domingo, 31 de agosto de 2014

Este mês em leituras: Agosto 2014

O mês de Agosto foi fantástico para mim, em termos de leituras. Apesar de estar a trabalhar a tempo inteiro, tenho uma hora de almoço generosa, e um bom bocado de tempo em transportes, que me permitem ler, ler muito. E por isso, diria que este mês em leituras foi mesmo bom para mim. Venham mais boas leituras.

Livros lidos


Opiniões no blogue


Os livros que marcaram o mês

  • Rivals in the City, Y.S. Lee - nunca mais vou ler sobre os meus queridos e adoráveis Mary e James, e o meu coração de fã chora por isso. Mas vou acarinhar a sua última aventura, muito. Vou ter mesmo saudades.
  • O Marciano, Andy Weir - em retrospectiva, o humor do Mark é brutal, especialmente a lidar com todas as desgraças que lhe acontecem, e as suas peripécias em Marte cativaram-me deveras. Uma óptima surpresa, porque não esperava gostar tanto.
  • The Secret Diary of Lizzie Bennet, Bernie Su, Kate Rorick - este livro só conseguiu fazer-me morrer de saudades de The Lizzie Bennet Diaries, mas também de Orgulho e Preconceito; e ao mesmo tempo, adorei-o por ser uma adaptação, e uma adaptação de adaptação, muito original e meritória.
  • O Projeto Rosie, Graeme Simsion - uma história fofinha e bem gira, com uma pitada de romance, sobre um homem que é um bocadinho diferente, e sobre a sua demanda para encontrar uma esposa, e como essa demanda é desviada por uma mulher completamente inadequada, mas que o desafia para fora da sua zona de conforto. Também não esperava gostar tanto.
  • O Espetacular Momento Presente, Tim Tharp - apesar de não ser um livro do outro mundo, é muito interessante pelo retrato que faz do protagonista, e do problema que ele tem;
  • Attachments, Rainbow Rowell - bem, é Rainbow Rowell, e acho que não precisava de dizer mais nada. Só acrescento que deviam ignorar a premissa estranha do livro, e ver como esta senhora faz resultar qualquer coisa nas suas mãos de ouro. E já agora, permitirem deixar-se apresentar às histórias fantásticas que ela escreve.
  • Four: A Divergent Collection, Veronica Roth - depois do Allegiant, fiquei fascinada com a ideia do Four como narrador, por isso tem sido interessante segui-lo por alguns momentos-chave da sua vida desde o dia da escolha de facções até mais ou menos aos eventos do Divergent. Até é pena que a trilogia não conte toda com ele como narrador de parte da história.

Outras coisas no blogue


Aquisições

Ora bem, O Espetacular Momento Presente e Um Caso Perdido saíram-me a custo zero, resultado do dinheiro que tinha em cartão. Fico contente por ter dado uma oportunidade ao primeiro, porque sempre lhe torci o nariz, desde a primeira vez que ouvi falar dele, e afinal era uma coisa completamente diferente do que esperava. Foi bem mais interessante. No caso de Um Caso Perdido, há que tempos que estou curiosa para ler algo da autora, e se bem que preferisse começar pelo Slammed, suponho que este também serve. Além disso, gosto de apoiar quando as editoras se lembram de publicar este género, mesmo quando não sou fã dos preços delas.

Os restantes livros foram comprados na Wook, aproveitando uns vales de desconto que andavam a ser distribuídos na Feira do Livro. O primeiro da Shannon Hale vinha como oferta na compra do segundo, e tenciono dar uma oportunidade ao The Giver antes de me lançar a ver o respectivo filme.

O This Song Will Save Your Life foi adquirido naquela promoção do Book Depository das 24 horas de promoções, porque estava curiosa acerca do livro e porque gosto que eles apostem no género YA, tendo em conta que 90% da vezes as promoções nessas 24 horas são com livros de não-ficção, thrillers, cozinha, tricotar, de Legos, ou para crianças ou bebés. Ou seja, tudo o que eu não leio.

Os restantes são de séries e autoras que estou a seguir e que saíram em Agosto (Opposition e Four: A Divergent Collection), ou de uma autora que estou a adorar e cuja obra quero ler toda. (Não é assim tão difícil, tendo em conta que a Rainbow Rowell só tem 4 livros publicados.)

Os restantes livros da colecção de eróticos do Correio da Manhã. E a colecção do Público com os livros e os contos de Arthur Conan Doyle sobre Sherlock Holmes. Ao contrário duma certa colecção do DN/JN de há uns anos, esta parece-me que vai ter a obra integral, todos os contos, ainda que os vá dividir de forma diferente que o habitual para os livros que os coleccionam. O volume azul tem Um Estudo em Vermelho (escarlate, minha gente! Escarlate!), o amarelado/creme/cor de burro quando foge tem O Signo dos Quatro, o roxo tem os primeiros nove contos de As Aventuras de Sherlock Holmes, e o verde os três contos que faltam desse livro, mais os primeiros cinco de As Memórias de Sherlock Holmes. Não sei se acho muita piada à divisão, porque tinha certamente mais piada se esta colecção respeitasse as antologias, mas pelo menos parece ir publicar tudo, o que já é uma grande vantagem em relação à outra colecção que mencionei (e que me deu um desgosto quando percebi que não tinha tudo).

Os livros de banda desenhada do mês. A Goody já se acalmava um bocadinho com a quantidade de revistas de 300+ páginas que publica por mês, que eu qualquer dia não tenho vida para as acompanhar a todas, e até gostava de o fazer. Mas publicarem duas Disney Especial num mês (a Detectives, aqui vista, e a Verão, das aquisições do mês passado, foram as duas publicadas em Julho), também já é um exagero. Não basta uma por mês?

Fora isso, estão ali as revistas Marvel Now! em português, e os livros da colecção Universo Marvel da Levoir/Público. Estou muito curiosa com o Marvels, que sempre quis ler, mas quando dei por ter sido editado em capa dura em português há uns anos, já tinha desaparecido das livrarias, para nunca mais ser encontrado. *cue música trágica*

A ler brevemente

Portanto, eu em Setembro tenciono continuar a ler os livros da colecção Universo Marvel, por isso tenho dois deles ali; tenciono ler o Maze Runner e o The Giver por causa dos respectivos filmes, e por isso também estão ali. Fora isso, também tenho dois livros da Meg Cabot para ler, para continuar o meu projecto de ler os livros que tem publicados (eu gosto de sofrer), e lerei A Vingança e Há Horas Más.

Gostava de ler Um Caso Perdido, portanto é uma hipótese para os próximos tempos. E sei que tenho o Isla and the Happilu Ever After à minha espera nos Correios (chegou-me a semana passada, mas o meu horário da semana passada era incompatível com as horas de abertura do posto dos CTT da minha zona, tenho andado a sofrer horrores por não lhe poder pôr logo as mãos em cima).

Tenciono ler o Heir of Fire, porque tenho andado no último ano com uma comichão terrível para saber o que acontece a seguir, depois do Crown of Midnight ter terminado de modo tão dramático. E descobri no outro dia, inesperadamente, que a Rebecca Maizel já publicou o terceiro e último livro desta série (não sei como é que me passou ao lado), mas gostava finalmente de saber o que vai acontecer à Lenah e ao Rhode.

