sábado, 31 de janeiro de 2015

Este mês em leituras: Janeiro 2015

Este foi um mês um bocadinho complicado com as leituras. Primeiro porque ainda estava a recuperar das festas, que o corrupio do Natal e Ano Novo mata-me sempre um bocadinho o ritmo de leitura. Depois, alguém *ahem* pôs-me a ler um livro extremamente complicado para a rubrica A rainha manda..., que me roubou 10 dias da minha vida que nunca mais vou recuperar, e sobre o qual já vou falar mais à frente... e o meu ritmo de leitura morreu completamente, e arrastou com ele a vontade de escrever aqui no blogue, que também esteve mais parado por causa disso. Conto voltar ao ritmo normal em Fevereiro, por isso não é grave, e sempre foi uma experiência diferente (e frustrante) em termos de leituras.

Livros lidos

À semelhança do mês passado, o símbolo da Marvel Unlimited
representa os livros que li durante o uso deste serviço.

Opiniões no blogue

  • Curtas BD: Infinity, Jonathan Hickman, Jim Cheung, Jerome Opeña, Dustin Weaver, Mike Deodato, Stefano Caselli, Leinil Francis Yu; Captain Marvel vol. 1: In Pursuit of Flight, Kelly Sue DeConnick, Dexter Soy, Emma Rios; Ms. Marvel vol. 1: No Normal, G. Willow Wilson, Adrian Alphona;
  • Predestinados, Josephine Angelini;
  • Curtas: Batman 75th Anniversary Box Set: Batman: The Dark Knight Returns, Frank Miller, Klaus Janson, Lynn Varley; Batman: The Court of Owls, Scott Snyder, Greg Capullo, Jonathan Glapion; Batman: Hush, Jeph Loeb, Jim Lee, Scott Williams;
  • Meg Cabot: O Díario da Princesa III - A Princesa Apaixona-se; O Diário da Princesa IV - A Princesa Desespera; Project Princess;
  • Curtas BD: X-Men Fairy Tales (+ histórias bónus do Homem-Aranha e dos Vingadores), C.B. Cebulski, Sana Takeda, Kyle Baker, Bill Sienkiewicz, Kei Kobayashi, Takeshi Miyazawa; Young Avengers vol. 1: Sidekicks, Allan Heinberg, Jim Cheung; Young Avengers vol. 2: Family Matters, Allan Heinberg, Jim Cheung, Andrea DiVito.

Os livros que marcaram o mês

  • Predestinados, Josephine Angelini - foi uma boa surpresa, estava à espera de ter de implicar com alguma coisa, nem que fosse com a maneira como a autora usa a mitologia grega, mas ela trocou-me as voltas e até fez uma boa história, envolvente, e que me agradou;
  • North and South, Elizabeth Gaskell - o grande culpado por me roubar 10 dias da minha vida que não vou recuperar, é um destaque pela positiva e pela negativa: positiva porque eu gosto da história, já conhecia da série, e aprecio o livro por ser mais completo e dar um bom background sobre a época e local, e nuances sobre os personagens e os acontecimentos que na série não são notórios; pela negativa, porque a escrita da Elizabeth Gaskell é um tudo-nada cansativa e descritiva, e conducente a eu ler meia página e distrair-me facilmente olhando para o ar, a sonhar acordada com outras coisas, o que levou a que eu levasse 10 dias para eu ler um livro de 500 páginas, quando normalmente levo metade disso, por mais denso que o livro seja.

Outras coisas no blogue


Aquisições

Acho que posso considerar estes assim como que uma prenda de Natal atrasada, pois foram adquiridos com dinheiro recebido no Natal. Os primeiros três são da wishlist em inglês, dois deles lançamentos de Dezembro (Stay With Me e This Shattered World), e um porque desceu de preço e apanhou-me num bom momento para aproveitar (A Thousand Pieces of You). Os restantes livros fazem parte de uma encomenda feita no site da editora, em que aproveitei umas promoções e descontos e ofertas para mandar vir alguns livros que me deixavam curiosa, ou que adorei e quero reler em português (*cof*Eleanor & Park*cof*).

Alguma BD do mês, incluíndo a série do Batman pelo jornal Sol, que começou este mês, e uma revista Disney. Os dois da Meg Cabot (comprei por gracinha, estavam superbaratos e nunca são demais livros da Meg), o Thor: The Dark World Prelude e o Casanova (que está em francês, o que vai ser uma aventura completamente nova...) foram adquiridos nos preços mínimos da Fnac, usando ainda um vale, que me deixou os livros quase a custo zero. E está ali ainda uma revista Estante da Fnac.

Há uns meses ganhei um giveaway em que recebi um vale da Amazon e tenho estado este tempo todo a deliberar em que gastar o dinheiro. Os primeiros dois livros estavam há uns dias a um preço mais baixo no formato e-book, o que me levou a decidir gastar o vale e me lançou à caça dos outros. Essencialmente, não há previsão de encontrar fora do site da Amazon o paperback do Inspire ou do Wicked, e como são duas autoras que sigo, ao menos vale a pena pôr-me a lê-las em e-book.

Os últimos três são da Jennifer L. Armentrout, que sigo quase religiosamente, excepto nestes casos, em que os livros só saem em e-book e eu pareço nunca conseguir encontrá-los em promoção. A demora na aquisição deles também se explica por eu ainda ter acalentado a esperança de a editora os lançar em paperback, mas nada feito, esta editora dela, a Entangled, é um bocado forreta e avessa a publicar paperbacks - mesmo com uma autora que tem uma base de fãs tão grande e vende tão bem... de certeza que não deitavam dinheiro à rua.

A ler brevemente

E pronto, tenciono mesmo ler em Fevereiro os livros do Batman, para não deixar a série atrasar, e possivelmente aqueles outros três livros de banda desenhada. (Ou em alternativa, vou continuar a aproveitar o Marvel Unlimited para continuar a ler outros livros que me interessem.)

Quero muito ler o This Shattered World, e possivelmente vou também dar atenção ao Eleanor & Park e ao Paixão Sem Limites. Fora isso, tenciono ler os próximos livros da série do Diário da Princesa, incluindo uma novela que encomendei e chegará previsivelmente durante o mês. E se me chegarem entretanto, espero pegar em Fairest e The Mime Order, dois lançamentos de Janeiro em inglês que estavam na wishlist.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Curtas BD: X-Men Fairy Tales (+ histórias bónus), Young Avengers

X-Men Fairy Tales (+ histórias bónus do Homem-Aranha e dos Vingadores), C.B. Cebulski, Sana Takeda, Kyle Baker, Bill Sienkiewicz, Kei Kobayashi, Takeshi Miyazawa
Confesso, depois de ler Homem-Aranha e Vingadores: Contos de Fadas Marvel, quis mesmo ler as outras histórias, porque tinha achado bem giro o conceito das adaptações de contos de fadas ao universo Marvel, e porque gostei do que li, e tinha vontade de ver o que os criadores fizeram com os outros contos. Portanto, aproveitei o acesso ao serviço Marvel Unlimited para me lançar na leitura do material que faltava, que incluía a totalidade dos contos que envolvem os X-Men, mais um conto do Homem-Aranha e um dos Vingadores.

