terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

Este mês em leituras: Fevereiro 2017

Fevereiro foi um mês incrivelmente curto e incrivelmente comprido, por isso não vou ter saudades. Bah. Parece que quando tenho certos horários no trabalho fico com tudo desarranjado aqui no blogue. E vê-se, porque só consegui postar no fim-de-semana/perto dele. Depois de ter conseguido uma rotina tão boa em Janeiro... oh, well. Venha Março, e venham mais boas leituras, que mesmo assim não tive falta delas em Fevereiro.

Livros lidos


Opiniões no blogue


Os livros que marcaram o mês

  • Mind Games, Heather W. Petty - acabo por gostar imenso desta história por os protagonistas serem adoráveis, mas também pela caracterização da protagonista feminina, em debate com os seus demónios... e porque sou masoquista e não consigo desviar os olhos quando um desastre está prestes a ocorrer (ela chama-se Moriarty... vai ser inevitavelmente uma vilã para o Sherlock... e eu vou ficar de coração partido);
  • Carve the Mark, Veronica Roth - pelas coisas que faz de mal (ver a minha opinião acima), mas também pelas coisas boas que podia ser se se esforçasse um bocadinho mais;
  • Jerusalem, Guy Delisle e Boxers & Saints, Gene Luen Yang - no local certo à hora certa, agradaram-me por apresentarem uma perspectiva sobre os temas em questão, por darem algo em que pensar;
  • Wintersong, S. Jae-Jones - não sei como explicar este livro... há livros que são um bocadinho da nossa alma, ou daquilo faz de nós aquilo que somos, ou que falam de coisas que ressoam com qualquer coisa cá dentro (está-me a faltar a coerência, que se lixe)... a melhor comparação que tenho é dizer que me faz pensar no Winterspell no que toca ao percurso da protagonista, um coming of age e um awakening sensual e sombrio, um entender das capacidades que se tem e um valorizar delas... e o fim matou-me (os fins matam-me sempre, mas este mais ainda) - é bom que isto tenha uma sequela, ou atiro o livro do quinto andar (e talvez o computador também, por me ter dado a conhecê-lo, a culpa é toda do bicho, oh, sim, e da internet e de toda a gente que me deu a conhecê-lo, fiquei com a vida arruinada por um bocadinho por vossa causa, estão contentes?);
  • Tudo, Tudo e Nós, Nicola Yoon - este é mais pela sensação de... "é só isto?"; não é que eu não estivesse à espera do fim (a sério, adivinhei praticamente no momento em que li a sinopse, é assim tão óbvio), mas o resto não é nada de especial; estes livros que são John Green-wannabes e o desespero do panorama literário em produzir mais um estão a bulir-me com os nervos).

Outras coisas no blogue

  • Er, pois, nadinha, mesmo.

Aquisições

Ok. Ali ao alto temos a banda desenhada: os livros da colecção Graphic Novels Marvel, e mais o volume 2 hardcover gigante de Hawkeye. A Fnac tinha-o a um preço ridículo, metade do que vejo no Book Depository, e pronto, o meu apreço pela Kate e pelo Clint tornou-me muito difícil recusar esta oportunidade.

Depois: O Rouxinol deixa-me curiosa e foi uma aquisição pelo Círculo de Leitores. Os três seguintes ficaram-me a custo zero, com descontos em cartão. O Princess of Thorns e o Mind Games (da Kiersten White) foram presentes de anos (fiz anos em Janeiro). E os outros quatro são as compras do mês no que toca a séries e autores que sigo.

(O Mind Games da HWP já devia ter vindo antes, foi enviado por volta de 14 de Dezembro e outros livros que foram enviados com ele já tinham chegado nos últimos dias de Dezembro... com este tive de reclamar e enviaram-me um substituto. Abençoada senhora do customer service do BD via AbeBooks, foi incrivelmente simpática e ao contrário do habitual, não usou a típica conversa robótica que costumam usar.

Quanto às encomendas... bem, os correios comeram-me duas ou três durante a época natalícia, portanto... houve uma outra que só chegou dia 1 de Fevereiro, e essa era um mísero envelope, nem sequer era uma caixa ou um envelope almofadado. Enfim. As entregas voltaram à minha estação de correios habitual - há uns meses tinha passado para outra -, e pelo menos as coisas parecem ter voltado ao habitual. Entregas mais rápidas, pelo menos.)

A ler brevemente

Desde que a encomenda mensal da Graphic Novels Marvel me chegue, tenciono continuar a ler a colecção. Também vou ler o The Last of August - só já não li porque achei que estava a abusar da minha sorte lendo dois livros Sherlockianos no mesmo mês - e o A Última Estrela, mas com este acho que vou ter de ir à procura duns resumos ou assim, que é capaz de me escapar muita coisa se não o fizer. (O Rouxinol leio se tiver tempo; se não, bem, fica para depois.)

A lista ali escrita prende-se com os livros que encomendei, e em que gostaria de pôr as mãos mal me cheguem. Dois da Meg Cabot para finalmente retomar o desafio dela. Três que ainda são publicações de Janeiro que achei que não devia ficar sem adquirir. E mais dois que são lançamentos de Fevereiro/início de Março. (Tudo coisas em inglês de autores/séries que sigo, com uma óbvia excepção.)

