sábado, 30 de setembro de 2017

Este mês em leituras: Setembro 2017

Ah, que mês. Que inércia. Não tinha ainda as novidades do mês à mão, e uma preguiça apoderou-se de mim no que toca a leituras... acabei por ir para a banda desenhada, as releituras, e as leituras de livros que tinha há muito na pilha, sobre séries de TV que seguia/sigo. As opiniões também me saíram com mais dificuldade devido a essa mesma inércia; mas o bom da coisa é que são opiniões curtas e condensáveis em poucos posts. Fica-me pouca coisa por publicar. Ainda bem, mas que venha um Outubro (e Outono) mais frutuoso.

Livros lidos


Opiniões no blogue


Os livros que marcaram o mês

  • O Covil dos Lobos, Juliet Marillier - porque é a rainha e mestre no que faz. (P.S.: Jane Austen também marcaria o mês, porque é uma favorita, mas parece batota, já que é uma releitura.)

Aquisições

Banda desenhada do mês: colecção Graphic Novels da Marvel, que finalmente está em dia no que toca a entregas; e as revistas da Marvel editadas pela Goody que estão a ir para as bancas. Tenho mais duas guardadas no meu ponto de venda habitual, mas ainda não tive oportunidade de lá passar. (Só gostaria que houvesse uma revista para X-Men também. Para mim os X-Men são tão prevalentes desde sempre que recuso-me a aceitar a ideia que Vingadores são mais populares.)

Comprei o Monstress com dinheiro em cartão, porque aparentemente a rentrée literária não está rica em lançamentos da minha área... e o restante dos livros é compra no Book Depository, de autores/séries que sigo, como sempre.

A ler brevemente

Bem... definitivamente a banda desenhada, seja da colecção Graphic Novels da Marvel, seja das revistas da Goody. Vou também ler as novidades em inglês que acabaram de me chegar esta semana; e conto ainda receber as novidades de fins de Setembro/inícios de Outubro. Portanto, Outubro vai ser um mês em cheio, em termos de leituras, espero eu, para contrabalançar o mês de Setembro.

quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Curtas BD: Graphic Novels da Marvel, vols. 42-45

Venom, Rick Remender, Tony Moore
Este é o primeiro volume de uma série de histórias focadas no Flash Thompson - antigo rufia perseguidor do Peter Parker, maior fã do Homem-Aranha, alcóolico, filho de pai abusador e alcóolico, antigo soldado que voltou do Médio Oriente sem as duas pernas.

O Flash é escolhido pelo Venom/emparejado pelo governo com ele; deve manter as suas emoções sob controlo, ou o simbionte toma o controlo; deve manter a ligação apenas 48 horas no máximo, ou o simbionte toma o controlo; se o simbionte toma o controlo, kabum! o governo explode-os aos dois.

E no entanto, não achei a história muito interessante. O enredo não tem um rumo definido, a acção é por vezes confusa, e quem me dera que me tivessem feito empatizar com os problemas do Flash. Adoro boa caracterização, e manter controlo do Venom é uma ideia gira - ambos têm tanto potencial, que não é nada aproveitado.

Ultimate Homem-Aranha: A Morte do Homem-Aranha, Brian Michael Bendis, David LaFuente, Mark Bagley
Ah... esta, no entanto, é tão triste. Tenho vontade de me enroscar numa bola e fazer o luto. É um título exemplar naquilo que apontei ao anterior: boa caracterização, emocional, boa escrita e arte, que cativam e fazem-nos empatizar com o portagonista.

Como o título indica, isto é sobre a morte do Homem-Aranha. Não o do universo primário (aí é que eu quinava do susto), mas do universo Ultimate, que existiu até há bem pouco tempo no mundo Marvel, e que servia para recontar histórias, e contar novas também, de personagens bem conhecidos, sob o prisma do século XXI.

Só li os primeiros 20-e-qualquer-coisa números da revista, mas gostei deste Homem-Aranha por ser um retorno às origens: um Peter Parker na escola, com os problemas que um adolescente dos dias de hoje teria. Vendo o final, sei que gostaria de ter lido o que aconteceu pelo meio: a tia May sabe que o Peter é o Aranha, o Johnny Storm e o Bobby Drake vivem com eles, a Mary Jane e a Gwen Stacy são duas pessoas diferentes mas ainda assim fascinantes... e o J. Jonah Jameson descobriu o segredo, e apoia o Peter, o que me deixou tão contente, pelo contraste da sua versão original.

