segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Este mês em leituras: Fevereiro 2016

Chega ao fim Fevereiro, o mês mais curto do ano, mesmo com bónus de um dia extra. Caramba, que o tempo passou a voar. Quando dei por mim, já estávamos no fim do mês. Daqui a bocado estamos na Páscoa, depois no Verão, e quando dermos por nós, outra vez no Natal. Céus, que o tempo abrande um bocadinho, que eu preciso de ler muitos livrinhos.

Livros lidos

Mais o The Proposal, em e-book.

Opiniões no blogue

  • Da Vinci's Tiger, L.M. Elliott;
  • Curtas BD: Spider-Verse: The Amazing Spider-Man v.1: The Parker Luck, Dan Slott, Humberto Ramos; The Amazing Spider-Man v.2: Spider-Verse Prelude, Dan Slott, Christos Gage, Giuseppe Camuncoli; The Amazing Spider-Man v.3: Spider-Verse, Dan Slott, Olivier Coipel, Giuseppe Camuncoli; Spider-Woman v.1: Spider-Verse, Dennis Hopeless, Greg Land;
  • Meg Cabot: Size 12 and Ready to Rock; The Bride Wore Size 12;
  • Harry Potter e o Príncipe Misterioso, J.K. Rowling;
  • Worlds of Ink and Shadow, Lena Coakley;
  • Os 100 - 21 Dias Depois, Kass Morgan;
  • Curtas: O Espetacular Homem-Aranha: Regresso às Origens, J. Michael Straczynski, John Romita Jr.; Vingadores: O Último Ato, Brian Michael Bendis, David Finch; Capitão-América: Uma Nova Era, John Ney Rieber, John Cassaday; Os Surpreendentes X-Men: Sobredotados, Joss Whedon, John Cassaday;
  • Meg Cabot: The Proposal, Remembrance.

Os livros que marcaram o mês

  • Worlds of Ink and Shadow, Lena Coakley - uma boa surpresa, especialmente pela mistura de elementos fantásticos com a época juvenil dos Brontë;
  • Stars Above, Marissa Meyer - é tão bom poder passar mais um bocadinho com personagens e mundos que gostamos, e adorei cada conto pela sua capacidade de expandir a história e esclarecer alguns pontos da narrativa principal.

Outras coisas no blogue


Aquisições

Ao alto estão os livros de BD da nova colecção da Levoir, que sai com o Público, desta vez dedicada à DC. Deitados, temos primeiro o Remembrance, que com o Stars Above fazem os livros em inglês do mês, de autoras e séries que queria continuar.

Felizmente, o Leite, Mais Um Dia, e P.S. Ainda te Amo foram adquiridos a custo zero, cortesia dos descontos em cartão. O Rainha Vermelha é uma boa surpresa da fofinha e adorável Patrícia do Chaise Longue, que mo ofereceu por ocasião dos meus anos.

Os restantes livros foram adquiridos no site da editora, para aproveitar um desconto, e o Oitava Campa ao Anoitecer vem do Círculo de Leitores, para continuar a colecção que estou a fazer.

Também adquiri para o Kindle o e-book da novela The Proposal, da Meg Cabot.

A ler brevemente

Vou ler de certeza o último livro do Harry Potter, por mais que isso me torture. Em adição, vou possivelmente ler os livros que ficaram por ler deste mês, mais alguns que me hão de chegar durante o mês de Março, entre lançamentos do mês, e os livros para o desafio da Meg Cabot. Tenho ali muita lenha com que me queimar.

domingo, 28 de fevereiro de 2016

The Proposal + Remembrance, Meg Cabot


Páginas: 144 / 400

Editora: HarperCollins (Avon Impulse / William Morrow)

Ahhhh, finalmente!

Descobrir que a Meg Cabot ia publicar mais um livro em duas das suas séries mais populares, e das minhas favoritas, foi a melhor notícia que recebi há dois anos. É claro que esse anúncio tinha de ser acompanhado, uns meses mais tarde, pelo anúncio que este livro tinha sido adiado para agora, enquanto que o novo volume do Diário da Princesa se manteve no calendário esperado. Que frustrante. Desculpa Mia, és fantástica, mas eu também estava com saudades da Suze.

Portanto, foi uma felicidade ter estes livros na mão. Estava mesmo a morrer de saudades e de vontade de voltar a passar uns bons momentos com estes personagens. É claro que há sempre o receio de que não se dê faísca, que a magia tenha passado...

... e aqui, o receio foi janela fora mal comecei a ler. A autora conseguiu recapturar a voz da Suze, a sua atitudezinha tramada, os enredos loucos dos fantasmas, e a total adorabilidade do Jesse. Já agora, não podemos ter mais? Pleeeeeaaaase?

The Proposal tem, como o nome indica, uma proposta muito, hmm, interessante; é uma novela, uma história mais curta que apresenta este aspecto da vida da Suze e do Jesse, mas que não é essencial. Remembrance é mais longo, o livro prometido, que coloca o casal a dar este passo seguinte na sua vida, enquanto um antigo conhecido volta para atormentar as suas vidas...

Entre os dois livros, somos reintroduzidos ao mundo da Suze Simon. A mãe e o padrasto Andy já não vivem na mesma casa, e o programa de televisão dele tornou-se um sucesso. O Jake tornou-se um empreendedor, o Brad é um pai de família (o que é adorável, já agora), e o David entrou em Harvard precocemente. A Suze está a estudar psicologia, e o Jesse a tirar o internato num hospital.