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

Carve the Mark, Veronica Roth


Opinião: Esta é uma opinião que me está a dar alguma dificuldade de escrever. Tenho uma data de pensamentos, todos com vontade de saírem cá para fora primeiro, e não sei qual deles deve ter esse privilégio.

Ok, acho que já sei. Vamos começar numa nota positiva. Normalmente quando tenho coisas menos boas a dizer deito tudo cá para fora primeiro, e depois é difícil de me lembrar do que gostei. O que é que eu gostei aqui?

O facto de este ser um livro da Veronica Roth e ter algo de Rothiano que me apela sempre nos livros/histórias dela. Em parte é a maneira como ela apresenta as suas ideias, de como se lembra duma perspectiva singular para apresentar a história. Foi isso que me atraiu no Divergent, foi isso que me atraiu no seu conto nesta antologia.

O cenário, meio FC, meio fantasia. Há algo na tecelagem da narrativa que me apela por envolver coisas típicas de ambos os géneros. Gosto dos cenários mais orgânicos de onde se passa a parte principal da narrativa, mas também gosto da ideia de naves espaciais e viajar entre planetas e haver tecnologia para isso e um conselho galáctico que gere o sistema solar em que a história se passa.

Os personagens, principalmente a Cyra. Ela tem bastantes desvantagens na vida: as suas capacidades "mágicas" (currentgift), aquilo que fez a mando do irmão. Mas de certo modo, a Cyra está bastante confortável na sua pele, naquilo que é. Há uma aceitação por parte dela, um autoconhecimento pessoal que nem sempre se vê em protagonistas femininas em YA. A Cyra é uma autodidacta e esforça-se muito para que o seu currentgift não a determine. (E gosto da inversão de papéis dela e do Akos. Ela a guerreira, ele o "curandeiro" que vomita só de pensar em violência.)

A promessa de toda a coisa. Isto é uma faca de dois gumes - já explico mais à frente -, mas adorei certos pormenores da história. O modo como a current permeia a galáxia e determina um gift para toda a gente. Os vislumbres que temos de diferentes povos. O modo como as coisas são geridas por um conselho interplanetário. (E que pode não ter os melhores interesses das pessoas em mente. Veja-se o anúncio dos fates das pessoas a toda a gente no sistema.)

O modo como os currentgifts funcionam. A Cyra sente e provoca dor, o Akos interrompe a current por isso cancela os gifts de toda a gente. Há quem seja um profeta, há quem roube memórias. (O Ryzek. Adoraria que isso tivesse sido mais explorado. Há muita coisa que se lhe diga nesta sua capacidade, e aquilo que é sugerido é intrigante.)

No fim de contas, mesmo com os defeitos que percebi ao longo do livro, terminei-o completamente cativada e com vontade de continuar a ler.

Mas. (Há sempre um mas.) Pergunto-me quanto deste livro foi realmente editado. Por um editor a sério. Que tenha lido o livro e enviado de volta à Veronica e dito "ok miúda, tens de trabalhar estas cenas". Pergunto-me se ela não está a sofrer dum efeito a que vou chamar "J.K. Rowling-nite".

[A certo ponto na publicação dos livros do Harry Potter uma pessoa tinha de se perguntar se havia sequer editores a gerir o que a Jo andava a escrever, porque livros gigantes e coiso e tal. (E uma pessoa não se queixa de todo de um livro HP gigante. Mas mesmo assim. Há partes dos livros que são enrolação. Por muito que eu as ame e seria incapaz de as cortar e tal.)]

Ok. Com isto quero dizer... os editores da Veronica estão a achar que ela é demasiado grande para ser editada ou assim? Porque este livro precisava de ser editado. Big time.

Vejamos: o enredo é inconsistente no ritmo. Ora temos momentos que arrastam, ora a coisa ganha tracção e temos cenas fixes de acção. E não tenho nada contra os momentos calmos. Apenas parece-me que não foram usados na melhor forma. Podiam ser usados para enriquecer o worldbuilding e expandir certos temas e apresentar certas coisas de forma capaz e respeitosa.

Há muitas perguntas que eu tenho sobre o worldbuilding, e nem todas são da variedade "isto vai ser explicado no segundo livro". Algumas (muitas?) são mais da variedade "se isto fosse melhor explicado, o worldbuilding fazia mais sentido". Ou "se isto fosse mais expandido, o mundo descrito seria mais rico". E eu quero que seja rico! Já gosto dele. Mas gostava mais se fosse mais explícito.

E a coisa mais (ou menos, depende do leitor, suponho) óbvia... bem, outras pessoas explicaram-no muito melhor que eu. (Aqui e aqui.) Há coisas que eu apanhei, apesar de ser privilegiada, porque vou treinando o meu olho para isso. Principalmente na parte da leitura duma cultura mais tribal como os Shotet descrita como agressora e violenta, enquanto são descritos maioritariamente como POC (people of color).

