domingo, 31 de maio de 2015

Este mês em leituras: Maio 2015

Mais um mês, mais uma viagem. O meu ritmo de leitura estabilizou mais ou menos, de acordo com os meus horários, e tenho encontrado coisas bem giras nas minhas leituras. O calor já aperta, trazendo uma miríade de oportunidades de leitura ao ar livre, se para aí estivermos virados, e com elas o potencial de uma tarde bem passada.

Livros lidos


Opiniões no blogue

  • A Quimera de Praga, Laini Taylor;
  • Cruel Beauty, Rosamund Hodge;
  • Meg Cabot: O Diário da Princesa IX - Princesa Mia; Princess Forever; Perfect Princess;
  • Curtas BD: Fábulas: A Revolução dos Bichos e Fábulas: O Livro do Amor, Bill Willingham, Mark Buckingham, Steve Leialoha; The Wicked + The Divine, Kieron Gillen, Jamie McKelvie, Matthew Wilson, Clayton Cowles;
  • Uma Nova Esperança, Colleen Hoover;
  • Curtas Middle Grade Infanto-Juvenis: As Aventuras de Flora e Ulisses, Kate DiCamillo, K.G. Campbell; O Único e Incomparável Ivan, Katherine Applegate; O Dragão de Gelo, George R.R. Martin, Luis Royo;
  • A Court of Roses and Thorns, Sarah J. Maas;
  • Meg Cabot: Uma Menina Igual às Outras, Ready or Not.

Os livros que marcaram o mês

  • The Wicked + The Divine, Kieron Gillen, Jamie McKelvie, Matthew Wilson, Clayton Cowles - não consigo explicar o porquê de ter gostado tanto, mas os autores apresentam um conjunto de coisas que me agradaram individualmente, e que ainda me agradaram mais em grupo, e diverti-me verdadeiramente a ler e decifrar a história e os pormenores dados, e a arte é linda, hipnotizante;
  • A Court of Thorns and Roses, Sarah J. Maas - a este ponto, esta é uma das minhas autoras favoritas, pois a maneira como escreve e cria as suas histórias ressoa comigo; gostei mesmo dos pontos do conto original que incorporou nesta história, e ainda mais de como expandiu este seu mundo, para além de ter uma protagonista que adorei seguir;
  • O Único e Incomparável Ivan, Katherine Applegate - gostei tanto de como a autora apresentou a história e aquilo que queria transmitir com ela, o Ivan é um protagonista cativante, e as suas peripécias de vida, absorventes: tem tudo para se tornar um clássico;
  • Hawkeye vol. 2: Little Hits, Matt Fraction, David Aja, Steve Lieber, Jesse Hamm, Annie Wu, Francesco Francavilla - adoro a maneira como os autores estão a fazer evoluir a história e as suas linhas narrativas, gosto da fragmentação que por vezes conferem à narrativa, e a arte enche-me o olho e as medidas, agrada-me mesmo;
  • Saga vol. 2, Brian K. Vaughan, Fiona Staples - apesar de ter gostado muito do primeiro volume, faltava-me ali qualquer coisa, que encontrei com este volume: a crescente familiaridade com o mundo e os personagens, uma ligação a eles, um investimento na sua história; quando penso no primeiro volume parece-me um bocadinho sem rumo, em termos de história, e agora consigo vê-lo mais claramente, consigo estabelecer as ligações que os autores insinuam, consigo apreciar as subtilezas incluídas, e é delicioso de explorar; divirto-me tremendamente com a saga familiar de Alana, Marko e Hazel, e estou a torcer por eles, e por (quase) todos os outros também, é incrível, mas se não estivessem todos uns contra os outros, eu quereria que toda a gente conseguisse o seu objectivo.

Outras coisas no blogue


Aquisições

O primeiro comprei aproveitando uma promoção com uma revista/jornal; os quatro seguintes foram adquiridos normalmente na livraria sem promoção especial (estava para aí virada). A Magnífica Sophy foi adquirida com descontos em cartão, que ando há anos para poder ler Georgette Heyer, e finalmente é a hora; e o livro da Darynda Jones foi adquirido via Círculo de Leitores, mais um volume da colecção das Campas.

Um dia destes deu-me uma pancada e decidi-me a encomendar duma vez uma série de livros em pre-order, para não ter o trabalho de ir encomendando aos bocadinhos, e esta pilha é o resultado, sendo composta maioritariamente por volumes de séries ou autoras que sigo (destaque para A Court of Thorns and Roses, Conspiracy of Blood and Smoke, Lion Heart, End of Days e All Played Out).

Temos também um dos próximos livros da Meg Cabot que vou ler (From the Notebooks of a Middle School Princess), que não sendo uma continuação é um livro escrito no mesmo mundo que outros da autora (os Diários da Princesa), e que me deixa muito curiosa sobre o que está guardado para os personagens que já conhecemos, além de que tenho muita vontade de conhecer a Olivia, a protagonista, e ver como ela se dá com esses personagens.

Está ali o outro livro da Meg que li este mês (Ready or Not), e o Holiday Princess, que devia ter sido lido o mês passado, mas não foi. É que estive quase dois meses à espera dele, desde que foi enviado; comprei numa loja em segunda mão, e fiquei agradavelmente surpreendida ao constatar que está como novo, sem marcas. A parte chata é mesmo ter levado tanto tempo, pois estava prestes a dá-lo como perdido.

Além destes, tenho ali dois livros que me deixaram mesmo interessada, e aos quais não resisti (The Girl at Midnight e The Game of Love and Death).

Banda desenhada do mês. Revistas Disney e os últimos dois volumes da colecção que estava a fazer via Levoir/Público. Fatale Volume Dois, que já saiu, e ainda bem, que quero ver aonde a narrativa vai parar; no entanto vou esperar que saia o Tony Chu Volume Dois, da mesma editora, para ler os dois em conjunto, como fiz com os respectivos primeiros volumes.

Y: The Last Man Book One comprei com um bom desconto e junta os dois primeiros volumes da colecção; e os restantes são resultado daquela mesma encomenda que já mencionei. Tinha gostado bastante de ler o primeiro volume da Captain Marvel, e por isso quis juntá-lo à colecção em papel. Adquiri também os segundos volumes de Saga e Hawkeye, e não podia ter feito melhor, que estou a adorar as respectivas colecções.

Esta pilha é já resultado da Feira do Livro. Este ano não estou a ver assim nada de extraordinário no que toca a ficção que me prenda ou me atraia, e que queira aproveitar a Feira para adquirir, por isso acho que me vou virar para a banda desenhada em força.

Temos ali dois livros de Calvin & Hobbes para juntar à minha colecção, A Última Antologia e Que Dias tão Cheios, cujo título não se vê porque está de lado. Eram livros do dia e aproveitei; e na compra de dois livros estavam a oferecer um livro da colecção Adam, tiras sobre um pai doméstico e a sua vida familiar (já tinha lido e gostei), e por isso veio cá para casa Prisão Domiciliária.

