quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Este mês em leituras: Dezembro 2015

O final do ano! Muitos balanços a fazer, algumas opiniões por escrever... tenho muito trabalho à minha frente, mas veremos o que o tempo me permite. Esperemos que o novo ano me traga coisas boas e leituras ainda melhores.

Livros lidos


Opiniões no blogue

  • Todos Devemos Ser Feministas, Chimamanda Ngozi Adichie;
  • Winter, Marissa Meyer;
  • Harry Potter e o Cálice de Fogo, J.K. Rowling;
  • Curtas BD: Batwoman vol.5: Webs, Marc Andreyko, Jeremy Haun, Travor McCarthy, Guy Major; Giant Days vol. 1, John Allison, Lissa Treiman; Batgirl vol. 5: Deadline, Gail Simone, Fernando Pasarin, Jonathan Glapion, Robert Gill, Javier Garrón; Jessica Jones: Alias vol. 1, Brian Michael Bendis, Michael Gaydos;
  • Sonhos Esquecidos, Josephine Angelini;
  • Série Tempting the...: Tempting the Best Man, Tempting the Player, Tempting the Bodyguard, Jennifer L. Armentrout.

Os livros que marcaram o mês

  • Harry Potter e o Cálice do Fogo, J.K. Rowling - oh, ler este livro faz-me feliz... quero dizer, é bastante triste e pesado, mas deixa-me boas memórias da altura em que primeiro o li, e gosto das coisas que acontecem neste volume da série;
  • Jessica Jones: Alias vol. 1, Brian Michael Bendis, Michael Gaydos - gostei mesmo, mesmo do livro e da maneira como se conta a história e de como caracterizam a Jessica, é uma história sobre "super-heróis" que não é de super-heróis, e o tom mais pesado agrada-me;
  • Sonhos Esquecidos, Josephine Angelini - bolas, não sei o que é que a Josie mete nos livros, mas é tremendamente viciante, mesmo quando ela faz coisas a que franzo habitualmente o nariz;
  • O Que Vemos Quando Lemos, Peter Mendelsund - um livro sobre o acto de ler, a visualização de imagens que o acompanha, e como imaginação e memória se entrelaçam com os mesmos, é tremendamente visual e super interessante, com uma óptima exposição das suas ideias.

Outras coisas no blogue


Aquisições

Aquisições do mês. Ao alto, BD. Contam-se ali os primeiros livros da colecção Graphic Novels Marvel; calculo que os seguintes já deviam ter chegado, mas esta época é terrível para receber encomendas. Tenho uma série de coisas do Book Depository para receber, também, alguns deviam ter chegado esta semana, mas porquê esperar que os Correios me surpreendam na época de Natal?

Deitados, na parte de cima estão alguns livros em inglês, de autoras que sigo e queria ler. Na parte de baixo, os últimos cinco livros são uma pequena surpresa. Dei por mim com bastante dinheiro em Cartão Fnac e Cartão Continente para gastar, e estes meninos foram o resultado, ficando-me a custo zero.

Estes são a modos que os presentes de Natal. Os dois primeiros foram comprados em parte com um vale Fnac e foram uma prenda de mim para mim, mais ou menos. O Peter Pan ilustrado é tão bonito! Fala-me de um Dia Perfeito foi oferta da mana, e como ela sabe que eu gosto de marcadores, deu-me o livrinho à direita, que é composto por marcadores de cartão com citações.

A ler brevemente

Não sei, quando muda o ano, sou incapaz de me decidir quanto ao que ler. Só sei que vou ler os livros que tenho planeados para os meus desafios: Harry Potter e a Ordem da Fénix, e os livros da Meg Cabot que espero ler para o desafio pessoal da autora. Fora isso, o céu é o limite.

terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Série Tempting the ..., Jennifer L. Armentrout


Páginas: 208 / 272 / 272

Editora: Hodder & Stoughton


Esta colecção é um conjunto de novelas, no género romance, escritas pela autora e publicadas em e-book pelo seu editor americano, mas que o editor britânico decidiu publicar em papel, o que me fez aproveitar a oportunidade. É uma autora que sigo e gosto de ter os livros dela na estante.

A série Tempting segue os três irmãos Gamble, com uma história de família complicada, uma mãe alcóolica pronta a afogar as mágoas, um pai desligado e engatatão. Isto deixou marcas nos filhos, que - é óbvio neste tipo de história - são uns avessos a compromissos, pelo menos até encontrarem a mulher certa, é claro.

Acho que posso apreciar o facto de, apesar de serem romances e haver uma certa "fórmula" a seguir, acabam por ser diferentes o suficiente, ter facetas distintas que os tornam a cada um uma história dissimilar. Num género tendencialmente formulaico, o que em si não é mau, tudo o que confira uma distinção à história que a destaque e lhe dê um gostinho especial é bastante bem-vindo.

O primeiro livro é a história do Chase e da Madison, uma jovem que cresceu como vizinha dos Gamble. Estes passaram grande parte da vida com a família da Madison, tendo em conta os problemas familiares; a Madison passou a vida a seguir os três rapazes e o irmão dela, não conseguindo esquecer a paixoneta pelo Chase.