Entristece-me. Uma longa linha de gente que supostamente está envolvida na publicação dum livro, e ninguém aponta para quão problemático isto é? É para isso que serve pelo menos um editor. "Er, Veronica, talvez isto não soe bem... vamos reescrever?"

Há uma série de coisas fascinantes na cultura Shotet que nada têm a ver com a parte violenta deles. Adoraria poder ter visto o misticismo deles explorado, a relação que têm com a current, e como isso influencia o seu dia-a-dia. Adoraria que começassem com o estereótipo da cultura violenta e que esse fosse negado ao longo da história, mostrando uma cultura riquíssima de outras maneiras.

Adoraria que a atitude dos Shotet em relação à violência pudesse ter sido separada do quanto eles são guiados pelo Ryzek e pela família Noavek. Há traços de uma sociedade distópica, na maneira como a elite recebe todas as benesses e os menos favorecidos são descartados, e na forma como as notícias que passam "na TV" (o equivalente deste mundo) são doutrinadas. Quanto da sociedade Shotet é realmente deles e não dos seus líderes?

E por aqui se vê que há um manancial de coisas que podia ter sido explorada, expandida. (Digo-o pela milésima vez, eu sei.) A sociedade Shotet. A sua relação com outros povos, como os Thuve. Como a current guia a galáxia. Como o conselho galáctico guia este canto do universo e que interesses são os seus. Como a troca entre o Ryzek e o Eijeh afecta as suas personalidades.

Isto é incrivelmente frustrante. Como disse ali em cima, terminei o livro com uma sensação maioritariamente positiva. Mas não sou cega às suas falhas, e quanto mais tempo passou desde a sua leitura, mais tempo tive para pensar nelas. Gosto muito da Veronica Roth, mas gostar nunca me impediu de apontar o que não gosto num favorito. Mesmo quando estou a fangirlar estou ciente das falhas, do que não resulta para mim. (Olááá Sarah J. Maas, ainda estou à espera duma boa explicação para o Rowan.)

Espero sinceramente que o segundo livro trabalhe isto. Há uma história maior e melhor à espera de ser contada, que merece ser contada. Eu quero lê-la. Já gosto deste mundo, por isso não será nada difícil manter o meu interesse.

P.S.: Esta capa é genial e creepy. Descreve uma das coisas problemáticas, mas... é bastante ominosa, e mostra essa coisa duma forma realista e figurativa ao mesmo tempo. Gosto de como o efeito resulta.

P.S.II: Oh HarperCollins, mas vocês estão parvos? Então o glossário vem no fim? Ou seja, quando eu acabo o livro e já não preciso dele, é que ele aparece. (Porque qualquer leitor vai ao fim do livro procurar estas coisas e arriscar-se a ser spoilado. Claramente.) Que estupidez. Faz todo o sentido, sem dúvida alguma.

Páginas: 480

Editora: Katherine Tegen Books (HarperCollins)

domingo, 26 de fevereiro de 2017

A Liga dos Homens Assustados, Rex Stout


Opinião: ... ou como um bando de homens feitos se pode portar como uma capoeira de galinhas histéricas, com o empurrão certo. A sério, falava eu do sentido de humor do Rex Stout no livro anterior... e aqui, ele sobe a fasquia e goza com a cara dos próprios personagens.

Neste volume, um grupo de antigos alunos de Harvard vem parar à sala de Nero Wolfe porque suspeitam que um deles, horrivelmente magoado numa brincadeira dos tempos de estudante, estará a assassinar os seus membros como forma de vingança. A apoiá-los estão as cartas crípticas que todos receberam depois de cada morte, aludindo às mesmas.

A piada da situação vem do facto que a histeria do grupo é largamente infundada. (E atenção que isto não é uma avaliação da culpabilidade ou falta dela do suspeito.) Pior, as suspeitas deles levam-nos a tomar acções que não tomariam - exemplo, o comportamento de Hibbard neste livro, ou as acções do criminoso no final do livro.

Apesar de já ter lido o livro e ter uma ideia de para onde se dirigia o enredo, gostei mais deste e das suas reviravoltas. O anterior fixa-se no assassino demasiado cedo e isso corta um pouco o fôlego à narrativa. Aqui, as constantes revelações sobre o que se está a realmente passar, e sobre os crimes e acções que foram praticadas pelos jogadores do enredo, tornam tudo mais cativante e prendem melhor o leitor.

Este volume traz também um momento engraçado na dinâmica entre o Archie e o Nero. A certa altura o Archie faz uma asneira, deixando-se vulnerável quando devia ter sido desconfiado (o que em si é divertido e preocupante), e o seu paradeiro torna-se incerto por momentos. Coisa que é das únicas que fez Nero Wolfe levantar o traseiro da cadeira e - gasp! - sair realmente de casa. (Tal era a preocupação.)

Isto é interessante porque este par trabalha em conjunto há alguns anos quando a série começa no volume anterior, e apesar da constante esgrima verbal, é bastante claro que se preocupam um com o outro. Ah, e por falar na esgrima verbal... é uma risota quando o Archie se sente frustrado por a) falta de trabalho ou b) não estar a ver o que quer que o Nero está a ver sobre o caso, levando a c) picar Wolfe para ver se obtém uma reacção. Muito engraçado.

