quinta-feira, 25 de abril de 2013

Dark Triumph, Robin LaFevers


Opinião: Tenho de confessar, antes de ler este livro fiz assim uma releitura muito rápida e na diagonal do livro anterior, Grave Mercy, a rever diálogos e ordem de acontecimentos e intrigas e contra-intrigas, porque se há autora que crie um enredo tão complexo, é esta. E ainda bem que o fiz, porque as duas histórias se entrelaçam e porque me relembrou porque é que eu adorei o Grave Mercy - e apesar das expectativas estarem altas e de eu ter adorado a Ismae e a sua história, adorei igualmente a Sybella. Por razões diferentes e por ser uma história diferente, mas igualmente boa.

O livro começa durante o momento que serve como clímax do Grave Mercy, mostrando a intervenção da Sybella no mesmo; mas rapidamente nos faz mergulhar na vida e na realidade da Sybella, uma muito diferente da Ismae: familiar do homem mais temido, perigoso e cruel da Bretanha, o Conde d'Albret. No livro anterior já tínhamos visto que ele era mau, mas bolas, este homem dá todo um novo significado à palavra ruindade.

A vida da Sybella é quase difícil (e dolorosa) de descrever, porque durante toda a sua vida ela teve de suportar a maldade inerente na família, sem se poder defender, apenas manter-se passiva, para evitar ser a próxima vítima. O que quase a levou à loucura, e a deixou no estado em que vislumbramos brevemente no início do Grave Mercy, quando a Ismae, também acabada de chegar ao convento de St. Mortain, a conhece.

A extensão do que ela passou às mãos da família é revelada pouco a pouco, ao longo do livro, e cada novo pedaço da história dela permite conhecê-la melhor e a escuridão que carrega, mas também apreciar o seu espírito, porque ninguém sobrevive ao que ela sobreviveu se não tiver uma força interior giganteca. Era claro, pelas aparições da personagem no livro anterior, que carregava uma história terrível, mas uau, que história. Fez-me adorar a Sybella, por abraçar a escuridão em si e manter-se sã apesar das adversidades.

E a história dela com o Beast! Tão fofos. Desde o primeiro momento em que se cruzaram que o Beast tenta cuidar dela, ainda que inconscientemente, porque é isso que faz dele a pessoa que é. Apesar de adorar lutar, o primeiro instinto dele é ajudar as pessoas, tanto que durante a fuga deles fazem uns quantos desvios para ajudar camponeses que estão a ser atacados por soldados. E isto quando estava a recuperar de meia-dúzia de feridas potencialmente fatais e da febre resultante das mesmas.

E por mais que a Sybella lhe atirasse as coisas horríveis que (supostamente) fez ou que a família dela tinha feito, ele conseguia ver para além do artifício dela, de ela o estar a tentar afastar e apercebia-se do que estava por trás do que ela não dizia. Tão inteligente, e sinceramente, tão raro de ver num romance. Geralmente os livros vão pelo caminho do casal ter um Grande Desentendimento e passarem metade do livro zangados e sem se falar, quando podiam resolver as coisas em 5 minutos se se tentassem compreender um ao outro e se de facto FALASSEM um com o outro. E eu fico com vontade de bater com a cabeça nas paredes, porque os personagens estão a ser obtusos e frustrantes.

Aqui não, felizmente. Algo que eu estou a apreciar nesta autora é não cair (muito) nos clichés dos romances, dando-nos um casal pelo qual vale a pena torcer, e que é compatível duma forma singular. E melhor, o romance não domina a história, não é a razão para esta acontecer, é a história que junta os personagens e os aproxima através das circunstâncias.

E apesar de esta ser uma história mais focada nos personagens, a intriga política que me agradou no primeiro livro continua presente. A Bretanha está cercada por vários inimigos, e entre franceses e o Conde d'Albret venha o Diabo e escolha. A duquesa Anne e os seus conselheiros tentam encontrar uma solução para manter o país independente, mas infelizmente parece que as probabilidades estão contra eles. Uma coisa que gosto de ler é os momentos com a Anne, que é uma rapariga de apenas 13 anos mas tão, tão inteligente, consciente do seu papel e capaz de gerar lealdade nos que a rodeiam.

