terça-feira, 14 de julho de 2015

Amor Cruel, Colleen Hoover


Opinião: Colleen Hoover, minha cara, por favor, pára de me torturar. E não, esta frase nem sequer é no bom sentido. (Bem, maioritariamente não é no bom sentido.) É que escreves bastante bem, bem o suficiente para me cativar e arrebatar e arrastar ao longo das tuas páginas sem que eu dê por isso, e as tuas histórias são interessantes e cheias de reviravoltas, e os teus personagens têm (maioritariamente) um quê de real e relacionável, e eu embalo na história, e parece tudo bonito e perfeito.

MAS... e tudo tem um mas... as tuas histórias têm situações problemáticas, e não acho que lides bem com elas, e quanto mais penso nelas mais as detesto, e mais furiosa fico com o livro, e pronto, estão contentes, Dona Colleen e Senhor Cérebro da p7, acabaram de me estragar mais uma leitura perfeitamente decente.

A grande situação problemática deste livro: o Miles. Oh, a história dele é interessante, e trágica, e a maneira como a Colleen a conta, com os capítulos do Miles a serem em flashback, é cativante o suficiente. Contudo, bolas, o Miles do presente é um idiota (para não usar epítetos piores), e não me parece que se redima a suficiente para merecer que eu goste dele.

Primeiro: um rapaz de 24 anos que ficou emocionalmente (e sexualmente) preso nos 18 NÃO é sexy. Nadinha. Tenham lá paciência. Depois: ele porta-se de maneira tão estúpida com a Tate, e tem consciência disso, e pede desculpa, mas o problema é que à segunda, e terceira, e quarta vez, continua a portar-se como um estúpido.

Se pede desculpas é porque está minimamente emocionalmente envolvido, o suficiente para lamentar magoar a Tate, mas isso implica evitar voltar a magoá-la, o que ele não faz. (E nem é por causa do acordo deles. Podia manter-se emocionalmente afastado, e ser uma pessoa decente e não magoá-la. Mas não consegue evitar ser horrível com ela. Isso é simplesmente ser má pessoa.)

Mais: não conseguimos ver o suficiente da evolução emocional dele no presente para acreditar bem na sua mudança de sentimentos. Se eu franzir e esforçar bem os olhos consigo, lá bem no fundo, ver vislumbres de que o seu coração está comprometido, e que pode estar a mudar de ideias. Mas é isso. Sou eu a esforçar-me muito para ver coisas que podem não estar lá. A narração no presente é da Tate, e claro que estamos reduzidos ao que ela vê, mas creio que a autora podia ser mais e menos subtil ao mesmo tempo e plantar melhor as suas pistas.

Por fim: mas ele acha que pode trancar o coração e sentir só com a cabeça? Oh, céus, que perspectiva tão infantil e ingénua. Isto é mesmo um homem de 24 anos? Não parece. Porque o que é mais irritante é ver esses vislumbres de que falei, e vê-lo insistir na mesma atitude casmurra, de não querer sentir emoções, qual pessoa que bate com a cabeça contra a parede na esperança de atravessá-la.

Não digo que a caracterização dele não faça sentido em certos pontos, mas depois há outros em que podia ser bem melhor. Não vou pedir capítulos no ponto de vista dele do presente, fiz isso com o Hopeless acerca do Holder e arrependi-me porque achei o Holder tão aborrecido e repetitivo e choninhas no Losing Hope. Mas podíamos ter uma evolução dele para melhor mais profunda e mais bem explorada. Ser traumatizadinho não é desculpa para se ser má pessoa.

Agora a Tate. Eu gosto dela, é uma rapariga independente a esforçar-se para avançar profissionalmente e academicamente. E respeito-a o suficiente por se meter com o Miles consciente de que aquilo vai dar asneira, porque ao menos sabe isso, o que já é um passo à frente da maior parte das heroínas neste tipo de história.

