Opinião: Estou extremamente chocada. O último livro desta série que li foi há 14 meses??? Estou a ficar para trás. E a perder qualidades. E... bem, voltemos à opinião. Depois de quatro livros da saga, pensava que já sabia o que esperar e neste tipo de livro isso é bom. Mas a autora está a enveredar por uma linha narrativa que ainda não sei se me agrada, e tanta coisa estranha acontece neste volume que eu não consigo perceber se gostei ou não.
Comecemos com uma das coisas em que a autora se está a tornar especialista - os heróis torturados. Gosto do trope, quando bem usado, mas estamos a abusar. Primeiro o Zsadist, que tinha uma história bem triste e me pareceu bem construído, e depois o Butch, com a família doida por se afastar dele e a tragédia familiar da qual eu já não me lembro (yup, 14 meses dão nisto) - e agora o Vishous também tem um dramalhão como backstory. E não me ponham a falar do Phury, que com a paixoneta assolapada pela Bella está um triste dos diabos. Tenho saudades do Wrath e do Rhage, que pareciam ser tão bem resolvidos em comparação. Além de que com isto a autora está a provocar um desequlíbrio - sinto que os livros soam melhor quando os membros do casal têm o drama equilibrado. Ou um ou o outro tem um passado pesado, nunca os dois (bem, podem ser os dois se for um passado "meio-pesado"). E nunca podem ser sempre os homens! As heroínas começam a parecer umas lingrinhas ao pé deles.
O que me leva à Jane. Que me parece uma mulher forte, e no início das interacções com o Vishous assim se mantém, mas depois perde-se um bocado. O livro tem todo o tempo do mundo para desenvolver o casal (até porque os minguantes estão maioritariamente desaparecidos), mas perde tanto tempo com o passado do Vishous que, com eles, de síndrome de Estocolmo a "amo-te" é um pulinho. E depois a J.R. Ward comete o mesmo pecado capital do Fifty Shades of Grey - deixar implícito que quem pratica BDSM é um torturadinho que levou porrada e foi abusado de todas as maneiras possíveis e imaginárias. E põe-no na boca da Jane, que me parecia uma miúda tão esperta. E depois vai e confunde-me, escrevendo uma cena bastante boa acerca de vulnerabilidade.
Nem tudo me irritou, no entanto. Gosto do modo descomplicado e pouco exigente da saga em termos de leitura. Gosto bastante das interacções entre os membros da Irmandade e com as suas shellan, quando elas aparecem. A autora lidou relativamente bem com a paixoneta do Vishous pelo Butch, e pôs-me a rir com as conversas entre eles (e a revirar os olhos quando o Butch e a Marissa fugiam para o quarto). Continuo a gostar de seguir os personagens secundários e o modo como a autora vai preparando os livros seguintes da série. (Ela que ponha o John Matthew out of his misery. Com a sorte dele, depois da transformação já consegue falar, apenas ainda não o tentou.)
E por fim... o fim idiota. É bom que este final pouco usual (e nada de acordo com qualquer worldbuilding até agora apresentado) tenha algum objectivo futuro. Porque se não tiver, é pointless para a história em si e para os percursos do Vishous e da Jane (creio que haveria outras maneiras de o reconciliar com a mãe). E porque soou demasiado a... conformismo, não a final feliz. Por mim, tinha parado naquela parte em que a Jane perde a cabeça e se oferece para médica da Irmandade. Ou se tínhamos que andar mais para a frente, eu até me conformava com um deus ex machina semelhante ao da Mary e do Rhage, por mais que despreze tal artifício literário.
Título original: Lover Unbound (2007)
Páginas: 664
Editora: Casa das Letras
Tradução: Ana Lourenço
Eu adorei esta série nos primeiros livros, mas agora concordo que as coisas não estão a ficar melhores a cada livro… :(
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