quinta-feira, 23 de julho de 2015

Curtas: mais BD, parte I

Hawkeye vol. 3: L.A. Woman, Matt Fraction, Annie Wu , Javier Pulido
Este volume marca a divisão da narrativa em duas partes, e traz a execução de uma das coisas que eu mais aprecio ver ser feitas quando se conta uma história, que é os autores serem criativos e inovadores em termos narrativos. Neste caso, a divisão do título Hawkeye em dois, contando alternativamente, revista sim, revista não, a história de um dos dois personagens que usa esse nome de código como super-herói.

L.A. Woman segue então um dos Hawkeyes, a Kate Bishop, que se fartou dos dramazinhos do Clint Barton e da sua incapacidade de se endireitar e resolver a sua vida. Por isso, ela parte para Los Angeles para se estabelecer sozinha, independentemente, e para trabalhar (mais ou menos) como detective privada.

E pronto, a Kate fazia parecer nos volumes anteriores que era bem mais resolvida que o Clint, mas a verdade é que é uma jovem, rica e protegida, e que nunca se estabeleceu sozinha e que fazendo jus ao nome de código que carrega, também se mete em muitos sarilhos. Eu já gostava da Kate, mas ainda fiquei a gostar mais ao segui-la por este conjunto de aventuras em L.A., ao vê-la fazer asneiras mas também a resolver os seus problemas de forma criativa, o que mostra a jovem inteligente e engenhosa que ela é.

Coisas de destaque no volume: o cão ter ido com ela, o que é superdivertido; O feudo com a Madame Masque e como os casos que a Kate encontra acabam por ter todos a ver com ela. Uma aparição da S.H.I.E.L.D., na pessoa da Maria Hill e do Agente Coulson. Os amigos que ela faz, especialmente o casal gay adorável que toma conta dela e até a ajuda num dos casos. A maneira como a Kate se desenrasca das coisas.

Gostava era de poder ler brevemente o último volume, focado no Clint, porque tenho a sensação que ambos os volumes vão ter ligações um com o outro, e quero muito poder estabelecê-las. Na arte, Annie Wu é nova à colecção (bem, mais ou menos), mas faz as coisas dum modo que me agrada, meio caricato, meio realista.

Ms. Marvel vol. 3: Crushed, G. Willow Wilson, Elmo Bondoc, Takeshi Miyazawa, Mark Waid, Humberto Ramos
Já disse que adoro a Kamala, e me divirto tanto a segui-la, e este volume não foi excepção, continua a história da protagonista como super-heroína em treino, e segue-a na sua vida normal, no dia-a-dia.

As histórias contidas neste volume resumem-se em três pontos. Uma primeira com a aparição do Loki, que vem investigar os recentes acontecimentos em New Jersey e acaba a causar o caos num baile de S. Valentim da escola da Kamala, que esta tem de resolver. Foi muito divertido vê-los confrontarem-se, e ainda melhor ver a resolução do conflito.

O segundo enredo foca-se num jovem de herança cultural semelhante à da Kamala, e ao contrário do que ela esperava, acaba a desenvolver uma paixoneta. Foi muito interessante vê-la a debater-se com este tipo de sentimentos, porque aqui aparece-lhe alguém que tem tanto em comum com ela, mas ao mesmo tempo a situação descarrila, e quero ver como a Kamala lida com um coração partido. (Ou vá, machucado.)

Ainda neste ponto tenho a destacar a atitude do Aamir, o irmão dela. A sua caracterização tem sido enganadora, ele parece um tolinho demasiado religioso, e aqui os autores dão volta ao potencial cliché e mostram-no com uma pessoa com um bom discernimento de como as coisas funcionam, e a conversa dele com o Bruno foi fascinante de ler.

O último ponto da narrativa é um número da revista S.H.I.E.L.D., em que a Kamala intervém. Achei piada descobrir que esta revista pegou nos personagens que vêm da série de televisão e está a desenvolvê-los nos comics; neste aparecem o Agente Coulson e a Jemma Simmons. Gostei de a ver trabalhar em equipa com a Ms. Marvel, e de ver os seus problemas e como reflectem os da Kamala. (Só acho que é um bocado ridículo a profissão fictícia que a S.H.I.E.L.D. lhe arranjou. Tenho a certeza que podiam ter inventado algo melhor.)

Quanto à arte, os desenhadores mudaram, mas mantêm o estilo divertido e cartoonesco anterior, especialmente com ajuda das cores, que são feitas pela mesma pessoa, parece-me, por isso continuo a gostar bastante. Destaque para Takeshi Miyazawa, que tem um estilo um pouco mais realista que anteriormente, mas supergiro e igualmente expressivo.

Saga vol. 4, Brian K. Vaughan, Fiona Staples
Bem, este é claramente um volume de ligação. Não tem muitos momentos de acção, tem uma narrativa mais pausada e introspectiva, e por isso acaba por ser a ponte entre dois volumes que serão mais dinâmicos. O que em si não é mau, até se torna interessante de seguir, mas também me permitiu encontrar um problema com a estrutura narrativa da série que pode vir a tornar-se um obstáculo.