Destaque para Paul Chapin, o suspeito de serviço, que tem uma análise psicológica muito curiosa na página; Nero Wolve adivinha correctamente o que o move, e é fascinante de ler. E acho interessante ver que, no final, e tal como no livro anterior, o que move os protagonistas não é necessariamente o fazer-se justiça; é fazer aquilo para que foram contratados. Nero Wolfe é bastante rigoroso nesse aspecto, e isso põe algumas questões morais e éticas ao leitor, especialmente quando o interesse do detective e a execução da justiça não coincidem.

Título original: The League of Frightened Men (1935)

Páginas: 304

Editora: Livros do Brasil (Porto Editora)

Tradução: Fernanda Pinto Rodrigues

sábado, 25 de fevereiro de 2017

Princess of Thorns, Stacey Jay


Opinião: Princess of Thorns não é tanto um retelling, como mais uma sequela que trilha caminhos reconhecíveis dos contos de fadas, dando-lhes o seu próprio tratamento. É que a Bela Adormecida original, Rose, foi salva por um príncipe, Stephen (na versão da Disney acho que este é o nome do pai da Aurora) - mas o príncipe não era encantado; já tinha uma esposa quando a salvou.

Para adicionar às suas falhas, estava à procura de saias quando os ogres assumiram o governo do reino (a rainha dos ogres casou com o pai dele, o avô da protagonista deste livro), e foi morto por eles. Para salvar os seus filhos, Rose faz o maior sacrifício para garantir que Aurora, a mais velha, recebe os seus fairy gifts, de modo a que possam protegê-los.

No tempo presente, o irmão de Aurora, Jor, está nas mãos dos ogres, e ela precisa de ajuda para o recuperar. Mascarada de rapaz, Ror, cruza-se com Niklaas, e consegue recrutar a sua ajuda prometendo-lhe apresentá-lo à sua "irmã". É que Niklaas tem um problema: o pai, obcecado com a imortalidade e com o seu trono, lançou uma maldição nos filhos que os torna em cisnes no 18º aniversário. Niklaas quer casar com uma princesa herdeira (a Aurora é uma candidata) para evitar a maldição, porque esse acto retirá-lo-ia da corrida ao trono e protegê-lo-ia da mesma. Há um pequeno problema: a bênção que Rose deixa a Aurora faz com que qualquer homem que ame e a beije fique um zombie às suas ordens.

Normalmente um livro não precisaria de uma sinopse explicada tão longa para eu falar dele, mas essa é a bênção e a maldição deste. É incrivelmente detalhado; há montes de pequenas coisas que podemos reconhecer dos arquétipos e clichés dos contos de fadas, e tanta coisa com potencial para ser explorada. (Exemplo: gosto de como o conto dos cisnes e um pouco da Rapunzel são aqui incorporados.)

A parte da maldição tem a ver com o facto de que eu acho que o livro não explora convenientemente a riqueza de worldbuilding que tem. De certo modo isso é compreensível. A história tem um objectivo e a autora tem de se cingir a ele. Mas é triste pensar em todas estas histórias à espera de ser contadas. Este é um stand-alone, e aprecio isso (é raro em fantasia), mas neste caso preferia muito que fosse uma série que pudesse explorá-los.

Diverti-me imenso com esta história. Adoro histórias que metem raparigas a disfarçar-se de rapazes, e ler sobre todos os sarilhos que procedem disso. Neste livro foi bastante divertido seguir a Ror e o Niklaas enquanto vão na sua demanda e criam uma amizade, ao mesmo tempo que passam o tempo a discutir e implicar um com o outro.

Além disso, foi muito interessante ver a evolução das suas personalidades ao longo da história. Não era muito fã do Niklaas no início, porque não sou fã de rapazes que agem como se fossem uma dádiva dos céus à terra; mas ele ganha interesse com a premência de ultrapassar a sua maldição, e com a sua atitude de irmão mais velho para com "o" Ror (ele pensa que a Aurora é o irmão). Acho que a revelação da Aurora e os acontecimentos imediatamente antes, e aqueles depois, são os melhores momentos dele e gostei muito de os seguir.

A Aurora também é fascinante. Luta incrivelmente bem, mas não o esfrega nas nossas caras (a autora não o faz, pelo menos), é destemida, e um pouco sonhadora e idealista, mas não exactamente ingénua. É algo precipitada no início, mas aprende a tomar as suas decisões de forma informada, como uma futura rainha deve fazer. Ela tem alguns desafios complexos a enfrentar no final do livro, mas foi o tipo de coisa que foi intrigante e excitante de acompanhar.

Sinto que a autora podia ter trabalhado melhor certas coisas: a primeira parte da narrativa parece não ter rumo, apesar de ser realmente guiada por determinados objectivos; sei lá, podia ser mais relevante do que é para o enredo geral. Há certas partes do desenvolvimentos da relação da Ror com o Nik que podiam ser mais expandidas: em certos momentos parece muito telling em vez de showing, e a piada é que ela meia dúzia de páginas antes estava a mostrar.

