terça-feira, 24 de maio de 2016

Portugal dos Pequeninos: 20 Danças

Gosto de pensar que me mantenho a par dos lançamentos em Portugal, especialmente dos meus géneros/áreas de eleição. De certo modo, o meu cérebro nunca "desliga", estando sempre atento a novidades.

Portanto, quando vi um lançamento chamado 20 Danças, é claro que as minhas antenas apontaram para ele. Não o reconheci logo, mas pareceu-me vagamente familiar. Provavelmente já o teria visto nas minhas pesquisas pelo Goodreads, ou de algum destaque quando foi lançado no país de origem.

No outro dia tive a oportunidade de folhear o livro, e dei-me conta que sim, já o conhecia. Como 21 Proms. O livro é muito claro na ficha técnica sobre ser esse o título original.

O que pede que nos interroguemos, porquê a discrepância? O que é que aconteceu para perdermos um prom/uma dança? Procedi a apontar os contos apresentados no índice da edição portuguesa e fui investigar.

God bless as opiniões do Goodreads, deram-me a resposta enquanto o diabo esfrega um olho. O conto em falta era Geechee Girls Dancin', da Jacqueline Woodson. Perguntei-me porque teria isto acontecido.

Tinha-me ocorrido durante o processo de pesquisa que talvez o autor/conto em questão estivesse bloqueado, em termos de direitos, para toda a sua obra em Portugal? Isto é possível? Não sei, talvez se fosse uma pessoa super-hiper-mega conhecida...

... e bem, a Jacqueline Woodson tornou-se muito conhecida recentemente, pelos prémios e distinções que ganhou, mas acho que essa fama ainda não cá chegou. Isso não explicaria o "desaparecimento", creio eu. Continuei a matutar na coisa, e de repente, algo mencionado nas opiniões do Goodreads se destacou para mim:

escrito em dialecto

escrito em dialecto

escrito em dialecto

ESCRITO EM DIALECTO

Oh. Meu. Deus. Depois de reparar no que se passa de errado com esta pintura, não consigo deixar de o ver. Por favor, por favor, oh, por favor, alguém me diga que a editora não evitou este conto de propósito, porque era "escrito em dialecto". Seja o que for que isso quer dizer.

Alguém me diga que o conto não foi excluído porque foi considerado demasiado difícil de traduzir, ou na eventualidade que isso se tenha verificado, digam-me que não foi visto como demasiado complicado para a sua audiência.

Porque isto tudo até pode ter uma explicação perfeitamente obscura e razoável. Mas assim que tropecei nesta, não consigo deixar de a ver. E cai-me tão mal, pensar que isso corresponde à verdade. Porque me soa tão tacanho.

Sinto-me algo desapontada, porque sendo uma potencial parte da audiência do livro, detesto pensar que fui considerada demasiado burra para compreender o conto. Ou olhando pelo outro lado, soa-me a preguiça da editora saltar o conto só porque seria demasiado difícil de traduzir. Se não queriam fazê-lo, não se metessem a editar o livro em si. Há demasiados livros por aí.

De qualquer modo, seja isto verdade ou não, esteja eu a exagerar ou não, não consigo ignorá-lo. Aconteça o que tenha acontecido, não consigo adquirir um livro que tenha um pedaço a menos, seja qual for a razão pela qual isso aconteceu.

Tudo o que eu consigo fazer neste momento é perguntar-me porque é que as editoras portuguesas continuam a enterrar-se desta maneira. Porque isto não é um serviço de qualidade. Da maneira como nem é claro o porquê disto acontecer, custa-me que não haja mais claridade na edição em Portugal. Os leitores e clientes já mereciam.

Mas pronto, há mais peixes no mar. Só tenho de me lembrar disso. Ou como ouvi dizer há uns dias, para lidar com as coisas que não podemos mudar, "sorri e acena, como as princesas", e continuar na nossa.

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