E esse problema é essencialmente o enquadramento do enredo com a narrativa duma Hazel mais crescida, algures no futuro. Primeiro, porque esta narrativa e comentários da Hazel do futuro me dão vontade de a conhecer, dá a sensação que é uma pessoa interessante e quem sabe com muitas aventuras próprias. (O que é bom.) O mau é que esse ponto no futuro é incerto, sabe-se lá se alguma vez o veremos, e isso frustra-me.

Além disso, sendo a Hazel a sua própria pessoa, custa-me que essencialmente esteja a contar as histórias de outros. Não é que estas histórias de outros não estejam ligadas à sua, mas o enquadramento narrativo faz por vezes tangentes, e acaba por não ser já *só* a sua história. E atenção, eu divirto-me imenso a seguir os personagens secundários, e louvo o modo como os autores os têm caracterizado e nos feito preocupar com eles.

Segundo, este enquadramento narrativo da Hazel faz com que os autores introduzam por vezes iscos narrativos baratos para nos manter o interesse, e que eu acho completamente desnecessários. Exemplo muito vago para não spoilar completamente: a certa altura deste volume a Hazel faz um comentário sobre os pais. Esse comentário foi escrito com o intuito de nos fazer pensar que é uma coisa grave, porque a interpretação mais óbvia é essa.

No entanto, o comentário pode ser interpretado duma forma menos grave e menos permanente, e até pode ser interpretado num sentido bem diferente. O que posso concluir é que o comentário é formulado de propósito para nos chamar e manter a atenção, só que o problema é que não precisam. O resto da narrativa já faz um bom trabalho nesse aspecto. E daí a minha queixa de que é um artifício barato e preguiçoso.

Daqui também resulta a minha observação de que a Hazel está a contar algo em segunda ou terceira mão, algo que não aconteceu directamente com ela ou de que ela não se lembra porque é demasiado pequena. E portanto, em teoria aquilo que conta pode bem ser uma versão truncada dos acontecimentos, colorida pela percepção de quem lhe contou. (E pronto, aqui eu já estou a teorizar demais sobre isto, eu sei. Mas o raio do volume fez-me pensar. Não posso ler coisas com menos acção que me dá para a filosofia.)

Enfim, estou eu aqui a (aparentemente) queixar-me, mas não é bem assim. Continuo a gostar imenso da história, apenas o seu teor mais calminho proporcionou-me espaço para reflexão acerca da estrutura narrativa, que na prática gosto, mas também consigo ver os potenciais problemas que pode vir a trazer.

Outros pontos a destacar neste volume: ver a família protagonista a ser uma família, com problemas de família, como qualquer um. A fuga constante até agora não lhes tinha permitido agirem como pessoas normais, e mesmo que isso arranje uma série de sarilhos de natureza diferente dos que têm acontecido até agora, é cativante ver este pessoal a fazer asneiras como qualquer um de nós, mesmo quando me dá vontade de os esganar por estarem a agir parvamente.

Mais: a Klara e a Izabel são fantásticas, e só tenho pena de não ver mais delas. (Mas os poderes da Izzy estão a desenvolver-se, estou a gostar de ver.) A Sophie e a Gwen estão numa demanda, e promete. (E sou só eu ou o Lying Cat tem os dois olhos sãos? A Klara não lhe deu cabo de um no volume 3?) Até vemos um bocadinho dos jornalistas do volume anterior, coisa que eu passei este volume todo a pedir. E gostei de conhecer mais recantos deste universo, e de como funcionam.

Coisas menos boas: bem, o The Will está maioritariamente desaparecido, o que quer dizer que a história dele, da Gwen e da Sophie está em stand-by... e a parte dos robots ainda é a que menos me interessa. Ainda estão demasiado pouco desenvolvidos, gostava de saber como funciona a integração biomecânica da sua anatomia, e como a sua sociedade funciona. Ainda lhes falta qualquer coisa que os humanize, ou os torne interessantes a meus olhos, como aconteceu praticamente com o resto do elenco.

Arte: já disse que gosto, a Fiona Staples é suficientemente expressiva para mim, e gosto de como desenha certas coisas, e ainda mais de como pinta. E também acho um piadão a como não tem pudor em desenhar de tudo. A primeira página do livro é o nascimento de um robotzinho de perto, mesmo de perto, e eu passei 10 minutos a olhar para aquilo a tentar perceber o que estava a ver.

2 comentários:

  1. Sensacional o número de volumes de BD que andas a ler!
    Também quero fazer o mesmo, só que ando ocupado a terminar uma coisa (uma espécie de culpa em gastar tempo impede-me de ler) mas ando com saudades.

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    1. É verdade! Tenho andado menos virada para a prosa, a BD preenche-me a mesma necessidade de ver contada uma história, apenas num meio diferente. Tenho encontrado tantas séries novas giras que me tenho posto a devorar o que está publicado. ^_^ E bem, pelo menos tem-me ajudado a tentar pensar criticamente sobre BD. :)

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