quarta-feira, 20 de maio de 2015

Uma Nova Esperança, Colleen Hoover


Opinião: Estava um pouco na dúvida acerca desta leitura. Gostei muito do primeiro livro, Um Caso Perdido, achei-o bem bom, tão absorvente, e questionava-me se este livro seria digno da fasquia que estava bem elevada. Por outro lado, desconfio por defeito de livros cuja premissa seja recontar uma história que já foi contada, mas noutra perspectiva, porque nem sempre a sua utilidade é clara ou sequer presente.

E sou capaz de acabar por gostar de um livro que faça isso. Por exemplo, temos o Trust in Me, da J. Lynn/Jennifer L. Armentrout, que reconta o Wait for You, e que se revelou uma boa surpresa, porque a voz do Cam era cativante e capaz de suportar a narrativa; e o próprio livro fazia um bom trabalho em não se limitar a recontar a mesma história, mas a complementá-la.

Em comparação, acho que Uma Nova Esperança falha bastante em ambos os aspectos. Primeiro porque o livro é exaustivo a recontar os eventos de Um Caso Perdido, revendo cena após cena, sem lhes acrescentar propriamente nada de novo. E como o mistério já foi revelado, acaba por perder a piada ao ler mais do mesmo.

Há pequenas coisas que são uma adição, e dou graças por elas, porque geralmente são muito divertidas, mas tenho pena que não tenham mais tempo de antena. Adorei o Daniel, porque era tão engraçado, e diz aquilo que todos gostaríamos de dizer. Gostei de ver bocadinhos com o Breckin, um personagem secundário que já era favorito anteriormente (e gostei de ver esclarecida a questão do e-reader).

Daquilo que há de novo, está centrado no início do livro, narrando o que aconteceu com a Less, e a reacção do Holder a estes eventos, o que foi comovente, mas também um pouco cansativo, por causa da voz dele, com a qual tive alguns problemas (já falamos disso). Achei interessante saber que a Less e a mãe deles sabiam uma certa informação privilegiada e que a mantiveram resguardada.

Sobre a voz do Holder, bem... não me parece forte o suficiente para carregar a história aos ombros. É interessante ver alguns dos momentos mais "estranhos" dele no livro anterior e ver a sua perspectiva, porque explica pelo menos as suas atitudes; mas também não era nada que eu não tivesse já deduzido na altura.

Além disso, achei-o por vezes mesmo irritante. Aquela necessidade patológica de se culpabilizar por todos os males do mundo! Credo, tanta auto-flagelação. A Sky cai para o lado, ele acha que é culpa dele. A Sky sente-se mal, a culpa é dele. A Sky espirra, a culpa também é dele. Ugh, que nervos. Eu consigo compreender como as circunstâncias o fizeram interiorizar a culpa, depois do que aconteceu quando ele era pequeno, e não digo que não seja realista, mas é enervante.

De qualquer modo, questiono se o percurso dele com a culpa que sente seria mesmo assim. Aquilo que aconteceu, aconteceu quando era muito novo, e apesar de ser uma situação marcante, pergunto-me se o tempo e a memória não a teriam modificado, condicionado. Ele parece recordar tudo e mais alguma coisa com tanta clareza, mas quando temos aquela idade pouco fica na memória, e muito disso possivelmente é modificado pelo decorrer do tempo e o surgimento da maturidade, que permite interpretar as coisas de modo diferente, e assim modificar a cena de que nos recordamos. Por isso, fará isto sentido? Tanta culpa, pura, não destilada? Parecia que tinha acontecido ontem, e não treze anos antes.

Fora isso, também não apreciei a voz dele no percurso do luto, porque há soluços na cronologia da narrativa, e as reacções dele não me pareceram mudar com o tempo e os saltos temporais. Não achei razoável que ele "reconhecesse" a Hope, passados treze anos, porque as pessoas mudam muito nesse tempo, e porque lá está, a memória não seria assim tão perfeita e cristalina.

Não gostei que ele achasse que tinha o direito de interferir ou modificar a vida dos outros, nomeadamente das mulheres da vida dele, escondendo-lhes coisas, só porque achava que "estava a protegê-las". A Less merecia saber do namorado, e fazer o que bem achasse por causa disso (viu-se que a solução do Holder foi um tiro no pé, e aí merece sentir toda a culpa do mundo), e a Sky merecia saber a verdade, e não descobrir num momento traumático.

Também não lhe achei piada por aí além como rapaz e namorado, porque parecia que não vivia para mais nada senão para a rapariga. Aliás, toda a narração é quase assim. Parece que o Holder não tem mais nada na vida senão a Sky e obcecar com a tragédia de treze anos antes. Ele não tem vida?

Em suma, gostei muito do primeiro livro, achei fascinante a Sky e a sua (falta de) reacção, porque fazia muito sentido com o percurso dela, e conseguiu manter-me interessada, ainda mais com um mistério a resolver.

Por outro lado, aqui, senti que fosse mais do mesmo, o Holder não fez nada por mim como personagem, a sua voz irritou-me, impedindo que tirasse gozo da leitura, ou sequer emoção dela, como esperava que acontecesse. Passei o tempo todo a questionar a narrativa em vez de me deixar levar, como no primeiro livro, e isso não é bom sinal. Preferia mesmo não ter lido isto. (Bem, talvez só as partes do Daniel, ou os pequenos pormenores que adicionam de facto algo à história.)

Título original: Losing Hope (2013)

Páginas: 304

Editora: Topseller (20|20)

Tradução: Ângelo Santana

2 comentários:

  1. É engraçado como conseguimos ter uma opinião completamente contrária em relação a ambos os livros. x)

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    1. Loool true. Mas a verdade é que o Holder não era das minhas coisas favoritas no primeiro livro. Suponho que podemos dizer que aqui não foi capaz de me cativar. Aliás, foi mas é capaz de piorar a opinião que tinha dele. :P

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