quarta-feira, 22 de março de 2017

Wires and Nerve, Marissa Meyer, Doug Holgate


Opinião: Raios, esta é uma nova forma de tortura. Já bem bastava ler um livro e esperar um ano para ler a sequela; agora em adição a isso, descubro que tenho direito a ver contadas mais histórias num mundo e numa série que adoro, e é em versão BD... que eu procedo a ler enquanto o diabo esfrega um olho e me sabe a pouco. Podemos saltar um ano, por favor?

Wires and Nerve serve como uma sequela à série principal das Lunar Chronicles: decorre alguns meses depois de Winter, e antes do conto-epílogo presente em Stars Above. O foco está na Iko, que finalmente tem direito ao seu POV e à sua própria história.

O enredo prende-se com uma consequência dos acontecimentos de Winter: depois da derrota de Levana, demasiados híbridos-lobos criados por ela ficaram à deriva na terra, sem controlo. A sua presença é um ponto de tensão política entre a Terra e Luna; e por isso Iko sugere à Cinder que pode ser ela a caçá-los, como uma agente externa.

E pronto, sempre soubemos que a Iko era maravilhosa; esta é só uma maneira de mostrar o quanto. Ela distribui porrada a rodos, e mantém o seu sentido de humor fantástico; e a história tem definitivamente uma certa leveza.

No entanto, gosto que a narrativa também tenha um tom mais sério entrelaçado - é que a Iko é uma andróide, e uma espécie de heroína esquecida por isso: todos os outros personagens são reconhecidos na Terra e em Luna como tendo terminado o reino de terror da Levana.

A Iko, por sua vez, não é considerada um ser sentiente, com sentimentos e personalidade; a individualidade que apresenta é considerada um defeito de fabrico do seu chip de personalidade. É trágico; ela é de fabrico artificial, sim, mas ser considerada menos que humana? Quando demonstra sentiência e personalidade para além da sua programação? É um comentário interessante sobre discriminação e minorias e o modo como achamos tão fácil julgar o que não conhecemos.

Gostei muito de rever toda a gente; a Iko acaba por se cruzar com todo o gang das Lunar Chronicles ao longo da história, e foi uma animação revê-los (e conhecer a sua interpretação gráfica por este artista). Gostei bastante do design de todos em geral, é aproximado o suficiente do que imaginava, mas com a sua própria interpretação.

Destaque para a Winter, que anda no seu papel de embaixadora; para a Cinder, que se esforça para mudar Luna; para a Scarlet e o Wolf, que vivem uma vida pacífica na quinta (e o Wolf está a trabalhar para o que vemos no conto do Stars Above - quero muito ver quando ele conseguir finalmente fazê-lo, mas a Scarlet não ajuda); e para a Cress e o Thorne, que viajam pelo mundo graças à nave Rampion e ao seu papel de distribuidores da cura para a lethumosis. (De todos, aquele que achei mais diferente é o Thorne: senti a falta do seu tom cheio de si... aqui ele está em modo herói, o que não é necessariamente mau, mas divirto-me bastante com a sua personalidade convencida e nada heróica.)

A narrativa faz um bom trabalho a relembrar o que está para trás (não que eu precisasse); quase me atrevo a dizer que é o suficiente para pessoas que ainda não contactaram com a série (se bem que se ainda não leram, estão à espera de quê? é só das melhores séries recentes do seu género), mas a sério, qualquer leitor está a perder muito não tendo lido a série, que é fantástica. E com este volume seria spoilado para os acontecimentos dela.

O enredo dos lobos perdidos começa a condensar-se num antagonista que vai dar muito trabalho à nossa protagonista no futuro, isso é claro; mas tenho toda a confiança e esperança na Iko. Por outro lado, ela volta a cruzar-se com o Kinney, e é tão divertido. Ele pensa dela que é como qualquer outro andróide, e é até um pouco insultuoso na maneira como fala com ela...

... mas há faíscas, e é tão giro de ver a parte final com eles a discutir e a desafiarem-se mutuamente. (E o comentário do Thorne sobre eles é hilariante.)

E pronto, agora estou para aqui a morrer já de saudades. Repetindo o meu comentário do início, já passou um ano? Podemos fazer fast-forward?

P.S.: uma opção interessante, graficamente falando, a de a arte ser em azul e branco. Gosto. Encaixa bem, de algum modo. Muito expressiva, ainda assim.

Páginas: 240

Editora: Feiwel & Friends (MacMillan)

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