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quinta-feira, 30 de março de 2017

Curtas BD: No Coração das Trevas DC, volumes 1 a 3

Joker: O Príncipe Palhaço do Crime, Bob Kane, Neal Adams, Ed Brubaker
Bem, se há personagem que é representado das mais variadas maneiras, mas ao mesmo tempo, mais consensual nos comics... deve ser mesmo o Joker. Vá lá, as duas histórias iniciais do volume (e suas primeiras aparições) são do mais psicopata que há: o Joker anuncia a morte de membros pronunciados da sociedade na rádio, e consegue misteriosamente cumprir as suas previsões, mesmo estando estes rodeados de segurança.

Gostei mesmo destas duas histórias; para o tipo de narrativa dos anos 40, parecem bastante complexas e sofisticadas. A história que se segue, dos anos 70, continua a expandir o terror de que só o Joker é capaz, e fico contente por saltarem as histórias dos anos 50-60, mais dominadas pelo Comics Code, que ao que entendo cortou as asas (e a piada e interesse) ao personagem.

A história seguinte é o tipo de coisa que esperaria do Ed Brubaker, e é um recontar fascinante da primeira história do Joker, enquadrando-a na cronologia de Batman: Ano Um. É muito boa e cativante, se é que posso pôr as coisas nesses termos sobre um assassino psicopata que deixa corpos deformados no seu trilho.

A última história é um recontar de origem de um personagem obscuro da DC, Jackanapes, às mãos do Joker. É fascinante e repulsiva, pelo que ele ensina ao gorila e lhe permite aprender, mas também pela noção dum ser inteligente e sensível às mãos dum louco.

Sinestro: A Guerra do Corpo Sinestro 1, Geoff Johns, Dave Gibbons, Ethan van Sciver, Ivan Reis, Patrick Gleason
Sinestro: A Guerra do Corpo Sinestro 2, Geoff Johns, Dave Gibbons, Peter Tomasi, Ethan van Sciver, Ivan Reis, Patrick Gleason
Até há bem pouco tempo, nunca tinha lido nada do Lanterna Verde. Não estou particularmente familiarizada com a sua mitologia. E devo dizer, é por isso mesmo um testamento à qualidade deste par de volumes que me tenham cativado tão inteiramente e me tenham soado tão interessantes.

A sério, acho que começo a compreender porque é que este Geoff Johns é venerado. Ele consegue fazer bastantes coisas bem com esta história. Uma, é contar uma que agrade a gregos e troianos. (Leia-se leitores familiarizados e não familiarizados.) Duas, é escrever de forma a ser bastante fácil de uma pessoa acompanhar e actualizar-se em relação ao Corpo dos Lanternas Verdes.

Três, é escrever uma história-evento que ocupa vários números de uma revista, e o ritmo do enredo ser mesmo bom e nem por um momento ser de todo aborrecido. Quatro, é escrever a história de forma a avançar a mitologia deste canto da DC e apresentar uma série de conceitos bem curiosos. Cinco, é fazer-me preocupar com uma miríade de personagens secundários que nunca vi na vida.

Seis, é escrever um vilão fascinante e nada exagerado; dá para compreender como o Sinestro funciona, e o porquê do que faz. E melhor, os planos dele são razoáveis e não típicos do vilão estereotípico. E finalmente, sete, dar-me vontade de ler mais qualquer coisa com estes personagens e desta fase.

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Colecção Super-Heróis DC Comics - Volumes 15, 16 e 17

A premissa da história é muito interessante. Os vilões, Lex Luthor e Joker, mudam de cidade, o que força os respectivos super-heróis a fazê-lo. (E não, os vilões não o fazem por acordo mútuo, como é sugerido na sinopse. Na minha opinião, ambos não podiam desprezar-se mais.)

No entanto, acho que a premissa foi mal aproveitada. Para quem muda de cidade para enfrentar os respectivos vilões, o Super-Homem e o Batman passam muito pouco tempo a enfrentá-los, de facto. Podia-se ter explorado melhor esta troca de papéis, e na minha opinião isso resultava melhor se o Batman tivesse ficado em Gotham, a enfrentar o Lex Luthor, e se o Super-Homem tivesse ficado em Metrópolis, a enfrentar o Joker. Talvez pudessem ter aprendido algo um sobre o outro, ao enfrentar o vilão do outro.

Para além disso, acho que a história está desnecessariamente ocupada com o enredo do orfanato, que quase parece não ter nada a ver com o da troca de vilões. Preferia que a história se tivesse dedicado a um ou ao outro, porque da maneira que está não permitiu o desenvolvimento adequado de ambos.

