terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Os 100, Kass Morgan


Opinião: Bem, esta é uma situação interessante. Este livro não é particularmente bem escrito, à semelhança do anterior que opinei, Prometes Amar-me?; mas ao contrário dele, não consigo detestá-lo nem lhe apontar defeitos. Suponho que me diverti demasiado durante a sua leitura para ser capaz de o demolir criticamente.

The 100 postula que uma espécie de apocalipse e subsequente inverno nuclear ocorreram na Terra há centenas de anos, e que a humanidade vive numa espécie de estação espacial/nave desde então. Como é óbvio, é um sítio restrito e que desenvolveu o seu conjunto de regras. A sobrepopulação levou o governo a prender os criminosos e executá-los; os jovens abaixo dos 18 anos são presos, e esperam até essa idade para ser reavaliados, e sumariamente executados, se declarados culpados.

Um certo problema na integridade da colónia força as autoridades a agir depressa, e decidem enviar 100 dos criminosos jovens de volta à Terra, de modo a avaliar se o planeta está em condições habitáveis, após tanto tempo passado. É claro que com adolescentes hormonais à mistura, as coisas não vão ser tão simples...

E pronto, posso dizer que me diverti a ler. A autora tem mão para criar uma boa história, com dinâmica e encadeamento. É fácil de virar páginas, e a maneira como ela conta as coisas contribui. A premissa é fascinante e gosto das ideias base, e o tipo de história que pode ser contada a partir daqui.

Gostaria de ter visto um bocadinho mais de detalhe, de background em relação ao estado de coisas até aqui, de como a colónia funciona, mas suponho que posso dizer que dá para fazer uns palpites certeiros a partir do que nos é dado, por isso não me queixo. Contudo, lá que adorava saber mais, adorava. Com uma premissa tão suculenta, é quase crime não aproveitar e não elaborar.

Os personagens, bem, este pessoal tem as hormonas demasiado aos saltos, até para mim. A autora bem que podia ter diminuído o drama potencialmente triangular, que até parece mesquinho numa situação de sobrevivência (e faz a Clarke parecer uma totó, a oscilar entre estes dois rapazes conforme muda o vento), e aumentado o drama que é ter quase 100 putos adolescentes a tentar sobreviver num ambiente potencialmente hostil.

Há, contudo, algum interesse nas suas personalidades e percursos. O modo como a história está montada faz dar vontade de devorar os flashbacks, e aquilo que os leva à Terra é variado, e faz sentido nos casos que nos são apresentados. Há segredos mais tétricos que outros, mas nada de verdadeiramente chocante, apenas coisas que são consequência duma sociedade necessariamente diferente.

Algo que me atraiu foi a ideia da colónia no espaço, porque me fez pensar tanto na nave de Across the Universe da Beth Revis, e ambas até debatem com problemas semelhantes. Por outro lado, a questão de sobrevivência em espaço incerto lembra-me Lost, ou se tiver de comparar a um livro, These Broken Stars, de Amie Kaufman e Meagan Spooner. Faço as comparações porque ambos são livros que aprecio, e gostei de encontrar estes aspectos neste livro, não porque sejam cópia chapada ou guia para o que se passa aqui.

E pronto, apesar de não ser nada de especial, e de noutras mãos de escritor isto provavelmente ser capaz de me irritar muito, aqui a coisa até correu bem. Sei que vou ler o próximo, porque fiquei curiosa para ver o que vem a seguir. De qualquer modo, o meu motivo inicial para pegar nisto é porque ouvi falar tanto da série baseada neste livro, especialmente no que toca a emparejar personagens da série, por isso sei que hei de a ver brevemente, também.

Título original: The 100 (2013)

Páginas: 288

Editora: Topseller

Tradução: Renato Carreira

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