segunda-feira, 6 de junho de 2016

Uma imagem vale mil palavras: Alice Through the Looking Glass (2016)

Andei uma data de tempo a navegar na tag desta rubrica (as memórias...) a tentar descobrir se alguma vez tinha opinado o primeiro filme destes dois. Era pouco provável, o filme estreou em 2010, que foi quando comecei o blog e esta rubrica só começou mais tarde, se bem me lembro. Mas nem sempre opino a seguir aos filmes saírem, e por isso não é linear.

Pois bem, o que acho piada a estes filmes é que apesar de partilharem os títulos dos livros, são mais a modos que sequelas deles. Acompanham uma Alice mais velha, praticamente adulta, a voltar a Wonderland - porque sim, as visitas descritas nos livros aconteceram, e os filmes assumem-nas como prequelas deles, usando os conceitos e o mundo descritos da sua própria maneira, mas reflectindo ligeiramente os livros cujos títulos usam.

Nesta história, a Alice passou, depois do filme anterior, alguns anos a explorar, como sonhava, e volta a Londres para encontrar a sua vida de pantanas. Culpando a passagem do tempo, Alice vai saltar oportunamente para Wonderland, onde descobre que o Chapeleiro está a desaparecer, devido ao peso de um problema familiar não resolvido; e Alice quer ajudar, mas não sabe o que fazer - depressa se colocando no encalço do Tempo, esse ser elusivo que a pode ajudar em mais do que uma maneira.

Provavelmente a maneira como a história é lançada é um pouquinho frágil, porque toda a coisa se baseia no Chapeleiro ver uma coisa que o faz pensar na família e na situação não resolvida que tem com eles, e meter na cabeça que podem estar vivos; e depois a Alice mete-se a tentar ajudar, e a resposta é-lhe dada de bandeja (pedir ajuda ao Tempo), e depois - mesmo tendo sido avisada pelo Tempo que não pode fazer aquilo e que vai correr mal e vai dar cabo do contínuo espaço-tempo - a Alice vai fazê-lo, o que me pareceu algo egoísta e pouco justificado porque não achei o problema do Chapeleiro credível. Hmmm.

Passando à frente disto, acabei por gostar de como as coisas se desenrolaram. Acho sempre piada a ver como histórias de viagens no tempo se desenvolvem, e a maneira como a Alice volta atrás, e vai parando em locais encadeados e percebe que tem de voltar mais atrás, mas ao mesmo tempo vê que a sua presença não muda o curso das coisas... gostei de ver.

Além disso, adorei o conceito do Tempo como personagem, ver o "espaço" que habita, como aquilo funciona... e morri a rir com o filme tentar usar todas as piadas e mais algumas que se podia lembrar com o tema Tempo. Muito bom. (Gosto da ligação da cena na mesa do chá com a cena correspondente no primeiro livro da Alice. Fiquei tão triste por perceber que eles ficaram ali, presos, até a Alice lhes aparecer.)

Desta vez acho que gostei mais do filme em si, da história, e até do design. Que segue a linha do anterior, mas os conceitos são mais de encontro aos meus gostos, e por isso... não me recordo de ter amado de paixão o filme anterior, mas agora que li os livros consigo apreciar melhor este e identificar-me mais com ele.

Visualmente, o filme é fantástico (não posso comentar o 3D, porque não fui ver), gosto imenso das cores, do trabalho na criação do espaço do personagem Tempo, da roupa da Alice (tão estranha, mas entranha-se), do local da Rainha Vermelha e dos seus habitantes...

Só uma última coisa, porque vejo acontecer demasiadas vezes e irrita-me solenemente, e vi aqui acontecer novamente, com os créditos e o marketing feito e tudo o mais... Hollywood, nós não somos burros. Se um actor famoso/conhecido/adorado está num filme, e estamos interessados em vê-lo, nós somos capazes de notá-lo sem nos esfregarem isso na cara a cada momento. Torna-se especialmente irritante e parvo quando o papel do actor é marginal ou nem sequer é protagonista.

Sim, Hollywood, estou a ficar enjoada da vossa paixão imorredoura pelo Johnny Depp. Pior, estão a começar a fazer-me odiar a cara dele, porque está espetada em todo o lado, e eu não preciso mesmo de o ver a cada momento que passo com os olhos abertos. Provavelmente conseguiam vender metade dos filmes com ele sem ter de nos lembrar que ele lá está a cada minuto; e já que estamos nisso, parem de lhe dar todos os papéis esquisitóides que vos aparecem. Tenho a certeza que ele não precisa de ficar preso a esse estereótipo. E eu vivia mais feliz se não tivesse de ranger os dentes por ver a mesma coisa pela milionésima vez. E pronto, vamos terminar por aqui, já me queixei do que tinha a queixar, e não quero ficar mais irritada.