O enredo desta história passa pelo Norman Osborn, o Duende Verde, estar sob a tutela da SHIELD, mas soltar-se, e levar cinco supervilões do Aranha com ele. O Duende está enlouquecido, superpoderoso e mudado, assustador e intenso e vingativo, e sabe quem é o Peter. Não vai deixar que ninguém se interponha à sua vingança. (O Doc Ock que o diga. É assustador ver os extremos a que o Norman vai.)

O Peter, como Aranha, está a ajudar os Vingadores no seu próprio problema quando leva um tiro pelo Capitão América, e acorda sozinho e abandonado. (Já fui ler e perceber porque assim aconteceu... e há uma explicação decente, mas ainda assim me revolta ver que ficou sozinho e daqui para a frente não tem qualquer apoio, apesar das promessas repetidas de vários Vingadores de manterem um olho nele.)

E pronto. O Peter recebe uma chamada a avisar que o Sexteto Quinteto está à porta de casa a destruir a vizinhança até ele aparecer, e ele aparece, sem máscara, perdida na luta anterior. É de partir o coração, o Aranha a levar murros e a levantar-se a continuar a distribuir porrada, e todos na vizinhança se compadecem ao reconhecer o rapaz que vive naquela casa como o Aranha, e aqueles mais próximos do Peter tentam ajudá-lo. Mas é um fim brutal, pois com um inimigo imparável e destrutivo, só podia terminar assim. Tudo o que podia correr mal, correu mal. (E numa menção a um outro livro deste post, é exactamente por isto que identidades secretas - para o público - são essenciais.)

X-Men: Cisma, Jason Aaron, Kieron Gillen, Carlos Pacheco, Frank Cho
Tenho seguido com algum interesse os últimos anos dos mutantes, ainda que com interrupções e em fragmentos; mas são dos meus superheróis favoritos, e aprecio as tentativas de mudar o status quo para eles, ainda que nem sempre corram bem.

O conceito de ter os X-Men a separarem-se, ainda mais quando são tão poucos, fascina-me, ainda que não seja executado brilhantemente - quero dizer, putos psicopatas a liderar o Hellfire Club e a enganar os X-Men? Hmmm.

De qualquer modo, julgo que faz sentido uma quebra entre o Ciclope e o Wolverine. Eles até trabalham bem juntos, complementam-se, mas também são pessoas tão diferentes, com filosofias de vida diferentes. Num momento em que o resto dos X-Men está em perigo, a jovem Idie (que aprendeu pela sua cultura que ser mutante é ser um monstro e tem uma boa dose de autodepreciação por isso) vê-se na posição de poder destruir os captores; o Wolverine quer que ela espere, e o Ciclope pede-lhe que faça o que achar melhor - (não tão) secretamente esperando que ela aja.

Num segundo momento, Utopia está sob ataque de um Sentinela, e o Wolverine que se evacue e que os jovens deixem a ilha, mas o Ciclope está disposto a deixá-los lutar pela sua "casa", se assim o desejarem. As suas posições fazem sentido, na maior parte: o Wolverine está dessensitizado pela violência na sua vida, e não quer que os miúdos fiquem assim, tendo o exemplo da Idie (se bem que no passado não teve tais reservas); o Ciclope foi ele próprio um miúdo soldado instruído pelo Charles Xavier (se bem que o Professor X não é o melhor exemplo de pessoa), e à beira da extinção compreende que o pacifismo não os leva lá.

No meio disto tudo, o que é hilariante é que o Sentinela está a caminho de Utopia, mas é um comentário parvo sobre a Jean Grey que faz com que o Scott e o Logan se ponham à porrada... homens. *facepalm* No fim do livro temos uma história, que já tinha lido, Regenesis; é sobre os vários X-Men e as razões para ficarem com o Ciclope ou partirem com o Wolverine. Acima de tudo, está bem escrito e faz sentido nas motivações de todos, mesmo nas pequenas surpresas. A arte é um pouco pateta, na comparação da separação a uma luta primitiva, mas pronto, faz algum sentido.

Guerra Civil, Mark Millar, Steve McNiven
A este ponto, já li isto umas 3 vezes. Só espero que não hajam mais colecções que sejam de "essenciais" da Marvel e que o incluam, porque raios, eu sou uma completista e vou ter de ter o livro na mesma.