#1:The Peach-Boy, baseada na lenda japonesa Momotarō
Este número usa a lenda para recontar a formação dos X-Men originais, Anjo, Fera, Ciclope e Homem de Gelo (a Jean Grey é despromovida a um papel muitíssimo secundário, qause figurante, o que não me agrada propriamente). O Ciclope é o titular Peach-Boy e os outros X-Men assumem os papéis dos animais companheiros do Momotarō; o que acaba por ser uma adaptação interessante das suas personalidades e poderes. Os vilões/demónios são a Irmandade dos Mutantes, e os paralelos são fascinantes de descobrir. Uma história gira, que mantém o tom do conto, mas o destaque vai para a arte bem bonita, com um estilo manga, mas pintado duma maneira deliciosa, com cores suaves, a lembrar uma pintura.

#2: baseada no conto The Friendship of the Tortoise and the Eagle
Reconta a amizade do Professor X e do Magneto sob a luz deste conto, em que dois animais tão diferentes têm necessariamente perspectivas diferentes, o que acaba por se adequar bem aos dois personagens, mostrando a dinâmica da sua relação e o confronto de ideias opostas que defendem. A arte é mais sóbria, mas visualmente estimulante, com um trabalho a lápis pesado, tanto no traço como na cor.

#3: To Die in Dreams, inspirada na atmosfera dos contos dos irmãos Grimm, com elementos da Branca de Neve
Este coloca o Ciclope como um alfaiate cego e o Wolverine como um talhante/caçador, ambos apaixonados pela mesma bela jovem, a Jean Grey. O Wolverine já conhece a jovem e a sua história, e tem um triste dever para com ela. O Ciclope encontra-a adormecida no bosque, e um beijo acorda-a. Aqui, aquilo que o conto faz de interessante é a reviravolta com a jovem princesa, introduzindo o conceito da Fénix e como isso a afecta e muda. Também é curioso pela inversão de papéis entre os dois protagonistas masculinos, pois normalmente aquele acto final é mais atribuído às capacidades do Wolverine. A arte não é das minhas favoritas, pelo traço pesado.

#4: Restless Souls, inspirada no imaginário sulista de New Orleans, nomeadamente as culturas Cajun e Vodu
Não conheço os contos originais, mas adorei a ideia de colocar a Rogue e o Gambit como protagonistas aqui, juntando-se para enfrentar um grupo que quer usar a habilidade dela para comunicar com os mortos para os controlar. Gosto muito do visual da Mística e da Sina/Destiny, e o tom do conto evocou bem o ambiente sulista. Os vilões são o Hellfire Club, representado na pessoa da (quem mais?) Emma Frost. Quanto à arte, creio que gostaria mais dela sem cor ou noutra coloração. O estilo do artista é mais oriental, com figuras muito esguias, que acho que resultaria melhor sem cor; no modo como algumas estão desenhadas e pintadas, pareceram-me meio estranhas.

Spider-Man Fairy Tales #3: Eclipse, inspirado em contos japoneses de fantasmas
O conto encaixa assim-assim na mitologia do Peter Parker como Homem-Aranha, mas acaba por encaixar com a personalidade e feitio do Peter. O artista é o mesmo do conto anterior, mas aqui o seu desenho agradou-me mais, pela coloração em estilo de pintura. Apesar disso, achei que não trabalhava bem as cenas de acção, achei-as algo confusas, talvez pelo planeamento das vinhetas e das pranchas.

Avengers Fairy Tales #3: baseado em Alice no País das Maravilhas
Adorei esta adaptação, acabei de ler o título dos Young Avengers em nome próprio, e por isso foi muito divertido vê-los nesta adaptação, tomando os papéis dos personagens do conto. A Cassie Lang é a Alice (também aumenta e diminui de tamanho, como a Alice no livro), a Kate Bishop e o Patriot são a Rainha de Copas e o Rei, e o Speed, o Hulkling, o Wiccan e o Iron Lad são os personagens que tomam chá com a Alice, perdão, a Cassie. (Não consegui perceber quem era o correspondente do Gato de Cheshire.) A história original é adaptada livremente, sendo usados os momentos chave da mesma, e achei a adaptação bem fixe, e gostei dos papéis que os Young Avengers tomaram. Adorei a arte, também com um estilo oriental/manga, com um traço bem giro e um bom uso da cor - e gostei tanto do estilo steampunk que o artista usou.

Young Avengers vol. 1: Sidekicks, Allan Heinberg, Jim Cheung
Young Avengers vol. 2: Family Matters, Allan Heinberg, Jim Cheung, Andrea DiVito
Este bando de miúdos é tão adorável e tão a minha cara. Eu sabia que havia de gostar de ler isto. Vá lá, as iniciais do grupo até são YA. (Uma faixa etária que tenho lido bastante nos últimos tempos.)

Uma curta série de 12 números (mais um número especial), Young Avengers conta a história de origem de um grupo de jovens adolescentes que, possuindo superpoderes e inspirados pelos Vingadores, se junta para combater o crime. Esta história ocorre num momento no universo Marvel em que os Vingadores tinham desfeito a equipa, e por isso é significativa a homenagem dos jovens.

Achei tão gira a maneira como o grupo se juntou, porque quando a narrativa começa parte dos YA já se juntou no grupo, e depois a Cassie Lang e a Kate Bishop forçam a modos que a sua adesão, a Cassie por herdar os poderes do pai, e a Kate por ser corajosa e engenhosa, e mesmo não tendo superpoderes, estudou formas de luta e autodefesa, e torna-se numa superheroína por pura determinação.

Suponho que é bastante adequado que parte significativa dos arcos de história contidos nestes dois volumes passe pela importância das origens dos personagens, porque um novo herói desconhecido precisa de se apresentar, e porque essas origens acabam por definir a sua posição quanto a tornar-se um superherói. Nesse aspecto, o número especial dos Young Avengers conta aquilo que levou estes jovens a este caminho, e é uma narrativa bem interessante.

Por outro lado, a origem do Iron Lad vai levá-lo a tornar-se nalguém muito diferente e que já não é propriamente desconhecido dos Vingadores, e é o tentar fugir ao seu destino que leva à formação da equipa, e por isso a sua origem também é importante.

Já as origens do Teddy por um lado, e do Billy e do Tommy por outro são bastante intrigantes, porque acabam por ligá-los a jogadores bem importantes no universo Marvel - e no caso do Billy e do Tommy, a própria existência deles é uma coisa bem mais complicada e retorcida do que seria de esperar. Fascinante.

Outro arco de história passa por alguns (ex-)Vingadores como o Homem de Ferro, o Capitão América e a Jessica Jones ficarem compreensivelmente preocupados com a questão de ter um bando de menores de idade não treinados a meterem-se em tantos sarilhos, e tentam convencê-los a parar de usar os seus uniformes...

