segunda-feira, 7 de abril de 2014

Fangirl, Rainbow Rowell


Opinião: Não vou dizer que esta foi uma boa surpresa, porque a parte da surpresa não seria verdade... (A parte do boa, sim.) Mas, oh, simplesmente adoro quando tenho razão acerca de um livro. Quero dizer, tento sempre não ter expectativas, porque essas são tramadas e podem distorcer a leitura... mas por vezes, isso é impossível, especialmente quando tudo o que leio e ouço me dá um bom pressentimento acerca de um livro. O que foi o caso, aqui, felizmente.

A Cath é uma jovem que acabou de entrar para a faculdade com a irmã gémea, Wren. Só que enquanto Cath é uma rapariga introvertida, mais dada a passar uma noite a ler ou a escrever, a Wren é extrovertida, e a entrada na faculdade levou-a a afastar-se um pouco da irmã e a aproveitar toda a experiência universitária, festas incluídas.

Premissa simples, certo? A beleza da coisa é que a autora tem uma escrita fabulosa, capaz de retratar a vida deste elenco de personagens de forma tão realista e credível, que é como se estivéssemos a ler acerca de um amigo ou do vizinho do lado. A caracterização dos personagens é detalhada e bem feita, dando a todos uma vida interior, pequenos pormenores e defeitos que os tornam em pessoas de carne e osso. Passei o livro todo completamente imersa na história graças a este aspecto.

Adorei a Cath. É tão deliciosamente awkward e socialmente retraída e tremendamente criativa. Gostei de a ver debater-se com o facto de ser extremamente tímida e recatada, atirada aos "leões", numa situação em que é impossível não conhecer pessoas novas. A maneira como acaba por ir saindo da casca, aceitando mais algumas pessoas como parte do seu círculo, acaba por ser enternecedor. Sim, ela é um pouco totó no modo como teme situações novas, mas isso gera situações engraçadas. Adoro como a Reagan acaba por se aproximar dela, dizendo-lhe o que pensa, sem dourar a pílula.

Outro aspecto da narrativa é a fanfiction. A Cath e a Wren são fãs do Simon Snow, uma série de livros que é uma espécie de Harry Potter - só que ambos co-existem no mundo do livro. O Simon Snow também é um feiticeiro, também é "O Escolhido", e também tem uma figura meio paternal e mais velha a orientá-lo... mas é obrigado a partilhar o quarto com o seu a-modos-que-némesis, o Baz - que é assim como que o Malfoy e o Snape combinados. Resultado, esta série, à semelhança do Harry Potter, arrasta multidões de fãs - alguns deles dedicados a escrever fanfiction. No caso da Cath, a sua magnum opus é uma slash fanfiction que termina a história a partir do sétimo livro, escrita enquanto o oitavo livro do Simon Snow não é publicado.

Em suma, o aspecto da fanfiction é bastante detalhado. Como devia ser, porque é uma parte tão grande e tão importante da vida da Cath. E o melhor é que me diverti tanto a descobrir este mundo ficcional que até tive pena que os livros do Simon não existissem. Os excertos dos livros, e de algumas das fanfictions escritas pela Cath e pela Wren, acabam por colorir melhor este mundo em que a Cath se deixa imergir, e dá um termo de comparação para o leitor que já se viu na mesma situação: não querer que o mundo ficcional acabe ali. Há alguns aspectos que ancoram a fanfiction na vida da Cath, como o tempo que ela e a irmã investiram nas histórias, o sentimento de tristeza por já não partilhar este hobby com a irmã, e a sugestão de que, em certa medida, a escrita de fanfiction se tornou numa "bengala" para a Cath evitar lidar com os seus problemas na vida real. Não é algo que se torne patológico, no entanto.