Pyongyang de Guy DeLisle era livro do dia na banca da Fnac, com um óptimo desconto, e ainda ofereceram na compra uma agenda (aquele caderninho com borboletas). Admirável Mundo Novo também era livro do dia, e depois de ter tido a não-tão-agradável surpresa de o ler em inglês, após muito procurar em português (a edição anterior esgotadíssima), para meses depois esta edição sair... bem, prometi a mim mesma esperar para que estivesse a estes preços.

Ainda ali está E Tudo o Vento Levou em dois volumes, também livro do dia na respectiva editora (Editorial Minerva). Os restantes livros encontrei em alfarrabistas. Andei à procura de edições antigas de livros da Jane Austen e encontrei isto. Títulos bem diferentes (com uma excepção óbvia), e o pormenor delicioso de estas edições traduzirem os nomes dos personagens. (Elizabeth é Isabel, Henry é Henrique, Catherine é Catarina, e o meu favorito, Jane é Joana). Uma boa curiosidade, é para coleccionar porque gosto da autora, e ainda hei de ver se caço mais algum.

A ler brevemente

Vou dar largas à minha curiosidade e ler finalmente Georgette Heyer com A Magnífica Sophy. Repito ali alguns volumes do mês passado, mas agora a culpa não é minha, tanto o The Winner's Crime como o End of Days são para ler em leituras conjuntas, em que estou à espera da disponibilidade da outra parte. A ver se não morro da antecipação até lá, ehehe.

Vou ler tanto From the Notebooks of a Middle School Princess como Royal Wedding para o meu desafio Meg Cabot. Os restantes são as histórias que mais curiosidade me suscitam de momento, para não falar do Lion Heart, o fim duma trilogia que tenho adorado seguir, estou expectante, animada e temerosa ao mesmo tempo para ver o que a autora preparou para estes personagens.

sexta-feira, 29 de maio de 2015

Uma Menina Igual às Outras, Ready or Not, Meg Cabot


Título original: All-American Girl (2002) / Ready or Not (2005)

Páginas: 296 / 336

Editora: Bertrand / HarperTeen (HarperCollins)

Tradução: Isabel Valente / não aplicável

Já não me lembrava de quanto gostava destes livros e do quanto eles me divertiam. A Samantha Madison, com os seus dramas e inseguranças, é fascinante de acompanhar, e adoro a premissa dos livros e o que a autora desenvolve a partir dela.

Para quem não conhece os livros, a Sam é uma jovem normal, irmã do meio, que se sente meio perdida no meio da irmã mais velha, Lucy, cheerleader e superconfiante, e da irmã mais nova, Rebecca, uma menina sobredotada. Tudo o que a Sam quer é continuar a desenhar, e que os pais reparem nela, o que a faz querer ter comportamentos mais... mal-comportados.

Um dos sarilhos em que se mete leva a que eles a coloquem em aulas de arte, para exteriorizar os seus impulsos criativos. O que a leva a estar na hora certa, no lugar certo durante um atentado à vida do Presidente dos EUA. Sam impede o malfeitor, e dá por si uma heroína nacional... e a receber as atenções do filho do presidente, que também está na aula de arte. Só que Sam cobiça o namorado da irmã mais velha... ou será que não?

Gosto tanto do retrato que a autora faz da Sam, porque é bastante credível e faz uma bela evolução de personagem. Essencialmente, a Sam, por ser a irmã do meio, a bem comportada, a que não arranja problemas, sente que os pais não lhe dão atenção, e por isso deseja ser e fazer coisas que contrariem essa atitude.

O que ela não entende (numa cegueira tipicamente adolescente) é que a aparente "negligência" dos pais significa que confiam nela, que acreditam que ela é madura o suficiente para lidar com as coisas sem precisar de paninhos quentes. E por isso a Sam quer dizer e fazer coisas aparentemente rebeldes para lhes captar a atenção, como ter um namorado como o da irmã, mas acaba por não prosseguir com grande parte delas, talvez por subconscientemente reconhecer que a sua atitude não é a melhor.

Sou uma fã da premissa do primeiro livro, que é um pouco wish fulfillment, no sentido de uma pessoa se tornar repentinamente conhecida e notória, com tudo o que isso implica, por uma situação que está fora do seu controlo, mas que ao mesmo tempo envolve uma acção com intenção e que mostra a fibra e o carácter do indivíduo.

Gosto bastante da maneira como a Sam de repente se vê a lidar com a Casa Branca, tendo uma posição oficial de Embaixadora dos Jovens dos EUA para as Nações Unidas; e gosto mais ainda de como em ambos os livros isso a põe em oposição ao Presidente.

Essencialmente, ele coloca-a em posições e situações em que acha que lhe vai dar a volta, achando que ela é uma miúda maleável, mas sai-lhe o tiro pela culatra, porque a Sam acaba por arranjar maneira de o embaraçar ou opor. É fascinante ver alguém numa posição tão importante a meter-se em sarilhos por causa de uma adolescente; e é muito interessante ver uma pontinha de drama politico neste aspecto.

Adoro ver como a relação da Sam com a irmã Lucy evolui. De início ela descarta as coisas que a irmã gosta ou diz, achando que por não serem as mesmas que ela aprecia, não têm interesse. Mas depois ela pede conselhos à Lucy, e o processo aproxima-as, para além de a Lucy ser uma caixinha de surpresas, e a Sam termina a história apreciando muito mais a irmã. Só tenho pena que a Rebecca não tenha o mesmo desenvolvimento.

Acho piada à envolvência familiar, porque os pais da Sam têm ambos trabalhos exigentes, e por isso têm em casa uma espécie de governanta, a Theresa, que acaba por ser a disciplinadora, e quem cuida da vida rotineira das meninas. Acho engraçado ver como isso funciona, e como os pais tentam no segundo livro envolver-se mais na vida das filhas.

Sobre o romance, é muito divertido ver a Sam e o David aproximarem-se. O rapaz é bastante discreto, mas sabe o que quer, e é bem giro vê-lo orbitar em torno da Sam, com ela abstraída da reacção que provoca nele. Os sarilhos em que se mete por causa da paixoneta que acha que tem pelo Jack são embaraçosos, mas são compensados pelo modo de desenvolvimento dos sentimentos dela em relação ao David.

Uma coisa do segundo livro que pode ser controversa, mas que me agrada mesmo muito, é como a questão do sexo é abordada. Não propriamente os dramas da Sam, que mete o assunto na cabeça, e agoniza sobre ele, e empola-o durante o livro, sem nunca falar com o pobre do David, que pobrezinho, não faz ideia da bagunça que ela faz na cabeça dela. (Comunicação era o ideal, mas vou dar um desconto, a Sam é demasiado nova e inexperiente para saber já isso.)

