domingo, 28 de agosto de 2016

Meg Cabot: Abandon, Underworld


Páginas: 320 / 336

Editora: Point / Point

Oh, boy. This is a mess. Uma que me diverti a ler, atenção, e devorei e tudo o mais. Mas ei, isso também aconteceu com o Crepúsculo, e toda a gente se lembra do quão... problemático esse era. (A comparação não é inocente. Já lá chegamos.)

Ora bem, esta série é como que um retelling ou adaptação do mito de Perséfone e Hades. A Pierce, a protagonista, morreu brevemente quando tinha 15 anos, e no processo conseguiu que a divindade da morte, John Hayden, ficasse completamente embeiçado por ela, ao ponto de nunca estar muito longe quando ela está em perigo. No presente, a Pierce mudou de casa para a Ilha Huesos, na Florida, e enquanto a sua relação com o John "evolui", rapidamente se vê perseguida por seres sobrenaturais muito perigosos...

Coisas boas que posso dizer, antes de passar às más: a escrita da Meg continua devorável. Ela tem o seu quê de cativante que me faz devorar qualquer livro, mesmo quando é muito parvo. Até o Insaciável teve os seus momentos.

E também: adoro a maneira como ela às vezes pega num conceito e lhe dá uma reviravolta do caraças. Gosto muito da ideia que ela criou aqui em torno do Submundo (Underworld), de quem fica responsável por ele; e de como tentou recriar o mito grego de Perséfone sem o seguir passo a passo, fazendo a sua própria coisa.

Ainda: gosto do elenco de personagens secundários, muito divertido, especialmente os amigos da Pierce, o Richard Sexton, e os marinheiros. Gosto do esforço para ter alguma diversidade - pelos apelidos, uma série de personagens tem raízes latinas, Pierce incluída (se bem que Oliviera é daqueles que podia ter sido evitado... creio que existe, mas soa tão mal...), e o Richard fala adoravelmente do seu parceiro (se o livro fosse escrito hoje já estavam casados).

Passemos às coisas más. Vou começar por uma fácil: a editora Point continua a insistir em produzir uns paperbacks horríveis. É a mesma queixa que tinha com a trilogia do Airhead: o livro é demasiado rígido, porque o papel é demasiado rígido, pouco flexível. Não facilita a experiência de leitura.

E passemos ao grande problema que eu tenho com os livros, que são precisamente os protagonistas, a Pierce e o John. You see, em muitos aspectos eles são uma cópia chapada da Bella e do Edward, e digo-o no sentido arrepiante e desconcertante.

Ora vejamos: o John é um perseguidor. Anda sempre atrás da Pierce, mesmo quando se zangam e ela lhe pede para se afastar. Porque, sabem? Ela ama-a. Quer protegê-la. Really. *facepalm* É violento quando está zangado. Tem a lata de lhe mentir e manipular acerca do mesmo assunto duas vezes no mesmo livro (o segundo).

Assume que só porque ela morreu (aos 15 anos), vai entrar num compromisso com ele... para sempre. Acha que a melhor maneira de proteger a Pierce é trancá-la no Submundo, forçando-a a deixar a sua vida e deixar de ter contacto com os seus. Tem esta mania irritante de lhe mudar a roupa cada vez que vão parar ao Submundo, que é absolutamente arrepiante.

A Pierce não é melhor. É tão... burra. Só quando alguém lhe diz com as letras todas que o John é uma divindade da morte é que o percebe. Mesmo quando havia pistas por ali aos pontapés. E depois, meu Deus, onde é que está a coragem, a espertalhonice, a irreverência que eu conheço de outras protagonistas da Meg? Ninguém diria à Suze Simon (a Mediadora) o que fazer. E no entanto a Pierce parece perfeitamente contente em deixar-se levar através do enredo escasso como uma ovelhinha, sem acção própria.

E a maneira como ela lida com o John, credo. Uggghhhhh. Alguém me mate. Ela fala dele como se fosse "uma coisa selvagem", e que "só precisa de ser reparado" do seu feitio. Isto é precisamente o tipo de lógica que uma vítima de violência doméstica usaria, parece-me.

