segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

These Broken Stars, Amie Kaufman, Meagan Spooner


Opinião: Que desgraça, este livro foi o primeiro que li em 2014 e só agora estou a escrever a minha opinião. Mas tenho uma boa razão para isso, tenho andado distraída e ocupada com outras coisas, e quero mesmo escrever uma opinião em condições, que faça jus ao livro, e isso pede tempo e dedicação. Vamos lá ver se consigo fazer alguma coisa de jeito.

These Broken Stars é uma pequena caixinha de surpresas de bombons - começamos por comer só um, mas depois são tão bons que quando damos por nós lá se foi a caixa inteira. (Ups.) O livro tem imensas facetas, algumas que pareceria que não têm ligação possível, mas as autoras fazem um trabalho fantástico em juntar tudo sem parecer que temos ali um patchwork mal costurado de vários tecidos diferentes.

Gostei imenso da junção de vários tipos de história num. Primeiro começamos com a premissa "Titanic no espaço" - e eu era um pouco céptica em relação à parte do Titanic antes de ler, mas sim, muita coisa no início me recordou do Titanic, e o melhor é que é uma referência que ficou bem ancorada, e funciona mesmo bem dentro deste mundo. A Lilac e o Tarver vêm de lados opostos da escala social, e a tensão daí derivada é muito interessante. Por outro lado, aprecio a referência mitológica feita com o nome da nave - Icarus. É um nome mitológico (como o Titanic também o é), e fala-nos de hubris e de uma nave grandiosa construída com a arrogância do Homem (bem, de um homem, o Sr. LaRoux) que acaba por ser castigada pelos deuses e arrancada dos céus (ou do mar, no caso do Titanic).

Depois a história agarra noutro tipo de enredo para continuar - uma combinação de uma história survivalista, com alguns pós de exploração de um local inóspito, e uma boa dose de romance. A Lilac e o Tarver, os protagonistas, são os únicos sobreviventes após o despenhamento da Icarus, e o resto da história segue-os enquanto tentam sobreviver ao planeta onde aterraram, tentam encontrar uma maneira de voltar para casa, e tentam descobrir os mistérios deste planeta. Adorei conhecer melhor o planeta e perceber, juntamente com os protagonistas, que raios se passa com este planeta, terraformado e pronto para receber colonos, mas sem ninguém à vista. Onde os sussurros no vento quase nos fazem pensar que estamos loucos.

É claro que um enredo que junta duas pessoas sozinhas no meio de nenhures vai sem dúvida dar algum destaque ao evoluir da sua relação. E foi uma coisa que me deu gosto acompanhar. A Lilac e o Tarver começam a sua relação com o pé esquerdo, para o qual contribuem alguns preconceitos acerca das suas posições na sociedade... e no entanto, é isso que é cativante. Vê-los perder os preconceitos e chegarem a um entendimento mútuo. São duas pessoas muito diferentes que descobrem que têm algo em comum  - e não, não é só estarem presos num planeta inóspito: ambos são definidos pela sua posição social e acções, e a ambos é concedida uma liberdade inesperada ao encontrarem-se neste planeta. Deu-me prazer torcer pelos dois e como eles, quase desejei que não pudessem voltar para a civilização, que acaba por ser uma ameaça ao que construíram entre os dois durante a estada no planeta.

Por falar nos protagonistas... gostei mesmo deles. A Lilac é uma miúda mimada, a filha do homem mais rico do universo, mas também sabe navegar os mares tempestuosos da sua sociedade com uma maturidade impressionante. É tão casmurra e orgulhosa (a insistência dela em caminhar pelo planeta fora com aqueles sapatos horrendos e o vestido lindíssimo mas pouco prático é divertida), mas é muito corajosa e resistente. O Tarver já tem as ferramentas (tanto físicas como psicológicas) para sobreviver num ambiente destes, mas a Lilac não. É um testamento à sua personalidade forte que continuasse a caminhar e não se enroscasse num canto para morrer.

O Tarver é um personagem giro. Mais calado e com uma veia artística, muito paciente (ele teve que arrastar uma herdeira de saltos altos pela selva, vamos dar-lhe algum crédito), algo estóico. Ao início fica fascinado pela Lilac e interessa-se genuinamente por ela, mas a maneira como ela lhe responde abafa-lhe o interesse e leva-o a exasperar-se com ela. É o Tarver o responsável pela sobrevivência dos dois, porque a sua formação assim o permite, mas curiosamente é a Lilac a responsável em primeiro lugar por estarem os dois vivos e abandonados no planeta.