Estou curiosa acerca do Jackaby, porque parece abrir a porta à enxurrada de adaptações e livros inspirados pelo Sherlock Holmes que inevitavelmente hão de chegar a partir de agora (o mundo editorial acordou para a pancada que meio mundo tem com as mil e uma adaptações do personagem). E estou também curiosa acerca do Winterspell (o Quebra-Nozes! retelling!) e do Afterworlds (Scott Westerfeld! um livro sobre o mundo editorial!). E pronto, vou parar por aqui, porque a este ponto já são mais wishful thinking - daquele que dá vontade de tornar realidade, mas ainda não o é. Veremos como o mês corre, se será tão bom como este.

sábado, 30 de agosto de 2014

Opposition, Jennifer L. Armentrout


Opinião: É engraçado pensar nesta série e na história que foi sendo contada ao longo dela, e em como as coisas mudaram entre o primeiro e o último volume, como aquilo que conhecia sobre o mundo e os personagens foi evoluindo, e em como os livros nunca deixaram de manter o meu interesse. Opposition é um final meritório e capaz de deixar esta fã satisfeita.

Seguindo o final de Origin, Opposition começa uns dias depois. A chegada de visitantes à Terra desencadeou uma revolução no planeta, mas a Katy, o Archer, a Bethany e o Luc mantêm-se escondidos, à espera de saber notícias do Daemon, da Dee e do Dawson. A incerteza domina-os, e numa saída para comprar mantimentos, tudo muda, lançando-os num confronto constante com os invasores que será apenas resolvido na recta final da história.

Apreciei seguir os eventos relacionados com os invasores e como o grupo de personagens principais lida com a situação, e como a tenta resolver. Tempos desesperados, e assustadores, que põem novos desafios aos personagens, e que convertem inimigos em aliados e reviravoltas em todos os cantos. Uma das ideias apresentadas para a resolução do conflito é assustadora, pelo que envolve no retrocesso da civilização; a outra é intrigante, pelas alianças que exige que sejam feitas, e por virar completamente uma certa que pensávamos que era verdade no fim do primeiro livro, mas que neste já não é bem assim. Só peca por tardia, porque teria sido tremendamente interessante explorar este ângulo. (Ou talvez a autora já o tenha feito com o Obsession, um livro que se passa neste mundo, mas não é essencial para a série. Agora estou curiosa.)

Comecei por torcer o nariz ao par Katy-Daemon, porque ele, pelo menos nos dois primeiros livros, era tão irritante que só dava vontade que fosse atropelado por um camião - não que lhe fosse acontecer nada de mal, com o raio dos poderes mágicos, er, extraterrestres dele. Mas este par percorreu um longo caminho desde então, e tornaram-se parceiros no verdadeiro sentido da palavra. Iguais. A Katy parte para a acção, recusa-se a ficar parada em casa a limar as unhas, e o Daemon, apesar de lhe ser difícil vê-la em perigo, consegue não dar uma de troglodita, e aceita que ela é capaz de cuidar de si. É uma grande evolução desde o parvalhão do primeiro livro. Além disso, é totalmente adorável na sua devoção à Katy, um pouco cheesy, mas tão intenso.

A Katy, por sua vez, está fantástica. Continua a fazer parvoíces de vez em quando (aquilo que ela faz no início, e como a põe em perigo!), mas luta com garras e dentes pelos seus e pelo futuro a que sabe que têm direito. Tornou-se numa jovem espectacular, com uma força interior e capacidade para o sacrifício quando é necessário. Passou por alguns momentos muito complicados no fim do livro, que sei que vão deixar marca nela (um deles foi mesmo chocante, nunca pensei que acontecesse), mas também conseguiu manter o seu sentido de humor, a sua queda para ser uma totó dos livros (adoro as referências que ela faz, especialmente a da "Nessie"), e o seu amor pelos livros e por blogar.

Entre os personagens secundários, destaco o Archer, a Dee e o Luc. O Archer porque tem uma relação super engraçada com a Katy e o Daemon, conseguindo lidar com eles com uma certa estoicidade; mas também porque apesar de também ele ter razões para se preocupar com outra pessoa, não se dá ares de dramatismo, e mantém-se discreto ao longo da história. A Dee porque sei que foi complicado lidar com a sua mudança de comportamento forçada durante parte do livro, e tive saudades da Dee alegre e atrevida que conheço. E o Luc porque parece um mafioso, sempre com montes de ligações e conhecimentos e pessoas que lhe devem favores e assim. O miúdo é deveras divertido.

Gostei de saber um pouco mais sobre as duas espécies de extraterrestres deste mundo, Luxen e Arum, e de como o seu feudo tem definido os acontecimentos. De conhecer mais Origins, e perceber mais sobre a sua ligação às outras espécies. E também gostei de rever alguns aspectos da Daedalus, e em como a extensão dos feitos deles não era propriamente conhecida. E de ver um pouco como o mundo foi afectado pela invasão e como as coisas nunca mais vão ser as mesmas para a Terra. A sugestão desta última ideia quase que dava para escrever uma nova série de livros, só a lidar com as consequências do que aconteceu neste último livro.

A parte final fez-me roer as unhas, mas achei que podia ter sido mais grandiosa, mais climática. Compreendo porque não o seja, e até faz sentido com o que está contado para trás, mas estranhei. O que importa é que apesar dos sacrifícios, temos um final muito bom, que me deixou mesmo contente, especialmente ao ver toda a gente junta novamente. Vou ter saudades destes personagens.

Uma nota positiva para esta edição, que contém a novela Shadows, uma prequela para a série. (Já bem tarde, se bem que vê-la em papel é bem-vindo. Gostava era que fosse um livro à parte, tendo em conta que ainda é uma novela grandita - 180 páginas!) Uma nota menos positiva para a capa, que tem uns brilhos tão estranhos em cima dela toda e que parece que o Edward lhe vomitou em cima. Eu não mereço ter isto na estante, bolas.

Páginas: 544 (edição especial que contém a novela Shadows; o Opposition ocupa 364 páginas deste volume)

Editora: Entangled Teen

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Attachments, Rainbow Rowell


Opinião: Este é um livro com uma premissa estranha, e só uma autora como a Rainbow Rowell para me pôr a lê-lo, adorá-lo, devorá-lo, e ainda pedir por mais. A sério, esta senhora tem um modo de caracterizar os personagens que é soberbo, descrevendo-os como se fossem pessoas que realmente conhecemos, e com as quais convivemos; e o seu talento estende-se ao ponto de dar um mundo interior bem rico a cada personagem - toda a gente tem as suas particularidades, e todos têm o seu interesse, se nos dermos ao trabalho de os conhecer.

Attachments é a história de Lincoln - considero-o o protagonista, porque esta é essencialmente a sua história, é ele que mais muda e cresce ao longo da mesma -, um jovem que acabou de sair da universidade, após tirar vários cursos (já agora, bem gostava de saber o que é que ele andou a tirar, oh Rainbow), e que está a começar um novo trabalho. Está na área de Informática de um jornal, e o seu trabalho passa por verificar e-mails dos funcionários que o sistema marca como potencialmente inadquados para o trabalho, por terem certas palavras-chave. (É o fim dos anos 90, a Internet está a dar os primeiros passos na direcção do que conhecemos hoje em dia. Uma preocupação com ramificações éticas interessantes, ainda mais se contrastada com a falta de privacidade que temos hoje em dia.)

O Lincoln detesta este emprego: passa horas sem fazer nada, e odeia dar uma de cusco e andar a espreitar a correspondência dos outros. Só que tropeça nas trocas de e-mails de duas jovens amigas que trabalham no jornal, a Beth e a Jennifer, e fica fascinado com a correspondência delas. Sabe que está errado, mas não consegue deixar de ler o que escrevem, e quando dá por si, está completamente apanhadinho por uma delas, a Beth.