É uma das coisas que mais gostei de ler nestes livros. A vida dos personagens não parou, evoluiu e mudou, e nota-se. Adorei descobrir todos os pormenores, ver como as coisas tinham mudado. Além disso, o isto poder ser uma história adulta, com conteúdo adulto, é bastante divertido. O Jesse é um homem do século XIX, e por isso prefere esperar até ao casamento - o que torna a situação mais engraçada porque a Suze passa o tempo a fazer de tentadora, a ver se lhe dá a volta. Gosto da inversão de papéis deles.

Gostei de ver o Brad como pai, porque nunca esperei que ele se desse tão bem. Gostei de conhecer as filhas dele, as trigémeas, que são as miúdas mais traquinas e adoráveis de sempre. Até gostei de rever o Paul, que não consegue deixar de fazer o papel de vilãozinho de segunda. Oh pah, a Suze no fim até lhe dá a volta à grande! Mal consigo acreditar que ele caiu que nem um patinho. Mas ao mesmo tempo, compreendo. O Paul acredita em tudo nesta área porque a falta de ligação emocional deixa-o vulnerável.

Fez-me foi um bocado de comichão ver a Suze cair tão facilmente no jogo dele. Acho que ela acreditou demasiado na ameaça dele, e começou a ver coisas onde elas não estavam. É claro que o Jesse não é nenhum santo, e tudo o que ele passou deixa a sua marca, mas Suze, a sério? Enfim, a verdade é que ela às vezes não pensa bem nas coisas. De qualquer modo, preferia mesmo que ela tivesse confiado no Jesse quanto às suas dúvidas, para a relação que eles têm o silêncio não faz sentido.

Os casos fantasmagóricos são bem ao estilo da série, com reviravoltas, e fantasmas doidos à procura de vingança. O primeiro caso foi interessante por causa de quem é o culpado, e pelos seus motivos; o segundo caso é interessante pela história associada às duas vítimas, a tragédia de toda a situação - e também pela forma como termina. A actuação da Suze foi fantástica. Tanto com o culpado, como mais tarde, com o Jesse e o Paul. (Os dois juntos na mesma cena... brutal!)

Ah, enfim, já estou aqui a roer-me para ler mais qualquer coisas nesta série. O fim foi fofinho, e foi tão bom ver tanta gente da série junta, rever os personagens antes de terminar; e adorei saber que deixo todos num bom lugar (menos o Paul, e até tenho pena que ele nunca tenha tido oportunidade para se resolver e ultrapassar a sua queda por maldades). Bem, até sempre? :)

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Curtas: Graphic Novels da Marvel, vols. 1 a 4

O Espetacular Homem-Aranha: Regresso às Origens, J. Michael Straczynski, John Romita Jr.
É engraçado, sou capaz de ter em alguma ocasião lido o material de três dos quatro volumes mencionados neste post. Neste caso em especial, suponho que li esta história através das revistas do Homem-Aranha que a Devir publicava, algures depois de 2003.

Não é que eu me lembre de grande coisa, tendo em conta que já passou tanto tempo. Tenho boa memória, mas não assim tanto. Por isso, é quase como se estivesse a ler pela primeira vez. Tenho simplesmente uma ideia decente da mitologia exposta, até porque é importante no Spider-Verse, sobre o qual li recentemente.

E gosto mesmo deste lado mitológico do Aranha. Imagino que na altura pudesse ser uma ideia relativamente original, imbuir o personagem de um aspecto mitológico; e esta ideia de um personagem imparável, que persegue Aranhas para os devorar... tremendamente interessante. E gosto de como as coisas parecem desesperadas, e de como foram montadas. São complexas o suficiente, mas abertas também, e permitiram que a mitologia do Spider-Verse encaixasse nelas e as estendesse.

Aquilo de que não sou fã é de saber que o pessoal na Marvel tem alergia a ter um personagem casado e feliz da vida com isso. Têm sempre que inventar alguma coisa parva. Mais para a frente apagaram da existência o casamento da Mary Jane e do Peter, antes disto parece que ela foi raptada, o que ainda é pior, fazer dela uma vítima só para inventar mais drama.

Vingadores: O Último Ato, Brian Michael Bendis, David Finch
Ok, este era o volume que não tinha lido. E é por este tipo de coisas que eu não gosto mesmo nada da Feiticeira Escarlate. Está no centro de demasiada tralha que aconteceu no universo Marvel. Primeiro, é demasiado poder para alguém, como se pode ver pelo que ela causou, e depois, acontece tanta coisa por causa dela e nunca chega a... pagar por isso? Eu sei que em parte ela não está no todo das suas faculdades, mas caramba, já chega. Alguém que ajude a moça.

De qualquer modo, a ideia é intrigante, e a execução maioritariamente boa.. as coisas começam a correr tão mal, tão mal aos Vingadores - embaraços públicos, mortes dos seus membros, guerras, tudo e mais alguma coisa. E o resultado final é que a equipa se desmembra de forma trágica, porque a situação se torna intolerável.

Um belo conceito, porque os Vingadores podem ter mais ou menos importância para cada um, mas são a equipa-base da Marvel, que junta personagens tão diferentes e de áreas tão distintos deste universo. E ver como as desgraças se empilham em cima deles? Uau. Ao menos a Feiticeira tem imaginação, eh.

Capitão-América: Uma Nova Era, John Ney Rieber, John Cassaday
Este também já tinha lido, aqui quando foi publicado na colecção de BD do Correio da Manhã. Também foi há demasiado tempo para me lembrar, o que me recordo bem é da conversa do Capitão sobre as baixas civis crescentes de uma Guerra Mundial para a outra. Era um argumento impressionante na altura em que o li.