Só que também tenho alguma dificuldade em respeitá-la por estar a insistir em cavar o buraco quando sabe que será a sua sepultura. No seu primeiro encontro, o Miles é tudo menos charmoso, um parvo autêntico, e o que é que ela está a pensar um bocado depois "ai ele é tão giro, apetece-me saltar-lhe para cima". *facepalm*

Acho que também tenho alguns problemas com eles como casal, porque ali não vi, ou li, grande química. A primeira cena de sexo deles é francamente aborrecida. Além disso, sinto que falta uma série de cenas que sirvam de ligação e que construam a relação deles, cenas mundanas (não relacionadas com o todo o sexo que é suposto terem) só com os dois que mostrem porque é que estão a mudar de perspectiva, porque é que se estão a aproximar. Temos poucas cenas disso, muitas de sexo, muitas com outros personagens, e muitas que não fazem nada para avançar a relação.

Há uma série de personagens secundários nos quais fiquei interessada, pelas cenas que li com eles, pelos seus comentários, pelos seus perfis. O Comandante, que é totalmente adorável. O Corbin, o irmão da Tate, e o Ian, o amigo do Miles, têm potencial. E a Rachel, que no meio disto tudo é a verdadeira heroína da história. Porque esta mulher teve a coragem de fazer paz com uma tragédia pessoal e continuar a viver, recusando-se a ser derrotada. Não podíamos ter contado a história dela em vez desta?

Enfim. Quanto mais leio Colleen Hoover, mais confusa fico. Gosto genuinamente de ler os seus livros, e divirto-me a lê-los, passo um bom bocado, e gosto de como constrói as suas histórias e até dos traços que dá aos personagens. No entanto, algo falha na execução, e quanto mais penso no livro depois de o ter lido, mais me irrita com os problemas que demonstra.

É engraçado, porque eu adorei o Hopeless, e encontro-lhe umas poucas falhas (melhor, gosto dele apesar das falhas), mas ainda assim lembro-me que achei que precisava de mais trabalho de edição. É precisamente o que encontrei neste: com alguém a obrigar a Colleen a pensar no sentido que a história e os personagens têm de fazer, isto seria francamente melhor. Eu consigo vislumbrar um livro melhor, mais bem feito, que seria brilhante com os pedaços que já gosto nele e com aqueles que precisa de melhorar, e sei que há uma história melhor à espera de sair desta escultura em bruto.

P.S.: não sei se gosto deste título. Amor Cruel soa-me a um tipo de relação que nada tem a ver com a descrita no livro. O Miles não é cruel, apenas insensato e pouco ponderado. E quanto ao passado, bem, já não é amor, pois não? O título aponta mais para o presente. Talvez Amor Sombrio? Melhor ainda, Feio Amor. Sei que é literal, mas também é simbólico, e lembra-me o dito popular de que quem feio ama bonito lhe parece, o que é bastante adequado à atitude da Tate ao longo do livro.

P.S.II: não sou fã da tradução. Não consigo apontar exemplos específicos, mas de vez em quando soava-me mal, como quando se tenta traduzir literalmente, em vez de figurativamente, algo que só faz sentido em inglês.

P.S.III: a capa no entanto é brutal e brilhante. Faz um sentido perfeito com uma cena crucial do livro. É até arrepiante.

Título original: Ugly Love (2014)

Páginas: 288

Editora: Topseller (20|20)

Tradução: Duarte Sousa Tavares

6 comentários:

  1. Enfim. E eu com esperanças de ser desta que a autora me cativava. Agora já vou entrar no livro a torcer o nariz. x)

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    1. Oh, e quem te diz a ti que não vais gostar? Afinal, gostaste bastante mais do Holder que eu. Começo a achar que tenho é um problema com a maneira como ela desenvolve as personagens masculinas, porque de resto escreve fantasticamente. Vamos ver o que faz em livros futuros. Por isso, nada de stress, entra com a mente aberta, vê por ti. ;)

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  2. Tmb foram pequenas coisas das personagens que não me fizeram dar 5 estrelas.
    Também não gostei do título, no Brasil ficou 'o lado feito do amor' e até gostei mais.

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    1. Argh, gostava tanto de poder gostar mais dos personagens, mas às vezes eram tão choninhas, que não dava. xD

      Oh, até gosto do título brasileiro, haja alguém que saiba o que está a fazer. :)

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  3. Já tem o livro em português em algum site? Onde? Quero muito ler!

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    1. Eu cá comprei o livro. Se quer sacá-lo, lamento, aqui não é o sítio, procure como todos os outros, não espere que eu faça o trabalho por si.

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