De qualquer modo, já opinei aqui. Posso acrescentar que uma razão para ser incluído em duas das colecções que fiz é que é bastante bom, apesar das suas falhas. O conflito é credível o suficiente, é-nos mostrado o lado de ambas as partes de forma bastante justa e que justifique porque cada defende o que defende, e honestamente, parte-se-nos o coração ao ver heróis lutar contra heróis, mas também adoramos isso, não adoramos?

É verdadeiramente uma guerra civil - todos os lados perdem porque todos eram o mesmo lado até há bem pouco tempo, e o resultado é desastroso e sem vencedor. É triste ver os extremos a que se vai em cada lado; mas ainda acho que sofre da dor de todos os "eventos" e que ganhava muito se fosse fácil aceder a todas as revistas que compõem o evento.

segunda-feira, 25 de setembro de 2017

O Covil dos Lobos, Juliet Marillier


Opinião: Depois do que passaram nos livros anteriores, Blackthorn tem dificuldade em esquecer: quer justiça, e os termos do acordo com Conmael deixam-na de mãos atadas, o que a frustra, por saber que Mathuin ainda anda à solta, sem enfrentar consequências.

Entretanto, a vida do dia-a-dia continua. Uma jovem de 15 anos, Cara, vem do Vale dos Lobos para socializar na casa do príncipe Oran e da sua esposa, Flidais. Cara gosta de andar pela floresta sozinha, e tem dificuldade em vocalizar o que pensa a estranhos. Blackthorn dá por si a supervisionar a rapariga, para ajudá-la, e interessa-se por ela e pela sua aparente "estranheza".

Já o Grim é contratado para ir para o Vale dos Lobos, construir uma casa singular, sob as indicações de um construtor que já não pode fazer trabalho manual. Lá, começa a notar uma série de situações estranhas, que não encaixam bem e o deixam desconfiado.

E sim, como é óbvio os dois enredos estão relacionados. Cabe a Blackthorn e Grim, mais uma vez, deslindar a verdade e ajudar a corrigir injustiças, se isso for possível.

O fio final do enredo desta história passa por Mathuin, que volta a aparecer e cometer um acto de guerra contra familiares da Flidais, o que finalmente dá destaque aos seus actos e convoca uma série de gente para investigá-los. Aparecem um grupo de homens intrigante, os homens da Ilha do Cisne, treinados na arte da guerra e da espionagem, que actuam como guarda-costas e serviços secretos ao mesmo tempo, e que se vêem na posição de poder ajudar Blackthorn.

E pronto, a este ponto julgo que não há muito que posso acrescentar a uma opinião de um livro da autora. Isto é uma escritora no seu pico, com a sua pena afinada e bem experiente: a sua escrita é cativante e detalhada, lenta mas confortável no seu ritmo, dando-nos passagens envolventes. O worldbuilding parece ser enganadoramente simples, mas é meticuloso e conciso. O enredo é algo convoluto, mas não é difícil: o conflito principal é fácil de adivinhar, mas não deixa de ser uma história encantadora por isso.

A única parte chata da história é ter a Blackthorn e o Grim separados tanto tempo - logo agora, que estão no ponto e preparados para ser um casal para além da parceria que já estabeleceram. São amorosos: passam o tempo a pensar um no outro e, especialmente no caso da Blackthorn, a pensar no que o Grim lhe traz.

E a Blackthorn é uma personagem deliciosa. Adoro como ela tem espaço para ser resmungona e amarga o quanto queira, e ainda assim ser competente, directa, determinada e geralmente uma badass. Gosto de ver que ela aceita que se arrisca a que a vida lhe traga dissabores, mas que também lhe pode trazer felicidade. É uma lição que, julgo eu, havia esquecido.

Já o Grim tem uma perspectiva curiosa na vida: de certo modo está mais bem resolvido. Sim, tem os seus pesadelos, o passado pesa-lhe, mas a maneira como ele escolhe lidar com isso tem o seu quê de simplicidade, de aceitação do que a vida lhe traz. É engraçado porque as pessoas o subestimam como um brutamontes sem inteligência ou sofisticação, o que é totalmente errado se considerarmos o seu sentido de justiça, a sua bondade, e a maneira como encara a vida.

Falta-me destacar a história da Cara e do Bardan, pode ser bastante fácil de adivinhar, mas é comovente e interessante na mesma. Há tanto das circunstâncias a colocar-se contra eles, mas conseguem clarear a situação; e gosto que a Cara tenha tomado uma decisão difícil e não se tenha acobardado.