É uma história um pouco longa e sem rumo em partes; mas de resto até gostei bastante. É bastante adequado usar um personagem que foi criado como uma espécie de propaganda anti-Hitler na Segunda Guerra, e pô-lo no meio de uma história que fala do pós-11 de Setembro e da posição Norte Americana.

É bastante mais subtil do que esperava (há momentos óbvios, claro, mas não deu para enjoar), levando o Cap a perguntar-se sobre a natureza do mal, e do terror. A compreender que isso não tem geografia, e que os "seus" não estão isentos de responsabilidade. As primeiras páginas são de partir o coração. O Capitão está em Ground Zero, a ajudar os bombeiros, e é terrível saber que não vão conseguir ajudar ninguém.

O argumento é principalmente à base de um monólogo, esparso em diálogos, que deixa espaço para as pranchas e as imagens, que até parecem maiores por causa disso. E a arte é bem gira, visualmente muito cativante.

Os Surpreendentes X-Men: Sobredotados, Joss Whedon, John Cassaday
Outro já lido, desta vez porque apanhei uma vez a edição da BDMania numa livraria e aproveitei para ler a história. O que mais retiro deste livro é a observação de como as coisas mudam de escritor para escritor, a abordagem que fazem às histórias e aos personagens.

Li os livros dos X-Men com o escritor anterior, Grant Morrison, e posso dizer que gostava muito da sua abordagem, mas também gostei do que vi aqui com o Joss Whedon. Já conhecia o trabalho dele doutros lados e é impecável, na maneira como cria a história, cheia de tensão, com ideias fantásticas, e uma boa caracterização dos personagens.

Coisas boas da história: a Kitty Pryde, a Emma Frost, a fricção entre as duas, a Emma e o Scott à frente da escola, a introdução duma cura mutante, a presença de um extraterrestre com um problema com os X-Men, o retorno de alguém que se pensava perdido, o que fizeram com o Wolverine aqui, o humor nos diálogos e nalgumas cenas.

O artista é o mesmo do volume anterior que comentei, e o melhor que posso dizer dele é que a maneira como desenha pessoas me parece tão real, o que me agrada muito. Depois dos livros X-Men com o artista anterior, Frank Quitely - do qual não sou nada fã -, foi muito refrescante.

domingo, 21 de fevereiro de 2016

Os 100 - 21 Dias Depois, Kass Morgan


Opinião: Bolas, apesar de geralmente ter mais bom senso, eu acabei por gostar desta série. Oh, não é nada de extraordinário, e outro autor que fizesse metade do que esta autora faz levava nas orelhas com tanta veemência que ficava marcado para sempre. Mas da maneira como este livro se apresenta, eu acabo a divertir-me, raios.

Bem, depois da revelação do final do primeiro livro, essa situação é desenvolvida, e os 100 vêm-se no meio de um conflito que não estavam à espera de enfrentar. Isso permite apresentar novos personagens e explorar novas facetas da Terra. O worldbuilding é explorado nesse aspecto, e gostei, porque descobrimos algumas coisas interessantes.

No espaço, a estação está com problemas, e o caos instala-se. As pessoas estão a tentar sobreviver, mas a coisa não está fácil, e é um desafio para quem se mantém a bordo, até que apenas uma saída se lhes apresenta.

Os livros são mais cheios de acção, está sempre a acontecer algo no enredo, mesmo que não faça inteiramente sentido; as coisas são tão doidas e divertidas que uma pessoa nem pensa bem nisso. Já a caracterização é assim mais para o fraquinha. Normalmente seria algo para me fazer desistir, mas como disse, divirto-me demasiado a acompanhar os acontecimentos. A premissa e a execução de ideias é cativante o suficiente para me manter interessada, curiosamente. Não consigo desligar porque quero saber o que ver a seguir.

Sobre os personagens... ora bem, tenho de deixar sair isto primeiro: os rapazinhos (não lhes posso chamar homens, não merecem) destes livros são uma treta. Como é que eu posso "torcer" pelo Bellamy ou pelo Luke se a autora os mete a fazer uma coisa tão execrável como descobrir uma verdade menos palatável acerca de/da boca das heroínas, e fugirem que nem bebés assustados, deixando-as em situações potencialmente perigosas? Ugh, que idiotas.

Já o Wells, bem, a maior parte das acções dele são razoáveis, bem tenta fazer o que pode no meio daquilo tudo, mas é difícil esquecer que tecnicamente a culpa é dele, de as coisas estarem tão complicadas como estão. Foi ele que começou tudo.

Já da Clarke, eu gosto da ideia dela, mas falta-lhe um bocadinho de espinha. A autora passa demasiado tempo a envolvê-la num pseudo-triângulo que já morreu, e a mudar de ideias entre os dois rapazinhos. Ugh. E ela tem pedaços da sua história que seriam fascinantes de explorar melhor.

Alguns dos personagens secundários acabam por ser mais interessantes e ter enredos mais cativantes. Acho que a inépcia da autora não lhe permite sair da basicidade de escrita de meter certos clichés no desenvolvimento dos personagens, mas tem a sorte de escrever duma maneira que me mantém interessada, e suponho que é isso que importa.

Não posso deixar de comentar que acho um pouco parvinho usar tão claramente uma imagem da série de TV na capa destes livros. A imagem do primeiro livro ainda era geral o suficiente para servir, mas esta? Vá lá, 3 dos 6 personagens representados nem existem no livro! Que palermice.