Só que então os YA começam a usar novos uniformes, que é uma noção divertidíssima, porque é o tipo de coisa que um adolescente faria. "Ah, o pai disse que eu não podia fazer isto assim, mas não disse que não podia fazê-lo assado." Aliás, o sentido de humor é uma das coisas que mais me cativou nestes YA. Quero dizer, a certa altura o Capitão América vai falar com os pais dos jovens para tentar pará-los: a ideia do Capitão a fazer queixinhas é hilariante.

Algo que gostaria também de destacar é o modo como os personagens são escritos, muito realista e natural, com adolescentes a serem naturalmente rebeldes, mas também a possuírem um módico de bom senso, nada de drama exagerado, apenas o dia-a-dia de um jovem que por acaso tem superpoderes. As revelações sobre os personagens são feitas com tacto e acima de tudo dão dimensão às pessoas que são sem se tornarem no ponto focal da narrativa.

Como já mencionei, gostei bastante do humor destes livros, é fresco e algo silly, como convém a um personagem jovem; a história não se leva demasiado a sério mas também não se substima, e isso são pontos que a fizeram destacar-se para mim.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Uma imagem vale mil palavras: Marvel's Agents of S.H.I.E.L.D. Temporada 1 (2013-2014)

Quando comecei a ver esta série, não parecia necessariamente vir a merecer uma menção nesta rubrica. Costumo falar de filmes de super-heróis na rubrica, porque também são adaptações de livros, mais ou menos. Mas o meu problema inicial com Marvel's Agents of S.H.I.E.L.D. não era esse; era mais porque o início da primeira temporada da série é enganador, não mostrando completamente o seu potencial e como viria a melhorar ao longo dos episódios.

Porque o início da temporada é mais fraquinho, sim. Acho que todos os criadores envolvidos, actores, realizadores, escritores e por aí fora, ainda estavam a testar as águas, a habituar-se ao material, e as coisas não fluíam duma maneira a cativar-me. Era possível ver que o conceito tinha potencial, e foi por isso que fiquei, e ainda bem que o fiz.

O início da série mostra a formação de uma nova equipa de agentes da S.H.I.E.L.D. (já agora, graças aos céus pelo Copy+Paste, ou ia fartar-me de escrever S.H.I.E.L.D. rapidamente, podia lá ser um nome mais complicadinho de escrever?), na direcção da qual está o Agente Coulson, que, ei, surpresa!, depois do que aconteceu nos filme dos Vingadores, sobreviveu de algum modo.

Suponho que de certo modo, é adequado: uma nova equipa de criadores junta-se para fazer uma nova série, enquanto que no ecrã vemos uma nova equipa de agentes a trabalhar juntos pela primeira vez, a criar empatia e métodos de trabalho. No início os actores ainda não têm bem aquela química, os escritores e realizadores ainda estão a trabalhar as histórias que querem contar... assim como os personagens que vemos.

Portanto, esta dualidade deixou-me na dúvida, mas com vontade de continuar a ver. Como disse, achei que tinha potencial. E com um pouco de paciência, acabei por vê-la recompensada: à medida que os episódios foram avançando, a voracidade com que os via aumentou.

Gosto bastante do rumo que tomaram, em que a série faz parte do Marvel Cinematic Universe, tal como o resto dos filmes produzidos em nome próprio pela Marvel (X-Men, Homem Aranha e Quarteto Fantástico não entram, por pertencerem a outros estúdios de cinema); mas ao mesmo tempo, a série não cola aos filmes e isso dá uma liberdade para explorar este mundo à sua maneira, com a devida cedência para com o estabelecido para o universo pelos filmes ou pelo que ainda há de vir a ser contado nos mesmos.

Isto significa que não há superpessoas em abundância, porque isso elevaria a fasquia a um nível difícil para o resto dos nossos personagens muito, er, humanos (heh), e permite focar mais nos seus casos e no desenvolvimento dos personagens. Os casos inicialmente parecem ser mais auto-contidos, divididos entre o que parece ser trabalho típico para a S.H.I.E.L.D. (trabalho de inteligência, isto é), e alguns casos com elementos que apresentam algum tipo de artefacto ou pessoa com poderes.

A piada disto tudo é que alguns fios do enredo começam a ser tecidos, e ainda bem cedo, para fazer da segunda parte da temporada aquilo que ela é. Conjuntamente a isto, uma mão-cheia de episódios faz a ligação com os filmes que estavam a passar durante a primeira temporada: e enquanto que os episódios que lidam com o Thor: The Dark World são bastante directos, o par de episódios que lidam com o Captain America: The Winter Soldier são de cair o queixo e roer as unhas até ao sabugo.

É que no filme do Capitão América acontece uma coisa que vai mudar a S.H.I.E.L.D. para sempre, e bem, ver os personagens lidar com isso é bastante excitante. Toda aquela rede de traições e de não saber em quem confiar acabam atingir até a própria equipa, e foi tão enervante passar os dois episódios a pensar que ia acontecer uma desgraça, e ao mesmo tempo tão divertido passar o tempo a desconfiar deles todos, pensando que alguém tinha de estar em conluio com os maus. (A verdade é bastante surpreendente.)

Em termos de mitologia, há uma série de aspectos a explorar, mas gostava de destacar dois: um, o que aconteceu com o Agente Coulson depois de aparentemente ter morrido, que acaba por ter uns contornos fascinantes e algo macabros, mas ricos no que toca a explorar o personagem.

Dois, o mistério da Skye, que está relacionado com o esquema geral duma maneira que ainda não foi revelada mas que pelas pistas (um ser humanóide não terrestre azul, e o facto de que a Skye e o Agente Coulson reagiram de maneira diferente a um certo composto) que são dadas tenho quase a certeza de qual é. (Pista: tem a ver com o próximo grupo de personagens que a Marvel deve querer desenvolver cinematograficamente.)

De qualquer modo, adorei perceber como vários pormenores da narrativa aparentemente não relacionados acabam por encaixar uns nos outros e no arco geral da história contada nesta temporada.

Quando a equipa de personagens começa a trabalhar com química, acaba por se tornar bastante cativante segui-los, porque a narrativa é escrita duma maneira que consegue mesmo explorar a relação entre eles, e está imbuída de um certo humor que me agrada. Fiquei a gostar muito deles (FitzSimmons são totalmente adoráveis, e a agente May é fantabulástica), e por isso é que custou bastante uma certa reviravolta na composição da equipa.

Entre as participações especiais, tenho a destacar primeiro o Stan Lee. Não estava à espera que o seu cameo habitual nos filmes Marvel se estendesse à série, e por isso o seu aparecimento foi surpreendente, mas também bastante divertido, como tem sido habitual nas últimas aparições.

Depois há o Samuel L. Jackson, que tinha mesmo de aparecer como Nick Fury, e bem, a sua participação no último episódio é fantástica. Por um lado por ajudar alguns dos nossos protagonistas num momento complicado; depois porque ele e o Agente Coulson têm uma cena hilariante ao enfrentar um dos vilões. Eles quase que nem têm de mexer um dedo para ele ser derrotado, e a conversa deles na cena é bem divertida.