Não, o que aprecio é a discussão sobre sexo. Essencialmente a Sam passa o livro a tentar perceber se está preparada para esse passo, a informar-se sobre o assunto, a pesquisar, ... é muito refrescante ver num livro americano uma discussão honesta sobre o assunto, e uma descrição de sexo casual, no sentido em que não temos nada da perspectiva mais tipicamente conservadora sobre o assunto que é tão comum na sociedade americana.

É disto que os jovens precisam, e ainda mais satisfatório é o facto de haver um livro destes há já dez anos. Com o boom recente dos livros na faixa etária YA, é uma perspectiva mais comum hoje em dia, mas tenho a sensação que não seria tanto assim na altura em que foi publicado.

Já agora, a tradução do primeiro livro é horrenda. Horrenda, horrenda, horrenda. Há montes de frases traduzidas à letra, quando devia seguir-se o espírito da coisa, no caso de expressões idiomáticas e tipicamente americanas, há meter os pés pelas mãos, há usar palavras pouco adequadas para o que está a ser transmitido, há voltas de frase mal feitas, porque a ordem das palavras numa frase não é a mesma em inglês e em português... caramba, esta tradutora parece que nem sabe falar português, quanto mais inglês.

De qualquer modo, esta é uma duologia que guardo no coração, porque é muito divertida, a perspectiva da Sam, e o seu percurso, são fantásticos e fascinantes, e gosto mesmo da premissa. Foi muito bom revisitar.

segunda-feira, 25 de maio de 2015

A Court of Roses and Thorns, Sarah J. Maas


Opinião: Ahhh se dúvidas houvesse (não havia), este livro podia cimentar a minha apreciação por todas as coisas que saem da pena da Sarah J. Maas. (Creio que essa "cimentação" aconteceu algures pelo segundo livro dela, Crown of Midnight. Este livro já é o quinto! Bolas, o tempo passa demasiado depressa e ao mesmo tempo demasiado devagar...)

Tem todas as marcas de um bom livro dela (ah, quem estou a tentar enganar? nenhum me pareceu mau), e creio que em partes mostra uma evolução e amadurecimento que me agrada, porque quando se trata dum autor que gosto mesmo muito, quero é sempre melhor, nunca pior.

Este livro é primariamente apresentado como um retelling de A Bela e o Monstro, com pedaços de Tam Lin e East of the Sun and West of the Moon (palavras da autora). E se enquanto Throne of Glass e subsequentes começaram por ser originalmente um retelling da Cinderela, em cujo texto final se retém praticamente nada disso, aqui a homenagem aos contos é evidente e clara.

Melhor, adoro os paralelos estabelecidos. A maldição tem linhas comuns em ambas as histórias, e encaixa muito bem no mundo Fae que é aqui apresentado; os protagonistas assumem o papel tradicional da Bela e do Monstro em partes, mas noutros momentos isso é invertido. A Feyre bem podia ser o Monstro, pelo seu feitio, e o Tamlin o Belo, pela sua aparência féerica; mas a Feyre seria também a Bela, pela sua inocência e inexperiência no mundo féerico, e o Tamlin o Monstro, por ser um dos Fae, odiados pelos humanos.

A aparência (percepcionada e verdadeira) das pessoas na mansão do Tamlin é paralela à dos personagens do filme da Disney, por exemplo; e existe até uma cena de transformação no fim. Uma que eu previ à distância, o que não me aborreceu, porque estava mesmo curiosa para ver como se ia efectuar, e porque eu gostava mesmo da ideia de isso vir a acontecer.

A Feyre é uma protagonista fascinante. Ao contrário da Celaena, que usa a bravata como forma de esconder o tumulto emocional bem enterrado lá no fundo, a Feyre usa as suas emoções à flor da pele, e é tão bom de acompanhar, pela sua evolução. Adorei conhecê-la, cheia de fúria e frustração pela sua situação, e ódio e medo pelos Fae; mas também vê-la mudar aos poucos, aceitar os Fae que a rodeavam, compreender o mundo em que se inseria.

Nunca teve medo de admitir que estava errada, e não se acobardou. Debateu-se com as suas falhas, com o que não conhecia, e foi enternecedor ver o seu percurso nesse aspecto, por ser tão diferente do meu, e por me pôr a torcer por ela. Os desafios que encontra no fim do livro pedem um carácter forte, uma determinação sem limites, uma capacidade de superação extraordinária. Estou tão curiosa acerca dos dilemas que se lhe porão no futuro, porque aquilo que vislumbramos é intrigante.

O Tamlin, bem, é um "animal" completamente diferente. Muitas das interacções com ele são condicionadas pela maldição, tanto pela sua resistência a ela como pela sua impossibilidade em falar da mesma, e por isso estou com vontade de o ver sem ser acorrentado por ela. Gostei da sua natureza tendencialmente boa, preocupada com os seus, carregando o fardo de os liderar, mesmo através da maldição; mas também do seu feitio "rosnante" e travesso.

E também gostei muito de o ver com a Feyre, porque foram muito engraçados de acompanhar. O desenvolvimento a partir de inimigos, pessoas com tudo de mal contra a outra, que são obrigadas a passar tempo juntas e a apreciá-lo, bem, é muito satisfatório. Diverti-me tanto com os confrontos verbais deles, as irritações mútuas, as resmunguices (o Tamlin tem também um bocadinho de feitio de fera, que é tão giro), os comentários de bancada do Lucien - que se divertia tanto com a situação como eu...

Por falar no Lucien, fiquei fã dele. A sua história é trágica, e quero muito conhecer mais do seu passado e dos seus, mas aprecio que o Lucien nunca tenha deixado que isso o abatesse. A sua personalidade é apesar de tudo muito solarenga, animada, com alguma malícia, e gostei mesmo disso. E de ele ser um da fã relutante da Feyre e do Tamlin, mas de nunca deixar de se divertir com as cenas em comum deles.

A primeira parte do livro é uma de apresentação, de conhecimento no que toca ao mundo das fadas. É a fase de aproximação da Feyre e do Tamlin, de paixão, mas também é uma fase de inocência, porque a Feyre não sabe muito do mundo das fadas, nada de profundo, da sua política, dos seus dramas... e isso condiciona-a, deixa-a insegura e tolda-lhe os instintos, causando uma separação abrupta mas não longa que vai ditar a segunda parte.

Depois temos um interlúdio, uma visita a casa e um reatar da ligação com a família. Fico feliz que a Feyre tenha podido vê-los novamente, ter oportunidade para os ver num momento melhor, poder entendê-los mais profundamente. Achei bem interessante a sua relação com a irmã mais velha, Nesta, e espero que não tenha sido a última vez que a vimos, porque a Nesta é bem mais arguta que se pensaria.