E entretanto comecei a ver a série, por isso não posso deixar de comentar que, caramba, nada a ver. A premissa é a mesma, sim, mas a execução é completamente diferente. E digo isto no melhor dos sentidos; são tão diferentes que para mim isso é óptimo, impede-me de os misturar. Tenho alguns outros comentários, como o facto de eu ter algumas ideias pré-concebidas acerca da história pelo que tinha ouvido, e ser tudo tão diferente do que pensava, mas não no mau sentido. Gostava de comentar a série um dia destes.

Título original: Day 21 (2014)

Páginas: 288

Editora: Topseller

Tradução: Renato Carreira

sábado, 20 de fevereiro de 2016

Worlds of Ink and Shadow, Lena Coakley


Opinião: Vou ter de me repetir, mas estou mesmo contente por ter apostado no Owlcrate. É a segunda vez que me mandam um livro que eu não compraria por mim própria, em que provavelmente não apostaria - e acabo a divertir-me imenso com ele.

Worlds of Ink and Shadow é um livro sobre os irmãos Brontë que mistura partes reais da sua biografia com um mundo de fantasia criado por eles, habitado pelos personagens que escreve(ra)m na juventude. Apresenta a sua vida familiar e elementos dos seus escritos para construir uma narrativa bem cativante e imaginativa.

E é isso que gostei no livro, na verdade. Pega em elementos base dos quatro irmãos, do que conhecemos da sua biografia, das suas personalidades e do que podemos entever dos livros que escreveram mais tarde na vida, e junta com pedaços do que escreveram em jovens para criar este mundo fantástico ao qual podem aceder. É uma introdução gira para quem não os conhece ou lhes conhece os livros, mas também pode agradar a quem com eles está familiarizado, ao encontrar tais detalhes.

A maneira como a Charlotte cria os seus personagens não é a mesma da Emily, tal como a Anne é bastante diferente; até o Branwell tem o seu tipo de escrita, apesar de não termos livros escritos por ele em adulto. Gostei que a caracterização fosse relativamente detalhada e pudéssemos ver claramente as personalidades de cada um, os conflitos entre irmãos, por exemplo - como os mais velhos se colocavam à parte para proteger as mais novas, e como elas se sentiam excluídas como resultado.

O mundo fantástico, aquele em que os personagens que escrevem vivem, fascinou-me. Gostei mesmo de descobrir como foi criado, quais são as suas regras - um personagem que morre não pode ressuscitar, por exemplo. É um mundo estranhamente vívido, mas que encaixa bastante bem na realidade. Está à parte mas não destoa.

Acho que a maneira como as coisas funcionam no mundo fantástico faz um argumento fantástico acerca de como escrever uma história funciona. Como os Brontë controlam as cenas quando lá estão, o que existe e não existe conforme a sua presença, a vida que os personagens tomam e quão estranho se torna vê-los controlá-los. A vida própria que os personagens tomam e o modo como as coisas se tornam descontroladas e os "criadores" já não têm mão nelas.

E por fim, gostei do tom da história. Tanto as partes mais fantásticas do outro mundo, cheias de vivacidade e maravilhamento; como a vida mais espartana e algo tristonha dos Brontë. A morte trágica das duas irmãs mais velhas, a ausência de mãe por uma morte prematura; tudo isso tem peso na maneira como esta família funciona. É tão interessante que o reverendo Brontë acreditasse em dar uma educação às filhas, alimentar-lhes os interesses; mas é tão triste que tenha vivido para ver todos os filhos morrer, todos demasiado jovens.

Páginas: 352

Editora: HarperCollins

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Harry Potter e o Príncipe Misterioso, J.K. Rowling


Opinião: Este livro parte-me o coração. Há muitas memórias que associo a ele, mas principalmente esta sensação de desastre iminente, de profunda tristeza (acho que sabemos todos porquê) que pinta o resto da narrativa. Tenho activamente de me lembrar de gozar o que leio, porque há tanta coisa divertida na história que seria um crime esquecer a sua presença.

Primeiro, gosto tanto de como está toda a gente tão hormonal. É extremamente divertido. Só que ao contrário do livro anterior, o Harry cresceu um bocadinho, e ganhou alguma inteligência emocional, e acho interessante vê-lo pensar na ideia do Ron e da Hermione juntos, e no que isso significaria. Um pouco ao modo de um rapaz adolescente sem noção, mas a cabeça dele está no lugar certo.

Depois, acho fascinante acompanhar as lições com o Dumbledore, em que ele e o Harry exploram o passado de Voldemort, na esperança de encontrar algo que o derrote no presente. A J.K. Rowling sempre deu um certo peso a quão importante o passado é, o quanto pode estar ligado com o presente e influenciá-lo, e isso é algo que ela examina aprofundadamente nesta questão. Aquilo que o Voldemort foi e é interessa-me bastante.

Gosto imenso do aspecto escolar, há algumas mudanças no corpo docente, como a entrada do professor Slughorn, que é bastante engraçado na sua queda para o favoritismo, mas no fim de contas uma pessoa decente, só um bocadinho repelente pela sua atitude. A exigência é maior, e fazem-se algumas coisas divertidas, como a aprendizagem da Aparição.

E gosto tanto dos jogos de Quidditch, mas a sério, que vontade de esganar o Harry. Ele consegue sempre ser castigado e perder o jogo final da época! Que tortura, nunca consigo ver o momento da vitória! As vitórias têm sido mais sofridas nestes últimos dois anos, e sabia melhor ver o resultado.