Posso dizer que fico mesmo contente por me ter decidido a ver a série, porque valeu tanto a pena. Aquilo que não parecia nada de especial assim à primeira vista acabou por se revelar de visualização viciante, fez-me torcer pelos personagens, ficar investida no decorrer dos acontecimentos, e ainda suspirar por mais quando a primeira temporada chegou ao fim.

sábado, 24 de janeiro de 2015

Uma imagem vale mil palavras: no caminho para os Óscares...

... e nem assim deixo de ver no grande ecrã maioritariamente filmes baseados/inspirados em livros. A imaginação deve andar pelas ruas da amargura em Hollywood. Por exemplo, hoje fui ver o Sniper Americano (baseado em livro), e os trailers foram dos filmes (dum dum dum dum) Vício Intrínseco (livro de Thomas Pynchon, e já agora, aquele trailer estava uma confusão), O Grande Mortdecai (parece que também é um livro, ou série de livros), e A Teoria de Tudo (também inspirado num livro/biografia pela primeira esposa do Stephen Hawking, Jane Hawking).

Portanto, nem na época dos prémios cinematográficos eu me safo de ver uma data de filmes que tem origem no meu território, que são os livros. Hmmm. É que eu nem faço de propósito, com algumas óbvias excepções, mas acabo por ver tantos filmes cuja origem está no mundo literário. Ou uma grande parte da oferta de filmes hoje em dia tem origem nesta outra arte, ou simplesmente aqueles filmes baseados/inspirados em livros são os acabam por me chamar a atenção, sabe-se lá porquê.

Adiante. Este meu texto de hoje tem como propósito comentar e opor dois filmes que encaixam em ambas as categorias: filmes baseados/inspirados em livros (que é o propósito desta rubrica), e filmes nomeados para os Óscares. E que ainda partilham um terceiro aspecto: tenho uma opinião diametralmente oposta à maneira como contam a sua história, e prefiro/preferiria mesmo que tomem/tomassem uma abordagem distinta no modo como contam a sua história.

Primeiro temos O Jogo da Imitação (The Imitation Game), inspirado na biografia de Andrew Hodges, Alan Turing: The Enigma. É um bom filme. Dá uma perspectiva diferente da 2ª Guerra Mundial, de coisas que estavam a ser feitas pelos Aliados para ganhar a guerra, e com as quais muita gente não estará familiarizada.

Também faz um bom serviço ao permitir à audiência conhecer Alan Turing, um homem que parece ter sido pioneiro na sua área, o que só enfatiza como é trágico que tenha morrido ingloriamente, mal tratado por um país que lhe devia pelo menos o seu trabalho durante a guerra, ao abrigo duma lei que é incrível que ainda existisse nos anos 50.

O meu problema aqui com a história de The Imitation Game - e reconheço que ignorando isso, até acaba por ser uma boa história, dramática q.b, com bom ritmo - é que antes de ver o filme, já lido algumas coisas sobre os exageros dramáticos, isto é, sobre as liberdades criativas tomadas que não reflectem o que realmente aconteceu...

... e senti que na maior parte dos casos, não era necessário terem sido tomadas. Por exemplo, o rapazinho que na equipa de criptógrafos tem um irmão num local que vai ser atacado pelos Alemães, ataque esse que a equipa acabou de descobrir ao perceber finalmente como é que a Enigma funciona - completamente inútil.

A discussão sobre quem tem direito de fazer de Deus podia funcionar à mesma se ficasse no plano abstracto, e como ocorre no filme até afasta a atenção dum ponto importante - nunca estas pessoas poderiam decidir sobre o curso de acção a tomar: esse ficaria para as altas patentes.

Toda a aura de génio incompreendido, aluado e antissocial é um pouco exagerada, e começa a tornar-se cliché, por termos demasiados meios de entretenimento demasiado obcecados com essa "imagem". Não pode um homem ser um génio e dar-se bem com os que os rodeiam? Porque é que precisamos de endeusar os "génios"? São pessoas como todas as outras, não são bichos-do-mato, nem bichos raros, caramba.

Além disso, a leitura do personagem e do homem em questão como génio excêntrico acaba por soar mal associado à sua homossexualidade. Quase que parece transmitir a ideia de que os que caem um pouco fora da "normalidade" são homossexuais, ou pior, que os homossexuais caem fora da normalidade.

De qualquer modo, o exagero do génio incompreendido leva a outro problema na história, que é o antagonismo pelos que o rodeiam. O que debilita aquilo que aconteceu na vida real, que o trabalho de criptografia em Bletchley Park parece ter sido um trabalho de equipa, de muitos a contribuir para o mesmo.

Compreendo o foco em Alan Turing, que sim, foi crucial para este trabalho, mas o antagonismo no filme com os colegas e superiores militares só acaba por fazer esquecer que o verdadeiro antagonista para estas pessoas era o lado alemão da guerra, e que estavam todos a remar para o mesmo lado.

Portanto, acho que o que pediria aqui era que tivessem inventado menos com a biografia de Alan Turing, pois acredito que podia ter sido um bom filme à mesma, igualmente dramático, com o mesmo objectivo, com as mesmas ideias, e possivelmente usando muitas das mesmas cenas, apenas usando um foco ligeiramente diferente.

Saber antecipadamente que muitas daquelas coisas foram "elaboradas criativamente" roubou-me o gosto que teria tido com a história; o que não é propriamente culpa do filme, eu sei; e volto a reconhecer, se isto fosse apenas uma ficção, eu teria gostado bastante e ficado satisfeita com a maneira como as coisas foram narradas.

O contraponto a esta perspectiva é Sniper Americano. Prefiro bastante que o filme tenha tomado liberdades criativas (o protagonista Chris Kyle, na vida real, parece ter sido menos heróico e um pouco mais idiota). Acho que podia ter sido feito mais em certas partes, mas reconheço que já faz um trabalho interessante ao mostrar o dia-a-dia de alguém que estaria no Iraque nos primeiros anos do conflito armado.

E apesar de haver um foco grande no dia-a-dia violento da vida de Chris lá, não o senti como glorificação da violência. Há quem o vá fazer, imagino, mas o filme mostra claramente que as acções têm consequências, que homens morrem lá todos os dias, dum lado e doutro, e que esta exposição constante a um cenário violento modifica Chris, causando-lhe problemas a nivel mental, e impedindo-o de conseguir viver uma vida "normal", quando está de volta aos Estados Unidos.

Sim, há uma mentalidade de "eles contra nós", que é bastante problemático, e o foco em dois antagonistas dá cara à violência praticada por muitos como eles, mas também dá cara à violência praticada pelos soldados americanos. Não sabemos muito sobre os antagonistas, mas são pessoas, em vez de vultos abatidos sem pensar duas vezes pelos soldados.

Aquilo que eu disse ali em cima sobre achar que podia ter sido feito mais... há uma coisa no mundo literário que passamos a vida a repetir, sobre show, don't tell, e sinto que o filme fez o equivalente de tell em certos pontos cruciais. Diz-nos que a guerra tem efeitos nestes soldados, nesta geração de jovens que foi servir o seu país e acabou destruída, de certo modo. Diz-nos que o Chris está afectado pelo seu trabalho como sniper, que a violência no Iraque condiciona a sua vivência nos EUA, e que lhe é difícil reintegrar-se.

