Este volume faz parte de um evento maior em torno do Homem-Aranha, um que junta inúmeras iterações de Aranhas de inúmeros universos. E nas cinco histórias reunidas, conhecemos cinco diferentes pessoas que tomaram o manto de Aranha.
A primeira história é uma versão noir, passada nos anos 30. É aquela mais semelhante à história do Peter Parker, reimaginando o personagem nessa época. Gosto da estética da época e do estilo, e apreciei-a por isso. Achei curiosa a história da Mary Jane, que esteve a lutar na Guerra Civil Espanhola. Gostava de ler mais sobre isso.
A segunda história é a história que cativou a imaginação dos leitores, ao ponto de ter merecido o lançamento de uma revista própria. É sobre a Gwen Stacy, e o que teria acontecido se ela tivesse sido a pessoa picada pela aranha. Acho que o melhor que esta história faz é tirar a Gwen do pedestal de namorada morta tragicamente e dar-lhe uma história própria, fazendo dela a protagonista. É isso que é refrescante e cativante. Estou muito interessada em continuar a ler.
A terceira história é sobre Aaron Aikman, um génio biotecnológico que ganhou os poderes aranha através de resequenciação ADN, e que usa um fato aranha muito ao estilo do Homem de Ferro. O estilo de narração da história e o tipo de desenho faz-me lembrar o estilo japonês de contar uma história em manga, não sei se é propositado. Aqui o que gostei de ver foi o twist cibernético da história do Homem-Aranha, porque de resto não se destaca.
A quarta história é sobre a iteração mais creepy que o Homem-Aranha já teve. As circunstâncias em que este alter ego do Peter Parker cresceu são bastante semelhantes, mas ao mesmo tempo tão diferentes. O miúdo é um psicopata em potência, as suas circunstâncias não ajudam, e a parte final é aterrorizadora.
A quinta história é a minha favorita a par da da Gwen. Neste caso, porque pega no género mecha e faz-lhe uma homenagem, muito particularmente a Evangelion. Pelo menos, o meu apreço por Evangelion fez-me ver os paralelos, e adorei encontrá-los. Uma adolescente encontra-se a controlar uma máquina gigante (em forma humanóide, ao estilo aranhiço), uma que só ela pode controlar, numa cidade futurista. Enfrenta seres parecidos com os Angels, e veste-se ao estilo Sailor/uniforme de escola japonesa. Adorei cada segundo, e gostei do estilo mais sossegado de narrar.
E cá está mais um título tramado pelo drama de bastidores e interferência editorial que parece ser demasiado frequente lá por terras da DC. Neste caso em particular, um desacordo quanto ao rumo que a história iria tomar levou os autores a bater com a porta e pôr-se na alheta - e pelo caminho, em jeito de manguito, deixaram um cliffhanger e uma situação meio difícil de resolver, só porque podiam.
Este volume foca-se muito no círculo de pessoas que rodeia e apoia a Kate, e gostei mesmo dele por isso. Desde o início que é essa parte que me tem atraído na história, o modo como ao mesmo tempo a Batwoman opera separada da Bat-família, sendo que esta raramente se atravessa no caminho dela - acentuando a independência da Kate.
E ao mesmo tempo, ao longo dos livros temos percebido que a Kate não está sozinha, tem até um sistema de suporte fantástico, acho que ela é muito má a reconhecê-lo. Neste volume tem de ser a Maggie a obrigá-la a aceitar a ajudar de todos para cumprir a sua missão; e gosto bastante de ver que toda a gente tenta contribuir, até a madrasta, numa tentativa de proteger as "meninas" (a Kate e a Bette) dos momentos mais duros.
O enredo foca-se na tentativa da Kate, como Batwoman, fazer uma coisa que duvido que queira mesmo fazer, excepto pela chantagem a que é sujeita. O volume desenvolve a história à volta dessa tentativa, e das razões que a movem. O pai, o coronel, colabora no plano, especialmente no que toca à Bette e às acções dela, o que me agradou, porque são dois personagens que tenho apreciado ao longo da série.
Em termos artísticos, o traço passou para Trevor McCarthy (já no volume anterior, até), mas sinto que ele fez um bom trabalho a manter a estética anterior, ao mesmo tempo que tem o seu jeito próprio. Há um certo dinamismo e expressividade no modo como trabalha.
No seguimento do volume anterior, seguimos a Barbara Gordon na sua tentativa de lidar com as suas acções, vendo como não se sente merecedora do uniforme que usa, e como duvida das suas capacidades e das razões pelas quais faz isto.
