segunda-feira, 16 de setembro de 2013

The Bone Season, Samantha Shannon


Opinião: É estranho observar o burburinho que se gera à volta de certos livros. Aquilo que se diz, os direitos para filme já comprados antes da publicação, as comparações, blá blá blá. Cada vez mais tento manter-me longe desse tipo de coisa que só gera entropia, criando expectativas que podem não corresponder à realidade. O que seria uma pena, levando-me a perder histórias que me poderiam agradar.

Isto tudo para dizer que podem ignorar a comparação deste livro à J.K. Rowling, porque não tem sentido nenhum, à parte este livro ser parte duma saga que terá 7 livros. E ser fantasia (mais ou menos). Vale a pena tomar alguma atenção à coisa da adaptação a filme. Acho que o livro é capaz de se tornar num filme visualmente fantástico, se bem feito. O resto do burburinho... bem, é a editora a tentar vender o livro, há que dar um desconto. O que quero dizer é... parece-me que mais vale a pena julgar por nós próprios, ver se gostamos ou não.

The Bone Season é um livro complicado de descrever, e talvez isso seja parte da razão por que gostei dele. Passado no futuro, numa Londres alternativa, mas com elementos fantásticos e paranormais, apresenta-nos um mundo em que existem humanos capazes de aceder ao aether, a dimensão onde param os mortos, e interagir com o mesmo - os clairvoyants (ou voyants). A protagonista, Paige, é uma voyant, e numa Londres dominada pela Scion, a sociedade que proíbe e abomina a existência dos voyants, ela vive sob a protecção do Sindicato, o equivalente à Máfia dos voyants, que ganham a vida com os seus poderes.

Este é um livro em partes iguais complexo e incompleto, fascinante e insuficiente para me satisfazer a curiosidade. Adorei o mundo que a autora apresenta, a existência dos voyants, a sua existência numa sociedade que os odeia, e diverti-me imenso a ler quando ela começa a complicar as coisas, a apresentar várias categorias de voyants, a mostrar outra faceta deste mundo (Oxford/Sheol I e a existência dos Rephaim), e como isso se relaciona com o mundo que a Paige sempre conheceu.

A autora tem aqui um mundo complicado, mas parte da piada é deslindar as coisas que ela apresenta, nem sempre todas duma vez. É capaz de haver ali um bocadinho de info-dump na maneira como ela apresenta a informação, mas pelo menos fê-lo duma maneira que não me incomodou, e que me deixou embrenhada na história. Mas senti sempre a falta de qualquer coisa, como se a autora estivesse a fazer caixinha, e tivesse pedaços de informação que estavam mesmo ali ao virar da esquina para ser revelados. Ainda agora, que acabei o livro, há uma série de coisas das quais eu suspeito, e que ela deve ter guardado para o segundo livro (e seguintes), e estou para aqui a morrer de curiosidade acerca delas. Quero MAIS.

Gostei da Paige, é uma heroína capaz, mas com os seus defeitos, e por isso com espaço para crescer. Agradou-me vê-la em Sheol, o que a pôs fora do seu elemento e a enfrentar desafios novos. E fiquei muito interessada nas relações que ela tem com as pessoas à sua volta, antes e depois de Sheol. O Nick, pelo qual eu até estava mais ou menos a torcer, mas que agora quero esganar por ter partido o coração à Paige daquela maneira, ainda que inadvertidamente. O Jaxon, chefe do grupinho mafioso de voyants a que a Paige pertence, e que tem uma visão singular dos mesmos. O resto do grupinho mafioso - mal posso esperar para os conhecer melhor.

As pessoas de Sheol são igualmente fascinantes. Primeiro os Rephaim em geral, seres intocáveis e frios, fiquei muito curiosa acerca dos seus motivos e decisões. Especialmente no que toca a fundar um sítio como Sheol. Depois a sociedade que se gera em Sheol por influência dos Rephaim. E, em particular, gostei de conhecer o grupo de "amigos", se é que lhes posso chamar assim, que a Paige faz. E estou positivamente intrigada acerca do Arcturus. A relação dele e da Paige é de mestre e aluno, mas com alguns aspectos que a tornam singular, e desequilibram o balanço existente entre estes dois papéis. No fim as coisas evoluem duma maneira deliciosa, e que fez um certo sentido, mas gostava que tivesse havido mais pistas para chegarmos a isso.

O enredo tem os seus momentos de acção (e que momentos), mas também momentos mais parados, alturas em que as coisas parecem evoluir a passo de caracol. Se bem que posso dizer que nunca me aborreci a ler a história, por isso pelo menos a autora consegue cativar o leitor.

Em suma, diria que é um primeiro livro impressionante, especialmente vindo duma autora tão nova. Tem arestas para limar, sim, mas tem uma complexidade, técnica e vivacidade que me agradou. Fiquei fascinada com o mundo de Scion e Sheol, e estou mortinha para lá voltar.

Páginas: 480

Editora: Bloomsbury

2 comentários:

  1. Sou capaz de ler quando sair em pt...se a Leya fizer uma forte publicidade, isto é capaz de vender como pipocas! Mesmo assim fiquei muito entusiasmada com a tua opinião, que levo sempre em conta. :)

    Ah e quando o ler também vou livre de comparações!

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    1. Fazes bem. As comparações por vezes estragam-nos as expectativas para um livro. :/

      Bem, espero mesmo que façam bastante destaque ao livro, porque até é uma história bem gira; e tendo em conta o interesse que o livro gerou antes da publicação, podiam tentar usar isso no marketing do livro aqui em Portugal. :) Espero que gostes, quando tiveres oportunidade de o ler. ;)

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