E pronto, isto é-nos apresentado em poucas e curtas cenas, que não conseguem construir uma narrativa coesa que apresente estes pontos ao espectador. O estado mental dos soldados no Iraque podia ser tão mais desenvolvido (até porque viria a ter importância no desenrolar do final, numa espécie de ironia trágica), e o melhor exemplo que posso dar disto é uma cena em que Chris e a sua unidade entram à força numa casa e acabam a jantar lá.

Mentalmente, estava a comparar essa cena a uma semelhante em Fúria, um filme que saiu o ano passado, que ocorre no fim da 2ª Guerra Mundial, durante a tomada da Alemanha, e que acompanha uma unidade de soldados que tripulam um tanque. Na cena em questão, bastante impressiontante, sob a aparência de civilidade vemos o quão aqueles homens estão destruídos, psicologicamente, mentalmente, espiritualmente, e como seria lhes seria difícil voltarem à vida civil. Não encontrei nada de parecido em Sniper Americano.

Do mesmo modo, quando Chris volta finalmente para os EUA, temos uma série de cenas soltas que querem estabelecer que lhe foi difícil voltar à vida civil, mas que conseguiu de certo modo curar-se e refazer a sua vida. Não senti que contassem uma narrativa, algo que puxasse a audiência a empenhar-se na quebra mental de Chris, em como a guerra o tinha mudado e como isso o impedia de reintegrar, até que ajudar outros veteranos o ajudou a si e lhe permitiu reestabelecer-se.

Acho que esta narrativa final teria dado mais significado a uma certa revelação final que o filme apresenta, e que foi como um murro no estômago. (Para quem não sabia o que acontecera, como eu, isto é.) Foi algo impressionante, mas por outro lado, senti-o como uma manipulação emocional fácil, por puxar ao choque, e que podia ter mais contexto e sentido se a narrativa que mencionei no parágrafo anterior tivesse sido contada.

Acho que o problema é que o filme é muito factual (apesar de mexer um pouco com os factos, creio eu), e pouco emocional. É uma escolha dos criadores, de facto, e uma válida, mas na minha opinião, não enriquece a história contada. Teria sido uma boa oportunidade para availiar como a guerra destrói as pessoas, numa altura em que a guerra no Iraque está tão fresca, e toda a gente ainda tem demasiado medo de criticar ou questionar este conflito armado.

Percebi ainda mais um par de coisas que os filmes têm em comum: são biopics, e o foco no indivíduo retratado acaba por resultar no detrimento da imagem geral que os rodeia, e na incapacidade em reflectir no que os rodeia, quando é um assunto com tanto para explorar.

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

O mês em que me largaram à solta na Marvel Unlimited (e eu perdi a cabeça) ...

... bem, talvez nem tanto. Mas lá que foi um bom mês, foi: pelo menos suficientemente bom para eu ter aproveitado uma extensão do acesso ao serviço durante mais dois meses com um desconto substancial, e aproveitar para explorar mais um pouco. Pelo caminho, acabei por tropeçar em tanta coisa nova, ler algumas coisas não planeadas, outras que deixei para trás há muito tempo, e ficar com uma wishlist ainda maior, para mal dos meus pecados.

Tudo isto começou no início do mês de Dezembro, quando descobri que naquela primeira semana tinham uma promoção que permitia a adesão ao serviço durante um mês, só que em vez do valor habitual de 9,99 dólares mensais, estava a 0,75 dólares (qualquer coisa como 0,60 euros). Não pensei duas vezes. Depois de ter ficado pendurada pelas revistas Marvel da Panini em português, achei que podia pelo menos ler os arcos das histórias que me faltavam.

E que coisa é esta da Marvel Unlimited? Essencialmente, é uma biblioteca online da editora, a que podemos aceder mediante subscrição, mensal ou anual, e que nos permite ler qualquer comic da mesma - desde que tenha mais de 6 meses de publicação, que é a data para a adição de um determinado número de uma determinada revista.

Não faço ideia de quão bom é o sistema com material mais antigo, porque não o explorei a esse ponto, tendo eu procurado ler maioritariamente coisas bastante recentes, e por isso, em geral, fiquei satisfeita, porque encontrei o que queria ler sem problemas.

(Excepto as coisas mesmo recentes, por causa da restrição dos 6 meses. Mas percebo porque é que existe: será um período de maior interesse, em que o leitor pode comprar número a número da revista, se quiser mesmo ler. Se quiser esperar, ou tem a subscrição, ou compra o livro que colecciona vários números da revista e que eventualmente sairá para as bancas.)

É possível ler um determinado comic de duas maneiras: ou no computador, ou através da aplicação para tablet, que é a que tenho usado primariamente. Tentei carregar uma vez um comic no computador, e não me pareceu muito útil. Não gosto particularmente de ler e-books no computador, e aqui a minha reticência também se aplica.

Além disso, a maior parte das páginas estão na vertical, e o ecrã do computador na horizontal, o que quer dizer que é preciso ler no modo full screen para conseguir ver alguma coisa de jeito (e mesmo assim...).

Quanto à aplicação, ao que sei está disponível para sistemas Android e iOS. No meu caso, o meu tablet tem sistema Android e um ecrã de 7 polegadas, e por isso as minhas impressões podem ser coloridas pelas vantagens e limitações do tablet.

Durante muito tempo a aplicação teve alguma má fama de bugs e imperfeições; e nesse aspecto considero-me bastante sortuda, porque apanhei-a num ponto em que muitos foram corrigidos. Ainda há muita coisa a melhorar, na minha opinião, mas nada intolerável, nada que me dificulte o uso do serviço ou a leitura.

A aplicação tem 5 separadores no topo, relativos às principais funções na aplicação (e no site) relacionadas com a leitura dos comics, e bastantes explícitos pelo seu título: "Account" para aceder a informação sobre a nossa conta e à ajuda; "Home" para destacar comics lidos recentemente ou novos comics adicionados ao sistema; "Discover", onde se encontram desataques a personagens, eventos ou artistas, e que nos permite explorar comics relacionados com os mesmos.

Faltam dois separadores, que são aqueles a que dou mais uso. O "Browse", que permite persquisar os comics, e que os organiza por vários aspectos - e aqui é que pode ser um pouco mais complicado para quem não esteja à vontade com o labirinto que por vezes os comics são. Por vezes uma revista de um persongem foi editada no passado, e depois cancelada, e depois voltada a editar mais recentemente, e a nomenclatura e organização pode não ser das coisas mais fáceis de perceber.

Os vários aspectos em que o separador organiza os comics são: por eventos, ou seja, arcos narrativos que por vezes englobam vários títulos, o que é útil se se quiser conhecer um evento a fundo, lendo-o de seguida pelos vários títulos; por criador, o que é útil se se quiser ler o trabalho de alguém num determinado título; por data de publicação, o que para mim não tem grande utilidade, a não ser que se saiba a altura em que determinada história foi publicada.

