sábado, 4 de julho de 2015

Lion Heart, A.C. Gaughen


Opinião: Pronto, lá estou eu a ficar outra vez deprimida por terminar uma série, e ainda por cima uma com que fiquei meio obcecada durante o último ano e meio, ao ponto de ter opinado o segundo livro 10 meses depois de o ter lido, e nem ter precisado de rever a história.

Simplesmente fiquei absorvida por este recontar da lenda do Robin dos Bosques, que conta as coisas do ponto de vista do personagem Scarlet, que nesta versão é uma rapariga. Uma rapariga extraordinária, por sinal, e uma das protagonistas literárias que mais prazer me deu conhecer. Se eu pudesse tornar-me amiga de personagens ficcionais, teria muito orgulho em poder chamá-la de amiga.

Ora bem, este livro segue a história do anterior, começando algumas semanas/meses depois. A Scarlet, depois do que o Príncipe John aprontou, vê a sua liberdade restringida, e a certo ponto é dada como morta. Mas a nossa protagonista é mais resiliente que isso, e consegue escapar às suas garras. Só que a sua mera presença é desculpa para o Príncipe John causar danos aos que mais gosta, e Scarlet debate-se com o afastar-se para lhes garantir a segurança, ou voltar para eles para ajudar a proteger aquelas que considera como as suas terras.

Ah, gostei tanto do percurso da Scarlet aqui. Ela sempre teve um feitio forte e destemido e altruísta, mas também a assolavam muitas dúvidas sobre ser merecedora de coisas boas; e aqui ela finalmente mostra aceitar as coisas boas, pois passou por muito, e sente que as ganhou. Aceita finalmente a realidade do que ela e o Robin têm, e que não vale a pena afastar-se disso, porque têm uma coisa boa, e porque na escuridão criam o seu próprio mar de luz, e aceita ter um futuro, e ter um futuro com ele, e, oh, simplesmente adoro vê-los juntos.

Além disso, a Scarlet aceita finalmente a sua posição, hmmm, única entre os pares do reino, e tenta fazer uso dela, sob a tutoria da Rainha Eleanor (aquela de Aquitaine, que todos já ouvimos falar). No livro anterior a Scarlet estava renitente em fazê-lo, mas neste compreende que tem de usar todas as armas à sua disposição, e é uma delícia vê-la transformar-se camaleonicamente e lidar com aqueles nobres todos, e mesmo assim conseguir cativá-los com a sua personalidade fantástica.

Por seu lado, o Robin também tem os seus momentos altos, e fiquei muito contente por vê-lo reagir bem melhor que anteriormente. Não sei se o Robin do livro anterior teria coragem para continuar depois de uma má notícia, de manter a esperança na face do desespero e proteger os seus, mas este Robin mostra-se à altura da lenda, e fico contente por vê-lo fazer as pazes com o passado.

Ainda sobre estes dois, porque eu adoro vê-los juntos (ao ponto de não me importar nada se este livro fosse só sobre eles serem fofinhos um com o outro e o factor adorável estar lá no tecto): céus, que casal extraordinário. Há muito tempo que eu não conseguia ler um livro/série em que desde o primeiro momento é bem óbvio qual é o casal principal, e em que eu tenho a oportunidade de torcer por eles desde o início, sem dramas amorosos, triângulos e formas esquisitas.

O afecto mútuo deles nunca esteve em causa; apenas o que eles iam fazer acerca disso, e se conseguiam ultrapassar os problemas pessoais e obstáculos mentais que tinham contra serem um par. Adoro quando um casal é o maior obstáculo a eles próprios. Sei lá, é refrescante. Normalmente o drama é externo e os obstáculos vêm de fora, por isso aprecio quando é interno. Além disso, drama interno, quando bem desenvolvido, permite personagens melhor caracterizados, e eu pelo-me por personagens bem caracterizados.

Adicionalmente, finalmente conseguimos ver o seu futuro, e é glorioso. Conseguimos ver estas pessoas num ponto em que estão capazes de liderar e tomar conta de tanta gente a seu cargo, e que estão na posição ideal para isso. (A reacção do Robin a descobrir a nova posição da Scarlet é amorosa. Tudo o que ele consegue pensar é em como a vai colocar em perigo.)

Bolas, deixa-me brutalmente feliz vê-los num ponto em que consigo imaginar serem uma família, e líderes de uma comunidade. Significa que cresceram e que estão mais bem resolvidos em relação aos seus problemas do que no início, e adoro que as coisas fiquem num ponto em que eu posso ver o final feliz dos personagens, mesmo que a autora não mo mostre completamente. As coisas ficaram suficientemente bem fechadas para eu ficar satisfeita.

O enredo, bem, é diferente do que eu esperaria, e até do que a sinopse dá a entender (aquela a que linkei no Goodreads fala da Scarlet espiar para a rainha Eleanor, o que me faz perguntar o que é que a pessoa que escreveu a sinopse andava a fumar), mas não é menos satisfatório por isso.

De certo modo, gosto que o Rei Richard nunca apareça, porque a sua presença obliteraria tudo. A sua ausência torna as coisas mais reais para os nossos personagens, e é bastante credível o motivo pelo qual não aparece. (Mas matava para vê-lo uma vez que seja na mesma sala que a Scarlet. E o Robin. Ah, isso é que era bonito de ver.)

De qualquer modo, aprecio a evolução das coisas mais realista e mais terra-a-terra que a narrativa toma. O antagonista continua a ser o Príncipe John, esse bebé grande que não sabe ver quando perdeu, mas que ainda é capaz de grandes males. A única coisa que me faz mais espécie é o final, que é um bocadito aberto a mais para o meu gosto. O destino da Scarlet e do Robin está bastante selado, mas gostava tanto de saber o que aconteceu a outros personagens secundários, porque tenho tanta curiosidade.

Gosto muito de ver explorada a época em que estes livros se passam, o reinado de Richard, o tal conhecido por Coração de Leão, porque é tão intrigante e fascinante. O que é que levou um homem destes a ir para a guerra sem produzir um herdeiro? Que tipo de mulher era Eleanor, e como era a corte na altura? Que tipo de problemas passou Inglaterra naquela época, derivados de terem um monarca longe e a despejar fortunas num exército e numa guerra santa? A autora consegue pintar um retrato muito interessante da altura, e gostei de perceber melhor a situação única que se criou aqui.

Continuo a adorar a Rainha Eleanor, uma idosa cheia de genica, uma personalidade forte e extraordinária. Adoro o Much, que aqui toma um novo papel completamente adorável, e estou tão orgulhosa dele. Adoro odiar o Príncipe John. Gostei tanto de conhecer o novo personagem, o David, o guarda atribuído à Scarlet. E gostei de rever o Allan. Achei muito interessantes as cenas deles, porque há uma sugestão de haver ali qualquer coisa entre eles, e não sei se estava a ler demasiado nas entrelinhas ou não, mas era uma coisa gira de explorar.

Ah, estou tão feliz da vida, parece parvo mas fico mesmo contente de ver tudo a correr bem para personagens ficcionais que gostei de acompanhar. Este foi um último livro muito bom, deixou-me bem satisfeita, e esta foi uma das séries mais extraordinárias e mais viciantes que tive o prazer de ler nos últimos tempos. O único defeito é já ter acabado, que eu não me importava nadinha de ler mais alguma coisa com estes personagens e este mundo.

Páginas: 352

Editora: Bloomsbury

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