quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Curtas: BD parte I - Fatale, Tony Chu

Fatale - Volume Um: A Morte Persegue-me, Ed Brubaker, Sean Phillips
Esta leitura foi uma boa surpresa. Comprei o livro por curiosidade, pois estou interessada nesta iniciativa da G Floy Studio em lançar algumas séries de banda desenhada em Portugal, e acabei bastante satisfeita com o resultado final; os livros estão a um bom preço, a edição é boa, de capa dura, e as histórias agradaram-me.

Fatale apresenta uma história que pode já ter sido contada de um milhão de maneiras diferentes, mas que seguem o mesmo molde: uma mulher fatal em sarilhos, um homem perdidamente embeiçado por ela, um mistério que têm de desvender, um conjunto de perigos em que se colocam, polícias corruptos e vilões determinados. Mas talvez não tenha sido contada propriamente assim, com o toque de sobrenatural que apresenta, e é isso que deu sabor à narrativa.

A história alterna entre duas linhas temporais, dando claramente mais peso a uma delas. Começamos por acompanhar Nicolas Lash, que é responsável pela herança de um amigo do pai, Dominic Raines, e é através daquilo que lhe deixa e de uma mulher misteriosa relacionada com que ele que Nicolas é arrastado para algo que não compreende.

Rapidamente a narrativa dá lugar ao núcleo central da história, decorrendo em São Francisco, em 1956. Dominic "Hank" Raines é um jornalista a investigar uma história sobre policias corruptos, algo que o coloca no caminho de Josephine, uma mulher enigmática e magnética, e no caminho de uma série de acontecimentos sobrenaturais e perigosos homens cujos desígnios não conhece.

Acho que a história conseguiu manter o suspense e o nível de perigo, deixando-me impaciente para continuar a ler e ver o que aconteceria a seguir. Fiquei muito curiosa pelo que é sugerido acerca do passado e futuro da Josephine, e pelo aspecto sobrenatural, que está inevitavelmente relacionado com ela, mas que começa apenas por ser introduzido, e não completamente explicado.

Aliás, seria essa a minha única queixa, o eu querer saber mais e não poder, ainda, por ser apenas o primeiro volume, porque de resto conseguiu manter-me totalmente investida e com vontade de descobrir o mistério de Josephine, e que os protagonistas conseguissem escapar a um destino inevitável. A questão da mulher fatal que Jo representa é mais complexa que aparenta, e vou querer muito desvendar os seus segredos.

A arte é mais tradicional, mas perfeitamente adequada ao estilo de história, e desenho e cores combinam-se muito bem para criar a atmosfera ideal para a história, conseguindo cativar-me para a história. Gostei muito do trabalho tendencialmente monocromático, e o desenho fez-me transportar para a época.

Tony Chu - Volume Um: Ao Gosto do Freguês, John Layman, Rob Guillory
Esta é uma história... estranha. Digo-o maioritariamente no bom sentido, mas definitivamente estranha. Divertida, também, porque com tal premissa não vamos lá sem sentido de humor, e consegue usar a premissa a seu favor, por isso resulta melhor do que esperava. Tony Chu vive num mundo em que a gripe das aves matou milhões de pessoas, e isso nos EUA levou a que a FDA (a instituição que regula alimentos e medicamentos) proibisse a carne de frango, o que quer dizer que se gerou um mercado negro paralelo para a sua venda. (E também que há quem ache que isto é tudo uma conspiração.)

Tony é um polícia que tropeça num caso que envolve venda proibida de frango, o que o põe a trabalhar para a FDA devido à revelação da sua capacidade extraordinária: é um cibopata, alguém que recebe impressões psíquicas quando come algo. É muito incómodo saborear um bife de porco quando se consegue ver impressões da sua vida (ou morte); mas dá muito jeito quando basta mordiscar uma vítima para descobrir o seu assassino, ou vice-versa.

Portanto, sim, ideia completamente doidivanas. É um bocado nojento quando o Tony se tem de pôr a fazer a sua coisa, mas os autores não exploram a situação, apenas a usam como âncora para o resto da narrativa, por isso acabei por me divertir a ler a história, algo que não esperava, mas há algum sentido de humor no desenvolvimento da mesma, o que acabou por me agradar.

Por outro lado, gosto bastante do conceito de cibopata e de como foi explorado, porque o pobre do Tony não pode comer nada sem ser avassalado por uma série de imagens e impressões, sendo-lhe impossível saborear um prato; e cedo é introduzido outro tipo de pessoas com uma capacidade extraordinária: uma delas é Amelia Mintz, uma saboescriba, que faz ao seu leitor saborear a comida sobre a qual escreve. Incluindo o Tony, pelo que é capaz de ser a mulher da sua vida.

Portanto, o livro não se leva demasiado a sério, e brinca com os conceitos que apresenta, gerando uma série de situações bem engraçadas, como a Amelia derrotar uns malfeitores graças à sua capacidade, ou até a página inicial, o prólogo, que toma outra importância quando se torna claro como se vai intercruzar com o caminho do Tony.

O grupo de personagens secundários é bem giro, e fico com vontade de os vir a conhecer melhor. Há a Amelia, da qual já falei; o irmão do Tony, que era cozinheiro profissional, com programa de TV e tudo, até se lançar numa diatribe em directo contra o governo e a FDA (é um dos que acredita na conspiração contra a carne de frango); o Mason Savoy, outro cibopata, e que me deixa intrigada quanto aos seus motivos; o chefe do Tony, Applebee, totalmente antagonístico em relação a ele; ou o seu antigo parceiro, John Colby, com o qual tem uma relação engraçada.

A arte é mais cartoonesca, muito adequada ao tom da história, mas também é bastante detalhada, o que visualmente é muito cativante, e foi um trabalho que gostei de explorar.

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