Também pode ser organizado por personagem, o que é útil se se quiser seguir um personagem específico - com o detalhe de que me parece que isto é mais para o inútil, já que não está bem organizado, porque as revistas não têm associados todos os personagens que aparecem, e o resultado recíproco é que seleccionando a pesquisa por personagem, não vão aparecer todas as revistas em que aparece.

E por fim, aquele que uso mais, que é por séries. Como já estou habituada ao modo de organização dos títulos é o mais fácil para mim. Organiza os títulos das revistas alfabeticamente, e coloca à frente os anos de início e fim de edição, o que me facilita muito a pesquisa, porque quando quero ler algo já procuro a informação completa de título, data e artistas, e assim vou directamente ao que procuro.

Em termos de navegação este sistema do "Browse" parece-me bastante intuitivo, e fácil de navegar. Há uma barra lateral com o alfabeto para facilitar a procura, e ir-se logo para os títulos começados por uma determinada letra - a piada da barra lateral é que é tão estreitinha, quase que parece que nem se consegue tocar nas letras, mas por um milagre qualquer vai lá ter quase sempre. (Às vezes vai parar à letra anterior ou posterior.)

O quinto separador é o "My Library". Quando estamos a navegar pela aplicação, é possível entrar na página de cada número de cada título, e adicioná-lo à nossa Library para marcar esse número para leitura posterior, ou manter uma lista de coisas que foram lidas, etc.. É bastante útil, e tenho-o usado para manter uma lista do que li com a aplicação.

A desvantagem é que não permite qualquer tipo de organização. Os comics estão por data de lançamento (a partir do mais recente), mas era útil poder organizá-los dentro de "colecções" pessoais, que permitissem colocar cada comic numa pasta com um título adequado. Ou pelo menos, já era útil poder colapsar cada número dos comics na Library dentro do título da respectiva revista, porque quantos mais comics vou adicionando, maior é a confusão e pior é a navegabilidade.

Dentro do "My Library" também posso aceder aos comics que guardei para ler offline. A aplicação permite guardar até 12 números de cada vez, e o botão para fazer o download para o aparelho está na página individual de cada número, mas só depois de este ter sido adicionado à Library, o que é um pouco aborrecido, porque só complica a coisa.

A parte chata da aplicação é mesmo essa, o download de cada comic. Na minha experiência, o download quando o tablet está ligado a uma rede Wi-Fi nem sempre é o melhor. Quase que parece que tenho de estar em cima do router, porque basta estar um pouco longe para o download ser bem lento; e pior, nem sempre é fácil de perceber se já terminou, graças ao modo como a aplicação mostra o download a ser feito - já tive várias surpresas de achar que tinha acabado, desligar a Wi-Fi, e mais tarde tentar ler e ficar apeada porque o download não tinha terminado, e o sistema fazia parecer que sim.

Aqui o que posso recomendar é que se ligue a leitura offline para cada número individualmente, e esperar que o download de um esteja terminado antes de ligar o número seguinte. Para confirmar se o download está mesmo terminado, recomendo desligar a ligação Wi-Fi, voltar a entrar na aplicação offline, e ver se os números do comic pretendidos estão lá. Se não, voltar a ligar e voltar a fazer download antes de se afastar do hotspot. Fora isso, felizmente o meu tablet tem 3G, e se estiver aflita posso usar essa ligação, que é bastante rápida e não mostra estes problemas (só tem é limite de tráfego).

Quanto à facilidade de leitura da aplicação, não me posso queixar. Como disse, o meu tablet tem 7 polegadas, o que quer dizer que consigo ler uma página vertical praticamente sem fazer zoom, apesar de ser desconcertante ler assim, porque parece que estou a ler um livro superpequeno. Acabo por fazer zoom para ler as vinhetas mais à vontade, e vou navegando pela página com os dedos.

Não dá para fazer um zoom muito a fundo, tipo ver os poros da pele dos personagens, porque a imagem não tem qualidade para isso, mas tem a qualidade suficiente para poder ler sem problemas. É possível ainda navegar dentro do comic para a página que se procura; de qualquer modo a aplicação guarda a última página que se leu, por isso não é preciso andar à procura.

Em suma, foi uma boa experiência, uma não sem problemas, mas que se destaca largamente pela positiva; nem que seja porque me deixou terminar histórias em que fiquei pendurada, ler histórias que me deixavam curiosa, mas não o suficiente para me arriscar a mandar vir o livro, ou histórias em que o livro está esgotado e de qualquer modo não as poderia ler. Recomendo pelo menos que se experimente e dê uma olhadela; creio que o sistema permite ler gratuitamente um pequeno número de comics para os curiosos poderem experimentar o serviço e a aplicação.

domingo, 18 de janeiro de 2015

O Diário da Princesa III e IV, Project Princess (#4,5), Meg Cabot

Meg Cabot

Título original: Princess in Love (2002) /
Princess in Waiting (2003) / Project Princess (2003)

Páginas: 232 / 200 / 64

Editora: Bertrand / Bertrand / HarperCollins

Tradução: Irene Daun e Lorena, Nuno Daun e Lorena / José Luís Luna

No terceiro volume de O Diário da Princesa, a Mia tem finalmente um namorado, mas não é exactamente a pessoa por quem ela suspira. O Kenny convidou-a para sair no fim do livro anterior, e a Mia na sua imaturidade deixou a coisa avançar até serem oficialmente namorados. O que tem uma certa piada, porque a Mia passou o tempo todo a querer um namorado, só que agora que tem um, e passa o tempo todo a evitá-lo e a pensar em como vai acabar com ele.

Acho que o mais interessante disto tudo é o espaço para evoluir que a Mia tem ao longo dos livros. Ela pode ser uma princesa, mas não tem tudo resolvido, não sabe tudo, faz asneiras, dá dois passos para a frente e um para trás. Esta coisa de ela andar com o Kenny é uma confusão pegada, e a Mia não a gere da melhor maneira, mas acredito que tem boas intenções, e bem, apesar de nem sempre ir pelo melhor caminho, acaba por resolver as coisas.

Este livro também passa pela recta final do semestre escolar, pela época de exames, uma altura em que a Mia anda muito nervosa, e ninguém ajuda. A Lilly quer boicotar a escola; a Grandmère quer prepará-la a tempo para o seu primeiro discurso em Genovia; uma rapariga chamada Judith anda a passar mais tempo com o Michael, o que deixa a Mia com ciúmes; e alguém anda a deixar-lhe rosas no cacifo - mas da última vez que a Mia teve um admirador secreto, isso não correu assim tão bem.

A melhor parte do volume é que a Mia se abre um pouco com algumas pessoas da sua vida sobre a paixoneta que tem pelo Michael, o que se torna refrescante - e engraçado também, pelos "palpites" que toda a gente não se escusa a dar. E a maneira como tudo se resolve acaba por ser terrivelmente engraçada. A Mia não foge a dar uma de dramática, mas isso até torna as coisas mais interessantes, e é uma boa oportunidade de crescimento.

O quarto volume é inusitado na narrativa, pois a Mia está em Genovia desde antes do Natal, e vai passar cerca de um mês lá. Ora o livro começa a meio da estadia, e a Mia partilha connosco as entradas anteriores no diário. Só que como os dias dela em Genovia são muito agitados, geralmente as entradas não são longas, apesar de serem divertidas, pois não deixam de acontecer peripécias nas representações de estado a que a Mia vai.