E à medida que a história evolui a Lilac acaba por se sentir mais à vontade no planeta e torna-se tão responsável pela sobrevivência dos dois como o Tarver. Gosto disso, que não se estabeleça um desequilíbrio na sua relação, porque é um aspecto importante da mesma, que os preconceitos e aparentes superioridades ou inferioridades sejam postos de lado e que os dois sejam parceiros iguais.

Gostei muito da escrita. Nunca se nota que foi escrito por duas pessoas, o que é um bom sinal - de que o seu trabalho se complementa. O estilo resultante agradou-me, é um tipo de escrita bonito. E apreciei o enquadramento que as autoras dão à narrativa: entre capítulos temos excertos de uma entrevista ao Tarver, presumivelmente após os eventos ocorridos no planeta, feita por uma entidade desconhecida. E torna-se fascinante perceber as discrepâncias entre o que acontece e o que o Tarver conta, o que subentende que algo de errado se passou entre os dois momentos... deixou-me com ainda mais vontade de continuar a ler.

Quanto ao planeta e ao seu mistério... muito intrigante. Havia algo de errado com aquele local, desde o início que era óbvio. E fiquei mesmo empenhada em perceber o que se estava a passar. Há um certo twist ali mais para o fim que me deixou abismada, traumatizada, e pronta a arrancar cabelos, um pouco à semelhança de um dos personagens... mas depois as coisas dão ainda mais uma reviravolta, que me deixou completamente assombrada. Reagi um pouco como o Tarver, primeiro desconfiada, depois uma crente... As ramificações e consequências do que estava a acontecer eram um pouco perturbadoras, mas também me deixaram curiosa em perceber como as autoras iam resolver a situação. (Posso dizer que fiquei satisfeita com a solução dada e o seu resultado.)

Um ponto que tenho mesmo de mencionar é o fim... sei que as autoras têm uma trilogia planeada, e que cada livro se foca num casal diferente, e por isso a história da Lilac e do Tarver fica aqui fechada (e bem fechada). Contudo, não deixo de ficar com vontade de ver como será a reintrodução à sociedade depois do que aconteceu. Adorava que as autoras escrevessem umas cenas bónus para mostrar isso. (Ou, sei lá, mostrar um bocadinho disso no livro seguinte.)

O outro aspecto do fim que quero mencionar é o pai da Lilac, o Sr. LaRoux. Um homem arrepiante (mas ele quer que a filha viva fechada numa gaiola? para não falar do que estava a acontecer no planeta...), e aparentemente o vilão não só deste livro mas também dos seguintes (a publicidade da trilogia fala de três histórias, mas um inimigo). E eu estou muitíssimo curiosa em ver o que as autoras têm em mente para a evolução da trilogia, e para o papel deste homem na mesma. Depois do que vi li aqui, tenho muito boas expectativas acerca destas autoras e desta trilogia.

Páginas: 384

Editora: Disney Hyperion

9 comentários:

  1. Quero assim para lá do infinito e mais além!xD

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    1. Loool vamos torcer para que a Planeta o publique brevemente. :)

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    2. Vamos vamos, já que eles andam com o fogo todo, pode ser que este também seja pra breve *.*

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  2. Ai aquela parte final O_O credo, e depois ela volta mas afinal pode desaparecer a qualquer momento aaah, super, super traumatizante. Mas é muuuito bom. Acho que esta dupla ainda vai dar muito que falar.

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    1. Essa parte deu comigo em doida. Estava literalmente a passar-me da cabeça com a perspectiva de as coisas, hmm, correrem menos bem. Foi muito bom de ler, mas o meu pobre coração não precisava de ser exposto a tanto sofrimento. xD

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    2. **spoilers**
      Foi mesmo um momento mãos à cabeça + expressão horrorizada. No fim, quando o planeta explode senti um vazio... O_O é que eu estava a fazer figas para que eles lá ficassem para sempre xD

      Omg, ela atravessar o planeta com aqueles sapatos, eu queria rir e chorar ao mesmo tempo. Tão tola aquela miúda.

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    3. Eu fiquei um pouco incrédula com o que aconteceu ao planeta, afinal torna aquilo que a Lilac pediu ao pai mais frágil... ainda continua a ter leverage (ela própria), mas é muito mais frágil. *medo*

      A mim até já me davam dores nos pés de simpatia, o horror de usar aquilo no meio da selva! xD Mas ei, espero que assim o Tarver reconheça o desafio que é usar uma coisa daquelas. :P

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  3. Ao ler a tua opinião só me veio à cabeça uma espécie de Titanic meets Horizonte Longínquo e agora quero muito, muito ler... ;)

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    1. Fico contente por te ter aguçado a curiosidade. :D Se tiveres a oportunidade de ler, espero que gostes. ;)

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