Gostaria muito de ter visto uma expansão da transição entre o Nik não saber e depois saber que a Aurora era uma rapariga; sinto que ele devia ter sido obrigado a lidar com o que achava que as raparigas eram capazes de fazer durante o caminho da sua demanda, mas descobre mesmo antes duma mudança grande de cenário e foco da história. Isso permitiria que a parte seguinte (a aproximação romântica) tivesse mais peso e soasse ainda melhor.

Também sinto que a autora podia ter trabalhado melhor certas revelações. Aquilo que resumi ali no início da opinião é a informação que é revelada ao longo da narrativa sobre o passado da família da Aurora, mas não senti que as revelações fossem feitas de forma clara, como se estivéssemos a construir um castelo de cartas, adicionando aos poucos cada nível. Parecia mais como construir uma casa montando uma divisão de cada vez, ficando um todo nada harmonioso.

Adorei a segunda parte do livro, porque a autora não foge de certos momentos pesados. O Jor passa momentos difíceis no cativeiro, e isso é abordado minimamente. (Já agora, adorei o Jor, a sua personalidade discreta, e a protecção mútua e relação sólida que ele e a Aurora têm.) Gosto da dimensão que é dada à rainha ogre. A parte final implica a Aurora lidar com as consequências dos seus dons, e mete ela tomar decisões diferentes do que esperava fazer. Foi muito bom ver este tipo de evolução.

Também adorei o momento imediatamente antes, em que a Aurora e o Niklaas têm um momento de descanso, e ficam incrivelmente adoráveis um com o outro e eu fiquei a torcer para que as coisas dessem mesmo certo. Ah, e os dois ou três capítulos finais são tão fixes. Ele ali a roer-se todo de inveja e ela a ter de ir atrás dele puxar-lhe as orelhas para ganhar juízo... tão fofos.

A história termina relativamente fechada e feliz (duh, é baseada em contos de fadas, é claro que vai terminar assim), mas ainda havia espaço para tanto... gostava tanto que houvesse uma sequela. O pai do Nik merecia ser destronado, e só isso dava para mais um livro. Para um livro que pode não parecer nada de especial à primeira vista, este certamente tem muito a recomendá-lo.

Páginas: 400

Editora: Delacorte Press (Penguin Random House)

domingo, 19 de fevereiro de 2017

Mind Games, Heather W. Petty


Opinião: Estou a ter uma certa dificuldade em escrever a opinião deste livro. Não necessariamente pelo seu conteúdo e o que achei dele. Mais porque estou incrivelmente perturbada. Sinto-me como no fim da leitura do Heartless: estou a ver uma rapariga perfeitamente boa a continuar a fazer escolhas erradas e enterrar-se cada vez mais nas suas percepções distorcidas. Perturba-me ver um personagem que até gosto de ler cavar com tanto gosto um buraco para se enterrar. Gah!

Este volume começa quase imediatamente a seguir ao outro: com o pai na prisão, Mori sente que pode respirar de alívio, mas isso é sol de pouca dura: uma corrente na opinião pública parece acreditar que foi ela que cometeu os crimes, e alguém parece determinado a alimentar essa fogueira, criando situações complicadas para a protagonista.

E pronto ler este livro foi tão absorvente como o primeiro; o mistério pareceu-me turvo na maneira como se desenvolve, talvez sendo ligeira e desnecessariamente complicado, mas manteve-me mais tempo no escuro que o livro anterior, e gostei bastante de como se revelou. Acho que a pessoa responsável devia ganhar juízo e ir à vidinha dela, mas as suas motivações fizeram sentido para mim e foi interessante ver a Mori e o Lock investigar e tentar perceber o que se passava. A paranóia estava em alta e gostei de ler.

O que é frustrante para mim... é a Mori estar determinada a dar um tiro no pé. Eu entendo e acho incrivelmente realista a desconfiança dela nas autoridades, mas quando as coisas começam a ficar demasiado sérias... não é altura para continuar a cerrar fileiras e fugir a todas as perguntas.

O agente da polícia em particular que investiga o caso é, por um lado, um dos que fechava os olhos a certas coisas no passado, mas também é aquele com maior inclinação para acreditar nela. Acho mesmo frustrante que ela não aproveitasse para fazer dele um aliado quando esteve tanto tempo sem ninguém numa posição "adulta" que a apoiasse. E como vimos, ela apoia-se numa pessoa errada durante toda a coisa, o que é ainda mais frustrante.

E ainda na categoria "frustrante"... e sim, eu sei que usei a palavra frustrante quatro (cinco com esta) nos últimos três parágrafos. Mostra como eu adoro a Mori mas fico mesmo irritada com a atitude dela. Bem, estava a dizer que me aborrece ela manter-se na mentalidade de "melhor sozinha". Ela passa o livro convencida que as coisas com o Lock são temporárias, vão acabar, etc., o que é basicamente uma autosabotagem. De novo, compreendo porque ela pensa assim e acho realista, mas também me apeteceu muito abaná-la para ver se ganhava juízo e aceitava as coisas boas, porque elas existem.

Tendo dito isto, gosto muito da narração dela. A Mori é particularmente analítica na maior parte das coisas, mas depois estas coisinhas chamadas emoções atacam-na e ela fica doida com elas. É divertido de ler. No bom sentido. Gosto de vê-la lidar com elas, mesmo quando se está a sabotar.