Portanto, sim, premissa muito estranha. Só resulta por duas coisas. Uma, é que como leitores queremos continuar a acompanhar a história da Beth e da Jennifer, e queremos continuar a ler os seus e-mails, e é por esse nosso lado curioso que podemos desculpar a curiosidade ao Lincoln, porque também é a nossa. É uma espécie de auto-indulgência. Duas, e isto é um pouco esquisito de dizer, mas digo-o no melhor dos sentidos, é que o Lincoln é a coisa mais pateticamente adorável que há.

É que o Lincoln está como que congelado na vida, tendo chegado a uma encruzilhada no seu percurso. Esteve quase uma década na faculdade, este é o seu primeiro emprego, vive com a mãe, e ainda sofre com o desgosto que a ex-namorada lhe deu, alguns anos antes. Não tem nada na vida a que se agarrar, nada que o interesse, e por isso é que ele se agarra tão facilmente aos e-mails da Beth e da Jennifer, porque são um ponto de luz numa existência cinzenta. Emocionalmente, em termos de mentalidade, e de posição na vida, ele tem que crescer, e se foram os e-mails a puxar por ele, não consigo ficar zangada com a situação (ainda que queira fazê-lo um bocadinho).

Por seu lado, a troca de e-mails da Beth e da Jennifer é a coisa mais gira que há. A sua amizade mútua e o seu espirito de companheirismo são fantásticos. Adorei acompanhar as piadas privadas, as trocas de ideias, as confissões, as histórias que contam uma à outra. Como personagens, a autora consegue dar-lhes relevo, mesmo num meio tão complicado, e palmas para isso.

Tenho pena de não poder ler em que mais pensava a Beth em certos momentos, porque tenho a certeza que ela se restringiu em parte; mas a recta final do livro não resultava tão bem se soubéssemos de antemão o que lhe passou pela cabeça nessas alturas, o que ela pensava realmente. Além disso, o que vemos da Beth já me agrada muito. É um pouco ingénua, romanticamente, e também precisa de crescer nesta área, mas tem um bom coração, os interesses no sítio certo, é uma boa amiga, e uma apaixonada por filmes. E tem uma certa coisa em comum com o Lincoln, mas não vou comentar o que é exactamente, porque tem a ver com o desenrolar da narrativa.

A parte da narrativa do Lincoln é muito recompensadora de acompanhar, porque vêmo-lo a evoluir lentamente, a abrir as asas, a sair da zona de conforto, e perceber que há todo um mundo à sua espera. Precisava de ter os pés assentes no mundo adulto para a sua vida andar para a frente. Gostei de o ver relacionar-se com os aspectos da sua vida de maneira diferente, sem deixar perder a pessoa que é, um pouco geek, totalmente tímido, mesmo gentil, e geralmente boa pessoa.

O elenco de personagens secundários é delicioso, muito bom de conhecer, porque todos têm a sua personalidade, sem se perderem no todo. Temos o grupo que joga Dungeons & Dragons com o Lincoln (as referências geek abundam, yay), as pessoas que trabalham no jornal, o Justin e a Dena, a Jennifer e o marido Mitch, e o Chris, que para namorado da Beth, descrito em terceira mão, é muito vívido na sua descrição. Consegui topá-lo à distância. Até a Sam, a ex-namorada horrenda do Lincoln, é bem detalhada, e também se via que ia causar sarilhos à distância.

Acho encantador que a história se passe no fim dos anos 90, mesmo antes da viragem para o ano 2000, com todo o tipo de referências que localizam a narrativa no tempo. Temos a preocupação das pessoas com o bug do milénio, as menções a filmes desses anos (a Beth é crítica de cinema no jornal), e toda uma série de referências de cultura popular que é engraçado reconhecer.

Gostei do final, parecia um pouco à filme, mas depois ao mesmo tempo realista, com conversas que precisavam de ser feitas, a serem mesmo feitas. Só peca por curto, porque eu queria ver mesmo mais. Muito mais. O raio do último capítulo, e da última cena, terminam duma maneira que eu cheguei a pensar que me faltavam páginas ao livro. (Não, não faltavam. Eu é que queria mesmo mais. Se bem que aquela última frase é um pouco abrupta.) Mas fiquei satisfeita com o que aconteceu. Precisava de acontecer assim, ou não o sentiria como certo, e a narrativa desmoronava como um castelo de cartas.

E pronto, mais um livro fabuloso da Rainbow. Esta mulher é fantástica, nos três livros que li dela, conseguiu escrever em três épocas diferentes, e escrever sobre personagens em três pontos da vida diferentes, sempre duma maneira brutalmente credível e honesta, sobre os dilemas próprios de alguém dessa idade. É uma autora que vai para os favoritos sem reservas.

Páginas: 368

Editora: Orion (Hachette)

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Picture Puzzle #100


O Picture Puzzle é um jogo de imagens, que funciona como um meme e é postado todas as semanas à quarta-feira. Aproveito para vos convidar a juntar à diversão, tanto a tentar adivinhar como a fazer um post com puzzles da vossa autoria. Deixem as vossas hipóteses nos comentários, e se quiserem experimentar mais alguns puzzles, consultem a rubrica nos seguintes blogues: Chaise Longue.

Como funciona?
  • Escolher um livro;
  • Arranjar imagens que representem as palavras do título (geralmente uma imagem por palavra, ignorando partículas como ‘o/a’, ‘os/as’, ‘de’, ‘por’, ‘em’, etc.);
  • Fazer um post e convidar o pessoal a tentar adivinhar de que livro se trata;
  • Podem ser fornecidas pistas se estiver a ser muito difícil de acertar no título, mas usá-las ou não fica inteiramente ao critério do autor do puzzle;
  • Notem que as imagens não têm de representar as palavras do título no sentido literal.

Puzzle #1
Pista: livro de autor latino-americano publicado em português.

Puzzle #2
Pista: livro de autora muito publicada em português.

Divirtam-se!

terça-feira, 26 de agosto de 2014

O Espetacular Momento Presente, Tim Tharp


Opinião: É definitivamente incomum estar a comentar um livro nestas circunstâncias, em que um protagonista não evolui absolutamente nada ao longo da história, e nada aprende com o que lhe acontece. Mas não é esse o objectivo do livro, e com isso em mente não consegui deixar de ficar fascinada com o retrato apresentado do protagonista, Sutter Keely.

É que Sutter é aquela pessoa que é a alma da festa. Onde quer que vá, anima as coisas, deixa toda a gente bem humorada, de bom astral. Mas Sutter é, para todos os efeitos, um alcóolico, e pior, um que não quer ver a verdade. Onde quer que vá, leva um copo de 7UP com whiskey misturado. Sutter acha que pode parar a qualquer momento. E que não há problema nenhum em querer começar o dia animado, com um copinho a deixá-lo bem disposto.

Portanto, seguir a sua narração ao longo da história teve dois efeitos. O primeiro foi deixar-me cativar. O protagonista é aquele tipo de pessoa que encanta toda a gente, ao pé do qual é um gosto estar, e a sua visão do mundo é tão bem humorada que é difícil resistir-lhe. O segundo foi ver o quão triste, o quão patética deve ser esta existência. Porque o Sutter está em negação acerca de um monte de coisas, e o mecanismo dele de lidar com isso é beber, muito - coisa acerca da qual ele também está em negação.