A segunda parte do livro é horrível e deliciosa ao mesmo tempo. Coisas terríveis acontecem aos nossos protagonistas, momentos que me deixaram a roer as unhas e a torcer por eles, mas também a virar páginas como se não houvesse amanhã, para saber se iriam ficar bem. Não pensei por vezes que houvesse um amanhã melhor para eles, e louvo a Sarah por me torturar desta maneira, me fazer duvidar.

E no entanto, adorei esta parte porque explorou mais o mundo Fae, as cortes, a política, a tortuosidade das fadas... céus, odiei uma certa pessoa, mas amei odiá-la, e adorei seguir o percurso de superação da Feyre, de triunfo contra as adversidades, de puro desígnio e força mental focados num só objectivo. Apenas lamento que ela tenha tido de fazer coisas contra a sua natureza, pois deixaram marca, e é coisa que vejo (e espero que venha) a ser explorada no segundo livro.

Provavelmente devia falar um bocadinho do Rhys, sob pena de deixar toda a gente com a impressão errada, mas que se lixe, é um personagem potencialmente bom demais para explorar e não vou deixar que mo estraguem. Tem uma moral completamente errada, faz francamente coisas parvas e erradas à Feyre e não lhe vou perdoar por isso, mas parece ter um passado e uma história interessantes, e um presente suculento no mínimo.

Vejo mesmo ali muito drama em potência a ser explorado, até já consigo ver a angústia a sair-lhe dos poros. Eh. Mais ou menos. (Aprecio no entanto que se tenha chegado à frente quando foi o momento disso. Acho que muita coisa que faz e fez vem da fúria e desespero da sua situação, mas não é desculpa para a idiotice.)

Tendo dito isso, não consigo perceber como é que toda a gente acha que isto já é ou vai descambar em triângulo amoroso. Que raios, agora cada vez que temos um personagem masculino semi-bonzão e com pinta de bad boy, ele é automaticamente candidato a terceiro vértice do triângulo? Isto está a tornar-se cansativo.

Fui totalmente ao engano pelas opiniões que li, e apesar de não deixar que isso me afecte a leitura ou sequer a existência dela, não gosto de ver que agora se grita lobo triângulo a cada vez que temos dois ou mais homens na órbita duma mulher, porque o resultado é que como o Pedro e o lobo já não consigo acreditar, prefiro ver por mim.

De qualquer modo, pelo tipo de devoção e de determinação cega que vimos na Feyre na segunda parte do livro, não consigo vê-la a meter-se num triângulo. Além disso, já o disse, o Rhys fez-lhe mal, fez coisas contra a vontade dela, por mais que fosse uma maneira de evitar que lhe acontecesse pior (isso não é desculpa), e teria que rastejar muito para se redimir.

Gostava que a Sarah nos trocasse as voltas e fizesse algo completamente inovador com o Rhys. Fora isso, imagino que a sua posição nas cortes e acordo com a Feyre seja um veículo para a Feyre lidar com a escuridão que se instalou nela no fim do livro, devido às suas acções no mínimo moralmente ambíguas, e que deixaram sem dúvida marca nela. Pode ser uma coisa com potencial para andar para a frente.

Muitas palavras depois, apenas uma chega: adorei. Gosto muito de como a autora incorpora certos temas nas suas histórias, como os (e as) desenvolve, as ideias que quer apresentar e transmitir... enche-me as medidas em todos os aspectos, identifico-me com o que escreve, e fico muito contente por ter descoberto alguém que escreve como se fosse para mim, porque não a vou largar nem por nada. A minha sorte é que agora são dois livros dela por ano, o que vai ser muito mais fácil de suportar.

Páginas: 432

Editora: Bloomsbury (MacMillan)

sábado, 23 de maio de 2015

Curtas: três livros Middle Grade (er, infanto-juvenis) para todos os gostos

As Aventuras de Flora e Ulisses, Kate DiCamillo, K.G. Campbell
Este é um pequeno livro bem engraçado e algo peculiar. Depois de ser acidentalmente sugado para um aspirador, o pequeno esquilo Ulisses ganha super-poderes. Ou assim o defende a Flora, a menina que assim o nomeia e o adopta. Flora considera-se uma céptica, gosta de banda desenhada e salva o esquilinho do malvado do aspirador, mas nem toda a gente lá em casa se encontra tão acolhedora para com o Ulisses...

Uma das coisas que gostei no livro é o sentido de humor, derivado das situações e da linguagem. A noção de um esquilo super-herói é muito gira. Também, nesse sentido, apreciei o tom, balançando o cómico com o sério, e mantendo uma boa dose de singularidade nos momentos e nos personagens. Ah, e adorei o incorporar de banda desenhada para contar certos momentos da narrativa. É bastante adequado para os momentos de acção, e também por ser um estilo de eleição da Flora.

Um ponto alto da história é que a peculiaridade e o carácter divertido da mesma podem denotar uma aparente simplicidade, mas escondem aspectos mais sérios e contemplativos. A reacção da mãe da Flora ao esquilo é assustadora, algo excessiva, e coloca-a claramente no papel de vilã (apesar de no ponto de vista dela até compreender a sua reacção inicial, que entretanto descarrilou).

Podemos ainda argumentar que o superheroísmo que a Flora vê no Ulisses é uma projecção do seu gosto pela banda desenhada, combinada com uma tentativa de lidar com o divórcio dos pais. Mas mesmo ciente dos pontos sérios, gosto de apreciar mais a parte fantástica e estranha, e divertida deste livro, que o torna adorável.

O Único e Incomparável Ivan, Katherine Applegate
Este foi para mim o melhor dos três, sem discussão. A autora inspirou-se na história real de um gorila que esteve 27 anos em exibição num centro comercial americano (onde mais?) para criar uma narrativa comovente e que faz pensar sobre o tratamento dado aos animais, e que desafia como pensamos neles.

Também de estrutura enganadoramente simples, O Único e Incomparável Ivan é narrado na primeira pessoa, pelo Ivan, com capítulos curtos, de 2 ou 3 páginas, relatando pequenos episódios ou recordações, impressões sobre o que o rodeia.

E a execução é extraordinária. Muito convincente a criar as vivências do Ivan, a sua inteligência, a maneira como vê o mundo. Deu um gozo enorme acompanhá-lo e às suas impressões. Através da simplicidade, entevê-se um espírito observador e artista. Além disso, a simplicidade esconde pormenores comoventes, detalhes que descrevem o tratamento dos animais às mãos dos humanos, demasiado frequentemente cruéis.

Os personagens secundários são fantásticos, adorei a Stella e a pequena Ruby, pelo seu espírito, o Bob, pela sua perspectiva, a Julia e o George, pela sua amizade e esforços incansáveis, até o Mack, com a sua ambiguidade. É um livro que consegue descrever os seus personagens extraordinariamente, com apenas umas pinceladas, e é tão bom de ver (e ler).

