terça-feira, 10 de junho de 2014

Prodigy, Marie Lu


Opinião: Uma leitura um pouco... desconcertante. Não pelo livro ou pelo seu conteúdo - nada disso -, suponho que apenas pelas circunstâncias em que o li a semana passada. Passava o dia inteiro sem me dar uma vontade particular de o ler, para lhe pegar à noite e devorar umas boas páginas. Uma leitura prazerosa, só que ocasionalmente a minha cabeça estava virada para outro lado.

Prodigy pega na narrativa no ponto em que o livro anterior o deixou. Os dois protagonistas, June e Day, fogem da Republic com o objectivo de pedir auxílio aos Patriots. Só que aquilo que eles lhes pedem é bem mais complexo que antecipavam, e cedo se vêem entre dois inimigos, a tentar perceber quem diz a verdade e quem mente, quem tem boas ou más intenções... e o que é realmente certo ou errado para o seu mundo e para o seu futuro.

Em termos de enredo, é um livro cheio de reviravoltas, que põe os protagonistas numa série de situações algo inesperadas, especialmente porque os faz questionar aquilo que pensavam sobre o mundo em que se inserem. A natureza da Republic, a posição ambígua do novo Elector, aquilo que sabem das Colonies, dos Patriots e até do resto do mundo... é fascinante.

A história começa por tê-los juntos, mas os eventos separam-nos, e se bem que as coisas se tornam mais interessantes depois de se separarem... interiormente, a separação leva-os a duvidarem de si mesmos e do outro. Não sei se gostei. Os aspectos que os separam são também as coisas que os tornam interessantes como par, só que realmente têm de aceitar as suas diferenças para funcionar como tal. O Day, em particular, duvida muito de si mesmo e da June, por se sentir inseguro em relação à diferença de classes de que são originários. E a June, bem, é mais cerebral e menos emotiva, e por isso é pior a demonstrar o que sente, apesar de ser a mais constante.

O livro parece ter uma daquelas coisas que me faz arrancar cabelos quando as vejo num livro - o temido triângulo amoroso, aqui com uma derivação para um "quadrângulo"; só que isso não acontece propriamente. A June e o Day consideram se não seria mais fácil não gostarem um do outro, mas sim daqueles que mostram interesse neles; mas não reciprocam esse interesse, e a preocupação um com o outro e a ligação que os une está sempre presente.

O modo como esses "interesses" secundários são apresentados é, confesso, algo inusitado. O Anden é caracterizado de uma maneira subtil, discreta, e até tem algum potencial como personagem. (Só não como par para a June.) Já a Tess é bastante irritante, quase que não a reconheço. Demasiado queixosa, algo maliciosa e maldosa na maneira como tenta virar o Day contra a June... onde é que está a miúda fofinha e encorajadora do primeiro? Não era preciso torná-la nesta bolinha de inveja insuportável.

Gosto da expansão do mundo que é feita. No primeiro livro não saímos de Los Angeles; neste, como o mapa incluído indica, somos apresentados a outras cidades da Republic e até das Colonies, e é-nos permitido compreender melhor a relação entre estas duas partes do que anteriormente eram os Estados Unidos. (Achei particularmente interessante o modo como as Colonies parecem funcionar.) No terceiro livro - que parece ter um mapa do mundo, com as alterações devidas à subida das águas -, espero vir a encontrar uma expansão geográfica global, quem sabe conhecer de perto outros locais do planeta.

Quanto ao final... de roer as unhas. Acho que não tivemos suficiente foreshadowing para tal revelação chocante, mas ela não deixa de o ser. É claro que tinha de resultar no dramalhão em que resultou - não esperava outra coisa, tendo em conta a queda do Day para o drama. Mas desejava activamente outro resultado. Bem, espero que o próximo livro me traga boas notícias. (Ou não.)

Páginas: 384

Editora: Putnam (Penguin)

2 comentários:

  1. Estava ansiosa por este, mas agora fico de pé atrás. É esperar para ver, mas pelo menos já vou avisada.

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    1. O livro é relativamente satisfatório, pelo menos tem todas as coisas que encontrámos no primeiro. :)

      Acho que o problema é mais comigo. Primeiro, porque passei a semana a sonhar com outro livro (ler: City of Heavenly Fire) - tentei que isso não afectasse a leitura, mas não fui completamente bem sucedida, suponho.

      Segundo, e isto é uma coisa que me dei conta depois de publicar aqui - eu sou uma leitora de personagens. Um enredo pode até não ser nada de especial, que se tiver personagens fabulosos eu devoro o livro. O forte da Marie é precisamente o inverso. Não acho nada de especial os personagens, apesar dela ser capaz de me fazer ficar investida neles; mas o enredo, e a acção, e o worldbuilding é que são mesmo fantásticos.

      Comparando com o anterior... não é um livro "mais" e melhor, é... igual. O que não deixa de fazer uma leitura muito agradável. ;)

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