Aprecio bastante a parte romântica do livro, porque não é muito pesada nem in your face, mas ao mesmo faz uma série de coisas certas. Gosto de como a Mori e o Lock trabalham como iguais, de como ambos reconhecem que as suas capacidades particulares os afastam da sociedade em geral, de como se apoiam quando é preciso (e a Mori deixa), de como ele aceita as escolhas dela e não força nada, ainda que ela não lhe preste a mesma cortesia. Aliás, o Lock é bastante engraçado e adorável, e é refrescante ver o comportamento dele mais discreto quando tantos protagonistas masculinos são mais... mais.

Adoro os irmãozinhos da Mori, os miúdos são tão fofos e metem-se num sarilho que é tão giro de ver. Pronto, o resultado não foi assim tão giro, mas a origem da coisa é bastante cavalheiresca. Dá-me esperança ver que ainda que o ambiente em que cresceram não seja o melhor, talvez venham a ser adultos resolvidos e parte da sociedade.

Outros personagens interessantes: a Alice, amiga da mãe da Mori e bastante mais retorcida do que lhe daríamos crédito; o Mycroft, que tem mais uns bocadinhos aqui e gostava de apanhar mais da presença dele, é intrigante; o Mallory, que apesar de tudo parece ter um nadinha mais de espinha que o resto dos colegas.

O final é de partir o coração. Entristece-me pensar que a Mori assume o pior. Ela estava pronta para ficar num lugar melhor, mas tudo lhe é roubado, e ela cai no buraco de onde tinha saído. Assume que o Lock vai à vidinha dele - temos de lhe dar mais crédito, ele estava a acompanhar a situação e é esperto demais para aceitar a explicação óbvia. Basta ele voltar atrás à, hmm, "cena do crime" que de certeza que encontra a explicação correcta. Há um par de pistas óbvias para isso.

Mas pronto, o estúpido do fim põe-nos mais perto do final que tem de ser, e a Mori vai ter de ser a vilã/antagonista do Lock antes da coisa acabar. Até pode acabar muito em aberto, mas com a indicação definitiva da rivalidade futura. E lá está, como comecei por dizer, parte-se-me o coração de ver um personagem que gosto ir por um mau caminho. É como ter um amigo que só fez más escolhas e teve uma conclusão trágica para elas.

Páginas: 304

Editora: Simon & Schuster

sábado, 18 de fevereiro de 2017

Curtas BD: Graphic Novels da Marvel, vols. 27, 30-31

Ok, este livro tem duas coisas contra ele: uma, as histórias originalmente foram publicadas numa revista britânica duma maneira diferente daquela que estou habituada em comics, e isso mexe com o ritmo. Cada capítulo da história tem 8 páginas, quando o habitual é mais do dobro. Isso imprime um certo dinamismo ao ritmo do enredo, mas também não ajuda a fazer uma pessoa entrar na história, nem a criar empatia com os personagens.

Duas, não estou familiarizada com os personagens e o mundo. Acho que me identificaria mais com a história se isso acontecesse. Tendo dito isto, consigo apreciá-la duma forma mais intelectual. Há montes de coisas aqui que são exploradas de forma intrigante e até dá para identificar o tipo de coisa que se poderia encontrar em histórias posteriores do Alan Moore. Há certamente muita coisa que dá que pensar durante a leitura; é um pouco mais cerebral do que se pensaria, mas isso não é nada mau.

Pois, não sou propriamente fã do Justiceiro; a sua abordagem ao crime é bastante unilateral, o que não é interessante, mas o conflito moral (para o leitor, para o Frank não há cá conflito nenhum) é. Geralmente para ler um livro eu tenho de gostar ou respeitar o protagonista, e o Frank Castle não é um bom candidato, o que cria logo um nível de separação cada vez que vou ler uma história dele.

No entanto, estes livros são bastante divertidos. Pelo orgasmo de violência em cada página, pelo sentido de humor mórbido com que a história é escrita. Pelas reviravoltas e sarilhos em que os personagens se metem - os eventos e a sequência em que ocorrem são de loucos. Pela amoralidade com que toda a gente se porta, até os polícias envolvidos na tarefa ingrata de caçar os mafiosos e o Frank, respectivamente. Pela noção de vigilantes hiperviolentos a aparecer graças ao exemplo do Justiceiro. É uma história doida no bom sentido, e é engraçada de seguir por causa disso.

domingo, 12 de fevereiro de 2017

Geek Girl - Peixe Fora de Água, Holly Smale


Opinião: Ok, eu já não me lembrava do que tinha escrito na opinião do primeiro livro e ia começar por comparar esta série à do Diário da Princesa, mas depois fui lê-la e aparentemente já fiz isso. Bem, pelo menos sou consistente. De qualquer modo, no primeiro livro a comparação era mais negativa, no sentido em que prevalecia a noção que sou demasiado velha para ler estas histórias sem revirar os olhos. Agora que já estou mais (re)habituada, a comparação é mais positiva. Já olho para as aventuras da Harriet com uma certa sensação de saudades e de divertimento para com os dramas que lhe acontecem. Ainda é exasperante ocasionalmente, mas mais tolerável.