Gostei bastante dos momentos em Genovia, porque deu para explorar a Mia num novo ambiente, e são introduzidos novos elementos, como o Príncipe René, um primo muito afastado que a Grandmère adoraria empurrar para os braços da Mia. Também há a questão dos parquímetros, que a Mia introduz inadvertidamente e acaba a ser discutida no parlamento - e o acompanhamento dela da questão depois de voltar a Nova Iorque é curioso de seguir.

O volume também engloba uma "neurose" da Mia quanto ao seu "talento secreto" - ela está na aula de Dotados e Talentosos, mas não sabe que raios é que é o seu talento para merecer lá estar, apesar de a Lilly lhe garantir que existe. Por outro lado, a separação do Michael enquanto está em Genovia deixa-a insegura, pois mal começaram a andar e tiveram de se separar, e portanto as "neuroses" da Mia entram em acção, dando origem a uma série de cenas divertidas.

O volume quatro e meio, Project Princess, é uma curta novela que faz a ponte entre os volumes quatro e cinco, e acompanha um momento em que a Mia e os colegas vão para a Virginia Ocidental trabalhar num projecto de caridade que passa por construir uma casa para uma família carenciada. O livro foi escrito com o propósito de doar os lucros a uma caridade, e por isso é bastante adequado que os personagens também empreendam esse tipo de experiência.

A piada do ponto de vista da Mia neste pequeno livro é que ela estava tão entusiasmada antes de partir, porque ia poder ajudar alguém (e poder curtir com o Michael nas horas vagas, esperançosamente), mas depois chega à Virginia e é tudo um pouco menos civilizado do que ela esperava, ou do que está habituada em Nova Iorque. O choque de expectativas é divertido.

Uma coisa que gostaria de apontar é a maneira como a Meg Cabot faz resultar a voz narrativa da Mia. Porque pensando bem, ela é bastante dramática, algo exagerada, e está sempre com uma fixação qualquer pouco saudável. O resultado é que na vida real, ela seria uma pessoa complicada de aturar, por vezes; no entanto, também é muito preocupada e muito dada, e mesmo fazendo asneiras quer melhorar, e isso acaba por fazer a diferença na sua caracterização.

Outra coisa que gosto de ver é a evolução da postura da Mia e dos outros personagens em torno dela. A Mia começa cheia de assumpções acerca de certos personagens que a rodeiam, e é muito bom vê-la vê-los sob uma nova luz. E por outro lado, é muito satisfatório do ponto narrativo ver como certas coisas já estão planeadas de antecedência, como algumas vão resultar assim e assado, e como outras não vão resultar de todo. Há uma série de pistas para isso e é bom reler e encontrá-las.

Quanto ao trabalho de tradução...credo. Já o disse na opinião anterior, gostava muito do tradutor dos primeiros dois livros, o Mário Dias Correia, e por isso sinto que fui de cavalo para burro com os tradutores em ambos os livros seguintes (terceiro e quarto). Eu não sou particularmente fã do trabalho do par Irene/Nuno Daun e Lorena, já os encontrei noutros sítios e não gostei por aí além.

Contudo, neste terceiro livro desta série... que DESASTRE, que horror, até dá vontade de chorar. Primeiro porque este pessoal não percebe nada de cultura geral e cultura popular, e não percebe nada da audiência alvo, por isso o livro está pejado, mesmo pejado, de notas a explicar cada uma das referências que a Mia faz.

Oh meus queridos, eu acho que ninguém no hemisfério ocidental precisa que expliquem quem é a Oprah, está bem? Nem há dez anos era preciso (quando o livro foi publicado). Especialmente quando vocês fazem porcaria e dizem que ela é uma "cantora norte-americana". *facepalm* Eu nunca vi a Oprah a cantar, mas se já tiverem visto, passem para cá o link do vídeo, por favor.

Depois estes tradutores fazem uma coisa que me me aborreceu brutalmente e até me deu assim uns instintos assassinos, porque cada vez que eu tropeçava num exemplo desta coisa dava-me vontade de esganar alguém. Cada vez que aparece o nome duma coisa, como o baile da escola da Mia, ou o nome duma organização da escola, ou algo parecido (não necessariamente da escola dela), os tradutores escolhiam manter o nome dessa coisa em inglês... e pôr uma nota com a tradução. *doublefacepalm*

Isto serve que propósito, exactamente? Estas organizações são ficcionais, não têm significado na vida real, não têm nenhum trocadilho associado, por isso qual era o problema em fazerem o vosso trabalho e traduzir o texto no próprio texto, e não nas notas???

Enfim, eu comprometi-me a ler a série e vou ler, mas já temo a leitura do próximo livro traduzido por eles, porque acho que ainda há mais um. *medo* Em comparação, o tradutor do quarto livro, que é outro (bom trabalho, Bertrand, em manterem um tradutor ao longo da série... pois, nem por isso), parece quase competente.

(Digo "quase" porque houve ali umas frases com uma formação meio estranha, o que geralmente quer dizer um tradutor a armar-se em esperto com expressões coloquiais... mas depois da tradução anterior adoptei uma atitude "não quero saber, não vou ligar, não tem nada a ver comigo" para me poupar a dor de cabeça.)

E pronto, daqui a um mês cá estarei, a opinar mais um par de livros da colecção, e esperançosamente não à beira de um ataque de nervos por causa dos tradutores. Agora é que as coisas vão ficar meeeesmo interessantes para a Mia, e mal posso esperar.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Curtas: Batman 75th Anniversary Box Set

Batman: The Dark Knight Returns, Frank Miller, Klaus Janson, Lynn Varley
Esta história é mais velha que eu, o que quer dizer que o Batman presente na cultura popular a que fui exposta toda a minha vida é largamente determinado por esta interpretação. Cheguei a ver alguns episódios da série dos anos 60, que era engraçada, mas o Batman com que estou familiarizada é bem mais taciturno.

Portanto, consigo ver como esta história foi impressionante no seu tempo, e consigo apreciar isso, mas não é algo que me deixe surpresa. O Batman volta num momento complicado para a cidade de Gotham, cheia de violência e de vilões à solta; mas a sua aparição também provoca o despertar de vilões como o Joker - por isso coloca-se a questão se o Batman surge por causa dos vilões, ou são os vilões que surgem por causa dele.

Acho fascinante a relação que estabelece entre o Batman e o Bruce Wayne, a relação de dependência, e a maneira como um parece provocar uma desevolução no outro. Também gostei de ler sobre o que era sugerido sobre este futuro, tanto a nível político como o estado de coisas na vida do Batman. É mencionado que um dos Robins morreu, Jason Todd, o que se torna interessante por ser uma coisa que veio a acontecer mais tarde na continuidade normal, marcando o percurso do Batman.

Algo curioso na história é o modo como integra na narrativa principal a cobertura noticiária dos acontecimentos, tanto em Gotham, como fora dela, no país. Acaba por ser uma crítica à postura dos media e também ao momento político que se vivia na altura, ainda na Guerra Fria, e apesar de afastar um pouco da história principal acaba por ser de certo modo um seu reflexo e um seu complemento, por isso gostei de acompanhar.