Por outro lado, adorei a arte. É tão colorida e tem um ar tão... cartoonesco. O desenhador é muito detalhado e é uma delícia observar o que se passa no fundo das vinhetas. E as panorâmicas iniciais das cidades são tão interessantes visualmente, e com um contraste tão giro. O que me lembra, gostei bastante da dualidade na evolução das sequências com o Super-Homem e com o Batman, que se espelham.

Batwoman: Elegia, Greg Rucka, J.H. Williams III
Nunca tinha ouvido falar da Batwoman até há bem pouco tempo, e pensei brevemente que se estava a falar da Barbara Gordon, até me lembrar que essa assumia o papel de Batgirl. A personagem não é exactamente das heroínas mais conhecidas e destacadas... e por isso entrei na leitura sem expectativas nenhumas.

A primeira história do volume não é nada de especial, graças ao facto da antagonista não ser caracterizada em condições, a não ser no que concerne directamente a protagonista. Porque fora isso, a vilã é apenas estranha e vaga e impenetrável. O que é que ela quer? Não faço ideia. Qual é o trauma dela? Também não sei. O que lhe fizeram no passado? É apenas sugerido, e mal. Eh, tenho de lhe dar crédito, usa umas roupas giras. (Hahaha.)

Já a protagonista, a Kate Kane, é uma personagem fascinante, e muito melhor caracterizada. Os flashbacks que vemos na segunda história pintam muito bem o seu passado, composto de alguns momentos tristes e trágicos. Acho a sua relação com o pai muito interessante. O modo como ele a apoiou quando lhe deu na telha virar vigilante, como a preparou, e como na actualidade a ajuda nas suas missões.

Visualmente, este livro é uma delícia para os olhos. E tenho a dizer que estou apaixonada pelo cabelo vermelho da Kate/Batwoman. Agora a sério, gostei muito de observar as duplas páginas, e o trabalho de vinhetas pouco comum. É engraçado reparar na divisão entre a vida da Kate como Kate Kane e a vida dela como Batwoman a nível gráfico. E muito elementos nas partes da Batwoman têm um aspecto fabuloso, não só pelo cabelo vistoso, como pelo aspecto dinâmico que é dado às sequências de acção com as opções pouco habituais do desenhador.

Lanterna Verde: Origem Secreta, Geoff Johns, Ivan Reis
Acho que nunca tinha percebido muito bem o Lanterna Verde. O seu poder é daqueles tão vagos, que pode ser versátil e ao mesmo tempo difícil de compreender. Além disso, não conhecia suficientemente bm o personagem. Coisa que este volume ajudou a resolver. Como recontar das origens de um super-herói, é bastante satisfatório.

Há muitos pontos de interesse na história de Hal Jordan. A morte trágica do pai é um ponto de viragem, e o modo como ele se planta no local de recrutamento da Força Aérea mal faz 18 anos é comovente. O problema é que o rapaz é ensarilhado, e daquelas personagens a que apetece dar um pontapé por ser incapaz de ganhar juízo, para no segundo a seguir dar uma vontade de lhe dar um abraço por causa de tudo o que lhe acontece.

Gostei de conhecer a sede do Corpo dos Lanternas Verdes, e de conhecer os diferentes seres que o incorporam. A mitologia inerente até me parece cativante, e agora fiquei sedenta de mais pormenores. Ao que sei, o Sinestro é um vilão das histórias deste personagem, por isso estou curiosa em saber como passa de mentor para inimigo.

A história, já o disse, é bem interessante de seguir, e ajuda a compreender melhor o tipo de personagem que Hal Jordan é. A única coisa de que me ressinto é o ver que há pequenos detalhes da história que são apresentados e não são resolvidos, tendo em vista serem abordados em números posteriores do título. Não gosto muito, porque estraga a ideia de história auto-contida... mas assim são os comics.

sábado, 20 de julho de 2013

Watchmen, Alan Moore, Dave Gibbons


Opinião: Não costumo opinar BD num post isolado, pois comento-a há demasiado pouco tempo para me sentir à vontade a fazer um texto longo sobre a mesma, e de qualquer modo o que tenho a dizer geralmente não é o suficiente para preencher um post. Mas suponho que esta é a excepção à regra. Este livro tem tantas facetas que dão vontade de comentar, e merece um post próprio.

Escrito e publicado nos anos 80, Watchmen é claramente um produto do seu tempo, que nos apresenta um mundo alternativo e algo distópico - os EUA ganharam a guerra do Vietname, Nixon é o presidente dos EUA, e algo semelhante à Guerra Fria existe, mas com algumas diferenças cruciais. E o que provocou esta mudança?