Este volume começa com uma trapalhada tipicamente Harrietiana: a rapariga está numa sessão fotográfica, tendo tudo aparentemente sob controlo, só que na verdade também está a estudar para o exame de Física. E é apanhada. E quase chega atrasada. Entretanto, descobre que a melhor amiga, a Natalie, nem sequer vai passar o Verão com ela; vai para França, de castigo. Só que a Harriet tem uma surpresa à sua espera: o trabalho de modelo vai levá-la ao Japão! Um sonho dela desde miúda. Desde que o pai e a Annabel concordem, claro.

Bem, acabei por ficar a gostar bastante da Harriet. Ela é bastante insegura, e isso pode ser um pouquinho irritante, mas é mais fácil de aceitar se nos lembrarmos de como éramos quando tínhamos essa idade. Acabo por ter pena dela; o mundo da moda não é fácil, e sendo ela um "peixe fora de água", ainda mais. Além disso, acabei por adorar a geekiness da Harriet; ela fica tão animada a deitar factos curiosos cá para fora, e o entusiasmo dela por estar em Tóquio é a coisa mais gira de sempre.

Achei ligeiramente frustrantes as asneiradas que aconteciam constantemente nas sessões da Harriet; não por serem culpa dela - eram, claramente, nada vindas dela. Bastante óbvio para quem tenha dois olhos na cara. (Excepto a Yuka, que claramente tem um problema de visão metafórico ali às vezes. Grrr.) Nesse aspecto a Harriet é uma miúda esforçadíssima e dedicada, era claro que estava a ser sabotada. Achei que a autora fez um bom trabalho a disfarçar a fonte, não era imediatamente óbvio, apesar de ser relativamente fácil juntar os pontos. E foi curioso ver esse outro lado da moda; há sempre alguém que se deixa levar pela inveja em todos os campos.

Apetece-me dar uns carolos à Harriet, no entanto: ela leu tão mal a situação com o Nick! *facepalm* O tempo todo a queixar-se num sentido, e afinal a coisa tinha sido dita noutro sentido. Aqui não sei se fiquei muito fã que a autora o tenha feito; soou demasiado a como se fosse negar aquilo que a sua protagonista tinha dito e sentido nas 300 páginas anteriores, e como se estivesse a fazer dela demasiado tolinha.

Gosto imenso de seguir alguns dos personagens secundários. O pai e a Annabel são tão giros: ele pela sua distracção, a Annabel pela relação carinhosa que tem com a Harriet. Gosto de ver como todos recebem a nova adição à família. A Natalie é uma melhor amiga tão real, elas as duas têm uma ligação que dá gosto acompanhar. O Toby continua a ser demasiado estranho para mim, mas gosto que salve o dia no fim. O Wilbur tem uma relação adorável com a Harriet, vê-se que lá no fundo se preocupa. E a melhor nova adição é a Rin, tão entusiástica como a Harriet. Espero que se venham a cruzar no futuro.

O final, no que toca à carreira de modelo da Harriet: gosto que ela o tenha feito. A Yuka tratou-a com demasiado desinteresse durante a narrativa; traz uma miúda de 15 anos para o Japão, e nem se dá ao trabalho de lhe arranjar um acompanhante permanente, para cuidar dela num local desconhecido e se certificar de que as coisas que aconteceram neste livro não aconteciam. Parece-me razoável. (Se bem que assim não tínhamos história.) De qualquer modo, a Yuka afirma interessar-se e preocupar-se com a Harriet, mas depois não mostra exactamente isso. O que não me faz gostar propriamente dela.

Terminei o livro mais animada para continuar a série; creio que a Harriet terá agora uma série de desafios cada vez mais interessantes, e estou muito intrigada para continuar a ler.

Título original: Model Misfit (2013)

Páginas: 368

Editora: Porto Editora

Tradução: Alexandra Guimarães

sábado, 11 de fevereiro de 2017

Stolen Songbird, Danielle L. Jensen


Opinião: Há leituras em que uma pessoa está em modo "deixa-me gostar de ti, por favooooorrrr", e o livro responde "não, não, não, eu vou mas é dificultar-te a vida o mais possível". Este é um desses casos.

Stolen Songbird é exactamente aquilo que a sua sinopse apregoa - e ainda assim, muito mais do que pode ser expresso por ela. Cécile é uma jovem que é raptada da sua terra e família para ser levada para debaixo da montanha, onde os trolls vivem. Dominados por uma maldição que os prende onde estão, uma profecia promete oferecer-lhes a liberdade. Cécile é a jovem que vêem como a chave da profecia.

Cedo no livro, o quebrar da maldição não corre assim tão bem como o esperado; e Cécile vê-se como peixe fora de água, no meio da sociedade troll, a tentar compreender os seus costumes, política e história. Há uma riqueza de detalhes nesta sociedade que a protagonista se esforça para compreender, e acaba por se ver envolvida no conflito interno da mesma, ao mesmo tempo que sonha poder fugir e voltar ao mundo que conhecia.