Não sou fã do tratamento das mulheres na história, porque às vezes parece que ninguém nos comics sabe escrever uma personagem tridimensional que seja mulher, só sabem recorrer ao cliché, e aqui não se fugiu a isso. A Selina Kyle foi reduzida a uma madame mal vestida e mal maquilhada e histérica (estão a dizer-me que a maior ladra do universo DC ficou reduzida a isto?), a nova comissária Yindel não é suficientemente desenvolvida para dar uma boa ideia da pessoa que é, e...

A Carrie Kelley. A Carrie é uma jovem que fica inspirada pelo Batman e assume o uniforme do Robin, tentando fazer a diferença, e acabando por ajudar o Batman numa situação complicada. Por um lado, gosto dela, do impulso puro que a impele a tentar ajudar num mundo cada vez mais perigoso, e gosto de como é engenhosa e consegue ajudar o Batman. Por outro, é questionável a sanidade do Bruce em aceitar uma sidekick não treinada, e preocupo-me em como esta loucura vai afectá-la.

A parte final do livro tem um conflito entre dois velhos amigos em lados diferentes da questão, reflectindo como os dois personagens são dois opostos, e honestamente não pensei que veria tanto do Super-Homem durante o livro. O papel dele neste futuro é tão distorcido quanto o do Batman, apenas duma maneira diferente, o que também é uma base para reflexão.

A arte torna-se interessante especialmente por duas coisas: a divisão frequente da prancha em muitas vinhetas, que me obrigou a esforçar visualmente, o que é uma coisa boa, e o trabalho de cor, em estilo aguarela, que muda ao longo dos capítulos confome a história, e dá um ar delicado a uma trama que é bem mais pesada.

Enfim, é uma história bem negra, muito pessimista, e tem bastante pontos de interesse, algumas observações certeiras, porventura, mas por outro lado também não me convenceu completamente. Não pretendo conhecer o personagem a fundo, mas algumas coisas não encaixaram bem com outras interpretações do Batman mais, er, canónicas. Enfim, os comics são feitos disto, diferentes interpretações, e se me esquecer disso acaba por ser uma boa história.

Batman: The Court of Owls, Scott Snyder, Greg Capullo, Jonathan Glapion
Este foi uma boa surpresa. O Batman está no seu elemento, a investigar um mistério que se desenrola em Gotham, e isso foi grande parte do que me cativou, usar uma caracterização clássica do personagem, ao mesmo tempo que é empurrado para um mistério que o desafia, talvez maior que as suas capacidades, e que o fazem sair da zona de conforto.

Adorei a ideia da Corte de Corujas, a Court of Owls, tanto pela imagem usada, a da coruja, que é um animal com uma simbologia muito particular, tal como o morcego. A coruja é em algumas culturas associada ao azar, à morte, e certas espécies de corujas são mesmo predadoras de morcegos, por isso é uma simbologia fabulosa para usar numa história do Batman. Além disso, as máscaras dos membros da Corte são ao estilo de uma família específica de corujas com um ar arrepiante, o que só aumenta a atmosfera ameaçadora que evocam.

Por outro lado, é fascinante ver o Batman em sarilhos, fora da zona de conforto, a confrontar-se com algo que não conhecia sobre Gotham, algo que esteve sempre debaixo do nariz dele, e que se conseguiu esconder das suas capacidades detectivescas. Toda a coisa tem um ar de teoria da conspiração, de segredos escondidos ao longo da história de Gotham, e foi delicioso de desvendar. Contudo, também apreciei ver o lado Bruce Wayne, como foi incorporado na narrativa e o peso que nela teve.

No geral gostei da arte, as pranchas têm por vezes um planeamento dinâmico, e o traço agrada-me; o que gostaria de destacar, contudo, é uma parte da história em que o Batman fica à mercê da Corte e se vê à beira de perder o rumo e a sanidade, o que no desenho se traduz por um posicionamento da prancha... inusitado. Contribui para trocar as voltas ao leitor e colocá-lo um bocadinho na posição do personagem. Aliás, toda essa parte da narrativa é tão boa de acompanhar.

Batman: Hush, Jeph Loeb, Jim Lee, Scott Williams
Esta é uma história de que gostei por uma razão semelhante à anterior: desafia o Batman, apenas duma forma diferente. Um inimigo misterioso manobra uma série de circunstâncias e faz o protagonista seguir de pista em pista, descobrindo que amigos e inimigos são marionetas neste esquema obscuro.

Apesar de ser uma história longa, conseguiu manter o meu interesse ao longo dos doze números sem problema, revelando aos poucos algo mais da trama, mostrando como o inimigo de identidade desconhecida manobrou os personagens relacionados com o mundo Batman.

Um dos pontos altos é, portanto, o elenco de personagens, o modo como os vilões e aliados do Batman se sucedem, e parte da piada é reconhecê-los e contá-los entre as aparições na história. Isso, e chegar à conclusão que conseguia reconhecer à partida muitos deles.

Entre todas os momentos da narrativa, destacaria a aparição duma pessoa que se pensava morta nesta altura, cujo percurso marcou o Batman e é capaz de o destabilizar; a ida do Batman a Metropolis; a aparição do Joker, que uma vez na vida nem sequer é responsável pelo que é acusado; e o papel da Catwoman na trama - é superestranho ver o Batman tão apanhadinho por causa dela, mas bem divertido também. (É claro que dá vontade de lhe dar um par de carolos pelo que faz no fim... ao Batman, quero dizer.)

Consigo acreditar no Batman meio distraído pela paixoneta pela Catwoman, andando dum lado para o outro sem chegar mais perto da identidade do inimigo... até certo ponto. A parte inicial da história envolve ele ir-se pendurando pelos prédios e alguém cortar-lhe a corda, caindo do prédio e espatifando-se todo... estão-me a dizer que o homem que planeia para tudo e mais alguma coisa nunca planeou para se proteger duma possível queda dum prédio em que não tivesse maneira de se pendurar em lado nenhum? Parece-me bizarro, tendo em conta o tempo que ele passa a trepar pelos telhados de Gotham.

Quanto ao inimigo misterioso, consegui adivinhar previamente um dos envolvidos; mas o outro, o puppet master, digamos, manteve-se no escuro. Talvez porque nunca são dadas propriamente pistas para o seu envolvimento, e porque está a fazer isto - só uma conversa com o Batman no final nos esclarece isso. Talvez por essa razão os seus motivos me pareçam fracamente delineados - se tivéssemos o livro todo para os explorarmos, isso não aconteceria. Mas posso acrescentar que foi muito esperto o vilão principal introduzir-se no enredo e parecer que é só mais um dos conhecidos do Batman a ser arrastado para a trama.

Bem, pelo menos o que parecia um livro longo acabou por se revelar rápido de devorar, cativante, e capaz de entreter, para além de juntar num só livro tantos dos personagens da família e do mundo Batman, e só por isso já valeria a pena explorá-lo.