O final é animador e surpreendentemente triste e emocional. Os esforços de Ivan para se integrar são tão giros de observar, e a nostalgia pelo passado, com os seus momentos bons, comovente. Aliás, todo o livro consegue emocionar com poucas palavras, o que é de louvar.

O Dragão de Gelo, George R.R. Martin, Luis Royo
Ei, é o George a ser contido nas palavras! E a ser bem sucedido nisso! O choque!... Ehehe. Diria que valeu e vale a pena dar-lhe uma olhadela, porque encontrei uma boa história, mostrando um bom sentido de timing e um entendimento do que é escrever um conto infantil.

Esta é uma história sobre uma menina fria como o Inverno, Adara, que cresce feliz na quinta do pai, vivendo entre a sua família. Os Verões são bons, mas é pelo Inverno que ela suspira, para fazer fortes de neve e brincar com os lagartos de gelo. E num Inverno, conhece o dragão de gelo, criando uma ligação forte mútua. Mas as suas terras são ameaçadas por uma guerra que se aproxima, e será um herói inesperado que intervém...

A narrativa tem uma estrutura tradicional de um conto infantil, e resulta muito bem por causa disso. Tem elementos fantásticos (dragões!), num mundo em que estão muito presentes, há um conflito principal, há drama, mortes e guerra, mas também coragem e vitória com custos elevados; e tudo termina num tom satisfatório. Gostei muito da Adara, do seu percurso e da sua relação com o dragão de gelo.

As ilustrações são a preto e branco (até podiam ser a cores!), mas muito detalhadas, bem ao estilo de Luis Royo, e bastante evocativas. Gostei mesmo de ler e acompanhar, e o design está muito agradável.

quarta-feira, 20 de maio de 2015

Uma Nova Esperança, Colleen Hoover


Opinião: Estava um pouco na dúvida acerca desta leitura. Gostei muito do primeiro livro, Um Caso Perdido, achei-o bem bom, tão absorvente, e questionava-me se este livro seria digno da fasquia que estava bem elevada. Por outro lado, desconfio por defeito de livros cuja premissa seja recontar uma história que já foi contada, mas noutra perspectiva, porque nem sempre a sua utilidade é clara ou sequer presente.

E sou capaz de acabar por gostar de um livro que faça isso. Por exemplo, temos o Trust in Me, da J. Lynn/Jennifer L. Armentrout, que reconta o Wait for You, e que se revelou uma boa surpresa, porque a voz do Cam era cativante e capaz de suportar a narrativa; e o próprio livro fazia um bom trabalho em não se limitar a recontar a mesma história, mas a complementá-la.

Em comparação, acho que Uma Nova Esperança falha bastante em ambos os aspectos. Primeiro porque o livro é exaustivo a recontar os eventos de Um Caso Perdido, revendo cena após cena, sem lhes acrescentar propriamente nada de novo. E como o mistério já foi revelado, acaba por perder a piada ao ler mais do mesmo.

Há pequenas coisas que são uma adição, e dou graças por elas, porque geralmente são muito divertidas, mas tenho pena que não tenham mais tempo de antena. Adorei o Daniel, porque era tão engraçado, e diz aquilo que todos gostaríamos de dizer. Gostei de ver bocadinhos com o Breckin, um personagem secundário que já era favorito anteriormente (e gostei de ver esclarecida a questão do e-reader).

Daquilo que há de novo, está centrado no início do livro, narrando o que aconteceu com a Less, e a reacção do Holder a estes eventos, o que foi comovente, mas também um pouco cansativo, por causa da voz dele, com a qual tive alguns problemas (já falamos disso). Achei interessante saber que a Less e a mãe deles sabiam uma certa informação privilegiada e que a mantiveram resguardada.

Sobre a voz do Holder, bem... não me parece forte o suficiente para carregar a história aos ombros. É interessante ver alguns dos momentos mais "estranhos" dele no livro anterior e ver a sua perspectiva, porque explica pelo menos as suas atitudes; mas também não era nada que eu não tivesse já deduzido na altura.

Além disso, achei-o por vezes mesmo irritante. Aquela necessidade patológica de se culpabilizar por todos os males do mundo! Credo, tanta auto-flagelação. A Sky cai para o lado, ele acha que é culpa dele. A Sky sente-se mal, a culpa é dele. A Sky espirra, a culpa também é dele. Ugh, que nervos. Eu consigo compreender como as circunstâncias o fizeram interiorizar a culpa, depois do que aconteceu quando ele era pequeno, e não digo que não seja realista, mas é enervante.

De qualquer modo, questiono se o percurso dele com a culpa que sente seria mesmo assim. Aquilo que aconteceu, aconteceu quando era muito novo, e apesar de ser uma situação marcante, pergunto-me se o tempo e a memória não a teriam modificado, condicionado. Ele parece recordar tudo e mais alguma coisa com tanta clareza, mas quando temos aquela idade pouco fica na memória, e muito disso possivelmente é modificado pelo decorrer do tempo e o surgimento da maturidade, que permite interpretar as coisas de modo diferente, e assim modificar a cena de que nos recordamos. Por isso, fará isto sentido? Tanta culpa, pura, não destilada? Parecia que tinha acontecido ontem, e não treze anos antes.

Fora isso, também não apreciei a voz dele no percurso do luto, porque há soluços na cronologia da narrativa, e as reacções dele não me pareceram mudar com o tempo e os saltos temporais. Não achei razoável que ele "reconhecesse" a Hope, passados treze anos, porque as pessoas mudam muito nesse tempo, e porque lá está, a memória não seria assim tão perfeita e cristalina.

Não gostei que ele achasse que tinha o direito de interferir ou modificar a vida dos outros, nomeadamente das mulheres da vida dele, escondendo-lhes coisas, só porque achava que "estava a protegê-las". A Less merecia saber do namorado, e fazer o que bem achasse por causa disso (viu-se que a solução do Holder foi um tiro no pé, e aí merece sentir toda a culpa do mundo), e a Sky merecia saber a verdade, e não descobrir num momento traumático.

Também não lhe achei piada por aí além como rapaz e namorado, porque parecia que não vivia para mais nada senão para a rapariga. Aliás, toda a narração é quase assim. Parece que o Holder não tem mais nada na vida senão a Sky e obcecar com a tragédia de treze anos antes. Ele não tem vida?

Em suma, gostei muito do primeiro livro, achei fascinante a Sky e a sua (falta de) reacção, porque fazia muito sentido com o percurso dela, e conseguiu manter-me interessada, ainda mais com um mistério a resolver.