E é desanimador perceber ao longo da história todas as maneiras com que ele tenta evitar assuntos sérios, ou os problemas que lhe aparecem, ou sequer a verdade acerca de beber demais. É pena, porque o Sutter é capaz de ser uma boa pessoa, tendo rasgos de bondade, ainda que nem sempre bem direccionada; e o modo como pensa o mundo é bem engraçado e algo profundo... o seu mundo interior é bem mais complexo do que deixa transparecer, e é um desperdício vê-lo seguir os mesmos padrões de comportamento que não o levam a lado nenhum.

E por isso, este não é um livro inspirador ou em que o protagonista aprende uma grande lição, mas sim simplesmente a captação de uma pequena parte da sua vida, sendo uma narrativa esclarecedora para o leitor, mostrando como alguém com uma adição se posiciona em relação a ela, de como vive o dia-a-dia, de como é fácil enganarmo-nos a nós próprios sobre os problemas na nossa vida.

O elenco secundário é bastante vívido, e muito interessante de acompnhar. Acima de tudo, estes são adolescentes dos dias de hoje, prontos a agarrar o aqui e agora e aproveitar o momento, sem complexos ou tabus. A vivência retratada é bastante descomplexada, e ficam na memória personagens como a Cassidy, a ex-namorada que se mantém uma boa amiga, ou o Ricky, o melhor amigo que tenta crescer um bocadinho.

Já a Aimee, pobrezinha, dá vontade de abraçar e construir-lhe uma redoma à volta para nada de mau acontecer-lhe. É uma miúda adorável, patética à sua maneira, mas cheia de sonhos e de vontade que as coisas mudem. E o Sutter encanta-se por ela, e num rasgo de boa vontade genuina, tenta puxar pela Aimee, envolvendo-se mais e mais profundamente com ela. E ainda que no início pareça que o Sutter tem uma boa influência nela, fazendo a Aimee sair da casca, rapidamente se torna clara a disfuncionalidade da relação, o quão o Sutter arrasta a Aimee para as bebedeiras, e o quão ela está impreparada para um primeiro amor tão complicado e problemático como este.

O fim é, diria, merecido. Não esperava um final feliz, porque não acredito que o Sutter o mereça, tendo em conta o estado em que está; e para as coisas terminarem pelo melhor, é preciso haver vontade, coisa que o Sutter não exibe. E por isso, assim ele se deixa arrastar pela sua existência, porque só pode vir de si, nunca dos outros, a força para ver o que está errado e querer que isso mude. Entretanto, que aproveite o seu Espectacular Momento Presente.

Título original: The Spectacular Now (2008)

Páginas: 344

Editora: Presença

Tradução: Maria de Almeida

domingo, 24 de agosto de 2014

O Projeto Rosie, Graeme Simsion


Opinião: Já tinha reparado neste livro e ouvido falar dele por aí, mas nada do que tivesse lido sobre ele me deu uma boa ideia sobre o que era ou me deu uma enorme vontade de o ler, pelo menos não como o fez a opinião da Jamie do Perpetual Book Turner; e é capaz de ter sido das melhores leituras por impulso de outrém que já fiz. E é tão bom quando uma leitura nos surpreende.

The Rosie Project é a história de Don, um protagonista singular, sobre o qual é sugerido que tem síndrome de Asperger (o Don nunca é diagnosticado, mas o seu comportamento vai de encontro ao descrito para os que têm o síndrome), e que chega à conclusão que a melhor maneira de resolver o seu dilema quando a encontrar uma esposa, é desenvolver o Projecto Esposa - que envolve um questionário que vai separar as candidatas que vão de encontro às suas preferências. Só que um dia aparece-lhe no escritório a Rosie, que é completamente desadequada para ele, ou assim Don o pensa, mas isso não o impede de se oferecer para ajudá-la a procurar o pai biológico. E sem dar por isso, Don vai passar alguns dos melhores momentos da sua vida.

Acho que a melhor coisa que o livro fez por mim foi pôr-me a pensar no modo diferente como o Don, ou outras pessoas como ele, vêem o mundo. Hiperanalítico, preso a um horário rígido definido por si, e para o qual é muito difícil entender como os outros funcionam socialmente. Figuras de expressão, mentiras piedosas, pequenas frases, gestos ou expressões que dão pistas para como os outros se sentem, que podem não ir de encontro ao que dizem - tudo isso passa ao lado do Don.

E foi fascinante ver como ele navega num mundo pouco disposto a aceitá-lo como diferente, sem o isolar por ser diferente. Algumas das situações apresentadas são um pouco cliché, ou feitas para a piada fácil, mas a mim só me deixavam a pensar quão verdadeiramente trágico é ter uma pessoa que não é exactamente aceite pelos que a rodeiam, só porque funciona duma maneira um bocadinho diferente. Estas situações acabam por humanizar o personagem e ajudar a entender um pouco melhor como quem tem o síndrome experiencia o mundo. Não é que o Don não entenda quando alguém não está bem ou não seja capaz de uma empatia enorme, apenas leva um bocadinho mais a lá chegar.

É interessante acompanhar o estado psicológico do Don ao longo da história. É descrito que ele teve no passado uma depressão, derivada de não conseguir integrar-se socialmente, e de quanto isso o fez sofrer; e no presente, ele encontrou uma maneira de lidar com a sua diferença, ainda que eu não a descrevesse como exactamente saudável. O Don resignou-se a ser o esquisito, aquele que é o palhaço de ocasião, devido às suas interacções com os outros nem sempre correrem bem, e terem por vezes resultados cómicos. Mas isto acaba por ser triste à sua maneira, precisamente pelo estado de resignação do Don.

E então entra em cena a Rosie, nada adequada para o Projecto Esposa do Don, com um dilema a precisar de resolução: encontrar o pai biológico. É curioso ver como a relação que a Rosie tem com o pai que a educou, o Phil, ou a percepção que tem dele, acabam por ser tão cruciais para o desenrolar dos eventos. E é tão engraçado acompanhar os problemas e aventuras em que ela e o Don se metem para tentar encontrar o elusivo pai biológico. Fazem algumas coisas eticamente reprováveis, mas os sarilhos em que se metem são das coisas mais divertidas, e gosto do modo como rapidamente fazem o Don desviar-se do seu horário e experimentar coisas novas, mesmo sem se dar conta. A Rosie é um furacão que deu a volta à sua vida, e gosto de como a conhecer deu cabo tão fácilmente do horário dele tão cuidadosamente preparado, ou de como o que viveram juntos o faz questionar como tem vivido e experienciado a vida até agora.

Por outro lado, gosto mesmo da Rosie, decidida a questionar o mundo e a não deixar-se encaixar nele. Gosto de como se deixa encantar pelo Don e pelo seu modo peculiar de ver as coisas. É uma personagem complexa, de pleno direito, e nada perfeita, o que é tão bom de acompanhar. Não é a mulher perfeita, endeusada, e faz um monte de asneiras, como a percepção que tem do Phil, ou algo que diz ao Don que o faz pensar que tem de mudar, de ser completamente diferente para a conquistar. Mas à sua maneira, é o par perfeito para o Don.

A recta final da narrativa é um pouco complicada, porque o Don tenta fazer uma coisa completamente adorável, mas que não tem nada a ver com ele, e por isso sai-lhe o tiro pela culatra. Acho que o autor podia ter sido mais explícito quanto ao estado de espírito do Don nestes momentos, ou a maneira como chegou às conclusões que tirou. O autor dá a sensação é que é um momento quase "eureka!", mas acho que faz mais sentido ser uma coisa que tem acontecido ao longo do tempo, que sempre esteve lá, e que o Don só percebeu que estava lá naquele momento.