Pontos para como a situação de Mathuin se desenrolou - pode não ter tido o destaque completamente devido, por ter de dividir a narrativa com o Vale dos Lobos -, mas o seu final é muito satisfatório, e gostei de ver o papel dos diferentes envolvidos.

E pronto, mais uma série da Juliet chega ao fim - creio que ela já está a preparar uma nova série (e pela descrição, quase que parece que é sobre os homens da Ilha do Cisne, mas veremos). Julgo que da próxima vez já lerei em inglês - eu bem tento apoiar as publicações em português de autores favoritos, mas desgosto da política de preços desta editora em particular, e não sou fã da tradutora que eles têm usado para a Juliet (não tenho queixas de maior aqui, mas o texto nem sempre me soa bem), por isso não tenho nada a justificar a compra em português. É claro que em inglês os hardcovers também são um balúrdio - mas pelo menos não tenho de esperar quase um ano para me cair no colo uma tradução menos que perfeita - a escrita da Juliet merece-o.

Título original: Den of Wolves (2016)

Páginas: 432

Editora: Planeta

Tradução: Catarina F. Almeida

quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Because You Love to Hate Me, antologia editada por Ameriie


Opinião: Mais um bom exemplo do porquê de eu ler poucas antologias. Claro, são uma boa maneira de conhecer novos autores e manter um ou outro debaixo de olho. (Aconteceu-me isso aqui, definitivamente.) Mas também são tão inconstantes que eu saio sempre da leitura algo insatisfeita. Como habitual, encontrei algumas histórias muito boas, outras assim-assim, e uma em particular que me irritou sobremaneira (e ainda outra que me deixou dividida).

O tema da antologia é a vilania, fazendo-nos deliciar com vários tipos e sabores de vilania, alguns fazendo-nos questionar a sua natureza, alguns nem sendo bem sobre vilania, outros mostrando que, nas circunstâncias certas, todos podemos chegar lá.

É uma premissa interessante, suportada pelo artifício de ter a colaboração de BookTubers conhecidos, que sugeriram as premissas sobre as quais os autores escreveram, e contribuem com mini-ensaios a comentar os contos. Julgo que houve uma pequena polémica quando isto foi anunciado, porque "havia tanta gente a lutar para ser publicado, e estes tipos (os BookTubers) tinham tudo de mão beijada", o que é hilariante e estúpido em retrospectiva. E doseado com uma boa quota de inveja feiinha que não fica bem a ninguém.

Primeiro, porque se estava a ignorar que, er, ter um canal do YouTube dá trabalho como o raio. Eu já tenho o trabalho que tenho aqui, imagine-se ter de me vestir noutra coisa que não um pijama, filmar-me a discorrer sobre um livro, e ainda ter de editar o bicho? Raios, não. Nem pensar. Depois, porque a natureza da participação deste pessoal, é muito mais no sentido do fã do que do escritor: dão uma sugestão, o escritor escreve, eles comentam e opinam com um texto curto. Não se parece nada com ter algo nosso escrito e publicado.

Por fim, algum deste pessoal tem aspirações a escritor, sim, mas vemos algum deles com um contrato na mão, à data em que escrevo? Não. Não funciona assim. (E a Sasha não conta porque o livro que ela vai publicar com a Lindsay Cummings foi pensado e auto-publicado numa cronologia muito diferente deste, e teve um percurso público bastante diferenciado.)

Anyway. Antes de passarmos aos contos, julgo que merece a pena comentar a participação dos YouTubers em si. Para ser honesta, na maioria não adicionam nada aos contos que acompanham. Os mini-ensaios podem até ser giros ou interessantes, mas eu consigo pensar por mim própria, obrigado, e na maior parte são mais uma análise do que lemos que outra coisa. Preferia que fossem um bocadinho mais pessoais.

Oh, e a premissa não podia ter sido colocada antes do conto? Parece-me estúpido só descobrir qual foi o desafio depois do conto, não antes, para poder avaliar quão bem sucedido foi. Por outro lado, sinto que realmente esta é uma oportunidade perdida para os YouTubers, gostava que pudessem ter mostrado mais os seus talentos na escrita.

Passemos aos contos. Vai ser longo.