A relação deles é interessante pelo componente de negação de sentimentos por parte de ambos, e pela dança um à volta do outro. Tenho pena que o primeiro instinto deles seja desconfiar um do outro a certo ponto, especialmente porque exageraram no "filme" que fizeram na cabeça deles, mas enfim, resolveu-se

O segundo livro mete o Chad, que é jogador de baseball, e um jogador fora de campo também, frequentemente metido com festas e mulheres, o que lhe dá uma "reputação". Conhece a Bridget (que eu levei um bocado a identificar como colega de trabalho e amiga da Madison, sou mesmo totó), uma bomba ruiva pouco convencional (mas que eu adorei, é uma totó cá das minhas). No meio da tentativa de limpar a imagem do Chad, a Bridget vê-se no meio e obrigada a fingir de namorada dele por uns tempos.

A parte divertida aqui foi ver como o par tem a sua química, e como ficam rapidamente vidrados um no outro; e como a questão do falso namoro condiciona o seu relacionamento. Sou capaz de querer bater no Chad por desconfiar dela tão facilmente num certo ponto; mas acho piada que eles acabam por se adiantar e se os primeiros a casar, dos três casais. Não fazem nada pela metade.

O terceiro livro mete o irmão mais velho, o Chandler (oh céus, alguém andou a ver demasiado Friends... ou é suposto eu levar este tipo a sério?), que é guarda-costas; e a Alana, que no livro anterior foi a relações públicas do Chad, e que fez uma coisinha desprezível à Bridget (até eu estou zangada, consigo perdoar-lhe quase tudo menos uma certa parte).

Neste livro, a Alana desconfia que tem um stalker, e pede ajuda ao Chandler, que é a única pessoa que conhece e remotamente poderá ajudá-la. Não gostei que o Chandler fosse tão desconsiderado no início, como se a Alana não tivesse razão para ficar preocupada, porque ela estava vulnerável, e o palerma só estava a pensar em tirar as calças. Ugh.

Enfim, a Alana é a pessoa ideal para lidar com ele, aliás, isso aplica-se aos dois, porque são ambos tão mulas teimosas e têm uma personalidade tão difícil que são perfeitos um para o outro.  (Até dela eu acabei a gostar, ao revelar-se na narrativa.) Também achei interessante que ele não tivesse macaquinhos nenhuns em relação a assumir uma relação, e fosse ela a ter problemas de compromisso. É refrescante, a inversão de papéis..

Em suma, foi uma série divertida de acompanhar, girinha, nada que eu morra se não lesse, mas também entreteve e teve os seus momentos bem altos. Fico contente por ter lido, por ter continuado a acompanhar esta autora, porque ela tem sempre umas ideias giras para dar a volta aos seus enredos.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Sonhos Esquecidos, Josephine Angelini


Opinião: Bolas, a Josephine Angelini tem uma sorte dos diabos, que resulta de eu acabar a gostar muito do que ela escreve e de como escreve; porque também faz um par de coisas que escritas por outra pessoa dariam comigo em doida, e a verdade é que geralmente estou demasiado divertida e embalada a ler para me chatear a sério com o que seria um pecado capital nas mãos doutro escritor.

Portanto, tiremos as coisas aborrecidas do caminho primeiro. Alguém me mate com este enredo dos primos. Isto é parvo. Isto é parvo ao quadrado. Ao infinito, até. Por favor, eles não cresceram juntos. Tratá-los como se fosse um crime só vai dar asneira, e empurrá-los para os braços um do outro. Além disso, mitologia grega, anyone? Incesto era o prato do dia. Raios, todas as justificações arranjadas para os separar soam demasiado fracas.

Segunda coisa potencialmente aborrecida. O triângulo amoroso. Depois de ler o primeiro livro fui ler a sinopse do segundo e só a menção de tal coisa me pôs a gritar com uma amiga que me tinha dito "não, não tem nada disso". Pois. Aparentemente temos definições diferentes da coisa. Depois de ler voltámos a trocar ideias sobre o assunto. Ela continua a defender a mesma posição. Eu não consigo ver como não é um triângulo.

Oh well. Não estou chateada. Ao menos valeu-me uma discussão profunda sobre o assunto. Mais ou menos. Eh. De qualquer modo, a coisa distraiu-me do drama dos primos, e de todas as maneiras como se podia desenvolver um triângulo, a Josie consegue fazê-lo da maneira menos irritante possível. Acho que o modo como os acontecimentos se desenvolvem acaba fazer bastante sentido, e não odeio todos os envolvidos, o que é um bom sinal. Até gostei deles e dos eventos do livro.

Terceira coisa chata: na primeira parte do livro, a Helena está completamente desamparada. Eu sei que ninguém tem experiência daquilo que ela está a fazer, mas não há um único adulto entre aqueles que a rodeiam que se coloque em posição de a acompanhar. Nem que seja falar com ela, deixá-la desabafar, sentir que não está sozinha com este fardo. Família Delos, estão a dormir, seus totós? A miúda está a definhar a olhos vistos à vossa frente e ninguém diz nada.

Passemos a coisas mais agradáveis. Já disse, volto a dizer, adoro que a autora escreva as coisas de modo a que os amigos humanos e mortais da Helena, o Matt e a Claire, façam parte do mundo dela. Aliás, eles estão determinados a fazer parte deste mundo, e esforçam-se ao máximo para a ajudar. As partes com eles são dos momentos mais altos da história.