Apreciei a complexidade das relações entre a Cath e os que a rodeiam. A tensão com a irmã, por esta se querer libertar do ambiente familiar e querer experimentar tudo o que a vida universitária lhe oferece. (Cheguei a odiar a Wren, mas depois compreendi-a.) A história com a mãe, que as abandonou aos 8 anos e nunca mais voltou, deixando um campo minado cheio de estilhaços naquilo que era a sua família. A preocupação com o pai, ele próprio a lidar com uma doença mental que o faz oscilar em extremos de disposição, mas mantendo-o sempre, sempre, o pai delas. (Adorei o pai deles, que tipo fantástico, partiu-me o coração vê-lo assim.) A amizade com o Nick, a identificação intelectual com ele, e a traição que ele comete. A amizade com a Reagan, uma rapariga furacão que leva tudo à frente, tremendamente frontal, com a qual há alguma tensão por causa do seu melhor amigo, Levi.

Falando no diabo... que rapaz adorável. Um rapaz do campo, maduro, são, um óptimo contraponto às neuroses da Cath. Ficam tão giros juntos. Achei tão giro ver a reacção da Cath a rapazes em geral, e ao Levi em particular, quando começa a reparar nas coisas à sua volta. E a melhor parte é ver a evolução da sua relação, com todos os seus avanços e recuos e contratempos. É muito bom vê-los aceitarem-se mutuamente, sonhos e desejos, e problemas e defeitos incluídos. Achei interessante ler sobre o problema dele com a leitura (é uma coisa em que não tinha pensado, tendo em conta que tenho o problema oposto), e ver como isso o aproximou da Cath ao pedir-lhe para lhe ler.

Acho que já cobri praticamente tudo o que queria dizer. Gostava só de falar da professora de escrita da Cath, a Professora Piper. Gostei de ver a fé que ela tinha na Cath, vendo-a como capaz de grandes coisas. Tinha uma visão interessante sobre a escrita, e algo que ela disse fez-me pensar nas diferenças entre ficção literária e ficção de género. Gostava que tivesse lidado melhor com a questão da fanfiction. Achei a Cath muito pateta e ingénua ao apresentar fanfiction para um trabalho da faculdade (foi estúpida mesmo), mas acho que a professora não passou bem o seu ponto de vista, podia ter sido muito mais eloquente para fazer a Cath perceber que não tinha feito bem.

Quanto ao fim, gostava que fosse um pouco menos apressado, um pouco mais completo. Percebo deixar alguns fios do enredo por resolver (a Cath ainda tem muito que percorrer no que toca a lidar com o abandono da mãe, por exemplo), mas gostava que aquilo que foi resolvido tivesse mais destaque. Não vimos mesmo a Cath terminar a história do Simon, ou o processo que a levou a decidir avançar para a ficção original e escrever a história pedida pela professora. Gostava que este tipo de coisa tivesse sido melhor explorada. O fim é... conclusivo, mas algo abrupto, por causa disso.

Foi uma boa óptima leitura. Deu-me uma vontade louca de ir a correr ler os outros livros da autora - que nem são tantos assim... provavelmente, devia fazê-los render. Decisões, decisões...

Páginas: 480

Editora: Macmillan

6 comentários:

  1. *Patrícia adiciona livro a wishlist*

    Tsc tsc... Lá estás tu!

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  2. Gosto TANTO da Rainbow Rowell que, ao ver o primeiro post do seu blog com ela, não resisti a comentar. Eleanor e Park é muito mais doce, contudo. Vale cada momento menor de Fangirl. E você tem toda razão, pena que Simon Snow nem existe. :)

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    1. Obrigada! Estou tão curiosa com o Eleanor & Park, parece tão fofo e bonito, e a sua opinião é mais uma boa opinião que me dá vontade de ir lê-lo imediatamente! ;D

      Oh, era tão divertido se o Simon existisse mesmo. ^_^

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  3. Já tenho este a caminho :D

    Tenho ideia que toda a gente adora o Eleanor & Park, que me anda a chamar há algum tempo.

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    1. :D Espero que gostes. A Cath é tão socially awkward, mas tão engraçada e fofa, e o Levi! Tão adorável. ^_^

      Ahhh o Eleanor & Park também anda a chamar por mim, qual sereia... não sei se consigo resistir mais tempo. xD

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