The Blood of Imuriv, Renée Ahdieh: dá para perceber porque as pessoas gostam da autora. Ela escreve bem, é lírica, evocativa, produz a sensação de tragédia. O worldbuilding é fascinante, e leria um livro neste mundo. Mas o vilão é fraco: um bebé grande que tem ciúmes da irmã e tem problemas de raiva? Não é nada interessante, nem inovador. É bastante cliché.
Colaboração de Christine Riccio: um texto cómico sobre sinais de vilania e vacinar-se contra isso. Mais ou menos divertido, mas a Christine é bem mais hilariante no seu canal, por isso sei que ela é capaz de melhor.

Jack, Ameriie: este é fantástico. Um recontar de João e o Pé de Feijão, pelo ponto de vista da gigante filha do gigante que consta no conto. É muito cativante e envolvente, o POV dela, a maneira como se dá com o Jack, coloca-nos na cabeça dela duma forma perfeita. O que torna o twist final mais genial, porque é totalmente inesperado, mas ainda assim adequado e encaixando com as palavras da protagonista que lemos algumas páginas antes.
Colaboração de Tina Burke: curto, mas dos ensaios mais inteligentes e articulados do livro, e por isso a sua avaliação do conto leva a minha aprovação.

Gwen and Art and Lance, Soman Chainani: contado apenas em SMS e DM, o que é giro e funciona maioritariamente bem, apesar de eu desejar poder ler uma história mais longa com esta premissa, que é muito boa (lenda arturiana cruza-se com Hades e Persephone). O papel de vilão é praticamente inexistente: não é o Lance, que fica com a miúda debaixo do nariz do amigo, porque eles nunca foram um casal, e não é certamente a Gwen, que é apenas uma miúda a tentar perceber o que quer e a fazer um monte de asneiras pelo caminho. (Coisas nada boas, sim, mas não fazem dela uma vilã.) Gosto do entrosamento com o mito grego, porque os papéis de Hades e Persephone não são assim tão lineares, e dão uma autodeterminação à Persephone. Mas gostava que o conto fosse mais longo e elaborado, mais preenchido. Eu quero é caracterização de personagens.
Colaboração de Samantha Lane: em estilo social media, uma avaliação de vários papéis e perfis de vilões, mostrando como se enquadram no conto e na mitologia/lendas originais. Giro.

Shirley & Jim, Susan Dennard: um recontar Sherlockiano moderno, com uma carta de Shirley Holmes (pergunto-me se a Susan era fã da série de TV com o mesmo nome) para a sua amiga Jean Watson, a explicar como conheceu James Moriarty no colégio interno que todos frequentam, como se encantou por ele, como ele lhe mostrou uma perspectiva diferente, como ela sempre teve a sensação que ele ia fazer algo terrível e como foi manipulada nesse processo. O fim é giro porque prepara a história para a grande e histórica rivalidade. Gostei bastante.
Contribuição de Sasha Alsberg: uma coluna "Querida ...", mas para aspirantes a vilões. Gira mas nada memorável.

The Blessing of Little Wants, Sarah Enni: brilhante, genial, maravilhoso. Num mundo Harry Potter-like, a magia é finita e está a desaparecer. Os feiticeiros com grande capacidade mágica vêm a mesma mutilada, açaimada. A protagonista e o seu melhor amigo são dois feiticeiros poderosos que o escondem por essa razão, e que se lançam à aventura para tentar recuperar a magia para o mundo. Adorei o worldbuilding, adoraria ler mais sobre este mundo. A escrita é lírica e evocativa. A reviravolta final é fantástica (algo óbvia, porque adivinhei antes de tempo): a Sigrid é vilã pelas suas escolhas, independentemente dos resultados das suas acções. Um dos poucos que nos faz questionar se não faríamos o mesmo, especialmente se significasse salvar o mundo.
Colaboração de Sophia Lee: uma avaliação do conto certeira e inteligente. Caiu-me bem porque vai de encontro à minha opinião.

The Sea Witch, Marissa Meyer: um excelente exemplo do porquê de adorarmos a Marissa. Um recontar da história da bruxa n'A Sereiazinha, que encontra a mesma escolha da sereia, mas escolhe de forma diferente. Escrito de forma empática, é difícil não nos compadecermos com Nerit, que deseja ser amada e sentir-se integrada, sentimento que é universal. A sua solidão é entristecedora, e é constantemente injustiçada pelos homens na sua vida, o que faz entender as suas acções; apesar de tudo, as suas escolhas são moralmente erradas. Mas é recompensador vê-la ter a sua vingança e sentir-se à vontade na sua pele.
Colaboração de Zoë Herdt: ensaio mais pessoal sobre as escolhas de um vilão, mas passava bem sem o teste sobre se somos heróis ou vilões.

