segunda-feira, 18 de maio de 2015

Curtas: BD

Fábulas: A Revolução dos Bichos, Bill Willingham, Mark Buckingham, Steve Leialoha
Fábulas: O Livro do Amor, Bill Willingham, Mark Buckingham, Steve Leialoha
Depois de um início morno desta série, vejo-me a explorar um pouco mais a história e o mundo, ao ler os dois volumes seguintes da colecção. O primeiro pega nos conceitos e temas de A Quinta dos Animais (e talvez de O Senhor das Moscas) para ancorar a história, o segundo junta um conjunto de várias histórias, algumas stand-alone, algumas distribuídas por vários números.

Diverti-me bastante a ler o primeiro livro, graças à ideia de termos os habitantes da Quinta, os seres dos contos de fadas que não conseguem passar por humanos, a revoltarem-se contra o status quo e a quererem mudar as coisas. Adorei ver o papel da Cachinhos Dourados, armada em revolucionária de pacotilha, incitando alguns dos animais dos contos a revoltarem-se. Achei muito interessante ver a divisão entre animais que apoiavam e não apoiavam a revolução.

Gostei de acompanhar a tensão presente, a sensação de perigo iminente derivada da situação que se complica para a Branca de Neve. Toda a questão da revolução levanta boas questões sobre como as coisas estão organizadas para os personagens dos contos de fadas, e toca um pouco na frustração que têm por terem fugido das suas terras natais.

No segundo volume, achei alguma piada às histórias stand-alone, uma com o João do Pé-de-Feijão, no século XIX, algo moralista, o que contrasta com o feitio trapaceiro do João; e a outra pegando nos Liliputianos e outros personagens de contos com tamanho diminuto, contando uma historinha bem fofa sobre uma das suas tradições.

Entre as outras duas histórias, a primeira envolve um jornalista que anda a rondar a Cidade das Fábulas e afirma ter provas daquilo que eles são (o palpite dele é... vampiros, heh). Alguns dos personagens tentam resolver a situação duma forma muito original e engenhosa. A segunda história mete o retorno da Cachinhos e a sua tentativa de vingança.

O melhor deste história foi o Barba Azul levar o que merece, porque não gosto mesmo nada dele. Também há a história dos valentes Liliputiano e o seu companheiro/montada. Ou o golpe do Príncipe Encantado, que se revelou completamente. E ainda a vingança da Cachinhos.

Pela negativa, não achei piadinha nenhuma ao desenvolvimento entre a Branca e o Lobo. Até estava a gostar do par e da sua evolução, mas depois o autor decide lançar uma bomba que não se coaduna nada com o tom até então apresentado. Se era suposto apimentar a relação, não resulta, é uma situação permanente que resulta de um momento de mau gosto e que poderia ser visto como uma violação por ambas as partes. Soa tão mal, e não sei como é possível ir daqui para a frente sem a relação ficar manchada por isto.

De qualquer modo continuo a sentir uma ligeira falta de intensidade, de ligação com o material, como senti no primeiro livro. Gosto de ler, acho piada às ligações e adaptações dos contos, mas não é algo que me apaixone, que me envolva e faça vibrar com a maneira como os contos são adaptados. Sinto que as coisas são apresentadas por vezes pela rama, e precisava que fossem mais exploradas e mais depressa. A ideia de escrever diferentes géneros de histórias e apresentar assim o mundo dos contos é boa, mas na execução deixa um pouco a desejar.

The Wicked + The Divine, Kieron Gillen, Jamie McKelvie, Matthew Wilson, Clayton Cowles
Tanta tinta tem corrido por aí por causa deste livro, e mesmo assim nada me dava uma ideia clara dele, ou o que esperar. Podia correr muito mal, ou correr muito bem. Felizmente é totalmente o segundo.

The Wicked + The Divine tem uma premissa fascinante. A cada noventa anos, os deuses renascem e reencarnam em corpos humanos, e vivem durante dois anos até terem de morrer, desaparecer e hibernar até à próxima aparição. Ideia só por si já bem boa, mas melhorada pela questão de que no tempo presente os deuses encarnam em super-estrelas, veneradas pelas massas, num processo semelhante e dissimilar à veneração de que eram alvo em tempos antigos.