Bem, de qualquer modo o capítulo final é bem giro, um pouco já afastado da narrativa principal, mas não inesperado se soubermos que há uma sequela que vem a caminho. Por mim, gostava imenso de ver o Don a lidar com os próximos desafios na sua vida.

Uma menção à tradução, que por vezes não fluía muito bem, provavelmente por uma tradução desajeitada de certas frases. E dois pontos: um, a cafeína tem uma semi-vida, não uma meia-vida (convém pesquisar termos básicos científicos num livro em que o personagem principal é cientista, e um tão rigoroso!); e dois, que raio de problema é que os tradutores neste país têm com o termo faculty? Não, não é uma faculdade, é um corpo docente. Como em: grupo de pessoas que dá aulas numa instituição escolar. Parem lá de o traduzir por faculdade, especialmente porque em grande parte das vezes o contexto é a falar dos professores duma universidade ou dum outro tipo de escola.

Título original: The Rosie Project (2013)

Páginas: 336

Editora: Divina Comédia

Tradução: Pedro Elói Duarte

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Ignite Me, Tahereh Mafi


Opinião: Dou por mim, mais uma vez, a comentar um término de mais uma trilogia. E talvez por isso, dou por mim também a considerar maneiras de terminar um arco de história e quão eficazes são ou não, confrme a história ou o autor.

No caso de Ignite Me, posso dizer que o livro conseguiu obter de mim duas reacções polares, diametralmente opostas. A primeira reacção é um estado de entretenimento puro, de enlevo que tornou a leitura muito fácil, muito viciante. A autora escreveu a sua história duma maneira que me levou quase ao colo, como leitora, pela narrativa fora.

Parte disso tem a ver com a resolução do triângulo amoroso e do drama inerente, mas não digo isto no sentido mais óbvio. Diverti-me à brava com isto porque certas coisas vão sendo reveladas a certas pessoas, e a reacção geral é sempre bem engraçada, dando azo a que eu risse que nem uma perdida. Todo o processo, que envolve a Juliette reencontrar-se com as pessoas certas, apresentar-lhes novos desenvolvimentos, lidar com as consequências, e finalmente lembrarem-se de enfrentar o Reestablishment - bem, tudo isso ocupa mais de meteade do livro, mas pelo menos é uma metade cativante.

Falando na Juliette, finalmente ela torna-se na jovem capaz e confiante que sabia que ela era capaz de ser. A sua evolução é recompensadora, à medida que a vemos a sair da casca, e a sentir-se mais confortável com as suas capacidades. Não tenho a certeza se acho completamente realista ela tomar o comando daquela maneira, mas é pelo menos uma ideia intrigante.

A segunda reacção que o livro obteve de mim começou assim que o acabei de ler e comecei a pensar naquilo que tinha lido; e fiquei algo desapontada ao aperceber-me de algumas coisas que não me pareceram tão bem trabalhadas, para a história poder funcionar em pleno.

E o causador desta reacção é a origem da primeira reacção. É a noção que, apesar de me ter divertido bastante com a telenovela mexicana que se gerou, também sei que esta roubou espaço ao que era preciso ser resolvido, às questões da trilogia que era preciso ver respondidas. A parte que envolve os personagens tentarem mudar o seu mundo é uma fracção menor da história; e apesar da fragilidade da autora com worldbuilding, achei que ela iria concluir esta questão muito mais satisfatoriamente.

O fim tem um pouco a ver com isso. Há uma resolução de certos aspectos, e e até certo ponto essa resolução seria suficiente para mim; mas o que fica por resolver continua a ser importante, e entristece-me não poder vê-lo desenrolar-se perante os meus olhos.

Também não sou completamente fã da evolução do Warner. Sempre achei que enquanto ele e a Juliette não resolvessem os próprios problemas, não seria possível terem uma relação romântica sã; e enquanto a Juliette me convence como tendo feito paz com os seus problemas, o Warner não. Há muitas revelações quanto ao seu comportamento, algumas tentativas de o justificar, mas as acções continuam lá, e respectivas motivações, bem como os problemas que causaram. Não sei, há algo nesta situção que não me deixa completamente satisfeita.

Quanto ao Adam, aí é que não fiquei satisfeita mesmo. Nem acredito que estou a defendê-lo, porque não sou a sua maior fã, mas acho que era completamente desnecessário haver todas aquelas explosões e gritaria para fazer avançar o enredo, para fazê-lo evoluir como personagem, e para servir de contraponto ao Warner. Cai-me muito mal que a autora sinta que tem de tornar o Adam num bruto para o Warner sair bem na figura.

Depois, tanto extremismo só serve para que a) seja hipócrita o Adam aceitar ajuda num certo ponto e b) seja incompreensível a sua reacção quando uma certa revelação vem a lume. E por último, acho credível que ele se passasse um bocado com o que descobriu no livro; mas não a este ponto. Era bastante claro que o "comboio Adam" já tinha abandonado a estação há muito tempo, e foi bom a Juliette aperceber-se disso. Mas não há espaço para o Adam fazer as pazes com esse facto. É um aspecto que fica tão... irresolvido. Acho que era preciso aqui algum tipo de de fecho.

Preciso de dedicar um parágrafo ao personagem que merecia um livro só para ele, o grande, grande, Kenji. A sério, a presença dele torna tudo muito melhor. Com um sentido de humor incrível, presente em (quase) todas as ocasiões, as suas reacções são fabulosas. E é um amigo fantástico para a Juliette, o melhor dos conselheiros, dedicado mesmo nos momentos em que teria direito a passar-se, ou a pensar em si. Ah, e uma menção para o pequeno James, que é a coisa mais fofa e mais "perguntadeira" que eu já vi. As suas perguntas inoportunas são do melhor que há.

Tenho, é claro, de fazer uma menção ao casal da trama, Juliette e Warner. É um pouco bizarro pensar neles como casal, tendo em conta tudo o que está para trás; mas apesar de tudo, fazem um estranho sentido. Juntos, isto é. Têm ambos determinadas coisas em comum, compreendem-se bem e até se apoiam mutuamente. Foi um pouco frustrante ver os avanços e recuos, ver a autora arranjar ali umas coisas para os manter separados; mas enfim, imagino que essas coisas precisavam de ser esclarecidas. No fim de contas, fiquei com a sensação de que juntos podem levar tudo à frente, por isso pergunto-me o que não poderão fazer, quando se aplicarem.

Em suma, eu gostava que este fosse um melhor livro de término da trilogia, poeque nesse aspecto falha um bom bocado. Mas não deixa de ser um bom livro, muito cativante e engraçado, com muitos momentos altos; e continuo a apreciar bastante a autora e a sua escrita. Pelo menos passei um bom bocado; que mais posso pedir?

Páginas: 416

Editora: Harper (HarperCollins)

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Terra Sombria, A Nona Chave, Meg Cabot

Terra Sombria, Meg Cabot
A Nona Chave, Meg Cabot
Da miríade de coisas que a Meg Cabot publicou, e que eu tive oportunidade de ler, a série da Mediadora é das minhas favoritas. Gosto muito do conceito, da heroína, e do seu percurso ao longo da série, e é uma série fabulosa para se ler no género paranormal. E é essa uma das razões pelas quais fiquei tão contente com as notícias de que a autora vai publicar um livro adicional para esta série, com teor mais adulto, já que a heroína cresceu alguns anos desde o último livro da Mediadora.