Beautiful Venom, Cindy Pon: este divide-me. É brilhante e estúpido ao mesmo tempo. Um recontar da Medusa num cenário asiático: uma jovem é escolhida pelo imperador para ser a próxima concubina, mas é perseguida por um deus, que a força. Depois vem a deusa da pureza, que a transforma num monstro por "não ter dito que não". Ai... eu queria gostar. Tem sentido de humor, a protagonista parece ter profundidade, a escrita é gira. Contudo. Sei que a autora escreveu isto como forma de criticar a mentalidade da sociedade de culpar as vítimas de violação, e nesse aspecto os deuses desta panteão são os verdadeiros vilões, e a mensagem é boa. Mas está escrito duma forma muito ambígua, dando-me a sensação que outra pessoa podia ler isto e ver o conto como apoiando essa mentalidade. Especialmente porque no fim a protagonista é transformada na vilã, num monstro, e tudo o que lhe acontece não parte das suas escolhas. O conto torna-a numa vítima também, essencialmente violando o seu carácter. Assim que é transformada num monstro, a forma como pensa é deformada, e tudo o que faz como "Medusa" não é a Mei Du que conhecemos. A sério, apenas uma ligeira mudança de tom podia corrigir isto, e é o que mais me frustra.
Contribuição de Benjamin Alderson: o enquadramento que o conto precisava, e só por isso já merece o meu reconhecimento. Tem bons pontos e bom enquadramento.

Death Knell, Victoria Schwab: uma escrita difícil de penetrar ao início, quebrada e estranha, mas cativante e lírica. A Morte acorda no fundo de um poço, com fome, sabendo que está na hora de acompanhar mais alguém nos seus últimos momentos. Essa pessoa passa um dia com a Morte, mostrando-lhe pequenos momentos do que é ser humano. No fim tenta um truque muito interessante, e gosto de como termina.
Contribuição de Jesse George: Uma carta pessoal à morte, mais tocante por isso, com algumas referências ao conto.

Marigold, Samantha Shannon: na Inglaterra do século XIX, os erl-folk mantêm uma trégua com a rainha - na esteira da Revolução Industrial, eles ficaram com o domínio sobre a floresta. Começam a desaparecer crianças e jovens do sexo feminino, e quando levam Marigold, dois jovens relacionados com ela partem à aventura para a trazer de volta. Um bom conto com uma reviravolta que questiona no fim quem é o vilão, quem precisa de ser salvo, e que faz um comentário ao papel da mulher na época vitoriana.
Contribuição de Regan Perusse: bom ensaio, comentário ao conto e que vai de encontro à minha opinião.

You, You, It's All About You, Adam Silvera: um pouco críptico, mas com um worldbuilding interessante. Uma narração curiosa, com uma protagonista jovem mas impiedosa e impressionante - que esconde algo, e a reviravolta é fantástica. A coisa da máscara, no entanto, é bizarra. Uma máscara feita de uma mão? Não faço ideia de como é que isso funcionaria. (Oh, mas o uso da segunda pessoa na narração é fabuloso.)
Contribuição de Catriona Feeney: avaliação do simbolismo da máscara, giro mas demasiado curto, e a análise da máscara que se usa é dispensável.