5 comentários:

  1. Essa cena da mesa do chá foi muita gira. Eu estava a ficar entusiasmado que o grupo estivesse junto a tentar salvar a família do Chapeleiro e ocorreu-me "mas, 'pera aí, não era suposto eles terem ficado presos na mesa do chá? Quando é que ela foi ter com eles libertá-los?" e, pois, é claro que isso acontecera no primeiro filme. É um momento verdadeiramente brilhante.

    (consigo imaginar que ficassem malucos à mesa, estiveram um tempão à espera!)

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    1. Quando percebi que eles ficaram ali presos até a Alice ir ter com eles pela primeira vez, quando todas estas aventuras começaram para ela... bem, foi mesmo brilhante na maneira como o introduziram, e tão triste. Eu dava em doida de ficar ali aquele tempo todo, sem poder sequer comer a refeição do chá.

      Eh, talvez seja por isso que o Chapeleiro ficou Louco. xD

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    2. Estou aqui a pensar: por se ter tornado Louco nessa cena, abre-se espaço a um paradoxo, não será? A loucura do Chapeleiro é o que mais atraiu a Alice, é "aquilo que o torna... ele" e ela, vinda de um serão com chá enfadonho com tias, naturalmente que tenha achado refrescante encontrar pela primeira vez aquele grupo louco noutra mesa de chá. Tornaram-se amigos.
      Anos mais tarde, ou melhor, anos mais cedo, está a Alice no passado a pedido dos seus amigos para salvar o Chapeleiro. É perseguida pelo Tempo, e é por este ter sido ludibriado por ela e por eles que o Tempo decide aprisioná-los numa “bolha temporal”. Os anos passam e a loucura intensifica-se.
      Portanto, penso que podemos dizer que foi ela que o tornou louco (estou a esticar-me um bocadinho aqui). Por isso pergunto-me: Ela tornou-o louco por ser amiga ou é por ele ser louco que ela tornou-se amiga? Se não fosse louco, ela o acharia enfadonho e não seria amiga. Se não fosse amiga, não teria ido ao passado e ele não ficava louco.
      Como o Tempo disse que não é possível mudar o passado, e pelo que fui dado a ver o Chapeleiro não era especialmente louco mas apenas dado a risadas, acho que os acontecimentos aconteceram exatamente ao mesmo tempo, pese embora os anos que os distanciam.
      Bem… se calhar estou a ver algo de forma errada. Parece-me uma boa questão para eu levar para a cama caso pretender perder o sono…

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    3. See? É por isso que eu gosto de histórias sobre viagens no tempo, os paradoxos resultantes são sempre deliciosos. :D

      Acho que neste exemplo que destacas gosto de pensar que a Alice sempre esteve destinada a viajar no tempo. Ela não pode mudar o passado, porque o passado já contava com a presença dela para causar aquele embate entre o Tempo e o Chapeleiro, e potenciar a loucura dele. Portanto, a relação entre loucura e amizade acaba por ser uma pescadinha de rabo na boca: ela é amiga dele por ser Louco, mas foi ela parcialmente a responsável pela sua loucura.

      Por outro lado, podemos pensar que ela estar no passado não muda nada, como o Tempo defende, e portanto a presença dela é indiferente para criar este evento, algo iria sempre provocar a permanência do Chapeleiro à mesa e provocar a loucura dele. Portanto... ela não tem mão na criação da loucura do amigo? E lá se foi a minha pescadinha de rabo na boca?

      Oh, céus. Isto faz sentido? Acho que o paradoxo me empurrou para outro paradoxo. xD

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    4. Ora essa é uma perspectiva que muda o jogo, se ela teve influência ou se não teve. Quando se fala em Destino começo a perder a imagem geral :p
      Creio que, quando algo sai do seu lugar, o destino possa ser capaz de mover outra coisa, em acção contrária, para que tudo entre nos trilhos. Por isso podemos dizer que ela foi a responsável por levar o Tempo ao passado mas já estava destinado o Chapeleiro ficar louco. Houve uma resposta contra a entrada do Tempo, o resultado foi a loucura, apesar de estar destinado… Ai, não sei mesmo!
      É esmagador para mim imaginar todas as possibilidades e encruzilhadas de que o destino foi capaz de desenhar. Seria mais fácil desenhar um ponto de partida e “vocês façam o que quiserem que eu fico aqui com o meu pacote de pipocas”.
      Acho que o Destino é o irmão mais velho do Tempo, e foi mauzinho em escrever a cena com as piadinhas com o tempo :)

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