segunda-feira, 4 de julho de 2016

The Winner's Kiss, Marie Rutkoski


Opinião: Fui reler as minhas opiniões dos livros anteriores. Ai mãezinha. Posso dizer que o início da opinião do segundo ainda se aplica. Esta autora, esta série, deixam-me profundamente ansiosa. Não sei como, mas ao longo de dois livros inteiros ela conseguiu torturar os dois protagonistas (e a mim) de tal maneira que toda eu sou um pudim tremelão só com a noção de ter de chegar com esta série ao fim e (potencialmente) sofrer (ainda) mais pelo caminho.

Bem... tinha razão e não tinha razão ao ficar preocupada. Não com a capacidade excelente da Marie para a intriga, e para me galvanizar a alma com uma prosa fabulosa. Tinha razão para ficar preocupada com o meu potencial sofrimento. Mas não tinha razão no sentido em que a Marie me levou por um caminho inusitado, e que me deu tudo o que eu não sabia que queria. Portanto, eu... sofri, mas fiquei feliz por isso, suponho que posso dizer.

Ok, no final do livro anterior a Kestrel tinha ficado num lugar mau, digamos assim. Essa situação tem seguimento, e oh raios, um pouco do que estava à espera, mas também muito que não estava. A minha querissíma Kestrel... o espírito dela é quebrado, o que é assustador, porque se há coisa que ela fez ao longo deste tempo todo, foi não desistir.

Depois a história dela evolui para um terreno... curioso, mas estranhamente, gostei. Deu-lhe uma tábua rasa com que trabalhar (a ela e ao Arin), e provavelmente era o que precisava. Aliás, o enredo todo evolui no sentido de lhe dar mais liberdade para trabalhar, e gostei muito de ver isso. De ver a Kestrel a fazer o que sabe fazer melhor, sem constrangimentos nesse sentido.

Quanto ao Arin... bem. Ao longo da série tenho tido uma certa dificuldade em gostar tanto do Arin como gosto da Kestrel. Ele é tão... sem noção às vezes. Enquanto que a Kestrel usa todas as ferramentas ao seu dispor para tomar decisões, seja a mente estratega que tem, as suas emoções, ou o seu sexto sentido, já o Arin... eh, ele até tem sexto sentido. E até tira boas conclusões com ele. Mas depois foge na direcção contrária, porque duvida de si próprio, e está muito decidido a detestar-se e à Kestrel pelo que aconteceu. E fica cego a certas coisas

É claro que eu tinha pedido que ele sofresse muito, e sofre, na verdade, com a culpa de ver o mal que fez à Kestrel a esmurrá-lo finalmente no nariz. É bem feito. Para ele. Para a Kestrel não é nada bem bem feito. Enfim, pondo isto de parte até acabei a gostar do percurso do Arin, porque a relação dele com a sua cultura e com os seus deuses, e com o que faz e tem de fazer para atingir os seus objectivos, é muito interessante.

No que toca a estes dois juntos, repito o que disse ali em cima acerca da Kestrel, porque se aplica. A situação inusitada em que se encontram faz com que haja uma curiosa combinação de familiaridade e novidade na relação deles, e achei fascinante explorar isso. Porque depois de tudo o que aconteceu, não basta gostar. Têm que se rehabituar um ao outro, reencontrar e reencaixar, digamos. Toda a situação foi tão inesperada que fiquei surpreendida por gostar, mas a Marie fez algo que nunca pensaria que eu quereria.

Não posso deixar de mencionar o Roshar, coisinha preciosa que ele é, com tudo o que lhe sai da boca a ser absolutamente delicioso e hilariante. (Ele e o Sturmhond da Leigh Bardugo podiam fazer um clube, e seriam um arraso.) Gosto tanto dele, e acho tão interessante que ele se desarme a si próprio, causando às pessoas uma sensação de que é mais inofensivo do que provavelmente é. São estas pessoas que passam despercebidas e acabam a surpreender tudo e todos com a profundidade do que lhes vai na cabeça.

A escrita da Marie, já disse, cai-me mesmo no goto, é tão bonita, e mesmo emocional, faz-me viver e vibrar com o que está a acontecer. E o enredo corre mesmo bem, houve tempo para (quase) tudo, o que precisava de ser resolvido, foi, sem fechar tudo de modo bonitinho. Lá porque se chegou a um ponto que se queria atingir, não quer dizer que seja tudo perfeitinho. Prefiro assim. A vida nunca é inteiramente resolvida.

Usei ali aquele "quase" entre parêntesis porque há coisas que eu gostava de ter visto mais exploradas. Vimos tão pouco do Verex, e teria apreciado conhecer e ver mais das irmãs do Roshar, porque aquela família é de estouro. Também achei que as coisas se resolveram tão depressa no fim. Não é que não fizesse sentido. Faz muito, e adorei a solução que foi dada. Só que depois de tanto nervosismo não estava preparada para que acabasse tudo. Oh, e a situação com o pai da Kestrel? Apreciei que ficasse no pé em que ficou. Nem sempre as coisas são como nós queremos, por vezes as pessoas mais próximas desiludem-nos e não há nada a fazer para o resolver.