Também gosto da geração mais nova dos Delos, e dos desafios únicos que se lhes põem. A pequena Cassandra dominada pelo Oráculo, e os gémeos Jasão e Ariadne a debater-se com a possibilidade de uma relação com mortais. Acho engraçado o primeiro virar drama queen, sempre nervosinho por causa da Claire, enquanto que a Ariadne se pergunta que raios é que se passa com o Matt, sem perceber que o intimida. O Lucas, bem essa é uma história completamente à parte. E o Heitor, onde é que está o Heitor? Que saudades de o ver às turras com a Helena.

Batendo na mesma tecla, continuo a adorar a adaptação que a autora faz da mitologia grega. Adoro simplesmente a maneira como usa elementos reconhecíveis e icónicos e os mistura com as suas próprias ideias. Fiquei bastante satisfeita com os pedaços de mitologia que vislumbramos neste livro, com os esclarecimentos que obtemos, e gostei de descobrir mais um bocado deste mundo - mas ainda assim estou extremamente curiosa para ver o que se apresentará no futuro.

Focando-me no objectivo principal do enredo, a exploração do Hades para libertar os Rebentos da maldição das Fúrias: epá, eu achei piada a essa parte. Mesmo quando a Helena só estava a enterrar-se mais e mais, sem conseguir avançar, porque certos aspectos do Hades são fascinantes. A demanda das Fúrias é muito curiosa, especialmente pelos passos que tiveram de ser dados para ser realizada.

Voltando à coisa do triângulo: normalmente não consigo evitar odiar toda a gente envolvida, por darem comigo em doida, mas aqui nem tenho coragem para isso, e todos são demasiado adoráveis ou estão com demasiados problemas para eu ter coragem de me chatear com eles. (E a Josephine escreve duma maneira que eu não consigo detestar, só embalar e ir com a onda, e adorar a viagem.)

O Lucas tem demasiados dramas pessoais para gerir, e não está tão presente fisicamente; só tenho pena de não ver mais de como as coisas correram para ele neste livro, porque os desafios que se lhe põem parecem deveras interessantes. O Orion é demasiado boa pessoa para eu conseguir não gostar dele. Passou tanto pela sua vida e mantém uma visão tão bem resolvida das coisas, e ajuda a Helena dum lugar de necessidade, mas também de altruísmo, e acaba por ser o personagem dos três com o percurso que mais gostei de ver.

A Helena, bolas, está demasiado insegura - é irónico e refrescante, como uma "reincarnação" de Helena de Tróia se sente insegura desta maneira - com os seus problemas pessoais; e tem uma demanda tão difícil e geradora de tensão que bem precisa de algo que a distraia, bem como algum tipo de apoio emocional - bem sabemos que os Delos não estiveram lá como eu desejaria. O Orion é uma alminha surpreendentemente descomplicada, o que é ideal. Ela bem precisa de um apoio, e a amizade e carinho e "algo mais" que evolui daí soa pelo menos natural.

A parte final é tão enervante e excitante, porque está tudo a acontecer, mas estão algumas reviravoltas guardadas para nós, e a mitologia, céus, o revirar da mitologia que conhecemos, e até do que foi estabelecido antes no livro, é fantástico. Conhecemos interpretações de personagens mitológicos mesmo interessantes. A maneira como os eventos se voltam contra a boa vontade da Helena é bem montada. E aquilo que vislumbramos do que está para vir, aquilo que é sugerido que pode vir a acontecer? A perspectiva é bastante animadora e emocionante.

É o que eu digo, eu não sei o que é que a Josephine Angelini faz, mas é tipo droga, uma pessoa fica viciada, lê, lê, lê e vira páginas atrás de páginas; escreve duma maneira que parece simples, sem esforço, o que provavelmente dá mais trabalho que se lhe daria crédito; e tem uma qualidade de escrita em que consegue escrever coisas bem dramáticas, com potencial para descambar até, mas sai-lhe tudo tão bem, tão certinho e tão envolvente e tão fascinante. É coisa para me deixar vidrada.

Título original: Dreamless (2012)

Páginas: 368

Editora: Planeta

Tradução: Inês Castro

sábado, 19 de dezembro de 2015

Curtas BD: Batwoman, Giant Days, Batgirl, Alias

Batwoman vol.5: Webs, Marc Andreyko, Jeremy Haun, Trevor McCarthy, Guy Major
Bem, não sei bem o que dizer. Quero dizer, não há assim tanto a dizer, na verdade. Depois do drama que fez a equipa de criadores anterior sair (estavam a levar a história da Kate para um casamento gay, mas a DC pôs um travão a esses planos, "porque os super-heróis não têm vidas felizes", sim, pois, foi mesmo isso que aconteceu), entra uma equipa nova, e apesar de eu acreditar que tentaram fazer o seu melhor, a história pareceu-me... meh. Nada de especial.

Com a equipa anterior, a história teve os seus altos e baixos, até a manter a minha atenção, mas a arte era fantástica e era isso que me mantinha interessada. Aqui nem tenho isso. Parece passar de cavalo para burro, sem querer desmerecer os artistas (há uma boa lista deles), mas parece que passámos dum veterano para um puto que começou a desenhar agora. Há apontamentos curiosos, mas o desenho é bastante desajeitado em partes, com as proporções todas estranhas.

Em termos de história, o primeiro número fecha o cliffhanger do livro anterior, mais ou menos com sucesso, mas suponho que esperava algo mais... grandioso. Eles usaram muitos dos elementos dos enredos anteriores, e ainda bem, mas não me impressionou. O segundo número é do evento Zero Hour, em jeito de prequela e história de origem. Bem, pelo menos é menos aborrecido que o da Batgirl. Achei-o mais excitante, se bem que é bizarro fazerem um retcon em que a Kate é prima do Bruce Wayne. Eh.

