sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Curtas: BD parte II - Sex Criminals, Velvet

Sex Criminals Vol. 1: One Weird Trick, Matt Fraction, Chip Zdarsky
Este livro facilmente chama a atenção, pela premissa, que é bem curiosa e singular, e relacionada com algo tão fulcral à experiência humana. E por isso é fácil ter expectativas, ou preconceitos, e descartá-lo sem mais; o que é uma pena, porque acabou por se tornar um livro divertido e com uma ou duas coisas interessantes a dizer acerca de sexo.

Suzie tem um poder extraordinário: durante o sexo, consegue parar o tempo. Um poder estranho, claro, mas que pela narração de Suzie chama a atenção para algumas questões ao longo do seu crescimento: desconhecendo se isto é normal para o resto do mundo, Suzie tenta esclarecer as suas dúvidas com várias fontes, mas ninguém se mostra disponível. Um ponto verdadeiramente trágico: por mais que o sexo esteja omnipresente, nunca estamos disponíveis para discuti-lo, algo mesmo triste se pensarmos em miúdos com a idade que a Suzie tinha a fazer asneiras porque nunca ninguém lhes explicou como é que funciona.

Enfim, a nossa protagonista sobrevive, e consegue viver uma vida social normal, tendo explorado o seu poder e respectivos limites, e habituando-se a viver com ele. Tem preferências e ideias pré-concebidas como qualquer um. Mas a sua vida dá uma reviravolta quando conhece o Jon, que tem a mesma capacidade.

Achei alguma piada à maneira como a relação deles se desenvolveu no início, a partir desta característica partilhada, e de como foram explorando juntos novas potencialidades do seu poder; e também gostei bastante de ler a narrativa do Jon sobre o seu passado, porque lidou com as coisas de maneira diferente, e ainda lida, o que dá uma abordagem distinta da Suzie. (Aquilo que ele faz à planta do patrão é de loucos. Mas super engraçado.)

Quanto àquilo que decidem fazer em conjunto - roubar um banco para salvar a biblioteca em que Suzie trabalha -, é a parte mais divertida do livro, porque fazem uma série de coisas doidas e hilariantes para testar os limites deste poder e entram em cena alguns conceitos completamente loucos mas que fazem muito sentido, como a polícia que patrulha o tempo parado, pessoas que têm o mesmo poder e tentam evitar que quem o tem abuse dele. Tecnicamente, estão a fazer a coisa certa, mas através da narração da Suzie cedo se perfilam como antagonísticos, e não podemos deixar de torcer por ela e pelo Jon.

A arte cartoonesca e psicadélica de Chip Zdarsk é perfeita para contar esta história com uma base tão louca, e fá-la resultar tão bem. A apresentação do tempo parado e o planeamento de algumas vinhetas e pranchas são aspectos que se destacam visualmente.

Velvet Vol. 1: Before the Living End, Ed Brubaker, Steve Epting, Elizabeth Breitweiser
Velvet é a história de Velvet Templeton, secretária do director de uma divisão de inteligência altamente secreta (não são todas?), ARC-7; quando um agente da divisão é morto, Velvet vê-se implicada na intriga, e é ao tentar limpar o seu nome que descobrimos que Velvet é muito mais do que parece. (E pronto, eu quando crescer quero ser como a Velvet e saber distribuir porrada sem suar as estopinhas.)

A história é clássica, no sentido que temos um (ex-)espião a tentar limpar o seu nome, no meio de uma conspiração, mas é o passado e a pessoa que Velvet é, e a maneira como a história é contada que me agarrou e manteve interessada.

Por um lado, o passado de Velvet, e as coisas que fez, deixaram-me intrigada, e queria saber sempre mais... em certos aspectos, vi a minha curiosidade saciada, noutros, nem por isso (há que guardar revelações para os próximos capítulos). Por outro lado, a narração do presente de Velvet é alucinante, viajando pela Europa, procurando pistas sobre o que levou à morte do agente e que possam ajudá-la a provar a sua inocência.

O certo é que fiquei investida na história, virando as páginas e acompanhando-a quase como se tratasse de um episódio da minha série favorita. A atmosfera dos anos 70 é muito bem evocada e para isso contribui a arte - que também transmite mesmo bem o ambiente de suspense, perigo e espionagem, ou não fosse a dupla argumentista/artista responsável por um livro dentro do mesmo género, só que com um super-herói - Capitão América: O Soldado do Inverno.

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