Ainda acho bastante interessante descobrir o que se passa nos bastidores, o encontro entre o Ministro da Magia e o Primeiro Ministro Inglês (por mostrar o contacto com o mundo Muggle), a intriga política que leva o Ministro a tentar recrutar o Haary, até as movimentações de Voldemort e dos seus seguidores.

Agora... a parte final do livro é uma tortura de ler. Tragicamente, fui spoilada para o final (ainda hei de falar disso aqui), e isto mesmo quando tencionava ler o livro em inglês (talvez tenha sido o meu primeiro em inglês), e tencionava comprar o livro dois dias depois de sair.

Não é por isso que é uma tortura. Saber, na altura, como ia terminar, aborreceu-me bastante, mas passei a leitura na expectativa de descobrir o que ia precipitar a situação. Custa-me é saber que desde o início o professor Dumbledore sabia que aquilo teria de acontecer, e passa o ano todo a preparar-se, a resolver-se, a aceitar talvez corajosamente aquilo que vai ter de ser. Como é que alguém vive tanto tempo como ele e ainda assim se prepara para um momento destes?

Custa-me também ler por causa do professor Snape. Não gosto particularmente dele como pessoa, porque tanta gente passou por tanto como ele e não usa isso como desculpa para ser um rufia com os seus alunos como ele faz. A amargura emana dele e é tóxica. Tenho compaixão pelo seu percurso, o tipo de infância e adolescência que teve levam alguém tão facilmente para maus caminhos, mas não posso aceitar que isso justifique o seu comportamento.

E custa-me porque tal acto mancha a alma, como bem sabemos na série, e o saber que teria de o fazer deve destruir uma pessoa, e isso é assustador. Dá-me a sensação que ele passou a vida a pagar por um pecado passageiro, com consequências duradouras; preocupa-me que isso leve a que o Dumbledore lhe peça algo tão duro. E preocupa-me ver que as circunstâncias se revelaram tão complicadas que eles viram isto como a única saída possível. Oh céus, isto deprime-me deveras.

E pronto, no próximo mês há mais. Tenho um bocadinho de medo. Acho que só li o último livro uma vez, e tudo o que me lembro é que me sugou a alma. Nunca fui capaz de reler, porque é tão triste e dramático e de partir o coração.

Título original: Harry Potter and the Half-Blood Prince (2005)

Páginas: 512

Editora: Presença

Tradução: Alice Rocha, Manuela Madureira, Maria do Carmo Figueira, Isabel Nunes

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Meg Cabot: Size 12 and Ready to Rock, The Bride Wore Size 12


Páginas: 384 / 400

Editora: William Morrow

Ah, a Heather Wells diverte-me tanto. Aliás, as premissas da Meg Cabot divertem-me tanto; ela inventa sempre as coisas mais doidas, torna-as credíveis, e embebe-as com um sentido de humor brutal que me agrada imenso.

Nesta série, a protagonista é Heather Weels, uma antiga estrela pop adolescente, que foi afastada da ribalta pela sua antiga discográfica e pelo facto da sua mãe lhe ter roubado tudo o que ganhou enquanto cantava. Agora, Heather é directora assistente numa residência universitária, só que o seu novo trabalho é bem mais agitado do que esperava, com corpos a aparecer a torto e a direito...

No primeiro destes dois livros, alguém está a atingir pessoas próximas da Tania, estrela pop e a nova mulher do Jordan (ex-namorado da Heather, dos tempos em que era cantora); o que complica as coisas é que a Tania está no centro de um reality show em que serve de tutora a 50 adolescentes, e que se mudam de armas e bagagens para a residência universitária.

Apreciei bastante este livro pelas cenas com o Jordan e a Tania, e com a família Cartwright. Eles até são adoráveis, o casalinho, à sua maneira - à maneira de cachorrinhos indefesos e inocentes, suponho. É divertido de os acompanhar porque apesar de existirem num meio tão calculista como o do espectáculo, mantêm alguma pureza e ingenuidade. E a Heather acaba a vê-los duma nova maneira, especialmente a Tania, quando percebe que esta adora mesmo cantar.

Para juntar a isto, a família Cartwright é bastante divertida. Gostava de ter visto mais dos pais do Jordan e do Cooper, ver mais atritos e drama nessa área, porque os há. No entanto, aquelas que conhecemos melhor são as gémeas, irmãs mais novas dos rapazes, e são mesmo engraçadas. Fazem-me pensar numa caricatura das irmãs Kardashian.

Há uma introdução de um tema um pouco mais sério, a presença de um perseguidor e os extremos a que vai devido à sua obsessão; é uma curiosidade nesta série, tem sentido de humor mas depois há a introdução de certos momentos mais sérios que dão que pensar.

O segundo livro deste par acompanha uma outra situação. A presença de um príncipe árabe, a estudar na universidade de Nova Iorque e a viver na residência da Heather, causa todo o tipo de drama, especialmente pela sua fama de playboy - desde a fila de alunos que quer vir viver para o dormitório (algo a que Heather não está habituada), até às críticas cerradas por a direcção da universidade aceitá-lo como aluno, mesmo tendo más notas, só porque o pai lhes "doou" um camião de dinheiro.

Gostei mesmo do mistério neste, porque foi um pouco mais complexo, cheio de reviravoltas, e definitivamente nada a ver com o que parecia óbvio de início. A presença do Príncipe Rashid distrai e disfarça o motivo e o assassino, e apesar de estar ligada à situação em questão, acaba por ser a sua própria situação.