E pronto, acabou. Mal consigo acreditar. O que é que eu vou fazer agora à minha vida? O que é que a Marie vai escrever a seguir? Estou positivamente saltitando de curiosidade. Ou de vontade de voltar a ser torturada emocionalmente. Er, as duas coisas, na verdade.

P.S.: A editora tencionava mudar as capas para este terceiro livro. Mesmo no hardcover, que é a edição que eu tenho, e quanto é que eu gosto que me mudem as capas a meio duma série? NADA. E ainda menos quando faltava só um livro. Mas no Twitter, depois de serem reveladas, houve uma indignação e chinfrim tal que acho que fizeram os editores recuar.

E ainda bem. Que as capas novas e altamente genéricas e não tão bonitas assim como eles acham que são fiquem para os paperbacks. Eu cá? Se há altura em que sou uma taradinha por vestidos bonitos, é esta.

Páginas: 496

Editora: Farrar Straus Giroux (MacMillan)

3 comentários:

  1. Yay! a opinião que eu estava à espera! :D
    OH meu Deus, é como dizes a Marie fez ali coisas que eu nem esperava nem sabia que queria e foi totalmente awesome. Adoro que ela não tenha demorado muito a juntá-los (mesmo assim parece que se passou tanta coisa naquele curto espaço) e ainda por cima com o Arin a saber a verdade logo assim quase desde o inicio, eu tinha algum receio que eles só fosse saber da Moth e da carta e de tudo mais para o fim, e de certeza que eu não teria gostado tanto deste livro se isso tivesse acontecido. Realmente os dois livros anteriores já foram tortura nonstop, com eles quase sempre equivocados e a pensarem o pior um do outro, ou a fingirem e a porem a luta pelos países à frente da relação, que este último livro merecia de facto ser uma ode aos dois.
    Opá é horrível dizer isto tendo em conta o que ela sofreu mas o que eu não me diverti com a Kestrel amnésica sempre que ela tentava perceber o Arin e o que se passava entre eles, chorei de rir quando ele a vai buscar lá à prisão (que por si só foi totalmente fabulosa, Arin tresloucado vs todos os guardas xD) e pede-lhe para chamar pelo Javelin, e ela sempre a olhar desconfiada para ele tipo WTF?? is this a joke?? chorei de rir a sério.

    E viste como o Arin é palerma quando toda a gente lhe diz que a Kestrel morreu e ele tipo haha nope, naah, não, isso não é possível, a Kestrel não pode morrer, ela nem sequer fica doente, a sério ela é imortal que eu sei, por isso podem parar com as mentiras. Mas depois ela está vivinha da silva lá em casa dele mas ele vê as cicatrizes---já curadas---e fica em pânico IS SHE GONNA DIE???
    LOL, a sério, o humor subtil desta autora é demais.

    Também gostava de mais Verex e da sua amada, mas só se o livro fosse mais longo, porque não consigo abdicar de nada do que se passa. fOI TUDO TÃO BOM :D

    Também tiveste medo que um dos dois morresse a qualquer altura? é que eu estava sempre à espera, naquela parte mesmo perto do fim quando ele se deita lá na relva a ouvi-la tocar eu só pensava oh meu deus é agora alguém vai-lhe espetar uma faca no coração quando este idiota está ali de olhos fechados, o horror.

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    1. Yup, apreciei muito que ela não levasse horrores até eles se reunirem. Foi muito inteligente dela não arrastar a situação, e fazer o Arin perceber rapidamente o que se passara, porque para a cluelessness dele já bastaram os outros dois livros. xD E é como dizes, acho que não teríamos gostado tanto. :)

      Acabei por ficar com pena do Arin, a tortura que deve ser lidar com este tipo de coisa... a Kestrel tinha a liberdade de se redescobrir e tentar perceber o que havia acontecido, já ele, tinha de tactear o caminho com os pés, rezando para não fazer asneira. É uma dinâmica interessante porque sendo a Kestrel a vítima de algo terrível, acaba por ter o poder na situação entre eles.

      Pois, mas eu queria era mesmo que o livro fosse mais longo, eu queria TUDO. Tudo a que temos direito. xD

      Eu acho que até pensei o contrário, quando vimos o que aconteceu à Kestrel, pensei "pronto, estamos terminados, depois disto ela não tem coragem de lhes fazer mais nada", e procedi a ler descansadinha da minha vida. Foi o pedaço de leitura de algo dela mais relaxante da minha vida! :P

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    2. E o idiota ainda deixou o homenzinho que trazia a mensagem à espera uma semana. Oh Arin... *facepalm*

      E ela gozou bem desse poder se bem que quase inconscientemente, foi tão bom vê-lo a fazer de tudo para a ver bem e confortável e feliz, e foi ainda mais divertido vê-lo a resistir à tentação. Aquela cena em que ela lhe aparece lá no quarto em camisa de dormir fininha, haha, a Kestrel é tão marota. xD

      Pode ser que a gente tenha direito a novellas um dia, sei lá. Era giro saber coisas do Verex, da prima do Arin de quem eu gosto tanto, e claro do Roshar e do Arin II xD

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