O como não é muito explorado neste livro; mais as consequências da sua existência entre nós. Estas são pessoas que acabaram de descobrir que são poderosas, que são veneráveis, e isso tem um potencial explosivo enorme. Não há moral ou controlo, não pelos padrões humanos. Por outro lado, há uma doçura e uma inocência em certas facetas dos deuses, e isso é muito interessante de ver explorado.

Achei a Amaterasu tão curiosa, pois ao dar um concerto leva as pessoas a um transe transcendental, e tem um feitio tão doce. A Sakhmet é uma doida, no bom sentido, e gostei do que vi dela. Também encontrei um interesse particular na Morrigan/Badb/Annie, com as suas multiplas facetas e poderes. Ou na Ananke, integrante do grupo e ao mesmo tempo à parte deles. Mas a melhor mesmo é a Luci, com a sua bravata e atitude desafiadora. Contudo, o destaque deste Panteão foi a variedade de deuses de diferentes mitologias, e a diversidade de personagens que nos é apresentada.

A Laura como protagonista é perfeita. É-nos apresentada como uma fã dos deuses, e num concerto da Amaterasu consegue ser introduzida no backstage e conhecer alguns dos deuses. A sua posição de fã permite-nos uma introdução completa a este mundo sem aborrecer o leitor; e a sua perspectiva permite ainda assim acompanhar o mistério presente na narrativa e questionar o que não conhece ou compreende.

Além disso, a Laura é bastante decidida e pró-activa, fazendo avançar a narrativa, enquanto que o não ser um dos deuses permite-lhe algum distanciamento para avaliar as coisas (e fazer frente aos deuses quando estão a ser parvos). [Vi totalmente à distância aquele final para ela. Era tão óbvio. Mas estou curiosa para ver onde isto vai dar.]

Quanto à arte, só tenho a dizer que é tão bonita, linda mesmo. Tudo parece magnífico na página, as cores são maravilhosamente hipnotizantes, e o traço agrada-me muito. O planeamento das pranchas oscila entre o incomum e o ordinário, mas até as páginas com um aspecto mais normal dão a sensação de aquilo ter sido muito bem planeado, porque o ritmo de avanço das vinhetas me soou tão bem.

4 comentários:

  1. As Fábulas são volumes com diferentes temas e géneros, acho que uns dizem mais ao leitor(a) do que outros. Eu gosto dos primeiros volumes mas sinto que no seu conjunto não me satisfizeram completamente, é como se ficasse disperso o universo das histórias. Mas continuo com interesse a colecção, são histórias muito giras :)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Isso é bem verdade no meu caso, há partes da história que tenho apreciado mais que outras, mesmo dentro do mesmo volume. Acho que sinto também essa sensação de estar tudo muito disperso, é que ainda nem sequer começámos a abordar a ameaça principal (o Adversário), fora o que foi dito no primeiro volume, e é algo que parece importante, mas ao mesmo tempo não o é o suficiente para já ter começado a aparecer... não sei, é estranho. Sei que por ser uma série longa isto vai levar o seu tempo, mas é desconcertante, parece que estamos a engonhar. :P Bem, de qualquer modo continuo curiosa o suficiente para continuar a ler, a história e o mundo têm aspectos que me têm agradado bastante. :)

      Eliminar
  2. Uma série bastante longa, ainda está por terminar nos EUA.
    Acho que no próximo volume da Panini já aparece o Adversário.
    Sobre o Adversário, houve uma altura em que me lembrei de pesquisar sobre essa personagem... arrependi-me :(

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Pois é! Está quase a acabar, não é? Pelo menos é bom tê-la quase toda publicada, não se tem de esperar imenso tempo entre pedaços da história. :)

      Hmmm já fico mais animada, estou super curiosa para ver levantada mais uma ponta do véu e saber o que se terá passado nas terras de onde vêm as Fábulas. ;) Mas vou fazer por fugir de spoilers, parece que neste caso não são nada agradáveis, obrigada pelo aviso. ^_^

      Eliminar