Por outro lado, aqui, senti que fosse mais do mesmo, o Holder não fez nada por mim como personagem, a sua voz irritou-me, impedindo que tirasse gozo da leitura, ou sequer emoção dela, como esperava que acontecesse. Passei o tempo todo a questionar a narrativa em vez de me deixar levar, como no primeiro livro, e isso não é bom sinal. Preferia mesmo não ter lido isto. (Bem, talvez só as partes do Daniel, ou os pequenos pormenores que adicionam de facto algo à história.)

Título original: Losing Hope (2013)

Páginas: 304

Editora: Topseller (20|20)

Tradução: Ângelo Santana

segunda-feira, 18 de maio de 2015

Curtas: BD

Fábulas: A Revolução dos Bichos, Bill Willingham, Mark Buckingham, Steve Leialoha
Fábulas: O Livro do Amor, Bill Willingham, Mark Buckingham, Steve Leialoha
Depois de um início morno desta série, vejo-me a explorar um pouco mais a história e o mundo, ao ler os dois volumes seguintes da colecção. O primeiro pega nos conceitos e temas de A Quinta dos Animais (e talvez de O Senhor das Moscas) para ancorar a história, o segundo junta um conjunto de várias histórias, algumas stand-alone, algumas distribuídas por vários números.

Diverti-me bastante a ler o primeiro livro, graças à ideia de termos os habitantes da Quinta, os seres dos contos de fadas que não conseguem passar por humanos, a revoltarem-se contra o status quo e a quererem mudar as coisas. Adorei ver o papel da Cachinhos Dourados, armada em revolucionária de pacotilha, incitando alguns dos animais dos contos a revoltarem-se. Achei muito interessante ver a divisão entre animais que apoiavam e não apoiavam a revolução.

Gostei de acompanhar a tensão presente, a sensação de perigo iminente derivada da situação que se complica para a Branca de Neve. Toda a questão da revolução levanta boas questões sobre como as coisas estão organizadas para os personagens dos contos de fadas, e toca um pouco na frustração que têm por terem fugido das suas terras natais.

No segundo volume, achei alguma piada às histórias stand-alone, uma com o João do Pé-de-Feijão, no século XIX, algo moralista, o que contrasta com o feitio trapaceiro do João; e a outra pegando nos Liliputianos e outros personagens de contos com tamanho diminuto, contando uma historinha bem fofa sobre uma das suas tradições.

Entre as outras duas histórias, a primeira envolve um jornalista que anda a rondar a Cidade das Fábulas e afirma ter provas daquilo que eles são (o palpite dele é... vampiros, heh). Alguns dos personagens tentam resolver a situação duma forma muito original e engenhosa. A segunda história mete o retorno da Cachinhos e a sua tentativa de vingança.

O melhor deste história foi o Barba Azul levar o que merece, porque não gosto mesmo nada dele. Também há a história dos valentes Liliputiano e o seu companheiro/montada. Ou o golpe do Príncipe Encantado, que se revelou completamente. E ainda a vingança da Cachinhos.

Pela negativa, não achei piadinha nenhuma ao desenvolvimento entre a Branca e o Lobo. Até estava a gostar do par e da sua evolução, mas depois o autor decide lançar uma bomba que não se coaduna nada com o tom até então apresentado. Se era suposto apimentar a relação, não resulta, é uma situação permanente que resulta de um momento de mau gosto e que poderia ser visto como uma violação por ambas as partes. Soa tão mal, e não sei como é possível ir daqui para a frente sem a relação ficar manchada por isto.

De qualquer modo continuo a sentir uma ligeira falta de intensidade, de ligação com o material, como senti no primeiro livro. Gosto de ler, acho piada às ligações e adaptações dos contos, mas não é algo que me apaixone, que me envolva e faça vibrar com a maneira como os contos são adaptados. Sinto que as coisas são apresentadas por vezes pela rama, e precisava que fossem mais exploradas e mais depressa. A ideia de escrever diferentes géneros de histórias e apresentar assim o mundo dos contos é boa, mas na execução deixa um pouco a desejar.

The Wicked + The Divine, Kieron Gillen, Jamie McKelvie, Matthew Wilson, Clayton Cowles
Tanta tinta tem corrido por aí por causa deste livro, e mesmo assim nada me dava uma ideia clara dele, ou o que esperar. Podia correr muito mal, ou correr muito bem. Felizmente é totalmente o segundo.

The Wicked + The Divine tem uma premissa fascinante. A cada noventa anos, os deuses renascem e reencarnam em corpos humanos, e vivem durante dois anos até terem de morrer, desaparecer e hibernar até à próxima aparição. Ideia só por si já bem boa, mas melhorada pela questão de que no tempo presente os deuses encarnam em super-estrelas, veneradas pelas massas, num processo semelhante e dissimilar à veneração de que eram alvo em tempos antigos.

O como não é muito explorado neste livro; mais as consequências da sua existência entre nós. Estas são pessoas que acabaram de descobrir que são poderosas, que são veneráveis, e isso tem um potencial explosivo enorme. Não há moral ou controlo, não pelos padrões humanos. Por outro lado, há uma doçura e uma inocência em certas facetas dos deuses, e isso é muito interessante de ver explorado.

Achei a Amaterasu tão curiosa, pois ao dar um concerto leva as pessoas a um transe transcendental, e tem um feitio tão doce. A Sakhmet é uma doida, no bom sentido, e gostei do que vi dela. Também encontrei um interesse particular na Morrigan/Badb/Annie, com as suas multiplas facetas e poderes. Ou na Ananke, integrante do grupo e ao mesmo tempo à parte deles. Mas a melhor mesmo é a Luci, com a sua bravata e atitude desafiadora. Contudo, o destaque deste Panteão foi a variedade de deuses de diferentes mitologias, e a diversidade de personagens que nos é apresentada.

A Laura como protagonista é perfeita. É-nos apresentada como uma fã dos deuses, e num concerto da Amaterasu consegue ser introduzida no backstage e conhecer alguns dos deuses. A sua posição de fã permite-nos uma introdução completa a este mundo sem aborrecer o leitor; e a sua perspectiva permite ainda assim acompanhar o mistério presente na narrativa e questionar o que não conhece ou compreende.

Além disso, a Laura é bastante decidida e pró-activa, fazendo avançar a narrativa, enquanto que o não ser um dos deuses permite-lhe algum distanciamento para avaliar as coisas (e fazer frente aos deuses quando estão a ser parvos). [Vi totalmente à distância aquele final para ela. Era tão óbvio. Mas estou curiosa para ver onde isto vai dar.]