E por falar nisso, achei a questão do Rashid bastante curiosa. Tem um tom político, o que não é comum na autora, mas também não é inédito. E tem um lado fofinho na coisa, que até é surpreendente pelos intervenientes.

O drama na residência universitária também é engraçado. Adoro a perspectiva da Heather sobre lidar com pais hiper-preocupados, com miúdos hormonais, e colegas incompetentes (aquele Simon é incrível, não sei como não o despedem). E por falar nisso, sempre pensei porque raios a Heather nunca foi promovida. Com a maneira como se preocupa e é dedicada, bem que merecia.

O livro também é o do casamento iminente. A Heather e o Cooper estão a preparar o seu casamento, mas está difícil, com os problemas na residência, uma mãe que voltou aos EUA, e uma planeadora do casamento que nunca aparece em cena. Aqui o mais divertido são as gémeas, irmãs do Cooper, e as suas "tentativas" de ajudar; e o vislumbre dos colegas de profissão do Cooper.

Acho que a crítica que podia fazer aqui é que os livros me sabem a pouco. Há uma série de situações que podiam ser melhor exploradas, mais exploradas, e não o são, pela própria restrição da série. Dá a sensação que a história tinha mesmo de acabar ali, no quinto livro, tinha de estar naquele ponto, e por isso certos fios de enredo nunca tiveram a atenção que mereciam.

Nem o casamento teve o foco principal, e devia. A planeadora de casamento nunca apareceu, e achei que havia coisa ali, mas isso nunca foi explorado. E toda a questão do casamento merecia uma série de cenas engraçadas que nunca aconteceram. Acho que a colecção merecia facilmente mais um par de livros para explorar devidamente o que ficar por desenvolver.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Curtas BD: Spider-Verse

The Amazing Spider-Man v.2: Spider-Verse Prelude, Dan Slott, Christos Gage, Giuseppe Camuncoli
The Amazing Spider-Man v.3: Spider-Verse, Dan Slott, Olivier Coipel, Giuseppe Camuncoli
Spider-Woman v.1: Spider-Verse, Dennis Hopeless, Greg Land
Chamei a este post Spider-Verse, porque a maior parte das histórias aranhescas que li se focam neste "evento", mas antes disso ainda temos o primeiro volume em que Peter Parker está de volta e em controlo do seu corpo e da sua vida.

E não sou particularmente fã. Desde quanto é que o Peter é tão... estúpido? Tanto no sentido de ser parvo com as pessoas, como intelectualmente? A história correspondente ao primeiro volume é suposta ser sobre ele ser um azarado, mas as asneiradas empilham-se ao ponto da incredibilidade.

Porque raios é que a Gata Negra está a agir duma maneira tão lixada? Achava que a Gata tinha mais estilo. E bolas, até meio que gosto da ideia da Silk, mas soa tão mal, tão patetinha esta coisa de eles se comportarem como dois adolescentes no cio. Isto é suposto ser interessante para que tipo de leitor, mesmo?

Enfim. O aparecimento da Silk prenuncia o início de um evento no universo aranhesco, Spider-Verse. Personagens misteriosos andam a percorrer os múltiplos universos, matando e alimentando-se de todos os personagens aranhescos que encontram; o retorno de uma história e de um personagem que, ei, eu até li, há muito, muito tempo atrás. Não é que me lembre de tudo, tendo em conta o tempo que passou, mas lembro o suficiente.

E, tendo em conta o que me lembro, gosto bastante da expansão do conceito, desta "família" de comedores de aranhas, da invasão de universo após universo (especialmente tendo em conta o que estava a acontecer no universo Marvel, com o drama de universos a colidirem).

Mais ainda, achei bastante piada a ler sobre todas as possíveis interpretações de seres aranha que pudessem haver por esses universos fora. Por favor, havia um Gato-Aranha! (E detestei o que lhe aconteceu.) E havia um porco, e um punk, uma Lady Spider (steampunk), e um britânico, duas versões mecha (um parecia um Power Ranger, outro saído de Evangelion), o Miles Morales e uma Jessica Drew que no universo Ultimate, o deles, é um clone?

Bolas, os aranhiços certamente gostam dos seus clones, se bem que não posso dizer que alguma vez tenha lido alguma coisa com eles. (Estou apenas ciente que a coisa dos clones é uma coisa no universo do Peter Parker.) E tenho de acrescentar que o meu aranhiço favorito foi aquele que nem sequer posso discutir, um que já morreu na cronologia "normal", mas cuja história é um reflexo da do Peter. Foi giro, e até comovente, ler e descobrir os paralelos.

Acho que as críticas que posso fazer prendem-se com o âmbito do evento. Quer espalhar-se por tantas revistas aranhiças, contar tantas histórias, que às vezes se perde um pouco, talvez? Quero dizer, a ideia de acrescentar no fim de cada número uma pequena história sobre um universo diferente, um Aranha diferente, é gira.

Contudo, a certa altura, mais para o fim, a história pareceu perder um pouco de coesão, e a verdade é que sinto que certas coisas não são bem esclarecidas. O suposto papel da Silk e dos outros "aranhas especiais", por exemplo. Porque é que tinham os "títulos" que tinham? É este o problema dos eventos. Às tantas esta treta foi explicada num sítio qualquer que eu não li. Um, devia ter sido explicada nos títulos principais, que eu li. Dois, a história em cada número/título devia valer por si, e tais vazios são uma fraqueza narrativa.