A existência de super-heróis vigilantes (acho que vou usar mais esta palavra, que é uma aproximação e tradução melhor do original) na vida real, pois desde os anos 40 que pessoas normais pegaram em máscaras e se dedicaram a combater o crime. E a partir desta premissa, os autores apresentam um mundo muito convincente em que o aparecimento destes vigilantes foi o motor de mudança.

Os super-heróis de BD como os conhecemos têm uma função catártica e inspiradora, mas neste mundo são pessoas reais, com defeitos e feitios, e essa acessibilidade, e desilusão, por parte do público fez com que a BD de super-heróis não tomasse a preponderância que tem no mercado americano. Essa função é tomada pela BD com... piratas, que é em si uma noção bastante divertida. (Quase consigo imaginar a conversa entre os autores.) Mais tarde, os vigilantes perdem o mediatismo e o apoio do público, que sente que estão a roubar trabalho à polícia, e são banidos por lei. Os únicos que se mantêm activos são os sancionados pelo governo. (E um doido varrido que não consegue largar o vigilantismo.)

Watchmen apresenta-nos uma visão negativa mas lúcida acerca do tipo de pessoa que veste uma máscara para combater o crime. Estes vigilantes não são pessoas que inspiram pelo exemplo. São pessoas comuns, tremendamente humanas e complexas, com os seus problemas e neuroses, e os seus motivos particulares para se tornarem vigilantes (motivos esses raramente altruístas). É difícil a identificação com qualquer dos personagens por esta razão. Por se mostrarem em toda a sua imperfeição. O que torna fascinante este estudo psicológico dos personagens.

É muito curioso ver a evolução dos personagens na história. Um, com capacidades extraordinárias e uma posição privilegiada, deixa-se levar por um complexo de Deus e tenta resolver aquilo os problemas do mundo num esquema tão imperfeito que até dá vontade de rir. Outro, devido ao que é capaz de fazer, afasta-se cada vez mais da humanidade e perde o sentido do que é ser humano. Outro ainda tem uma moralidade distorcida, e vê as coisas apenas a preto-e-branco (falhando em ver os tons de cinzento), é violento, paranóico e a tender para o psicopata, mas é aquele que termina a história com a posição mais íntegra de todos.

O enredo avança lentamente, pois a história está cheia de pequenos detalhes deliciosos com ligação entre si e dedica um capítulo a muitos dos personagens principais e a explorar o seu passado. Adorei ler o livro aos poucos e descobri-lo aos bocadinhos. Os textos entre capítulos são tão bons, porque complementam a história do livro e mostram mais algumas das suas facetas. Contudo, nem todos os detalhes me convenceram. Estou ciente da importância e do significado do segmento dos piratas para a história principal. E seria uma coisa interessante de ler, se feita à parte. Mas dei por mim a resmungar cada vez que isto interrompia ou intercalava com a história principal.

A arte não me pareceu nada de especial, mas as cores e a evolução dos planos (que, ao que percebi ao ler por aí, é responsabilidade do Alan Moore e não do desenhador Dave Gibbons) dão um dinamismo particular à história.

Uma das críticas que tenho a fazer é o modo como certos assuntos são desenvolvidos, particularmente a caracterização das mulheres, que me pareceu fraca. A ler opiniões no Goodreads, li alguém a mencionar que o Alan Moore não estava à vontade naquela altura a escrever personagens mulheres. O que não é desculpa, temos pena. As mulheres não são um bicho raro, e não estão tão indisponíveis como uma tribo amazónica. Não é impossível passar um tempinho com elas, para conhecê-las ou para lhes pedir a opinião sobre como são retratadas. Ridículo.

O fim... bem, eu já vi o filme, e por isso tinha uma ideia do que acontecia. Não é igual (mas no filme, de qualquer modo, parece-me que resultou melhor aquilo que fizeram, porque tenho a sensação que o que acontece no livro ficaria ridículo no grande ecrã). É um fim desconcertante e desconsolador, e acho que é capaz de não vir a ter o efeito desejado. Tem algo de bizarro na sua concepção, mas a ideia base deixou-me curiosa. Apenas franzi a testa a ter o vilão a fazer o seu discurso "muahahah sou tão esperto", porque é tremendamente expositivo - e não poderia esta informação ser apresentada ao leitor de forma mais subtil?

Tal como o Kick-Ass faz a reflexão sobre vigilantismo no século XXI, com as redes sociais e a preocupação com os números de seguidores e em dar mais espectáculo, este contextualiza-o nos anos 80, com o que de negativismo estes comportam. É uma obra interessante, que vale a pena ler, e que dá muito que pensar.

Páginas: 416

Editora: DC Comics