terça-feira, 21 de julho de 2015

Virgem, Radhika Sanghani


Opinião: Isto não era bem o que eu esperava, e ainda bem que não foi propriamente de encontro às minhas expectativas. Esperava algo divertido, uma comédia talvez, e se bem que Virgem é bem engraçado, não o é ao ponto do ridículo, como alguns livros que podiam encaixar na mesma categoria, o que é refrescante.

A protagonista é Ellie Kostalkis, uma jovem de 21 anos que está a terminar a universidade, e que tem o que ela considera um problema: é virgem, e não por escolha ou por razões religiosas. Simplesmente não aconteceu. E Ellie não consegue deixar de se comparar com as amigas, ou dar em doida por ainda não ter acontecido.

E pronto, a Ellie no início do livro é um bocadinho obsessiva com o assunto, o que me fez revirar um pouco os olhos com tanto drama e tanto stress, ela portava-se como se fosse o fim do mundo. Mas depois a história evolui, e o stress dela até acaba por fazer sentido: numa sociedade como a nossa, que por vezes tem mensagens tão sexualizadas, acabamos por ser muito maus a discutir sexo, levando a que algum falso puritanismo deixe tanta gente como a Ellie com um monte de perguntas e dúvidas e ninguém disposto a discuti-las.

Portanto, esta história, e a necessidade de ser escrita, acaba por ser uma crítica implícita ao estado de coisas. Mas também uma descrição realista duma rapariga que vai à procura das respostas. No caminho para se livrar dessa coisa chata (heh) que é a sua virgindade, a Ellie depara-se com um monte de situações relacionadas com sexo e com a sua vagina. E essas situações derivam das suas dúvidas e do que é que deve fazer ou não, do que é apropriado ou não, do que gostaria ou não de fazer. E algumas são caricatas, mas (felizmente) nunca resvalam para a parvoíce, como eu estava meio à espera de que acontecesse.

É que este livro é escrito na esteira de alguma outra literatura feminina (a Ellie menciona mesmo a série da Louca por Compras, e de como é irrealista encontrar o "príncipe encantado"); o curioso é que este livro é um contraponto a essa série (por exemplo) de outro modo: eu li as peripécias da Becky Bloomwood até certo ponto, e as situações escorregavam quase sempre para o reino do ridículo. E aqui, isso nunca acontece. Há passos em falso, e situações embaraçosas, mas fica tudo dentro do reino do credível e do realista. Podia acontecer a qualquer um. E o mesmo se aplica ao evoluir das relações que a Ellie tem com os que a rodeiam. As amigas, o suposto namorado... podia acontecer facilmente. (Especialmente o drama com o Jack.)

E pronto, as situações por que passa nesta viagem permitem à Ellie crescer um bocadinho e ter uma atitude ligeiramente diferente em relação ao sexo, o que é muito bom. Além disso, gostei muito de ver o desenvolvimento da relação que tinha com as suas amigas. Há partes embrulhadas e complicadas (amizade feminina é por vezes bem dramática), mas a Ellie permite-se sair da casca e fazer novas amizades, e gostei tanto de a ver com a Emma e do blog que criaram. Muito giro.

A amizade com o Paul também é um ponto interessante, e gostava de o ver mais desenvolvido no futuro (parece que há uma sequela). De certo modo, a Ellie e o Paul estão no mesmo barco, e a viagem de descoberta dele seria interessante de seguir. Já o Jack, se calhar sou só eu, mas estava a ver a milhas aquilo a não correr muito bem. Foi um marco na evolução da Ellie, mas pareceu-me uma pessoa pouco interessante, pouco interessada nela, e o seu comportamento era bastante... er... egoísta. A última vez que o vimos, bem, a atitude dele até me deu vontade de lhe bater.

Em suma, este livro revelou-se uma bela surpresa, e aprecio que a autora tenha discutido temas como o sexo e as relações com os outros duma forma divertida, honesta e bem realista, sem exageros e tragédias gregas. Parece que uma sequela está anunciada, e ainda bem, porque quero ver como é que a vida da Ellie evolui daqui para a frente.

Nota não positiva para a tradução, que apanhei ali umas asneiras que não se fazem. Dois exemplos. Vi Tweeter quando devia estar escrito Twitter. (A sério que ainda alguém dá erros destes? Bem sei que o site/empresa não se escreve da mesma maneira que o verbo to tweet, mas é uma coisa tão presente que parece estúpido que ainda gere confusão.)

E oh senhora tradutora, tenha vergonha, quando a Ellie diz no original que usou bleach no buço, ela não usou literalmente lixívia, caramba. Usou descolorante, que no mundo anglo-saxónico também é descrito pela palavra bleach. Mas quando é que neste país os tradutores vão desenvolver sentido crítico sobre o que traduzem? Ou será que esta senhora achou que isto fazia totalmente sentido no contexto? Lixívia no buço... credo. *facepalm*

Título original: Virgin (2014)

Páginas: 264

Editora: Presença

Tradução: Maria Ferreira

2 comentários:

  1. Lixívia no buço, lol! essa parte foi com o Google translator só pode xD

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    1. Looool a piada da coisa é que se fores ao Google Translator, nem há menção a lixívia... xD Acho que é mesmo o bom velho dicionário. :P

      Enfim, a Ellie é totó, mas não seria tão totó ao ponto de usar lixívia no buço. xD

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