Pelo meio, uma vilã chamada a Ventriloquista anda a semear o terror, e cabe à Batgirl travá-la, com ou sem crise de fé. Foi uma vilã muito interessante de seguir, pelo factor arrepiante sempre que ela aparecia, com o seu boneco atrás, e as acções que tomava.
Acho um pouco triste, e até estranho, que as coisas tenham chegado a tal ponto com a Barbara, e o Batman não dá sequer um arzinho da sua graça. Uma das melhores aparições na série foi a que ele fez no primeiro volume, e tenho pena que nunca mais tenha partilhado cenas com ela (excepção feita a Death of the Family, no volume 3). Sei que as coisas estão más na Bat-família, mas a Batgirl cometeu aparentemente o pecado capital para eles.
O único que tenta confortá-la e confrontá-la é o Dick Grayson, o Nightwing, numa cena que até me fez ter pena que ele não aparecesse mais uma ou outra vez. Creio que ele e a Barbara funcionam como suporte um para o outro no meio do drama da Bat-família, e têm uma relação próxima gira, por isso era engraçado vê-los mais juntos.
Como se não bastasse a Barbara sentir-se culpada por.. coisas, tem um interlúdio doce proporcionado pelo Ricky, um jovem com que se cruzou anteriormente como Batgirl, e as coisas descarrilam rapidamente, num clímax desanimador. (Só a Alicia e a amizade dela com a Barbara animou a sua vida pessoal. A Alicia é adorável.)
Parte da tensão do volume prende-se com a determinação que o comissário Gordon tem em prender a Batgirl pelas suas acções, o que leva a uma cena gira dele com o Batman, a criticá-lo por deixar uma jovem seguir-lhe os passos até terminar nisto. Há, obviamente, um confronto final entre ele e a Batgirl, noutra cena fascinante (muito mal representada pela capa, porque as posições dos personagens estão invertidas, e isso faz a diferença). Suspeito que o comissário tenha as suas próprias ideias sobre a identidade deste pessoal que usa capas, incluindo a Batgirl, e que não tencione prová-las. É uma posição interessante, a dele, esteja ele certo ou não nos seus palpites.
A história final faz parte de um evento chamado Zero Hour, e creio que é suposto ser uma espécie de prequela/história de origem para a Barbara, numa sua versão adolescente no meio de uma tormenta em Gotham. Não achei assim tão interessante. Acho que tenho alguns problemas com histórias contadas assim, primariamente recorrendo à narração interna, e apesar de ter o potencial para ser um momento que a define, não me cativou.
Aquilo que vou dizer aplica-se a todos os volumes da série, e podia servir como a totalidade da minha opinião: é Saga, o que quer dizer que é uma boa viagem, uma pessoa diverte-se, mas acaba demasiado cedo. E agora que fiquei actualizada no que saiu cá para fora até agora, vou ter de esperar horrores de tempo até ler o próximo, e até lá vou esquecer-me de tudo, estou mesmo a ver.
Reflexões que vieram com este volume: é engraçado, no passado pelo menos duas pessoas me disseram que ficaram impressionadas com o quão gráficas as coisas são às vezes em Saga, e eu acho que nunca tinha reparado até me fazerem esses comentários. Acho que a única vez que franzi os olhos a algo foi no início do volume anterior, que tinha um nascimento em close up, e não dava para perceber nada da coisa até semicerrar bastante os olhos. Normalmente o traço da Fiona Staples é muito mais claro e directo, e nunca me incomodou. Até é refrescante.
O enredo continua a desenvolver-se a partir dos acontecimentos anteriores, e exploramos mais um cantinho deste universo. (Again, Fiona Staples com rasgos de brilhantismo, porque ela farta-se de criar raças e seres diferentes e exóticos e totalmente credíveis. Mas continuo a achar os robôs um bocado estranhos.)
Destaques: a parte do esperma de dragão. Hilariante. O Ghüs é adoravelmente fofinho. A última cena da Yuma no livro, completamente épica. Tenho pena da pobre Hazel, porque está a ser usada e trocada como mercadoria por uma série de partes, e isso não é bom para uma infância. E ela está tão fofa agora, já fala, e faz os comentários mais giros.
A parte final deixa-a num ponto intrigante. Ainda mais quando mais cedo ela tinha dito algo do género "iriam passar-se anos até ver o meu pai". (Continuo a detestar esta "antevisão" das coisas. Ugh. Seus provocadores.) Totalmente explicável a esta luz. Só espero que sejam poucos anos. A série tem feito passar o tempo quase sem darmos por isso, portanto imagino que até venha a correr bem.