O restante da história é bastante simples, até simplório, mesmo. O Wolf Spider é um "vilão" que se vê a milhas quem é, e o grande mistério é porque raios a Kate não descobre isso. Depois temos uma história com... vampiros, que até é engraçada, e mais um cliffhanger, ugh, com uma vilã tipo viúva negra, que casa com homens ricos e os mata... e a Kate cai-lhe nas garras. (Como se isso acontecesse tão facilmente.)

Apreciei que a Bette continuasse a fazer parte da história, se bem que intermitentemente, mas senti falta do General Kane e do apoio que fazia às missões delas; e preferia que a Beth/Alice não desaparecesse de cena, que ainda falta lidar com os problemas dela. A coisa para "separar" a Kate e a Maggie até faz algum sentido, é uma consequência da vida dela, mas em luz de como as coisas correram, também é frustrante. Até a coisa do psicólogo faz sentido, tendo em conta a vida dela, mas não houve cenas anteriores suficientes que sugerissem isso, por isso quando aparece parece que veio do nada.

Enfim. Vou ler o último volume (só há mais um, porque depois do drama e da quebra de qualidade, é claro que as vendas caíram), eventualmente, mas mais por lealdade à Kate do que por genuíno interesse para ver como tudo acaba. Com a minha sorte, vai dar asneira.

Giant Days vol. 1, John Allison, Lissa Treiman
Oh, céus, isto é adorável. Giant Days segue três jovens, Susan, Esther e Daisy, que começaram a faculdade há três semanas. As três navegam os dramas da sua vida escolar e social numa BD em estilo slice of life.

Gostei bastante do modo como as histórias são contadas. Ao que sei, o argumentista trabalha em webcomics, e creio que se nota, porque mesmo dentro de cada número incluído neste livro são contados vários episódios, e não há necessariamente um fio narrativo que liga uma página à seguinte. (Mas há um tema narrativo que liga o número todo.)

Apreciei conhecer as três raparigas, elas têm personalidades diferentes e a caracterização é muito boa, mostrando-nos o que as faz funcionar; são personagens tão giras e engraçadas, cada uma à sua maneira. Aliás, até o elenco secundário é fantástico e cativante, só com um par de cenas e revelam-se ao leitor.

Com um tom divertido, o autor fala de muitas situações diferentes, algumas mais sérias, outras menos. Diverti-me imenso com o número em que elas apanham gripe, mas também gostei de ler o número em que a Esther aparece numa lista de "miúdas boazonas do primeiro ano" e como as meninas enfrentam os machistas de segunda categoria responsáveis.

A Daisy está num processo de descoberta e gostei do que vi até agora. E estou super curiosa para ver como o confronto Susan-McGraw vai evoluir. (Se bem que acho totalmente estranho o bigode dele. Parece um homem muito mais velho, o que é super estranho porque é suposto ser um estudante universitário.)

A arte é tão fofa, super cartoonesca e muito adequada à história, com montes de expressões engraçadas e bem trabalhada. Oh, e tenho de dizer, adoro que o cenário seja uma qualquer escola no Reino Unido. É uma mudança de cenário bem vinda.

Batgirl vol. 5: Deadline, Gail Simone, Fernando Pasarin, Jonathan Glapion, Robert Gill, Javier Garrón
Este volume faz um mix de histórias, várias standalone e uma que termina um arco de história começado alguns volumes atrás, o do grupo Knightfall; e por isso não tem uma linha narrativa coesa, o que por si é uma força e uma fraqueza.

Fraqueza porque algumas das histórias têm ligação com "eventos" que acontecem noutras revistas, e se às vezes a história funciona sozinha, outras nem por isso, e no caso das duas que aparecem neste volume, muita coisa fica em suspenso. Além disso, há acontecimentos extra-história nas outras, como uma menção do comissário Gordon estar preso, e isso nem sequer é explicado nestas histórias.

Força porque até passei um bom bocado a lê-las. A primeira faz parte de um evento, Gothtopia, em que em jeito de utopia distópica, Gotham é uma cidade em que o crime não existe, e existem versões da Bat-família todas... benévolas e vestidas de branco. A Batgirl chama-se Bluebelle, e a felicidade sem rédeas dela até parece desconcertante (até caí para o lado ao vê-la dizer que adora a Charise), mas são visíveis as falhas neste mundo, e a Barbara vai encontrá-las.

As duas histórias seguintes são paranormais em tom e apropriadamente ominosas e com atmosfera. A primeira traz de volta uma das assassinas Talon, Strix, que ajuda a Batgirl num caso de vampiros (sim, isso aconteceu) em que há um caçador de vampiros à solta, um tipo doido convencido que os morcegos protectores de Gotham são... vampiros. (Como é que Gotham atrai os loucos todos?)

A segunda história pega numa lenda urbana de Gotham, e é cativante pela narração da Barbara. A seguir vem uma história sobre a Poison Ivy e o tempo em que trabalhou com a Batgirl e as Birds of Prey (outra que confia demasiado em que tenhamos lido fora destes livros) - e curiosamente, até gostei bastante de ler esta visão da Ivy. Tive pena de não ter lido mais dessas histórias com ela, e achei fascinante a relação dela com o que a rodeia.