Quanto à arte, só tenho a dizer que é tão bonita, linda mesmo. Tudo parece magnífico na página, as cores são maravilhosamente hipnotizantes, e o traço agrada-me muito. O planeamento das pranchas oscila entre o incomum e o ordinário, mas até as páginas com um aspecto mais normal dão a sensação de aquilo ter sido muito bem planeado, porque o ritmo de avanço das vinhetas me soou tão bem.

sábado, 16 de maio de 2015

O Diário da Princesa IX: Princesa Mia, Princess Forever, Perfect Princess, Meg Cabot

Meg Cabot

Título original: Princess Mia (2007) / Forever Princess (2009) / Perfect Princess (2004)

Páginas: 288 / 160 / 400

Editora: Bertrand / HarperCollins / HarperCollins

Tradução: Andreia Mendonça

E assim termino esta série, por agora, e que viagem! No primeiro livro dos dois que li em Abril, as "neuroses" da Mia finalmente implodem, deixando-a de rastos, enquanto tenta lidar com a partida do Michael e com uma descoberta que pode mudar Genovia. No segundo e último da série (era o último no momento de publicação, agora já não), passaram dois anos, e o Michael volta aos EUA para apresentar a sua invenção, o que faz Mia confrontar-se com velhos e novos sentimentos.

Volto a dizer, uma das coisas que mais gostei de ver ao longo da narrativa dos livros é a evolução da Mia. Ela sempre teve muitos problemas de ansiedade, que se têm vindo a acumular, e os eventos dos livros anteriores, e destes, transbordam o copo. Felizmente, a família reconhece a necessidade de ajuda que ela tinha, e consegue-lha.

Gostaria de ter visto uma abordagem mais certeira sobre os problemas da Mia, porque é possível que ansiedade e depressão andem de mãos dados, mas a Mia tem mais da primeira que propriamente da segunda, e o texto não transmite bem isso. De qualquer modo, o restante da questão está apresentada de forma bastante satisfatória, e aprecio que esteja sequer a ser abordada numa série tão conhecida.

Outra das partes da história que me agradou é a evolução das amizades da Mia. A amizade com a Lilly vai para o Inferno, pelas circunstâncias e pela falta de maturidade delas em lidar com as mesmas; mas quando se reaproximam, é mais saboroso porque tiveram tempo para entender os seus erros, e apreciar a perspectiva da outra. A Lana entra no grupo, e é das melhores coisas que aconteceram, porque faz a Mia sair da sua zona de conforto e apresenta-a a novas experiências e pontos de vista.

O J.P., bem, que dizer? É um pouco estranho ler sobre ele sabendo como as coisas terminam. No papel parece perfeito, um bom par para a Mia, com muito em comum com ela, mas depois uma pessoa pergunta-se quanto disso é forçado. Suponho que posso dizer que aprecio que pelo menos estivesse no lugar certo à hora certa para a Mia. Mas gosto mais de quando ela percebe a verdade sobre ele, especialmente porque algum tempo antes já mostra ver que algo não está bem entre eles.

Acho muita piada ao desenvolvimento que envolve o destino de Genovia, porque faz a Grandmère e o pai da Mia saírem da sua própria zona de conforto, e é tão divertido ver os resultados. Aliás, uma das minhas partes favoritas dos livros tem sido acompanhar ao longe os dramas que vão acontecendo em Genovia, especialmente porque em 100% das vezes a "culpa" é da Mia.

Quanto ao Michael e à história dele com a Mia, custa-me ver o ponto em que as coisas estão no nono volume, porque está tudo tão mal resolvido, e apesar de haver uma tentativa de serem maduros acerca das coisas, isso falha e não corre assim tão bem, porque ainda não estão no ponto certo.

Neste aspecto, gosto muito mais do décimo livro, porque o Michael volta, dois anos e tal volvidos, e desequilibra o balanço que a Mia tinha encontrado - um balanço precário, porque por própria admissão dela, há coisas que não estão certas. Quero dizer, em quase todas as áreas da sua vida ela conseguiu resolver as suas inseguranças e problemas, mas no campo amoroso percebe que o J.P. não é o ideal, ainda que tenha dificuldade em admitir isso.

Em adição a isso, acho bastante piada ao modo como se aproximam. Há muita gente das suas vidas a torcer por eles, a tentar dar um empurrãozinho, e acima de tudo, as coisas acontecem duma forma real. Nada perfeitinho, algumas acções menos correctas, mas as coisas acontecem porque têm de acontecer.

Adoro um momento em que o Michael confessa à Mia que a ajudou não pela família dela, mas para a fazer feliz, tendo motivos "inteiramente egoístas", o que é um piscar de olhos a Orgulho e Preconceito, quando o Mr. Darcy diz algo do género à Lizzie sobre a situação da Lydia. Perfeito!

Não tenho muito a dizer do Perfect Princess, a não ser o mesmo do As Lições da Princesa: um livro bem giro, com um design fixe, uma boa capa dura. Este destaca princesas, de nome ou não, ficcionais ou não, que sejam merecedoras de destaque. O mais significativo do livro é a participação de outros personagens do mundo do Diário da Princesa nos comentários feitos no livro, e melhor, feitos de acordo com a "voz" do personagem.

No fim de contas, depois de ter lido isto tudo, estou muito curiosa para ver como a Mia está, alguns anos depois. Tenho a certeza que as "neuroses" ainda hão de estar lá, em parte, porque o que é um livro dos Diários da Princesa sem um pouco de drama? Mas também vai ser bom rever os personagens, ver onde eles estão, o que fizeram até agora. Já estou com saudades, e acabei agora de ler a série.

terça-feira, 12 de maio de 2015

Uma imagem vale mil palavras: Avengers - Age of Ultron (2015)

Tenho andado com um bocado de preguiça, ou relutância, ou qualquer coisa parecida, para comentar este filme. Gosto muito da ideia do Marvel Cinematic Universe, e tenho acompanhado a narrativa presente nos vários filmes com bastante interesse, e estou curiosa por ver como vai evoluir a partir daqui. Gostei muito do primeiro filme dos Vingadores, que tinha um equilíbrio fantástico da narrativa, e era tão divertido, ao juntar vários egos bastante grandes, e ao pô-los a trabalhar juntos.

Tendo dito isso, este filme é um herdeiro tanto adequado como difícil. Tem muitas das coisas que eu gostei no primeiro filme, mas por outro lado tenta ser mais ambicioso, e se em partes isso resulta, noutras nem tanto. O filme já é um pouco longo, mas por mim podia ser bastante mais longo ainda, porque parece-me que o trabalho de edição e "corte e costura" das cenas "matou" certos momentos e conceitos, não permitindo explorá-los de acordo com a sua potencialidade.

Vou começar pelas coisas que gostei. O modo como a equipa trabalha como uma máquina bem oleada é bastante giro de ver, em contraponto às rivalidades do primeiro filme, e totalmente adorável. Vê-se pela primeira cena, uma cena de acção, algo que também me agradou; a equipa leva tudo à frente sem hesitar. Aliás, as partes de acção do filme são bastante excitantes e no geral deu-me gozo acompanhar, destacando esta primeira cena e a do Hulk e do Hulkbuster.