Adoro a Suze, e já nem me lembrava disso. Foi bom revê-la. Lembra-me imenso a Charley Davidson da série das Campas da Darynda Jones, porque têm ambas um sentido de humor sarcástico e fabuloso, têm uma queda semelhante para se meterem em sarilhos, e têm uma atitude daquelas... mas é por isso que eu gosto delas.

A Suze está num ponto de mudança, já que vem viver com a mãe e o padrasto para a Califórnia, ela que é uma moça de Nova Iorque, e isso muda-lhe completamente a vida. Primeiro ela sente-se relutante, porque vai sentir saudades de Nova Iorque e não conviveu muito com o padrasto e com os filhos dele. Mas na Califórnia vai descobrir aliados importantes, um novo rumo, mais conhecimentos sobre o seu estatuto de Mediadora, e até uma paixão impossível.

Gosto bastante do elenco secundário. Dentre os meio-irmãos da Suze, temos o pequeno David, que é muitíssmo esperto, e algo sensitivo, e um miúdo que está a mostar à Suze o bom que é ter um irmão mais novo com o qual se sente protectora. Depois há o padre Dominic, que também é Mediador e tenta mostrar à Suze outro caminho, um mais calmo e pacífico. O homem é um santo, sempre a tentar moderar o feitio da Suze quanto a fantasmas, sempre a tentar dar-lhe conselhos que ela prontamente ignora.

E depois temos o Jesse, um fantasma com 150 anos que a Suze encontra a viver no seu quarto, que não quer contar como morreu ou porque ainda anda por aí; que a Suze considera algo irritante por causa dos seus modos antiquados e a sua presença no seu espaço pessoal, mas a que ela se vai habituando, e que se torna num bom aliado e que a ajuda em momentos cruciais. Aprecio que a Suze tenha desde o início a noção de que é uma péssima, péssima, ideia deixar-se encantar pela Jesse, porque ele está morto e não há um futuro com ele, e que tente resistir com todas as suas forças a tal. (E ela falha redondamente. Mas sem isso não tínhamos história.)

Gosto de acompanhar a evolução da Suze ao longo da série, ver como ela aprende com os diferentes "casos" de fantasmas que lhe aparecem pela frente, e apreciei as duas histórias destes dois livros por isso. A Suze comete muitos erros, sim, mas está a aprender, vai correr tudo bem, ela é dura e mostra uma boa capacidade de encaixe.

Estou quase com vontade de devorar o resto da série. Conheço o final, porque quando a Bertrand achou por bem deixar-me a série a meio (traumatizando-me assim para o resto da minha vida com séries inacabadas), tive de arranjar uma maneira alternativa de saber o que acontece, mas desta vez gostava de comprar os dois últimos livros, que mesmo que não seja na mesma edição ou sequer na mesma língua que os outros, sempre me completavam a colecção. Como disse, a série da Mediadora é das minhas favoritas, e é uma pena que eu não tenha os livros todos.

terça-feira, 19 de agosto de 2014

The Secret Diary of Lizzie Bennet, Bernie Su, Kate Rorick


Opinião: Sou uma grande fã dos vídeos de The Lizzie Bennet Diaries (LBD). Eu, que geralmente tenho tanta preguiça para me pôr a ver vídeos no YouTube, cedi no início deste ano à curiosidade e lá me pus a ver os primeiros vídeos da Lizzie, a ver se gostava. O resultado? Vi os 160 vídeos da playlist numa semana. (Vídeos de 5 minutos cada. E a playlist inclui os vídeos feitos por outros personagens da vida da Lizzie, que ajudam a complementar a narrativa dela.) Passei um enorme parte dessa semana a ver LBD, a pensar em ver LBD, a sonhar com LBD, e a obcecar com LBD. Sim, é assim tão viciante. (Um dia hei de rever e comentar aqui.)

Isto tudo para referir que este livro de que vou falar é a modos que um spin-off. Um diário escrito que Lizzie Bennet, estudante pós-graduada que faz e posta os vídeos no YouTube para a sua tese, mantém ao longo do ano em que faz os vídeos a relatar pequenas grandes partes da sua vida, ou a encená-las, ou a comentá-las. E no entanto, o livro funciona perfeitamente bem sozinho. Suspeito que alguém que não conheça os vídeos vai conseguir acompanhar a narrativa deste diário muito bem, ainda que quem conheça os vídeos vá também encontrar aqui muitos complementos e adições interessantes à narrativa.

Devo acrescentar que ambos, vídeos e diário, são uma adaptação estupenda de Orgulho e Preconceito. Tendo em conta que as pressões sociais não são bem as mesmas para uma jovem mulher do que eram há 200 anos atrás, os autores conseguem transpor esta questão para o século XXI de maneira brilhante. E além disso, o cenário base em que a história é construída no século XXI é perfeito para os pontos principais do enredo, para os deixar acontecer de maneira semelhante à do clássico, apesar do contexto ser algo diferente.

Tendo dito isto, diverti-me muito a ler o diário, porque percebemos que a Lizzie nos vídeos não é exactamente uma narradora fiável. Há muito que ela não revela, e muito que ela a modos que distorce, devido à sua perspectiva. E isso é uma representação muito fiel da personagem original, que com os seus preconceitos se deixa cegar a algumas coisas que a rodeiam. Diverti-me muito quando ela relatava os momentos que passava com o Darcy, porque o leitor (que sabe mais que ela), interpreta as reacções do Darcy duma maneira, e a Lizzie doutra completamente diferente.

O diário também apresenta pequenos pormenores que não podemos ver nos vídeos, e que aproximam a adaptação do livro original. A relação da Lizzie com os pais, e a descrição que é feita deles - a mãe é mais consciente de certas coisas do que faz parecer, e gosto imenso das cenas da Lizzie com o pai, à medida que se apercebe que os pais não são infalíveis.

Ou, por exemplo, alguns pormenores da relação que a Lizzie tem com as irmãs, muito esclarecedores. A Jane, pobre rapariga, é uma santa, mas uma santa esperta e que não fica a chorar pelos cantos. A Lydia, bem, é a Lydia. Se ela e a Lizzie passassem um pouco mais de tempo a falar uma com a outra, e fossem mais atentas à maneira como a outra funciona, teriam muito menos conflitos.

Também gostei de descobrir mais sobre as interacções da Lizzie com o Darcy. Quase que conseguia vê-lo a cair para o lado só de se esforçar para meter conversa com ela, e a moça sempre a pensar que ele tinha motivos nefastos para falar com ela. E a descrição do dia que passaram a visitar S. Francisco com a Gigi é bem gira, e uma coisa que tinha ficado fora dos vídeos. Além disso, no diário é mais fácil visualizá-la a mudar de atitude em relação ao Darcy, enquanto que nos vídeos ela está mais relutante em revelar-nos aquilo que lhe passa pela cabeça em relação a ele.

Bem, em geral, é um livro que comete duas proezas extraordinárias: um, ser um fantástico complemento aos vídeos do YouTube; dois, ser uma experiência completamente nova para quem não os conhece, sendo ainda assim uma bela adaptação de Orgulho e Preconceito para o século XXI. Estou muito contente por ter apostado nele.