O meu problema é... eu levei quatro dias para passar da página 150. Isso não me acontece. (Quase nunca.) Pensei muito nisto e cheguei à conclusão que, apesar da Danielle fazer muita coisa certa em termos de escrita, não estava preparada para ser uma escritora com um livro publicado. Falta-lhe qualquer coisa para enganchar o leitor e puxá-lo pela narrativa fora. Apesar de nessas primeiras páginas me estar a apresentar muita coisa potencialmente fascinante, a minha reacção era maioritariamente um "meh".

Acho que lhe faltou qualquer coisa capaz de me fazer importar com o que estava a ler. Algo para me envolver. Porque é que eu me devia preocupar com estas pessoas? Nunca respondeu realmente a essa pergunta, para mim.

Creio que parte disto tem a ver com o facto de ela não ser muito boa naquilo de show, don't tell. Ela diz-nos que a Cécile está a ficar amiga do Marc e dos gémeos, mas não nos mostra cenas com eles a avançar a sua relação. O mesmo com o Tristan; de repente a protagonista dá-se conta que está apaixonada por ele, onde é que estão as cenas para eu acreditar neles como casal?

Parece que não passam lá muito tempo juntos; há as cenas em que ela canta, ou uma outra em que estão a fingir discutir publicamente. O que é que a fez mudar de ideias? Estar permanentemente ligada a ele pelo bonding? Porque não mostrar-nos isso?

O trágico da coisa é que eu acredito que era possível expandir e substanciar estas relações, e até caracterizar melhor os personagens, tornando o livro mais rico e mais interessante, ao mesmo tempo que o worldbuilding era apresentado, a sociedade e o seu passado eram descritos, e a narrativa era desenvolvida. É possível envolver estas coisas todas umas nas outras e ter um todo coerente; da maneira como está, certas revelações ou pormenores parecem deslocados e descontextualizados, meio confusos até.

É por isso que chego à conclusão que a Danielle precisava de trabalhar mais antes do livro ser publicado. Ou então o seu editor devia ter sido mais aplicado e puxado por ela até o livro estar mais bem esgalhado. É o género de coisas que eu sei que um autor com prática sabe fazer. (Ou um editor bom sabe puxar do seu autor.)

Tortura-me particularmente saber que o livro não é tão bom como podia ser, especialmente porque já é algo com alguma qualidade para começar. Adoro tudo por trás da criação da sociedade troll: como ficaram presos na montanha, como funciona a sua magia, os conflitos de classes presentes, a complexa política entre a classe regente. Neste aspecto é tão rico! O tipo de coisa que dá que pensar por horas.

Até os personagens têm a semente de vir a ser algo cativante; o Marc tem uma história trágica e emocionante; os gémeos são tão divertidos com as suas competições; a Anaïs foge do molde em que podia ter sido metida, pela sua posição no enredo. Os reis de Trollus têm um certo potencial, e os personagens meio-sangue e desfavorecidos pelo seu estrato social mostram uma fatia variada.

Enfim, assim que a história ganhou tracção, não foi tão complicado de me fazer virar as páginas. Como disse, fiquei interessada em montes de aspectos da narrativa, mas preferia ter sido arrebatada, arrastada para dentro dela sem ter escolha no assunto.

A parte final é novamente um pouco frustrante porque assim que a Cécile e o Tristan chegam à conclusão que gostam um do outro, bem, ficam um pouco parvinhos. Ele passa o tempo a duvidar dela só porque sim. (Eu sei que é estranho conviver com alguém que pode mentir, ao contrário de ti, Tristan, mas tem ela realmente motivos para mentir? Idiota.) E pior, não achei piada nenhuma a ele agir como se ela não soubesse o que estava a dizer e sentir, e agir como se soubesse melhor que ela. Não é fixe, Tristan.

Disse ali parvinhos também porque tomam um monte de decisões questionáveis só porque sim. Está bem, o amor deixa as pessoas tolas, mas não era preciso tanto. A parte final então? O Tristan a provocar o caos e a pôr a descoberto aquilo em que acredita para ajudá-la? Havia um milhão de maneiras diferentes de fazer isso. Aquilo que ela faz antes? Incrivelmente perigoso e bastante estúpido. Há uma longa lista de erros que eles cometem nas últimas 100 páginas, mas nem quero pensar mais nisso.

Again, acho que é inexperiência da Danielle. Ela quer que a narrativa vá num sentido, então faz os personagens agirem fora do que são para que isso aconteça. Em vez de tentar descobrir uma maneira de fazê-lo acontecer que seja coerente com o que eles são. Aaaargh.

Portanto, em suma, diria que estas são das opiniões mais difíceis de escrever. Quando uma pessoa quer mesmo gostar dum livro, mas ele dificulta-lhe mesmo a vida. Quando um livro tem tanto a seu favor, mas comete alguns pecados capitais que nos é impossível de ignorar, e temos de falar longamente sobre porque é que ele não funciona assim. Não quer dizer que não venhamos a ler o resto da série (é bastante provável, eventualmente), pois tem tudo para vir a ser bem melhor, mas não se pode fingir que não teve os seus problemas.

Páginas: 480

Editora: Angry Robot