O que me leva ao volume da Jessica Drew, a Spider-Woman. Céus, que burrice começar um título novo e metê-lo no meio dum evento. Metade dos fios de enredo começam aqui e acabam noutro sítio, ou vice-versa. (Aliás, é o problema com grande parte do evento. Metade dos personagens vai em missões laterais, que, adivinhem, continuam noutras revistas. Não parecem ter histórias muito importantes para a narrativa principal, ou pelo menos não lhes senti a falta.)

Voltando à Jessica. Gosto bastante dela, da sua personalidade, de como é confiante e assertiva; e gostei de seguir a missão principal dela, de "toupeira" no meio dos Inheritors. Melhor ainda, neste mundo, o Namor é um pirata. Acho isso extremamente hilariante.

Enfim, isto não foi suficiente para me matar a vontade de ler a Jessica, aliás, deu-me mais vontade, porque acho que ela merece uma história só para ela, sem factores externos a meter-se. Por outro lado, fico a achar que esta coisa dos "eventos" nas editoras americanas de banda desenhada são uma treta, têm mesmo pinta de ser só para vender, e parece-me normal que lhes acabe por faltar um bocado de coerência, porque nenhum argumentista merece ter de atar tantas pontas em tantos lugares diferentes.

domingo, 7 de fevereiro de 2016

Uma imagem vale mil palavras: A 5ª Vaga (2016)

A sério, eu tenho que parar de ver adaptações cinematográficas de livros. Mesmo quando são perfeitamente adequadas, a minha cabeça não consegue parar de encontrar-lhes problemas, caramba. Era tão mais fácil poder simplesmente desligar.

Bem, esta adaptação. É bastante decente. Segue bem o ritmo narrativo do livro, com as devidas adaptações. Nunca conseguiríamos ter, por exemplo, a surpresa da identidade do Zombie, porque no livro isto baseia-se em não lhe conseguirmos ver a cara, coisa que não é possível na tela, obviamente.

De qualquer modo, acho que o filme lida bem com as diferenças de meio que há entre livro e filme. A escrita do Ricy Yancey até é um pouco cinematográfica, tal como a maneira como ele cria a história, e presta-se a ser adaptada, em parte.

A intercalação das narrativas dos vários narradores ainda funciona melhor em filme; e certas coisas consegue transmitir bastante bem, como a paranóia ao extremo que podemos detectar na Cassie logo na primeira cena, ou as sucessivas vagas que destroem o planeta e desfiguram o mundo como o conhecemos.

Há um par de "atalhos" que são tomados para facilitar o correr do enredo, que até fazem sentido. O primeiro, particularmente, que explica porque a Cassie não estava no campo de refugiados com os adultos e os militares - é menos convoluto, e uma solução elegante. No segundo caso, é o modo como a Cassie percebe a natureza do Evan. É um pouco rápido demais, mas resulta.

Coisas que gostei mesmo: o Sam, o mano da Cassie é adorável. E pensando bem, os actores que fazem o papel dos dois personagens masculinos principais também parecem demasiado adoráveis. É até estranho. Hollywood parece estar repleta de bonzões, mas não tanto de gente com ar fofo.

Gosto bastante do contraponto entre a normalidade da vida antes, e até durante a "invasão", que no início se pauta pelo desconhecido e pela inércia, e a estranheza pós-apocalíptica de um mundo devastado, que obriga as suas crianças a crescer abrupta e violentamente. Ah, e gosto do humor. Gosto que mantenham certas cenas com piada.

Não sou fã do que fizeram com a Ringer. Primeiro, ela é implicitamente asiática no livro, portanto cai mal o casting duma actriz caucasiana. Depois, aquela actuação de miúda furiosa roqueira é tão pateta. (Ou como a minha irmã disse, "onde é que ela anda a arranjar o eyeliner?") Ugh. A Ringer pode ter o seu feitiozinho, mas esta interpretação é esticar a corda, e é simplista. Para miúda furiosa, preferia a Jena Malone a fazer de Johanna nos Jogos da Fome.

A montagem, bem, podia ser melhor em partes. Há ali uma situação em que o grupo do Zombie está muito baixo na tabela, e que eles fazem um crescimento brutal num certo espaço de tempo, e isso não parece bem transmitido, o esforço, o quão complicadas as circunstâncias eram para eles. Parece desvalorizar a evolução dos personagens aqui.

Além disso, o grupo de Zombie é uma confusão de caras, nunca nos são apresentados em condições, nem deu para perceber quem era o Poundcake. (O Poundcake tem o seu momento no segundo livro. Não acredito que nem sei quem é o Poundcake. [Entretanto já fui ver ao IMDb. O actor nem sequer é gordo. Era essa a piada do Poundcake, pensarmos que o nome tinha a ver com ser gordo, só que não.])

E pronto, umas coisas boas, umas menos boas, mas é um filme decente, e acredito que vá entreter quem vai ao cinema. Principalmente aqueles que não leram o livro, mas possivelmente também os que leram. Considerando as diferenças de meio, está a melhor adaptação que poderia ser feita nestas condições, isso acredito.

Agora, e este é o meu problema principal com isso... e um que só descobri ao conversar com a minha irmã depois da visualização. Ela não achou "nada de especial", e eu dei por mim a tentar explicar quão especial era o livro e porque é que valia a pena ler...

É que o Rick Yancey é fabuloso a descrever uma dimensão emocional e psicológica dos seus personagens, e há camadas de coisas no livro que no filme não estão lá. O filme é mais superficial, enquanto que o livro é mais profundo.

Está bem que não podemos reproduzir a narração única da Cassie. Mas há substitutos para isso. Os Jogos da Fome também tinham uma narração muito específica com a Katniss, e o filme conseguiu adaptar isso.