Julian Breaks Every Rule, Andrew Smith: ok, para já este é o único conto do livro que eu activamente fiquei a odiar. Para já pela escrita. Detesto quando escrevem estes protagonistas todos "preciosos", uns floquinhos de neve super-especiais. Depois, detesto este tipo de escrita pretensiosa, cheia de si, que quer parecer mais inteligente que é - o protagonista passa o tempo a dizer "ei, isto é foreshadowing". Ugh. FORESHADOWING NÃO É REPETI-LO A CADA DUAS PÁGINAS, não nós somos burros, thank you very much, não precisamos que seja anunciado. Detesto autores que escrevem como se o leitor fosse burro. Por fim, vi alguns comentários do Goodreads sobre como isto é divertido (não é, de todo), e como tem várias camadas e é inteligente e uma boa caracterização dum psicopata. Talvez eu tenha perdido alguma coisa? Porque não me parece. Parece-me um puto adolescente normal, choninhas, desinteressado. Nunca emite uma vibração arrepiante, nunca tem uma atitude que me desse vontade de colocar distância entre mim e esta pessoa. Ele convence-se que consegue matar pessoas com o pensamento porque teve algum problema com elas e de seguida aparecem mortas com acidentes estranhos... por um lado, parece-me o tipo de ansiedade adolescente normal, por outro é uma ideia parva. Seria muito mais interessante se o autor aumentasse a creepyness do personagem e desse pistas que o protagonista tinha tido mão nesses acidentes - e talvez fosse essa a ideia do autor, mas se foi, foi demasiado subtil para se perceber, e por isso não foi bem sucedido. Seria incrivelmente mais interessante se víssemos que o miúdo tem a cabeça revirada e estava em negação sobre tê-lo feito. O fim não é uma surpresa, e nem é recompensador, porque ele finalmente toma as coisas nas suas mãos, mas com tanto mimimi sobre foreshadowing qualquer tipo de revelação não é surpreendente ou interessante. Oh, e não cumpriu a premissa, que passava por um cenário futurista. Pseudo-poderes psíquicos não contam.
Contribuição de Raeleen Lemay: sobre porque gostamos de psicopatas. Again, percebeu mais que eu? Diz que releu e obteve mais coisas das releituras. Eu reli rapidamente e fiquei na mesma. Se tem segunda camada, tem que ser mais óbvio, eu normalmente sou boa a ler nas entrelinhas, por isso... é demasiado subtil. E por isso não foi uma contribuição que me agradou, porque babar para um conto que eu detestei não me caiu bem.

Indigo and Shade, April Genevieve Tucholke: um ligeiro retelling de A Bela e o Monstro, pelo ponto de vista do Gaston. O que é hilariante de ler, porque ele é tão cheio de si, tão convencido e tão bom caçador e bom a tudo, que até dá vontade de lhe bater. Mas é realista - é um protótipo do Gaston que estamos a ler. Na cidade dos EUA de influência francesa onde vive, no meio das montanhas, uma Besta começa a atacar e corpos aparecem pela floresta. O "Gaston" quer saber o que se passa, mas pelo meio deixa-se cativar por uma moça, Indigo Beau (eh, "Beau"), leitora inveterada, bonita, e que gosta de passar horas na floresta. Termina depressa, e a reviravolta foi um bocadinho óbvia, porque já li demasiadas coisas que seguem esta linha de pensamento.
Contribuição de Whitney Atkinson: um bom ensaio, muito interessante, que decompõe um personagem como o Gaston, que é um menino bonito e brilhante e espera que o mundo se deite a seus pés.

Sera, Nicola Yoon: muito arrepiante. Começamos no dia presente, em que uma jovem parece estar no centro de uma explosão de violência, sem aparentemente a causar, bastando a sua presença. Depois percorremos o seu passado pelos olhos da sua mãe, que a tenta amar... mas Sera sempre foi diferente, sempre houve algo de errado com ela que a mãe não queria admitir. Ao crescer tem atitudes arrepiantes, nada infantis, e está sempre no centro de morte e desastre. É impressionante pelo conceito de um bebé nascer mau, no sentido em que a sua própria natureza influencia os demais à sua volta. Gostei.
Contribuição de Steph Sinclair e Kat Kennedy: é um pouco genérico, parecendo o tipo de artigo que apareceria numa revista feminina, e gosto de como estas meninas opinam, por isso sabe a muito pouco. Queria ver mais delas. Mas é divertido, giro, cheio de girl power, sobre como ser uma vilã assertiva, mas que pode ser extrapolado para qualquer mulher

Comentários finais:
Favoritos: Jack, Ameriie;  Shirley & Jim, Susan Dennard; The Blessing of Little Wants, Sarah Enni; The Sea Witch, Marissa Meyer; Marigold, Samantha Shannon; Sera, Nicola Yoon
Detestei com a fúria de mil sóis: Julian Breaks Every Rule, Andrew Smith
Boas contribuições: Tina Burke, Samantha Lane, Sophia Lee, Benjamin Alderson, Regan Perusse, Whitney Atkinson

