaret K. McElderry Books (Simon & Schuster)

domingo, 15 de junho de 2014

Feira do Livro de Lisboa 2014 (e Aquisições)


Mais um ano a ir à Feira do Livro, para espreitar uns livrinhos e aproveitar o bom tempo (às vezes demasiado bom tempo), passear pelo Parque Eduardo VII e fazer algum exercício com tanta subida e descida.

Este ano a Feira surpreendeu-me porque claramente tem menos bancas de editoras e possivelmente de alfarrabistas; e a maneira encontrada para compensar essa falta foi a introdução de bem mais espaços de comida e petiscos. É um sinal dos tempos: a crise impede maior variedade de representação na Feira, aparentemente. Quanto aos espaços com comida, não é uma má ideia; as pessoas podem não chegar a comprar livros, mas de comer ou petiscar precisamos sempre. Pelo menos louvo a variedade de espaços.



Fui lá no primeiro dia. Já é hábito, andar entre as barracas e ainda ver algumas fechadas, ou ver o pessoal das editoras a arrumar livros e a marcar preços. Faz-me alguma confusão, ver o estado de (des)arrumação que ainda se via ocasionalmente. Se a Feira é para abrir dia X à hora Y, as coisas deviam estar preparadas antes dessa altura, não depois. Tal como não sei se faz muito sentido o que vi esta semana na Leya. A feira tinha começado às 12h30, e ainda tinham paletes enormes de livros por arrumar depois disso. Não será possível fazer-se esse trabalho antes da Feira abrir? Como potencial cliente, é um pouco estranho andar a navegar no meio da desarrumação.

Quanto a aquisições, já mencionei no post do fim do mês de Maio o que tinha comprado nos primeiros dias. Para além disso, aproveitei para comprar muita banda desenhada, como é possível ver na imagem seguinte.


Vou continuando a minha colecção dos livros de Calvin & Hobbes, e aproveitei que a Gradiva tinha estes dois (Parabéns, Calvin & Hobbes e O Tigre Assassino Ataca de Novo) como livros do dia para os juntar à estante. A Fnac estava com uns descontos jeitosos - 20% de desconto na Feira sobre o preço de capa que têm na loja, e ainda mais 10% se se tivesse cartão Fnac. E tendo em conta que ando a namorar o Habibi há um ano, precisamente desde a última Feira, que foi quando a Fnac o começou a ter à venda, era irresistível trazê-lo a este preço. Qualquer coisa como metade (ou mais) do preço que encontraria no Book Depository. Da Fnac veio também How to Tell If Your Cat is Plotting to Kill You.

Da Porto Editora/Bertrand veio Contos dos Subúrbios, na Hora H. É uma vergonha um livro destes estar a 5 euros, mas enfim, eu é que ganho com isso. E fica aqui a crítica que a editora é péssima a repor os livros. Fui nessa noite para comprar na Hora H alguma banda desenhada que tinha sido editada na chancela Contraponto... e esgotou num instantinho. Pior, um dos livros não foi reposto durante mais de uma semana. Só o voltei a encontrar lá há um par de dias, quando já não havia Hora H. Resultado, não comprei os 3 livros que tencionava comprar, e perderam uma compra. Não sei como é que este pessoal funciona, mas pelos vistos não querem vender livros. Estive a reler posts da Feira dos anos anteriores e vejo que é o quarto ano consecutivo que tenho razão de queixa da Porto Editora/Bertrand, e que a queixa é praticamente a mesma. Portanto, minha gente, estão a fazer um magnífico trabalho, não se esforcem por mudar e melhorar, que não é preciso nada, mesmo nadinha. /end sarcasm


Na Leya atirei-me ao Dragon Ball, porque tinham-no basicamente a 2 euros (!) o volume, o que combinado com o "leve 4 pague 3" do espaço, ainda baixa mais o preço aos livros. Ou seja, pelo preço que 2 tinham originalmente, trouxe para casa 12. Custa-me é faltarem uns livros pelo meio, mas eram os que estavam disponíveis. A reposição aqui também não era das melhores. Da Devir trouxe Batman: Ano Um, e o primeiro volume de Death Note e Blue Exorcist. Nota positiva para a editora, que tinha uma promoção em que ofereciam uma capa/jacket bem gira (ver em baixo) se se comprasse um volume de Death Note.


O Signo dos Quatro e o Vale do Terror são resultado da Hora H. Como Vos Aprouver estava na tenda dos pequenos editores, e é uma edição bem gira, que me agradou. Trouxe os volumes II - IV de Gossip Girl numa promoção "leve 3 pague 2", e os livros da Ann Brashares das Quatro Amigas e Um Par de Calças trouxe da zona das promoções da Presença, e ainda me valeram a oferta do livro do Philip Pullman. Por fim, aproveitei que os dois livros do Zafón eram livros do dia para os trazer a um preço mais amigo, já que o PVP original é um pouco puxadote.


Por fim, 3 livros que comprei como livro do dia (o primeiro) ou na Hora H (os outros dois), para aproveitar a oportunidade dos respectivos autores estarem cá em Portugal para os autografar. Fui à sessão da Lesley Pearce no Colombo para evitar a confusão da Feira. Foi uma sessão curtinha, mas a autora pareceu-me uma pessoa interessante de conhecer. Hoje, e porque devo ter uma veia masoquista qualquer, fui enfrentar calor e multidões (duas coisas de não sou muito fã) para pedir o autógrafo para os outros dois livros. A Dorothy Koomson é uma autora tremendamente simpática, muito cativante; o Jeff Kinney tinha uma fila enorme, mas não tive de esperar muito - a regra de um autógrafo/livro por pessoa ajudou. E depois vim-me embora, porque estava mesmo calor, mesmo abafado, e a minha vontade ao chegar a casa era meter-me no duche com a roupa vestida e tudo.

Apontamentos e queixas finais: fiquei desapontada por a Planeta insistir tanto em colocar nos livros do dia tantas novidades e tanta coisa repetida. Não há destaque nenhum para livros mais antigos, e há um ou outro que eu gostava de ter comprado. Da Porto Editora/Bertrand já me queixei, mas ainda acrescento que esta coisa de aderirem à Hora H e depois nem todos os livros com mais de 18 meses entrarem... bem, não faz muito sentido.


Sobre a organização em si, é a mesma queixa de sempre: divulgarem as coisas a tempo. É ridículo o site ser lançado no dia em que a Feira abre, é ridículo que as informações da Hora H saiam para o site no dia em que a Hora H começa, e é ridículo que essa informação esteja errada, faltando editoras na lista. A lista de livros do dia é muito pouco útil, já que a ordem alfabética do título do livro faz pouco sentido, e não dá para alterar o critério de ordenação. (Como por editora, era o que me dava jeito.) Louva-se as editoras que iam publicando os livros do dia no seu Facebook (exemplos: Gradiva e Planeta).

Termino com a esperança de que para o ano seja melhor, e que eu tenha menos razões de queixa. Gosto bastante da Feira do Livro, de caminhar pelo Parque Eduardo VII e de cirandar entre livros, mas este ano não foi dos meus favoritos.