Há uma história com um vilão, o Ragdoll, que é apropriadamente arrepiante, e faz de ligação entre a anterior e a seguinte. Que, finalmente, é a história que fecha o enredo com Knightfall. (Já vai tarde. A Charise já estava a irritar.) É um pouco grandiosa a mais, parece que tem de haver sempre um evento em que montes de personagens deste mundo têm de aparecer para ajudar a salvar o dias, mas que só aparecem como figurantes, praticamente. De qualquer modo, a história é bem gira por juntar a Batgirl com a Black Canary e a Huntress, que ao que entendo ainda não tinha aparecido no universo New 52.

Por fim, uma história do evento Future's End, que mostra a Barbara dali a 5 anos. A motivação é um pouco forçada, no sentido em que não consigo vê-la realmente a fazer aquilo e a acontecer-lhe aquilo daquela maneira, mas enfim. A Barbara cheia de esteróides dali a 5 anos é um pouco estranha, e a relação dela com o Bane ainda mais, mas admiro-lhe a determinação. E a história é gira e ganha pontos porque com ela trabalha a League of Batgirls, em que assumem o manto as meninas que já foram a Batgirl, a Stephanie Brown e a Cassandra Cain, juntando-se a elas a Tiffany Fox.

Jessica Jones: Alias vol. 1, Brian Michael Bendis, Michael Gaydos
Li este livro num virote e diverti-me à brava. Céus, a Jessica Jones é uma personagem fascinante. Cheia de problemas, uma perspectiva lixada da vida, um trabalho complicado. E gostei mesmo de a ler.

Gostei mesmo de como o livro é escrito; há uma qualidade nele que o torna devorável. O tom é escuro, mais sério que o normal para a editora ou os livros de super-heróis. Mas é mesmo o meu tipo de história. Soa a Veronica Mars, uma das minhas coisas favoritas, apenas mais adulto.

O livro tem dois arcos de história. O primeiro envolve uma conspiração e uma morte em que a Jessica se vê envolvida, e quanto mais escava, mais assustada fica com a motivação dos perpetradores. O curioso é que a Jessica não pensa grande coisa dela própria, mas é ela que toma a atitude correcta no meio de tudo.

A segunda história envolve uma espécie de sósia de um personagem relativamente conhecido no meio dos super-heróis, e achei engraçado o modo como a Jessica lidou com a situação. Não resistiu a ajudar, e a preocupar-se, e apesar de as coisas terem uma reviravolta inusitada, manteve a mesma atitude.

A arte é um pouco estranha, mas entranha-se, suponho. O planeamento das páginas em vinhetas é interessante o suficiente para manter a atenção.

domingo, 13 de dezembro de 2015

Harry Potter e o Cálice de Fogo, J.K. Rowling


Opinião: Normalmente não costumo dizer que tenho favoritos entre os livros desta série, porque todos acabam por ser significativos à sua maneira, seja porque marcaram o meu percurso como leitora, e porque me lembram partes diferentes da minha vida, seja porque acabam todos por ter a sua importância para a evolução da série - não consigo dizer que um livro seja inútil, ou menos importante para o decorrer das coisas, porque esta senhora era genial e desde o início que andava a plantar coisas para os livros seguintes.

Contudo, tenho uma certa inclinação por ler este livro, e o seguinte, também. Céus, as coisas ficam tão sérias, tão depressa. Não é que não houvesse perigo antes, mas os personagens eram mais jovens, o tom dos livros era mais descomplicado, e conseguia-se resolver as coisas no final do livro. Terminava tudo enbrulhadinho com um lacinho muito bonito.

O fim deste livro é absolutamente deprimente. Eu nunca fico chocada com a parte da morte, porque acontece demasiado depressa, e uma pessoa não tem tempo para o choque; mas com o que vem a seguir. A perda de inocência, a sensação de que nada vai ficar bem novamente. O Harry naqueles capítulos finais está tão entorpecido emocionalmente, porque enfrentou algo que nenhum miúdo de 14 anos merece enfrentar, porque alguém com esta idade não pensa que vai morrer, nem vê um dos seus pares morrer à sua frente. É mesmo... pesado.

Além disso, cada vez tenho mais razões para ficar, hmmm, desapontada com o Dumbledore. Os pormenores de como as coisas decorrem no último livro estão um pouco desfocadas nas minhas cabeça, mas creio que ele põe o Harry num caminho que sabia como ia terminar, e nunca o prepara para as decisões perturbadoras que ele tem de tomar. E o Harry aqui mostra que é capaz de as enfrentar. Ele essencialmente pensa que vai morrer, mas enfrenta o Voldemort de qualquer modo, sem esperar que algo o salve. Again, nada que alguém com esta idade devesse enfrentar.

Ok, passemos a coisas mais bem humoradas. Uma coisa que gosto mesmo neste livro é o Torneio dos Três Feiticeiros. Muda um pouco a configuração do ano lectivo, o suficiente para manter as coisa interessantes, adoro seguir as três tarefas e as peripécias que envolvem descobrir o que são as tarefas; e aprecio tanto conhecer estudantes de outros países. De certo modo os livros passarem-se na escola de Hogwarts reduz um pouco a nossa perspectiva sobre o mundo mágico, e é bom ver outros países e outras culturas, outros modos de fazer as coisas. (É por isso que também adoro a Taça Mundial de Quidditch.)