É claro que nesse caso tinham a vantagem de ter a fantástica Jennifer Lawrence, que é tão expressiva e consegue transmitir aquilo que está a passar na cabeça da Katniss, e substitui bastante bem a narração do livro. Aqui temos a Chloe Grace Moretz, que não é de perto nem de longe tão talentosa.

E o próprio filme não ajuda, porque creio que havia maneiras de sublinhar a mensagem inerente ao enredo, de pôr lá as camadas de significado, de ser, enfim, um filme um pouco mais profundo em vez de ser só exactamente aquilo que temos à frente do nariz.

Again, os Jogos da Fome conseguem fazê-lo, sublinhar a crítica inerente ao entretenimento e como se ultrapassam certas linhas na sua produção. A diferença é que as pessoas que pegaram neles parecem realmente importar-se com o material de origem.

Neste caso? Tenho as minhas dúvidas. Anda tudo louco à procura da próxima série YA que vai ser uma adaptação cinematográfica em grande, e por isso põem-se a disparar em todas as direcções sem pensar bem no que estão a fazer, em vez de se focarem em fazer um bom trabalho, que isso seria meio caminho andado.

Estou tão cansada deste furor YA nos filmes, esta preguiça de fazer filmes originais, esta incapacidade de reconhecer aquele algo mais que há nos livros, e que por terem YA espetado na capa, são descartados logo à partida como incapazes de ser "livros sérios", e de por isso merecerem "adaptações sérias". Oh pá, pessoal, cresçam. Levo a sério as vossas adaptações quando começarem a levar a sério o material original.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Da Vinci's Tiger, L.M. Elliott


Opinião: Que livrinho interessante. A sua história decorre no período renascentista, em Florença, Itália, quando os Medici estavam no poder. A sua protagonista é Ginevra de' Benci, uma jovem que veio a ser retratada por Leonardo Da Vinci numa pintura que chegou aos dias de hoje; e a autora aproveita estas circunstâncias para nos revelar uma época riquíssima.

E, no entanto, não é um livro apaixonante. (Tenho de me livrar das minhas queixas primeiro.) Pode ser muito bom em tudo o resto (e já vou discorrer em como é bom em tudo o resto), mas falta-lhe um bocadinho assim. A protagonista tem uma viagem emocional ao longo da história, mas nunca a senti, nunca me relacionei com ela, nunca me senti profundamente enredada.

Custa-me um pouco não poder sentir isso com um livro e um personagem; gosto muito de livros com um excelente trabalho na caracterização de personagens, e isso não é propriamente o foco aqui, com a protagonista ou personagens secundários.

Tudo o resto, no entanto? Brilhante. Vê-se que a autora gosta da época, e fez pesquisa exaustiva sobre ela, porque está tudo descrito com um detalhe impressionante; tudo é contextualizado adequadamente para quem não conheça a época, e ao mesmo tempo não me parece simplificado ou escrito de modo a tratar o leitor como burro.

Apreciei tanto conhecer Florença naqueles tempos, compreender a intriga política naquele momento em particular (o livro ocorre antes e depois da morte de Giuliano de' Medici); acompanhar as morais altamente guiadas pela religião, e ao mesmo tempo, entender os princípios que guiavam a criação artística (o conceito de amor platónico é fascinante no modo como guia as elites intelectuais, e ao mesmo tempo como parece chocar/se opor um pouco à moral vigente).

E no meio disto tudo, move-se Ginevra. O livro é inteiramente ficcional, apenas uma sugestão do que poderá ter sido, mas gere os factos, os acontecimentos que se sabe ter acontecido, bastante bem, e constrói uma possível história para a Ginevra ao longo de alguns anos.

Até apreciei a perspectiva da Ginevra. É no início um pouco ingénua, mas tem uma boa personalidade, bem firme, mantendo os seus princípios, e gosto dela por isso. Não se deixa corromper, e é muito interessada nos seus esforços intelectuais, e nas tendências artísticas da época.

Leonardo da Vinci aparece, claro, é o artista por trás do retrato que sobreviveu até hoje, e vemos uma fatia da sua vida, ainda um artista jovem a estabelecer-se, e da relação que possivelmente poderia ter tido com a sua retratada.

Ainda houve um outro aspecto que apreciei na história da Ginevra, e é que é o tom feminista subjacente. Ela tenta gerir a sua vida, os seus afectos e os seus interesses num mundo de homens que estão prontos para lhe ditar tudo e nada, usá-la como um objecto de adoração artística, mas nunca um par, um igual com capacidade intelectual.

É bastante curioso ver a questão do casamento da Ginevra com um homem duas vezes mais velho, um casamento com objectivo apenas de avançar social e politicamente a sua família; e ainda mais interessante assim que a Ginevra deduz um certo facto sobre o marido, que não procura intimidade com ela.

E no fim, a Ginevra é decepcionada, e não muito bem tratada pelos que a rodeiam, mas apreciei a maneira como ela lidou com a situação. Livrou-se dum momento complicado, e conseguiu gerir o resto da sua vida de acordo com a sua vontade. Não sei quanto é verdade ou não, mas conforta-me esse final.

Acho que recomendaria este livro principalmente pelo retrato que faz da época, que é extraordinariamente detalhado e completo, e pelo percurso que a autora dá a Ginevra, que é cativante o suficiente, pelas circunstâncias. (Apesar de não ser um livro apaixonante, mas não conto isso como um contra particularmente significativo.)

Páginas: 304

Editora: Katherine Tegen Books (HarperCollins)