quinta-feira, 17 de abril de 2014

Pivot Point, Kasie West


Opinião: Esta história tinha o potencial para correr espectacularmente bem ou espectacularmente mal. A ideia de vidas/futuros paralelos é complexa, e tem que ser bem executada para fazer sentido... e aqui isso aconteceu. A autora Kasie West consegue trabalhar esta premissa de modo a apresentar uma história absorvente e aparentemente simples, mas com muito para dar.

Addison "Addie" Coleman é uma jovem com super-poderes. Quando confrontada com uma escolha, pode procurar o seu futuro e ver as consequências de cada opção que tem à disposição. No inicio do livro, é confrontada com o divórcio iminente dos pais e com uma escolha: ficar com a mãe, e continuar a viver no Compound, um local que alberga outras pessoas com super-poderes; ou sair do Compound com o pai, e ir viver entre os Norms, as pessoas normais/sem super-poderes, e ter uma vida completamente diferente de tudo o que já conheceu.

Addie usa então o seu poder para a ajudar a escolher. Os dois futuros alternativos que tem à disposição são apresentados em capítulos alternados, e isto é feito de maneira estupendamente descomplicada, porque eu nunca tive dificuldades em passar de um futuro para o outro, nem tive problemas em os distinguir. A autora dá uma vida diferente à Addie em cada um, e ela própria é uma pessoa ligeiramente diferente em cada um, devido ao que vai acontecendo. (Pontos bónus por conseguir apresentar de modo satisfatório o que são essencialmente duas histórias diferentes em apenas um livro.)

Contudo, ao mesmo tempo, é fascinante ver os futuros a desenrolar-se de forma paralela, com muitos pontos em comum, que acabam por se diferenciar apenas pela presença ou não da Addie. Há muita coisa que acontece na mesma sem a presença dela, e outras coisas em que a presença dela é crucial para alterar o curso dos eventos. Faz reflectir no impacto de um indivíduo nas vidas dos que o rodeiam, e em como pequenos detalhes podem ou não mudar o curso da história.

Uma menção ao modo como a autora escreve o livro: adoro o seu sentido de humor e como apresenta a história e a protagonista... e aplaudo a maneira como desenvolve o enredo. A evolução paralela dos dois futuros é perfeita. Pelo menos não lhe encontrei problemas, e eu sou muito esquisitinha no que toca a histórias que metam mexer com o futuro.

Gostei muito da heroína, e da maneira como a autora a escreveu. A Addie é uma jovem bem resolvida, com a cabeça no lugar, relativamente madura, com um bom sentido de humor e com uma personalidade que me agrada. Enfrenta escolhas difíceis, mas é justa e sacrifica uma potencial felicidade pessoal pelos que ama.

Achei muito interessante o modo como o livro apresenta os dois potenciais interesses amorosos. Como os futuros que vemos não estão escritos em pedra, sendo apenas isso, possibilidades, permite explorar uma situação mais que batida duma nova forma. É engraçado, porque um dos rapazes eu topei logo à distância... era demasiado perfeito para ser verdade, e passei o tempo todo desconfiada dele. Ainda tentei achar-lhe piada, mas não consegui. Apenas fiquei com alguma pena dele no fim, porque me pareceu uma pessoa fraca e facilmente manipulada pelos outros - o que é irónico, tendo em conta aquilo que é capaz de fazer.

O outro rapaz é muito próximo do par perfeito para a Addie. É gentil, engraçado, com gostos compatíveis com os da Addison, e desenvolve uma amizade próxima com ela. É muito giro ver o modo como se aproximam, e uma delícia vê-los juntos. Melhor, também tem uma boa cabeça, quando há a possibilidade de algo os separar dá à Addie a oportunidade de se explicar, e aceita-a pelo que é, e aquilo que ela precisa de fazer.

Quanto às reviravoltas que levam aos finais de cada futuro...confesso que andei um pouco perdida entre suspeitos, e quem e o que exactamente é que andava a acontecer. Foi uma surpresa, e até gostei da maneira como a autora trabalhou as coisas, mas não sei se as pistas falsas que a autora andou a plantar funcionaram bem a favor da história.

Relativamente ao final e à escolha que a Addie tem de fazer... não posso dizer qual é, mas posso dizer que fiquei orgulhosa dela pela escolha e opções que toma, apesar de desejar que ela pudesse escolher sem os constrangimentos que determinaram a sua escolha. (E não, isto não é um paradoxo, esta conversa de escolhas e determinismos. Ela continua a ter uma escolha. Só que o tipo de pessoa que ela é determina que só existiria um futuro no qual pudesse viver consigo mesma.) Preferia é que a autora tivesse permitido que a Addison tivesse mais tempo para ponderar na importância das escolhas, e em como estas afectam os que a rodeiam. E que pudéssemos ter visto melhor a reacção dela depois de conhecer a fundo as duas hipóteses à sua frente.

No fim de contas, é um livro enganadoramente simples, que começa por ter um tom contemporâneo, descrevendo os pequenos detalhes das duas vidas que a protagonista leva em cada futuro... mas evoluindo para uma história que questiona a importância de um indivíduo no decorrer dos acontecimentos e o o poder de uma escolha na vida de uma pessoa e nas vidas dos que a rodeiam. É um livro bastante esperto no modo como apresenta a história, e foi uma delícia de leitura.

Páginas: 352

Editora: Harper Teen (Harper Collins)

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