Mais um destaque: o modo como começamos a vislumbrar os acontecimentos do passado, porque isso é super interessante. Percebemos como o Voldemort chegou ao poder, as consequências de ter sido derrotado, e começamos a descobrir jogadas de bastidores, dramas pessoais, pequenos segredos que têm um impacto tão grande. Sempre adorei este aspecto nos livros.

Oh, e tenho de dizer, ler o livro sabendo o que se passa com o Moody? É tão arrepiante e excitante. Todas, e digo mesmo todas, as interacções que ele tem com os outros personagens são reavaliadas. O interesse que ele tem em que o Harry avance no Torneio. A maneira como ele mostra as Maldições Imperdoáveis à turma, especialmente a Cruciatus, tendo em conta o que aconteceu aos Longbottoms, e como ele se mostra amigável com o Neville! Ugh, pobrezinho, apetece-me dar um abraço ao Neville, sabendo que teve à frente esta pessoa que lhe causou tanto mal.

Outras coisas divertidas deste livro: Rita Skeeter. Céus, quantos sarilhos esta alminha causou. Os choques culturais e sociais com os alunos de Durmstrang e Beauxbatons, que nos faz vê-los às vezes de modo menos abonatório, e os pobres não têm culpa. Os dramas do Ron, primeiro com o Harry, depois com a Hermione, e a coitada tem de aturar hormonas aos saltos durante bastante mais tempo do que merece.

A este ponto a Hermione amadureceu, bem mais cedo que os rapazes, e largou aquela queda para sabichona irritante. Ela é mais sabedora, sim, mas não se exibe, e faz tudo para ajudar nas tarefas do Torneio. Apesar de ter direito a revirar os olhinhos quando o Ron ou o Harry estão a ser obtusos e ela tem de explicar tintim por tintim, especialmente quando se fala de sentimentos. Além disso, ela sai da sua zona de conforto, e é cortejada por um rapaz aparentemente bastante desejável no mundo feiticeiro, o que gera alguns momentos giros e interessantes. Ah, gosto mesmo da Hermione, agora que ela já cresceu e passou a fase mais stressadinha.

Oh, e tenho a dizer, finalmente encontrei uma prova que estes livros tiveram uma revisão, por mínima que tenha sido! Na edição inicial do livro, quando saiu em português, há uma altura em que o artigo difamador da Rita Skeeter sobre a Hermione sai, e o Ron diz algo do género "ela faz-te parecer uma... mulher escarlate".

O que para o meu pequeno cérebro de 11, quase 12 anos foi algo confuso, porque tinha a certeza de que não havia tal expressão em português, e porque raios é que iam meter tal coisa no livro se em Portugal não falamos assim. Meu pobre inocente cérebro ainda não marcado para asneiras nas traduções. Eu percebi o sentido da frase, mas não porque é que o Ron se exprimiria assim. Acho que percebi também que o tradutor/a (a equipa, na verdade) era um palerma e tinha feito mal o seu trabalho.

E pronto, aqui temos o meu primeiro encontro de terceiro grau documentado com uma má tradução. E aonde eu queria chegar, é que nesta edição mais recente, com a capa que está ali em cima, o Ron diz "desavergonhada". Ok, não era o que eu escolheria (não sei qual é o original, mas "vadia" seria interessante), mas serve.

Ok, no próximo mês, guess what? Vou ler o livro mais longo da série! E o mais dramático, também, de certezinha absoluta. Adoro a louca da Umbridge. Vai ser tão divertido.

Título original: Harry Potter and the Goblet of Fire (2000)

Páginas: 592

Editora: Presença

Tradução: Isabel Fraga, Isabel Nunes, Manuela Madureira

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Winter, Marissa Meyer


Nota: lido em leitura conjunta com a Joana do Leitora de Fim de Semana.

Opinião: Há livros para os quais é bastante difícil escrever uma opinião, e muitas as razões pelas quais isso pode acontecer. O livro pode fazer parte duma série favorita, ou ser dum autor favorito. Pode até ser o último dessa série, e ser algo complicado dizer adeus. Pode ter tudo o que esperávamos e tudo o que não sabíamos que queríamos. Pode ser longo como nunca se leu, e mesmo assim estar cheio de reviravoltas e razões para continuar a ler, e pode mesmo assim ter parecido curto, de tanta coisa que contém, e mesmo assim tanta coisa que podia ainda ter.

Se ainda não é óbvio com todo este palavreado, é claro que estou a falar do Winter. Passei tanto tempo a suspirar por este livro, a desejar lê-lo, a criar expectativas, que quando me chegou até tinha alguma relutância em começar, porque como é que o "filme" que eu tinha feito na minha cabeça podia ser comparável com a realidade?

Creio que é nisso que a Marissa Meyer se tornou mesmo boa. Ela tem vindo a manter o equilíbrio narrativo por quatro livros, aumentando a cada um os POVs que acompanhamos, e aumentando o alcance da história, e a quantidade de coisas que tem de ter no enredo para a narrativa fluir e concluir satisfatoriamente - e acho que posso dizer que ela fá-lo neste livro duma maneira fantasticamente impressionante, praticamente sem vacilar.

Há pequenas imperfeições, claro; por um lado podemos argumentar que a narrativa podia ser mais curta (o livro tem 800 páginas) - contudo, simplificar a narrativa seria um demérito que se lhe fazia, e à capacidade da Marissa introduzir reviravoltas e acção a cada canto; por outro, acho que podia dizer que mesmo assim o livro não é longo o suficiente.