Páginas: 368

Editora: Bloomsbury

sábado, 16 de setembro de 2017

Curtas BD: Revistas Marvel, Homem-Aranha e Vingadores, volumes 1 e 2

Homem-Aranha vol. 1: Aprender a Escalar, Dan Slott, Ramón Pérez
Homem-Aranha vol. 2: Global, Dan Slott, Giuseppe Camuncoli
O primeiro volume contém os fascículos que compõem a história Aprender a Escalar (Learning to Crawl); é uma história sobre os primeiros tempos de Peter Parker como Homem-Aranha, recontada, e adaptada ao século XXI. Revivemos a morte do tio, as lutas - mas um vídeo colocado no YouTube dá uma dimensão diferente ao super-herói, dando-lhe uma fama inesperada

O jovem que colocou esse vídeo inspira-se no heroísmo do Aranha e torna-se no seu próprio super-herói: mas mostra como é fácil virar o vilão, fazendo as coisas pelas razões erradas. A história em si é deliciosa pelos dilemas morais do Peter e o modo como está a aprender a fazer isto, ultrapassando os problemas.

O segundo volume decorre no seguimento do afastamento do Doutor Octopus do, er, corpo do Peter Parker, que é devolvido ao legítimo dono. (Banda desenhada de super-heróis. Soa sempre como a coisa mais bizarra do mundo.) O foco é nas indústrias Parker, como o Peter manteve esse desenvolvimento do Ock e o fez crescer, e como isso o apoia a ser um herói a nível global.

Gosto bastante. As minhas partes favoritas do Homem-Aranha têm sido ao longo do tempo quando ele evolui, muda do cliché do azarado coitadinho; e isto pode ser interessante para ele. É impressionante o quanto avançou, trabalhando com a SHIELD, usando tecnologia para lutar contra o crime; mas ainda é o Peter, o miúdo adorável preocupado com a tia.


Os Vingadores vol. 1: Os Sete Magníficos I / Futuro Perdido I, Mark Waid, Adam Kubert, Mahmud Asrar, Gerry Duggan, Ryan Stegman
Os Vingadores vol. 2: Os Sete Magníficos II / Futuro Perdido II, Mark Waid, Mahmud Asrar, Gerry Duggan, Ryan Stegman
Nestes dois volumes seguimos duas equipas que assumem o manto de Vingadores. A primeira forma-se quando os da velha guarda se apercebem que no momento não há ninguém que use o nome de Vingadores para a sua equipa. E então temos uma equipa que reúne gente como o Homem de Ferro, e também o Capitão América na sua encarnação vivida pelo Sam Wilson e o Thor na sua encarnação em que o merecedor do martelo é uma mulher; e ainda gente jovem como a Kamala Kahn (a Miss Marvel), ou o Nova.

O que é tão fofo. Achei divertidíssimo ver a Kamala e o Nova às turras. E a rivalidade conjuga-se bem com a sua inserção na equipa e os desafios de ter jovens com responsabilidades tão grandes, sendo inexperientes. Também achei engraçado o Sam Wilson e a Thor juntos, ao princípio ninguém da equipa sabe quem ela é e o processo de descoberta é giro. Em suma, é uma equipa com potencial.

A segunda equipa junta Vingadores, X-Men, e Inumanos. Aparentemente, no mundo Marvel as tensões estão em alta com os Inumanos e a sua aceitação na sociedade, e a equipa é reformada para incluir elementos dos três grupos, de forma a promover a união entre todos.

Creio que gostei mais da outra encarnação que li da equipa. Esta é um pouco estranha; como equipa não é... orgânica? Não parece ter nomes grandes ou nomes reconhecíveis suficientes, e trata os personagens de forma algo estranha. Quero dizer, a Rogue é uma pessoa bastante experiente a este ponto do campeonato, e comete um faux pas daqueles no início? Difícil de acreditar.

A equipa é liderada pelo Steve Rogers, que a este ponto ficou velhote (qualquer coisa com o soro do super-soldado, creio eu), e deixou de ser o Capitão, mas ainda põe toda a gente em sentido. Gosto de o ver assim caracterizado, mas a maneira como o desenham é péssima. Por outro lado, acho interessante que confie no Deadpool para fazer parte da equipa, e melhor, que o Cap seja das poucas pessoas que o Deadpool leva a sério.

O inimigo presente é um Inumano naturalista, e acaba por ter uma reviravolta no fim. A sua presença força a aparição do Cable, que estava no futuro em que este Inumano conseguiu dominar o mundo. Outra questão que também pode vir a ser interessante no futuro. Se bem que o que eu gostava de ler mais era sobre a posição dos Inumanos neste mundo. Podem vir a fazer histórias bem giras sobre este conflito.