Adorei as pequenas aparições de personagens secundários dos outros filmes. A cena na Torre dos Vingadores, com o pessoal a descontrair, foi tão fixe, por permitir (re)ver toda a gente. Aliás, a cena final promete uma maior relevância para alguns dos personagens secundários, e espero mesmo que isso aconteça. (Muitos têm uma participação na luta final, mas onde é que meteram o Falcão?)

Também gostei dos pequenos momentos de humor, apesar de ser mais escasso, devido ao tom do filme. O gag recorrente relativo ao Mjolnir, o martelo do Thor, é engraçado, ainda mais quando alguém inesperadamente lhe consegue pegar. A piada recorrente com uma tirada do Capitão no início do filme. Uma cena com o Hawkeye e a sua reacção ao Mercúrio. E também gostei duma cena, que não sendo humorística, teve alguma piada, por ser tão fofa: quando o Thor e o Tony Stark se põem a comparar as conquistas e sucessos das namoradas, todos orgulhosos.

Mais um ponto interessante: os temas e questões explorados - paternidade e herança (ambos não no sentido tradicional), criação e responsabilidade pelo que se criou, o que faz de alguém merecedor, ou um herói, um vilão ou um monstro, a extensão a que se está preparado para ir para proteger outros e cumprir a sua missão. Muitas delas questões fundamentais para o papel de um Vingador, e aprecio que os tenham feito confrontar alguns demónios e esclarecer porque é que estão a fazer isto.

Oh, e ainda queria destacar um desenvolvimento sobre o Hawkeye que é tão giro, totalmente adorável, dando uma nova dimensão ao personagem e de certo modo encaixando com ele. E numa consequência directa dessa revelação, a Viúva Negra fala dele como o melhor amigo, o que é um pormenor simpático de ver. Raramente se vêem relações de amizade fortes no ecrã.

Agora os problemas, e suspeito - pelo que tenho lido - que uma parte se deva a interferências do estúdio, combinados com um trabalho de edição que podia ser melhor, resultando em partes da história mal exploradas, e outras que se prestam a francamente más interpretações.

Gostava que o Ultron tivesse sido mais explorado. O que vemos é fascinante, e o James Spader faz um bom trabalho, porque se vêem mesmo os maneirismos dele no personagem, mas faltou-lhe um pouco de... perigo? Não é claro o porquê de ser uma ameaça ao início, se bem que depois a sua evolução é bem curiosa; o modo como executa o seu plano, com um misto de inocência e malvadez.

Acho que preferia que a Feiticeira Escarlate e o Mercúrio tivessem tido mais um pouco de tempo, porque faltou assim um bocadito de desenvolvimento para os personagens, algum contexto, algum tempo para nos apegarmos a eles e torná-los significativos, por razões que se tornam mais óbvias para o fim.

O enredo também precisava de ser um tudo nada mais extenso, acho que toma atalhos em partes que não devia tomar, e o resultado é que bocadinhos da história precisam de mais desenvolvimento e explicação. Um exemplo é a coisa da caverna e o lago mágico e de como o Thor ganha miraculosamente o conhecimento para resolverem a questão do Visão. Foi tudo muito apressado e nada explicado.

E chego à parte que está mal, mesmo mal. Não consigo compreender de onde é que vem esta coisa da Natasha e do Bruce Banner, porque eles não mostraram química nenhuma no passado, e as duas vezes que interagiram mais no primeiro filme metiam um confronto verbal ou físico. E depois este filme faz uma coisa que abomino, faz tell e não show. Atira-nos para cima comentários de como supostamente estes dois são um item, cenas que vêm do nada... mas falha em mostrar porque é que podem ser um casal, e em convencer-nos disso.

Além disso, toda a situação é problemática. Temos a Viúva a forçá-lo a transformar-se no fim, quando ele não queria. Temos uns ligeiros tons de um paradigma de violência doméstica, que é o "ele é mau, mas o amor de uma mulher vai mudá-lo".

E temos a famosa cena do diálogo sobre serem monstros. Que eu acredito que esteja mal montada, e que não fosse aquele o objectivo final. Mas da maneira como decorre, quando a Viúva fala de não poder ter filhos, não parece estar a tentar animar o Bruce por estarem no mesmo barco. Parece estar a equiparar isso com ser um monstro, o tema principal da conversa. O que soa, e é, tão mal. Em contraponto à Viúva, uma das outras mulheres da narrativa está grávida e é quase o cliché da esposa que fica em casa a criar os filhos enquanto o marido vai trabalhar; é mesmo isso que querem transmitir, que só há estas duas hipóteses para uma mulher?

Além disso, a personagem da Viúva merecia mais bom desenvolvimento. Começo a achar que não sabiam o que fazer com ela com a Scarlett grávida, e então mataram-lhe completamente o espírito. Não faz sentido ela ser raptada, nem esperar calmamente que um dos homens da equipa a venha salvar. É bizarro que estejam desesperados para juntar a única mulher da equipa com um homem ao ponto de meter água.

Passando à frente. Gostava que parassem de fazer com as histórias do Tony Stark passassem por meter-se com tecnologia que não percebe e isso explodir-lhe na cara, ou a tecnologia dele ser-lhe apropriada e usada com fins que não os originalmente pretendidos. O homem não aprende?

Mais coisas que gostei: o Visão e a sua criação, o modo como vê o mundo. As aparições de toda a gente e mais alguma (Peggy Carter! Maria Hill! Heimdall! o Dr. Selvig! *cof*faltou a Darcy*cof*). A maneira com o Nick Fury parece meter o dedo em tudo e mais alguma coisa. As cenas dos sonhos. A cena final, com os seus altos e baixos.

Coisa que esperava ver: uma segunda cena pós-créditos! Então, eu finalmente aprendo a manter o traseiro firmemente sentado até ao fim dos créditos, depois de perder tantas cenas pós-créditos e segundas cenas pós-créditos, e eles vão e dão-me a volta novamente, e agora já não há segunda cena pós-créditos. Do not like.

Coisas que espero ver no futuro: uma introdução ao Pantera Negra, desperdiçada na breve menção a Wakanda. E à Capitã Marvel, por favor. Quero ver como os acontecimentos deste filme se envolvem com os acontecimentos em Agents of S.H.I.E.L.D., que tenho estado a ver, mas estou atrasada. Quero ver como é que esta tralha vai parar à Civil War, e quero ver mais do endgame do Thanos e das jóias que faltam.

Enfim. Foi certamente uma boa experiência, uma experiência satisfatória, mas também foi um bocadito uma confusão. Uma confusão acima da média, muito boa, mesmo assim, mas ainda assim uma confusão. Com um pouco de trabalho podia ser ainda melhor.