Páginas: 400

Editora: Simon and Schuster

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Colecção Universo Marvel #5 e #6: Quarteto Fantástico/Vingadores, Homem de Ferro

Quarteto Fantástico e Vingadores: Invasão Secreta, Brian Michael Bendis, Leinil Francis Yu
Esta saga apresenta algumas questões intrigantes - e se os super-heróis não fossem quem dizer ser? E se uma raça transmorfa, determinada em dominar a Terra, tem vindo a substitui-los aos poucos? E se não soubermos em quem podemos confiar? E na maior parte, faz um trabalho interessante em explorá-las e apresentá-las. Há grandes momentos - as melhores partes, na minha opinião, até são os momentos não-de-acção -, momentos em que os personagens são confrontados com a dúvida, e as suas reacções são fantásticas de ver.

A invasão Skrull é tortuosa - adoro os planos que eles desenvolveram para a mesma, a inflitração ao longo do tempo, a destruição simultânea de várias estruturas que podiam pôr uma ameaça aos Skrulls... dá-me vontade de espreitar as outras revistas que acompanhavam os eventos, para ler mais sobre isto. Por outro lado, para uma invasão Skrull tão bem planeada, eles foram em certos momentos muito burros, e duma maneira que não faz sentido. Há um certo grupo de Skrulls que aparece no início, usando a cara de super-heróis conhecidos... mas uniformes ultrapassados. Onde é que esta gente foi fazer a pesquisa deles? A Fénix/Jean Grey está morta (outra vez), o Capitão América também, e o Luke Cage não se veste daquela maneira desde antes de eu nascer. Para quem tinha tudo tão bem planeado, os Skrulls metem demasiadas vezes a pata na poça, nesta e noutras ocasiões..

Os momentos de acção são visualmente estimulantes (o artista esmerou-se, e gostei do seu trabalho), e nunca tive dificuldade em seguir-los, o que é muito bom sinal. Acho que preferia no entanto um bocadinho mais de enredo e menos de acção, porque a premissa base é boa de mais para não ser explorada. (Suponho que foi, nas revistas que iam sendo publicadas ao mesmo tempo que esta.)

A história não deixa de ter os seus momentos engraçados, e o fim é dramático q.b., preparando o caminho para os próximos eventos no mundo dos super-heróis. Não gostei de não saber o que aconteceu à bebé da Jessica Jones e do Luke Cage; gostei da reviravolta com o Norman Osborne, principalmente porque tenho uma ideia de onde aquilo vai parar; e fiquei indiferente ao sacrifício dramático no fim, porque já sei como aquilo acaba. Eu bem digo que não vale a pena fazer o luto, porque eles voltam sempre.

Houve ali um bocadinho de confusão com o estado de vivo/morto do Clint Barton (Arqueiro/Ronin) e do Steve Rogers (Capitão América), por saber que ambos cairam mortos algures por estas alturas. O primeiro sei que voltou à vida antes desta história; o segundo, estava oficialmente morto nesta altura. Acabei por chegar à conclusão, com a ajuda da amiga Wikipedia, que o Capitão América que andava por ali a ajudar o lado dos super-heróis deve ser o Bucky Barnes, que supostamente o substituiu nesta altura. Tinha sido jeitoso alguém dirigir-se ao Bucky/Capitão pelo seu nome, para aqueles de nós que não seguem a continuidade louca dos comics de super-heróis, mas têm uma ideia do que se anda passar, porque me tinha situado a história.

Um menção para a revisão do livro, pela negativa, que tropecei em vários erros, trocas de letras e outros que tais, e era completamente desnecessário. Além disso, isto ter no título "Quarteto Fantástico" é completamente ridículo. Aquele que aparece mais é o Sr. Fantástico; o Johnny e o Coisa aparecem em 3 ou 4 vinhetas; e a Sue-Skrull não conta.

Homem de Ferro: Demónios, David Michelinie, Bob Layton, John Romita Jr., Carmine Infantino
É pouco comum ver este tipo de história em comics, e por isso esta é uma história refrescante... apesar de o problema do alcoolismo ser mais abordado na parte final, é clara a preparação para tal situação, ao longo do resto do livro, em que em cada aventura, cada problema que Tony Stark enfrenta, tem de haver uma garrafa de álcool ali ao lado, a ajudá-lo a ulrapassar o momento.

Parte de ultrapassar uma adição é reconhecer o problema, por parte do próprio e por parte dos que o rodeiam, e os autores fazem um bom trabalho em ir preparando a coisa, mostrando pistas para quão premente é o álcool na vida deste super-herói. É claro que depois empurram o enfrentar do problema e sua resolução para o último capítulo do livro, e acho que isso sabe a pouco. É resolvido demasiado depressa nas páginas.

As histórias de cada capítulo são mais ou menos auto-contidas, nada de especial, mas entretêm. Os personagens secundários são alguns focos de interesse, como a Bethany Cabe e o James Rhodes, bem como o vilão, Justin Hammer. O enredo em volta da armadura do Homem de Ferro falhar é tremendamente interessante, especialmente pelos dilemas e dramas que traz à vida de Tony Stark.

Graficamente, é um livro interessante, enche o olho. O trabalho de vinhetas é rígido, mas fluído dentro dessa rigidez. E as cores são cativantes. O desenho é dinâmico e cativa, mas não sou nada fã deste penteado do Tony Stark. Ou da armadura, que me confundiu imenso. O Tony parece vestir a parte amarela como se fosse tecido (e andar com a armadura para toda a parte seria mais fácil se for mesmo de tecido), mas depois aquilo trava balas, por isso não pode ser. Estranho. Além disso, é completamente ridículo a armadura estar com relevos com os abdominais do protagonista. (Coisa que parece tão ridícula como os mamilos na armadura do Batman no filme com o George Clooney, mas enfim.)

sábado, 16 de agosto de 2014

A rainha manda...: Transformar-se em Maria Antonieta, Juliet Grey

Desta vez, a leitura escolhida pela Patrícia do Chaise Longue para eu ler para esta rubrica foi Transformar-se em Maria Antonieta, de Juliet Grey. Uma leitura inusitada, para mim; é raro ler ficção histórica desta maneira, pegando em personagens reais, em acontecimentos reais, e ficcionando à volta deles. Foi curioso, para mim, manter a distância e lembrar-me que esta é uma interpretação dos acontecimentos, feita pela autora, e não a verdade verdadinha tal como aconteceu. Ainda assim, pareceu-me uma interpretação plausível, e foi uma bela leitura, muito cativante.


Em Agosto, eu e a Patrícia vamos fazer uma pausa, e retomamos a rubrica em Setembro. Entretanto, podem ler as impressões da Patrícia sobre o livro que escolhi para ela, The Winner's Curse de Marie Rutkoski, aqui.

Maria Antonieta, princesa odiada ou menina esquecida: muito se tem dito e falado sobre esta rainha. Envolta em controvérsia, é talvez das mais odiadas da História. O que achaste do retrato que Juliet Grey nos dá?
É um retrato curioso, algo benigno, mas que tenta explicar como é que a sua educação e circunstâncias levaram-na ao fim que conhecemos. É um pouco triste, até. Quase a última filha numa grande (muito grande) família, dá-me a sensação de ter sido negligenciada, particularmente na sua educação; e então quando de repente acalentam grandes esperanças e querem que ela seja muito mais do que é, as coisas complicam-se. Ela não parece ter um espírito forte, decidido, mas se a mãe tivesse tido mão na educação dela, preparando-a para navegar nas águas traiçoeiras da intriga palaciana, talvez ela não tivesse cometido tanta asneira, e não tivesse tido tanta dificuldade em se integrar na corte francesa.