Gostei de ver por um bocadinho a Ismae e o Duval, o casal do livro anterior. A primeira cena que têm neste livro é tão típica deles, e do que acontecia no Grave Mercy - estão discutir se a Ismae pode ou não matar um dos conselheiros, que lhes suscita dúvidas. Que rapariga tão pronta a executar o seu dever, e o Duval, coitado, a recolher os corpos atrás dela. Acho a ligação entre as três raparigas, Ismae, Sybella e Annith, muito interessante, e creio que entre as três ainda vão provocar uma grande mudança no estado das coisas.

Outro aspecto do enredo que me intriga é a mitologia. Neste livro é sugerido que o convento e a abadessa de St. Mortain parecem controlar as handmaidens (as assassinas) a seu bel-prazer - o que estas fazem não tem necessariamente a ver com a vontade do deus que veneram, Mortain. Além disso, as handmaidens são deliberadamente mantidas no escuro acerca de muitos aspectos da veneração a Mortain e acerca do que podem realmente fazer, sendo filhas da própria Morte.

Sinto que a abadessa tem uma intenção oculta que não seja necessariamente cumprir a vontade do seu deus, que tem algum grande enredo que se está a desenrolar nos bastidores e que veremos no terceiro livro. Talvez algo motivado ou relacionado com o seu ódio à Sybella? A abadessa estava preparada para a enviar para a morte, o que não faz sentido. Não sei, entretanto com o que o terceiro livro promete, imagino que vá haver uma grande mudança entre as handmaidens, as freiras de St. Mortain e o convento.

Para além disso, imagino que o terceiro livro comece um pouco antes deste terminar, com a fuga prometida da Annith. Imagino que isso cause uma grande comoção no convento, mas para além disso não consigo vislumbrar o que poderá acontecer. A Annith nunca saiu do convento, e sei que a Sybella acha que a Annith não se aguentava no mundo exterior, mas acho que esta nos vai surpreender. Tem uma personalidade luminosa, mas também é adepta de ouvir às portas e ler cartas que não são para ela, por isso talvez tenha um papel mais de espia do que de assassina... outra coisa que me deixa curiosa é que era fácil prever qual era o par da Sybella, mas aqui não há pista sobre se a Annith vai ter par. Aliás, sabemos muito pouco dela, e é difícil prever algo acerca dela, ao contrário da Sybella.

O final foi singular, porque deixa os personagens numa situação semi-irresolvida. Não necessariamente um cliffhanger, porque eu sei que eles estão bem (ou vão ficar). Mas acaba a meio duma acção e gostava de ver os resultados dessa acção. A não ser que tenha directamente a ver com a história da Annith e do terceiro livro, não sei se faz muito sentido terminar assim. Quero dizer, até é adequado às personalidades da Sybella e do Beast, mas não precisavam de me deixar de coração nas mãos.

Páginas: 400

Editora: Houghton Mifflin Harcourt

2 comentários:

  1. Olá P7,

    Bem que comentário espectacular, fiquei super curioso com os livros e apenas tenho uma duvida estão publicados por cá ?

    Tenho cá na ideia que me está a passar algo de muito grandioso ao lado, sei que não posso comprar tudo o que fico com vontade de comprar, mas parece estarmos na presença de algo muito bom, basta ver a forma como te dedicaste a comentar os livros e a ir a todos os pormenores, adorei ;)

    Bjs e boas leituras :)

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    1. Não, infelizmente ainda não estão publicados por cá. :( Tenho gostado muito desta série, na opinião do primeiro livro até comparei com os livros de Kushiel - não por causa do conteúdo sexual, até porque a faixa etária é um pouco diferente... mas graças a ambas as autoras escreverem numa Europa medieval/renascentista alternativa, e com grande peso nas intrigas na corte.

      Obrigada pelo elogio, e boas leituras. :D

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