Podíamos ter facilmente dois livros disto, e desenvolver certos pedaços da narrativa - coisas que a Marissa introduz, porque faz sentido serem introduzidas, para o desenvolvimento dos personagens e do enredo, mas que fiquei a sentir que podíamos espremer muito mais sumo dali, se tivéssemos mais espaço. 

Não me importava nada de ter outro livro, afinal só tivemos um livro passado em Luna, e a sociedade Lunar é tão fascinante que podíamos bem ter mais um. (Agora pergunto-me é qual o conto de fadas que a Marissa poderia recontar nesse quinto livro...)

Por falar no recontar de contos, tenho adorado a maneira como a Marissa o fez. Não segue à risca a história original, porque isso não faria sentido neste mundo, e de qualquer modo não seria desafiante, mas depois faz uma homenagem aos momentos icónicos dos contos em que se inspira, e oh, é brilhante. Tem-no sido até agora, e aqui volta a sê-lo.

Aprecio deveras a relação da Levana com a Winter, a forma como a sociedade Lunar condiciona os comportamentos delas e como isso se relaciona com o conto, e quase perdi a cabeça (no bom sentido) ao reconhecer os momentos da maçã envenenada e do caixão de vidro. (Tal como me aconteceu com o momento "mas que orelhas tão grandes tens tu, avó" do Scarlet...)

E agora, o que é que eu digo mais, que seja minimamente coerente? Gostei mesmo de acompanhar a história em Luna, conhecer melhor o, er, corpo celeste que tanto trabalho tem dado aos nossos protagonistas. As coisas são mesmo más na sociedade Lunar, o modo como os regentes têm forçado a estratificação em classes, e como têm isolado os vários sectores de Luna de forma a que as pessoas se mantenham mergulhadas no medo, ao mesmo tempo que produzem para benefício de uns poucos escolhidos. Talvez um pouco por ter acabado de ver o segundo filme do Em Chamas, mas sim, a sociedade lembra-me a do mundo da Suzanne Collins - talvez também porque através desse terreno comum se pode fazer uma crítica à sociedade dos dias de hoje.

O casal protagonista desta vez é o par Winter, a princesa enteada da rainha Levana, e o Jacin Clay, o guarda real que se tem metido num monte de sarilhos. Quando a história começa eles já são completamente dedicados um ao outro, o que calculo que não é totalmente inocente da parte da Marissa. Num livro tão grande e tão cheio de outros acontecimentos e personagens, facilita o desenvolvimento do romance, até porque já tivemos algumas pitadas deles anteriormente.

De qualquer modo, achei-os tão giros, naquela dedicação e ao mesmo tempo negação toda. A Winter não avança porque não se acha merecedora, já que a sua recusa em usar os poderes Lunares fá-la ter frequentemente alucinações e visões. O Jacin não avança porque, bem, a moça é uma princesa, como é que um mero guarda real vai ter hipóteses?

E no entanto, a cumplicidade entre eles está lá, e a dedicação mútua é impressionante. Da parte do Jacin, especialmente, que fez um monte de asneiras só para voltar para perto dela, e continua a fazer tudo para mantê-la a salvo. A cena em que ele assume o papel do caçador do conto original é assombrosa.

Quanto à Winter em si, gostava muito de a destacar pelas suas convicções firmes e a sua determinação em manter-se a elas. Ela tem muito boas razões para não usar os seus poderes, e por mais que seja difícil, por mais horrível que seja lidar com as visões e não poder ser capaz de confiar no próprio discernimento no que toca ao que é real ou não, ela não desiste. É preciso um tipo muito particular de força interior, e gosto mesmo dela por isso.

Quanto aos outros casais, epá, toda a gente é adorável. É uma coisa que a Marissa tem feito muito bem, fazer-nos fãs deste pessoal à primeira página e obrigar-nos a torcer por eles a cada página. (E não digo só romanticamente, na verdade, mas também quanto às relações de amizade que se estabelecem, e quanto aos objectivos que os personagens têm nesta saga.)

Achei interessante ver a Scarlet passar bastante tempo com a Winter, porque a Scarlet tem uma personalidade muito pragmática, e ser obrigada a lidar com os devaneios da Winter é um desafio para ela. Por outro lado, o Wolf, coitado do rapaz, continua a sofrer como ninguém, primeiro pela separação da Scarlet, depois por uma coisa que lhe acontece e que ele temia que viesse a acontecer. Até é daqueles detalhes que eu gostava de ver mais desenvolvidos, porque não vemos exactamente como ele se sente acerca disso, e como o vai condicionar a partir de agora.

A Cinder e o Kai sempre foram bastante fofos de acompanhar (e têm um sentido de humor partilhado que eu aprecio), mas na verdade a vida e as escolhas deles não são inteiramente livres, pelas responsabilidades que têm ou virão a ter, e o contraste entre a posição e a postura dos dois é fascinante de explorar.

O Kai passou a vida toda a ser preparado para este tipo de responsabilidade, e foi isso que guiou as suas atitudes até agora, mas neste momento em que a Levana está tão perto de ter o que queria, isso dá-lhe uma certa liberdade, e é delicioso vê-lo mandar tudo às urtigas e criar uma certa resistência passivo-agressiva para dar com a Levana em louca, e pronto, é tão divertido. Não há muito que possa fazer nas circunstâncias dele, mas ao menos pode dificultar as coisas o mais que consiga.