Acho que o que me desanima é ver potencial desperdiçado, e há momentos na corte em que se vê que ela consegue ser inteligente e ultrapassar desafios. E por outro lado, seria fantástico se a mãe dela, a imperatriz Maria Teresa, de facto se decidisse pelo que quer. A miúda estava a receber sinais mistos sobre os desejos da mãe, do que era esperado dela como austríaca, mas ao mesmo tempo ela também já não o era, tinha renunciado ao seu país com o casamento, e o apego à Áustria poderá ter complicado a integração em França.

Como pessoa, a protagonista parece ter bom fundo, boas intenções, ainda que nem sempre bem orientadas. Acho interessante a sua relação com o marido, com o qual a consumação do casamento ainda levou um bom bocado a acontecer (passam-se quatro anos depois do casamento neste livro e nada! vamos lá ver no próximo). São apenas dois miúdos, nada preparados para casar, e a falta de comunicação entre ambos, e com as pessoas mais próximas, para esclarecerem questões de intimidade, levou a um arrasto ridículo de tal situação.

Luís Augusto, o delfim idealista mas influenciável: um fraco para a História mas neste livro temos uma perspectiva mais pessoal dele. Era assim que o imaginavas?
Acho que não o imaginava, de todo. Geralmente fala-se tanto da Maria Antonieta, que ele fica para segundo plano. Mas não fiquei muito bem impressionada. Quero dizer, até acho interessante que ele não se deixe embarcar nas intrigas e frivolidades da corte... mas também é cego ao que é preciso ser mudado, e está demasiado interessado em comer e caçar para se dedicar ao que é exigido do seu papel. No geral, parece um bocado palerma.

Tal como a Maria Antonieta, parece ter um espírito fraco, pouco decidido, bastante influenciável, especialmente no que toca ao seu tutor. Bem, só se estragou uma casa, no que toca a este casal, mas gostava que pelo menos um deles tivesse tido uma boa cabeça para enfrentarem os problemas que os esperavam. É que assim é bastante claro que eles estavam amaldiçoados a falhar, desde o início, como monarcas, o que é tão triste, porque é um desperdício. Tinham uma oportuniade real de mudar as coisas em França, mas não o conseguiram, e bem, todos sabemos como é que isto acaba.

Sendo ficção histórica, este livro apresenta-nos personagens que existiram. Pensas que a autora conseguiu trazê-las a vida realisticamente?
Definitivamente. Consegue dar pequenos detalhes, pequenas idiossincrasias a todos, de modo que parecem reais para mim. O que são, só que aqui me pareceram personagens tão reais que eu me ponho a falar deles, as suas motivações e feitios, como se fossem apenas isso, personagens de um livro. O que, depois lembro-me, não são. E custa separar as águas, entre as pessoas reais e os personagens ficcionados que me parecem reais, graças à descrição da autora. É um pouco bizarro, falar de pessoas que existiram como personagens de um livro. Uma experiência fascinante, diria também.

Qual foi a personagem que mais te marcou? E aquela que te mexeu com os nervos?
Quase que podia responder "a imperatriz Maria Teresa" às duas. A mãe de Maria Antonieta parece uma pessoa impressionante, pronta a levar tudo e todos à frente, com uma ambição formídável, e parece uma pessoa que seria interessante conhecer. Mas por outro lado, bule-me com os nervos a maneira como ela espera que a Maria Antonieta se transforme nesta consorte ideal para o delfim de França, da noite para o dia, por artes mágicas; e a maneira como diz à filha para fazer uma coisa, e a seguir outra completamente diferente, é positivamente ridícula. Portanto, mexe-me definitivamente com os nervos.

Quanto à personagem que marcou, vou escolher a Maria Antonieta, porque este é um retrato bem surpreendente dela, bastante cândido, mas delicioso de explorar.

A narrativa apresenta-nos a vida de Maria Antonieta antes de ser delfina, na Áustria, e depois em França. Quais foram para ti as maiores diferenças? Achas que a autora conseguiu mostrar quão diferentes as realezas, países e cortes eram?
Se eram diferentes! Creio que sim, conseguiu dar uma ideia. Quero dizer, não passamos assim tanto tempo na corte austríaca, porque a educação da Maria Antonieta está um pouco afastada do dia-a-dia da corte e da política, mas do que vemos, é imediatamente visível o contraste quando passamos para a corte francesa. E que corte de loucos, quase posso dizer. Pelo menos, tenho a certeza que eu dava em louca, com tanta etiqueta, tanta intriga, tanta formalidade, tanta hipocrisia.

São enormes as diferenças que encontro. Só a noção de ir dormir e acordar com uma trupe de cortesãos a dar-me e tirar-me roupa... *arrepios* Esta gente não conhecia definitivamente a noção de privacidade. E, desculpem, mas urinar no meio dos corredores? Ninguém sabe o que é um penico? De certeza que já os havia naquela altura. Até parece que havia criados para os despejar, e muitos, em Versalhes. Não era por falta deles que andavam a deixar presentes nos corredores.

E depois temos as intrigas mesquinhas, a devassidão, a falta de moral... eu até compreendo como é que a corte francesa começou e acabou neste estado, mas é demais. Um bocadinho menos de atenção à roupa do vizinho do lado e a quem anda a dormir com quem, e mais ao país e aos seus domínios, e se calhar não tinham perdido a cabeça. (Literalmente.) Digo eu.

Como romance histórico, este livro conseguiu captar a tua atenção? Juliet Grey conseguiu transportar-te no tempo para a França do século XVIII?
Definitivamente. Parece-me pelo menos um livro bastante bem pesquisado, bem detalhado, e não tive dificuldade em ver-me nesta época, em conhecer a personalidade de uma das personagens mais marcantes da história, e em perceber o seu passado e o seu futuro, em como a sua vida inicial em França dá lugar ao que aí vem. Conheci os cortesãos, a intriga, a etiqueta da corte, e senti-me parte da história, por momentos.

Sendo passado numa época de revoluções, intrigas e aparências, achas que este livro conseguiu transmitir-te os tempos difíceis que as personagens viviam?
Depende do que queres dizer por tempos difíceis. Raramente vemos o ponto de vista do povo, que esse sim estava a passar momentos complicados, mas não é esse o objectivo do livro. E de certo modo, também são tempos difíceis os que acompanham a corte francesa e a sua evolução, porque aqui estão as pessoas que podiam liderar França, fazer uma mudança para melhor no seu país, e estão demasiado obcecadas com quem é que vai dar a camisa de dormir à delfina! Ou seja, são tempos difíceis, sim, pela frustração que os eventos na corte me transmitem, e pela noção que podiam estar, sei lá, a fazer coisas mais úteis. Por isso, sim, a autora conseguiu transmitir-me isso muito bem.

A escrita deste livro faz-me pensar no filme de Sophia Coppola, Marie Antoinette, principalmente por ser muito visual. Concordas?
Bem, tem alguma piada, a tua pergunta, porque realmente tive flashes do filme quando estava a ler o livro, por isso diria que concordo. É muito fácil visualizar os exageros, os excessos nos vestuários e decoração, e diria que o filme ajuda visualmente as descrições da autora, que não lhe ficam nada atrás. Complementam-se bem, e fiquei com vontade de rever o filme. Diria também que a escrita da autora se presta bem a fazer-me "ver" aquilo que descreve, por isso fez um bom trabalho neste aspecto.