Tinha em mente ler o livro antes de me lançar a esta adaptação, mas a impaciência tem destas coisas, ainda para mais quando tenho ouvido falar tão bem da história. Pois bem, gostei muito. Agora estou a sentir-me extremamente impaciente para ler o livro. Ou ver a série outra vez. Conta se, para me inspirar para este post, eu tiver revisto a série 2 vezes em 30 minutos, saltitando entre cenas e revendo as partes mais importantes? Ou, sei lá, tiver visto alguns vídeos no YouTube? (Oh, as músicas ridículas que as pessoas escolhem para os vídeos!)
Ainda acho que devia ter lido o livro primeiro. Senti, em certas cenas, que me faltava algum subtexto transmitido no livro, que numa série para televisão será impossível de transpor. É quase um crime que um livro destes não tenha sido traduzido em português. Mas há certos escritores do século XIX que estão muito mal representados em português, portanto...
Chega de desvios, voltemos à série. Seguimos nesta história a família Hale, que se vê obrigada a mudar-se da sua pequena vila campestre do Sul, para uma grande cidade industrial do Norte de Inglaterra. É este contraste que dá o nome ao livro e à série, e que achei fascinante. Adorei poder ver as maneiras como o Norte e o Sul são diferentes e como a certa altura, a Margaret acaba por ser uma defensora do Norte. (Não que um certo dono de um moinho de algodão nortenho tenha algo a ver com o assunto.)
Gostei muito do cenário principal - a cidade de Milton. É escura, suja e deprimente, mas também vibrante e cheia de gente. O que me leva a uma parte importante do livro - a descrição das consequências da Revolução Industrial no conflito de classes. Achei deveras interessante e fiquei curiosa por saber mais sobre este aspecto.
Quanto à história, devo dizer que a Elizabeth Gaskell é terrível. O body count da história é bem grande - temos a Bessy Higgins, o pai e a mãe da Margaret, o Boucher, aquele homem que queria entregar o irmão da Margaret (o Leonards), o Mr. Bell... e tenho a sensação de que me estou a esquecer de alguém. Pobre Margaret, ainda por cima acontece-lhe de tudo, o irmão está fugido à justiça marcial, ela leva com uma pedrada...
Os personagens secundários compõem um leque bastante interessante, mas os meus favoritos são o Nicholas Higgins e a Mrs. Thornton. O primeiro por ser um homem de convicções fortes e honrado, a segunda porque é uma mulher rija e muito forte, e a modos que uma mãe galinha, ainda que não seja de demonstrar o seu afecto. E aquele sotaque! Adorei o modo como ela falava, foi grande trabalho no sotaque por parte da actriz. Achei ainda alguma piada à Fanny Thornton, tão fútil que chega a ser engraçada.
Quanto aos protagonistas, o John e a Margaret... aquilo começou mesmo mal. Cheguei a compará-los ao Darcy e à Elizabeth, do Orgulho e Preconceito, em alguns aspectos - termos duas pessoas muito diferentes e que começam logo de início a enterrar-se numa série de equívocos, o primeiro pedido de casamento também corre mal...
O trabalho de ambos os actores é muito bom e simplesmente adorei ver as interacções das suas personagens. Gostei muito da relação que o John Thornton tinha com a mãe; e achei a Margaret um pouco ingénua, mas adorei que ela tivesse uma veia rebelde - logo no início, irritada por o capataz do Thornton estar a fofocar sobre a sua família e por o Thornton parecer estar a meter-se nos assuntos da família dela, vai directa ao moinho para lhe dar uma descasca e, farta de estar à espera dele no escritório, vai pelo espaço de trabalho do moinho adentro à sua procura.
Aquele final!... estava a faltar tão pouco tempo para o episódio acabar, e estando eles em locais diferentes, eu já resmungava pelo meu final feliz. E, depois, obtenho aquela cena magnífica na estação de comboios. *swoon* Não consigo enumerar as razões pelas quais gostei da cena, porque daria um post com o tamanho deste, mas fiquei mesmo emocionada e contente ao vê-la.
Agora que penso nisso, acho que o Thornton não sabe bem em que se está a meter, tendo a mãe e a Margaret na mesma casa, com alguma visitas da Fanny à mistura. Seria talvez explosivo, mas gosto de pensar que sogra e nora se pudessem dar bem, assim que se conhecessem melhor. De resto, seria interessante ver o que seria feito do moinho e dos seus trabalhadores.