Alguém me fizesse sequer metade do que o John lhe faz, e morria. Não estou a brincar. Por isso nem sequer consigo compreender a falta de indignação da Pierce quando descobre o monte de merdas que ele lhe continua a fazer. Separada da família, para nunca mais os ver? Que fixe, dá-me lá mais uns beijinhos para eu me esquecer disso. Oh, mentiste-me para eu ficar aqui no Submundo contigo? Claro, querido, amo-te! POR AMOR DA SANTA.

Normalmente, mesmo quando uma personagem faz algo com o qual eu discordo muitíssimo, a caracterização é boa o suficiente para eu perceber porque o faz. Mas aqui? Não consigo perceber como é que uma pessoa NÃO ficaria completamente lixada da vida com certas coisas que o John faz. Mas aqui, a Pierce bate um bocadinho o pé e depois parece que se esquece que devia estar zangada.

O problema é, isto podia ser uma boa história, fantástica mesmo, se a caracterização fosse melhor feita, se os personagens não fossem caricaturas dos protagonistas doutro livro. Se as coisas evoluíssem doutro modo.

E o pior de tudo é que tenho a sensação que a Meg tem em algum nível noção do quão problemático tudo isto é. Quero dizer, ela escreve no segundo livro uma conversa entre o Richard e a Pierce em que ele pergunta se ela tem a certeza do que está a fazer, que apesar de ter dado encorajamento ao par, não pensava que chegasse a estes extremos. Por isso, ela sabe que o par não faz sentido algum. Sabe que podia fazer melhor.

Em termos de enredo, bem, o primeiro livro é fraquinho, como o primeiro da trilogia Airhead. Aliás, não há propriamente enredo. É mais como se o livro fosse uma prequela, ou uma preparação para toda a acção que vai acontecer nos livros seguintes. Só que o segundo também é muito parado na primeira metade. Não há nenhum objectivo claro, nenhum vilão concreto.

Ah... é como se a Meg tivesse tido ali uma crise de inspiração e tivesse perdido o jeito mesmo quando andava a terminar a série Princess Diaries, e depois de a terminar. Porque os livros que saíram por aquela altura, e nos anos seguintes, são aqueles dela que considero piores, mais fraquinhos. Esta trilogia, a trilogia do Airhead, e a duologia do Insaciável.

Aliás, acho curioso que, olhando para as datas de publicação dos livros dela, seja mesmo na recta final da série PD que há uma abundância de publicações dela, com o que parece ser meia dúzia de livros por ano (estou a exagerar ligeiramente, claro), para passarmos a dois por ano (em 2012 e 2013), e até nenhum (em 2014). Pergunto-me se não terá havido um certo cansaço, mesmo esgotamento por parte dela em relação à escrita.

Explicaria a queda de qualidade dos livros. Estes mais recentes, de 2015 e 2016, não têm tais queixas da minha parte. E é curioso que ela tenha voltado ao activo precisamente a reavivar séries antigas. Talvez fosse o que precisava para voltar a estar à vontade na escrita? Não sei. Isto sou só eu a alvitrar, claro, e sem ela vir cá para fora a falar disso, não posso saber se tenho razão. Mas lá que é coincidental, é.

Enfim. A sorte dela é que eu a adoro. Com outro autor que me fizesse uma destas, estava para aqui a berrar (um berrar escrito, claro) durante três horas, e nunca mais me esquecia da desfeita. Nem sequer estou zangada com esta confusão pegada. Mais... exasperada. Não havia necessidade. De qualquer modo, tenciono ler o terceiro livro, mesmo esperando que não seja grande coisa. Apesar de tudo, não é que tenha passado um mau bocado, é mais como se os personagens a comportarem-se como irracionais fosse uma inconveniência. Mas caramba, espero que a Meg não volte a este nível. Ela é demasiado boa para isso.

2 comentários:

  1. Já estou a ver que esta série podia ser bem melhor...Agora ainda fiquei com mais dúvidas..Não me parece que tão cedo avance para esta série!! beijinhos e obrigada pela review ;)

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    1. Pois... não é que seja desagradável de ler. Durante a leitura estava ciente que os personagens eram irritantes, mas nunca me senti irritada, verdadeiramente. Até me diverti a ler. Mas isso é mais porque gosto da autora e sou tolerante para com ela... de qualquer modo, não podia deixar passar isto. :/

      Há outras melhores dela, definitivamente. Só recomendo do ponto de vista completista, que é o meu de momento, já que estou a tentar ler tudo o que tenho para trás dela. :)

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