A Cinder, bem, até tenho um pouco de pena dela. Sempre me pareceu bastante discreta, e do tipo de pessoa que apreciaria bastante estar sossegada no canto dela, sem ninguém a aborrecê-la, mas não é isso que lhe está destinado; e ao contrário do Kai, ela não tem qualquer experiência ou preparação. As atitudes dela não vêm dum desejo concreto de melhorar Luna, nem de amar o seu, hmm, país, porque ela não conhece Luna, nunca viveu lá, nem se lembra nada daquilo.

Vêm, obviamente, de um desejo de auto-preservação - a chata da Levana continua a insistir em tentar matá-la -, mas vêm também dum lugar ideológico, de sentir que está a fazer a coisa certa, de achar que faça o que faça, de certeza que há de ser melhor que a Levana (o que não é assim tão difícil como isso) - é algo menos concreto, mais esperançoso, menos calculista e mais inocente, e por isso até gostava de ver mais momentos com ela no novo status quo, enquanto se adapta às coisas.

A Cress e o Thorne, oh céus. Adoro toda a gente, mas tenho uma ligeira preferência por estes dois. É tão fascinante contrapor a inexperiência da Cress à atitude mundana e descomplicada do Thorne; porque mesmo assim, ele está pelo beicinho, e é uma coisa que não se torna aparente até quase demasiado tarde.

Achei tão divertido ver a Cress separar-se do grupo, não pelo acontecimento em si, que foi preocupante, mas porque isso deixou o Thorne tão mal-humorado, assim num tipo de atitude quase semelhante à do Wolf sem a Scarlet. O Thorne, a amuar. Que perspectiva hilariante. (Isso e o Kai a fazer de psicólogo e a tentar pôr-lhe juízo naquela cabeça.)

Além disso, eles os dois são o casal que sofre mais com as manipulações Lunares, ao ponto de eu me pôr a gritar para o livro, tanta era a preocupação. Mas no fim, achei tão adorável a maneira como as coisas se desenvolveram, como as experiências deles mudam a sua perspectiva mais no fim, porque me dá maior confiança no futuro deles.

O livro está cheio de reviravoltas, como num jogo de xadrez, e como disse ali em cima, se o livro fosse mais curto, as coisas tinham de ser mais simplificadas, e pareceria demasiado fácil para os nossos heróis. A recta final, então, as últimas 200 páginas, foram uma tortura. Graças aos poderes Lunares, tivemos demasiados momentos de roer as unhas, e que deixavam uma pessoa na dúvida de aonde aquilo ainda ia parar.

Quanto à Levana, continua louca da cabeça, como sempre, e isso é que é cativante de observar. Ela acredita genuinamente que está a fazer o melhor para Luna e para as gentes Lunares. E que gerir as coisas com mão de ferro é a melhor maneira de avançar Luna.

A maneira como os heróis fazem a Levana perder a compostura (porque só assim para ter uma hipótese de a derrotar) é a mais óbvia e a mais simples, tendo em conta de onde ela obtém o seu poder, mas ao mesmo tempo deu-me um bocado de pena. Não é crime nenhum ser assim, como a Levana é (não falo da parte psicológica, porque aí devia ser crime ser uma psicopata), e não é o fim do mundo. Só que é o poder que a Levana dá a isso que a desfaz.

Ah, vou ter tantas saudades disto. Tive meia-dúzia de capítulos no fim a fechar a história de toda a gente, mas mesmo assim, soube-me a pouco. Quero saber o que vai ser daqui para a frente, para esta gente toda. Passei tanto tempo investida em torcer pelo futuro deles, que queria saber mais sobre esse futuro.

Para me contentar, ainda tenho felizmente um livro de contos da série, a sair em Fevereiro, se não me engano, e parece que até tem um epílogo à história, coisa que me deixa brutalmente curiosa. Era mesmo o que eu queria ler.

Páginas: 832

Editora: Feiwel & Friends (MacMillan)

domingo, 6 de dezembro de 2015

Todos Devemos Ser Feministas, Chimamanda Ngozi Adichie


Opinião: Um pequeno livro curtinho, mas grande em conteúdo. Uma adaptação de uma TED Talk dada pela autora (também vi o vídeo, para me preparar para esta opinião), não apresenta diferenças significativas, fora os ajustes necessários de passar uma apresentação em público para um texto escrito.

E o que posso dizer disto? Principalmente, que sei que hei de vir a ler esta escritora novamente, porque gostei muito de como ela desenvolve e apresenta as suas ideias. Juntando um conjunto de histórias e "anedotas" da sua experiência pessoal, mostra como o tema em questão é importante. É uma apresentação simples, mas poderosa por isso mesmo, pela simplicidade dos momentos, da sua omnipresença na vida diária, mesmo que percebamos o quão errados soam.

O livro junta ainda um conto da autora, "Os Casamenteiros", que eu apreciei por retratar uma situação tão distinta da minha experiência de vida, e por retratar uma personagem fora da sua zona de conforto, exposta a uma nova cultura, a como as coisas são feitas de maneira diferente do que está habituada. Gosto de como termina de forma inacabada, pois isto é só o inicio para esta pessoa.

Título original: We Should All Be Feminists (2014)

Páginas: 112

Editora: Dom Quixote

Tradução: Simão Sampaio