quinta-feira, 19 de junho de 2014

The Fault in Our Stars, John Green


Opinião: Caríssima Internet, eu sinto-me defraudada. Em todos os comentários que eu tenho lido por aí, toda a gente fala de como este livro é triste e choraram, e assim... mas ninguém me disse que o livro era hilariante! Quero dizer, é um livro sobre cancro, é dado adquirido que vai ter partes tristes e é bem mais fácil fazer chorar o leitor com este tema. Agora falar sobre cancro e mortalidade com sentido de humor, isso sim, é difícil.

Por isso, considero serviço público esclarecer quem me esteja a ler: sim, é possível que o livro vos faça chorar, dependendo da vossa sensibilidade ao tema. No entanto, se tiverem um sentido de humor com uma pitada de negro e mórbido, também se vão rir. Eu ri, à gargalhada, às vezes. A minha irmã achou que eu estava a ficar maluca, por me rir tanto, e por tudo e por nada, ao ler o livro.

Só que identifiquei-me com o tipo de humor da Hazel e do autor, que encontravam a piada no triste e no horrível. Na possibilidade de morrer, nos tratamentos, nas sequelas que deixam, no modo com as pessoas tratam os doentes com cancro. Porque este estado de "ter cancro" gera às vezes situações bizarras, e encontrar o humor nelas e rir um bocadinho é melhor do que remoer nelas e deixar-se afundar no desespero.

Portanto, sim, fartei-me de rir, e acho que é um livro melhor por isso, porque como disse, é mais difícil fazer humor, e encontrar o humor numa situação tão trágica.

Acho que é uma coisa boa que tenha lido este livro a seguir ao Looking for Alaska, porque ambos lidam com luto adolescente e com enfrentar a mortalidade quando se é tão jovem, ainda que o façam de maneiras diferentes. No Looking for Alaska, o luto era "fresco" e os mecanismos para lidar com ele passavam questionar a própria mortalidade e perseguir um mistério que não o era, propriamente.

Neste livro, os protagonistas já tiveram o seu confronto com a mortalidade há anos, e desenvolveram mecanismos para lidar com isso, para lidar com a doença todos os dias. Por isso, é interessante ver quais são, e como lidam com isso. A Hazel tem o sentido de humor e um certo sentido trágico e uma paixão por certos programas de televisão. O Gus, bem, suspeito que aquele charme todo seja parte do mecanismo com que lida com a situação, para não falar da queda dele para filosofar e questionar, que deve ter sido desencadeada com o tal confronto com a mortalidade.

Que mais há a dizer? Esta é também uma história de amor, que é agridoce pela incerteza de que é portadora. De aproveitar os pequenos momentos. De aceitar aqueles que nos amam, e de aceitar o seu sofrimento quando partirmos. De fazer paz com aquilo que não podemos mudar. Há uma simplicidade na história que não a diminui, apenas a torna mais bonita.

Entre personagens secundários, apreciei muito os pais da Hazel, que vivem com este medo há anos, de perder a filha a qualquer momento, mas continuam a ter uma atitude muito positiva, a preocupar-se com a Hazel nas coisas pequeninas, a estabelecer limites, a continuar a viver. E gostei do Isaac, pela sua forma de exteriorizar as coisas (vamos lá dar cabo duns troféus), porque representa uma forma diferente de exteriorizar o sofrimento da Hazel ou do Gus, uma forma menos artificial, por esse sofrimento ser mais recente.

Uma parte muito interessante do livro é a relação que a Hazel e o Gus desenvolvem com um livro, An Imperial Affliction. É um livro que acaba a meio duma frase, sem ter um fim concreto, mostrando a arbitariedade da vida e da morte, e os protagonistas (mais a Hazel) não se conformam. Uma história com um fim é uma coisa que se pode controlar, e creio que a Hazel a sentiria como um conforto, já que não pode controlar o seu próprio fim.

Além disso, a procura por um fim para esta história leva-os a procurar o contacto com o escritor, e essas são das cenas mais caricatas de todo o livro, especialmente quando a Hazel lhe dá uma descasca. Sou capaz de ter rido quando ele "reaparece" à Hazel, apesar de o momento em questão ser, er, bastante sério. O Peter van Houten tem as suas razões para o modo como vive, e não foi difícil de as adivinhar, e é uma pena que isso o impeça de continuar a dedicar-se à escrita.

No fim de contas, creio que a Hazel é uma melhor personagem por tudo o que passou durante a história. A sua atitude em relação à vida em geral, e aos pais e à doença em particular, mudou para melhor. Apesar da sua perspectiva no início, de querer poupar aos pais, e aos que a amam, da dor quando partir, creio que no fim aceita que essa dor vale os bons momentos. É uma boa perspectiva para se ter.

Páginas: 336

Editora: Dutton (Penguin)

6 comentários:

  1. Então não tem descrições médicas de tratamentos e tudo o mais? :/ Isso é que me faz impressão.

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    1. Creio que não. O Gus está em remissão, e a Hazel está a tomar um medicamento que mantém o cancro controlado, sem voltar a crescer, por isso nenhum tem de fazer quimio ou radioterapia, nem vemos os resultados disso.

      Vemos é os resultados da doença na vida deles. A Hazel principalmente, porque os seus pulmões ficaram enfraquecidos pela doença. Ela anda sempre com uma garrafa de oxigénio atrás, e uma cânula metida no nariz, porque precisa de ajuda para respirar... mas é feito duma maneira que a garrafa faz parte da vida dela, às tantas nem reparas que está ali, faz parte do cenário.

      Aliás, a maior parte dos pormenores dados relacionados com a doença são curtos e simples, colocados aqui e ali, para percebermos como isto condiciona a vida dela, sem que ela deixe que a defina. É feito duma forma complementar à narrativa, mas não duma forma exploratória e dramática. :)

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    2. Estou convencida! Toda a gente fala disto, tenho de o ler, agora né? :) Aposto que vou chorar imenso, mas pronto.

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    3. Eu fiquei contente por tê-lo lido agora a empurrão do filme, acabei por gostar muito, e apreciar melhor a obra do autor, e ficar a perceber toda a barulheira à volta do livro.

      É claro que essa barulheira me condicionou o adiar da leitura, porque achava que ia ser uma coisa e acabou a ser outra. Achava que ia chorar rios, e acabei a encontrar o humor no livro, e o máximo que me arrancou foram uns lacrimejares aqui e ali. Nada a ver com o desastre emocional que o If I Stay foi capaz de provocar, por exemplo.

      Nesse aspecto, suponho que depende da sensibilidade de cada pessoa para os temas e a abordagem em questão. :)

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  2. Gostei da forma como abordaste a história, de que tenhas conseguido ver os mecanismos de ser nas condições em que estão (os protagonistas) e que tenhas usufruído do humor de Green, acho que é impossível não o fazer - o homem é hilariante em tudo o que escreve.

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    1. Obrigada. :) Gostei muito de ver como os protagonistas lidavam com a sua doença, a nível mental, particularmente a Hazel, achei fantástica a caracterização dela, e o modo como a história a pôs num ponto diferente de onde começou.

      Eu conhecia o sentido de humor do autor (pensava eu), no Looking for Alaska encontram-se algumas pérolas, especialmente a última partida que eles pregam. Mas aqui? Foi completmente inusitado, surpreendeu-me da melhor maneira. :D

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