domingo, 15 de março de 2015

A rainha manda...: It Happened One Autumn, Lisa Kleypas

O livro que a Patrícia (Chaise Longue) me pediu para ler em Fevereiro para o A rainha manda... foi It Happened One Autumn, de Lisa Kleypas. Uma leitura adorável, que senti como realista, com personagens que gostei de conhecer e acompanhar, e apenas uma pequena excepção que me desgostou.


O livro que decidi que a Patrícia leria em Fevereiro foi Scarlet, de A.C Gaughen, e as impressões dela sobre a leitura podem ser lidas aqui.

A Lillian é arisca e pouco dada às convenções. Sejamos sinceras, tem muito pouco de senhora. Divertiste-te com esta “encalhada”?
Muito mesmo. Especialmente quando ela deixa o Marcus fora do sério, prestes a ter uma apoplexia.

... Agora a sério, é muito interessante ver como o estatuto de outsider dela, sendo uma americana no meio da nobreza britânica, a leva a impacientar-se com as regras de etiqueta minuciosas, e a descartá-las. Nem faz uma excepção para o objectivo que ela devia estar a seguir, de arranjar um nobre inglês para marido.

É refrescante, a atitude dela, especialmente porque é tão diferente das jovens que a rodeiam; porque quer fazer o que lhe apetece sem que ninguém a aborreça, ao ponto de fazer o completo oposto do que lhe pedem exigem; e porque é um óptimo contrapeso à atitude do Marcus. Uma flor de estufa morria ressequida ao lado dele. A Lillian vai dar-lhe luta todos os dias do resto das suas vidas, e é isso que vai fazer deles um óptimo casal. Não vão haver momentos aborrecidos.

Além disso, gosto bastante da relação que a Lillian tem com a irmã e as outras wallflowers, da qual vemos talvez mais neste livro que no anterior. São um grupo fantástico.

Completamente o oposto do seu par, o Marcus é um perfeito cavalheiro inglês. O que achaste dele?
Heh. Perfeito cavalheiro inglês. Se por perfeito cavalheiro inglês quisermos dizer "vulcão prestes a explodir"...

A sério, o Marcus tem esta fachada de frio, rígido e desinteressado, mas depois vai-se a ver e é completamente explosivo. Há uma cena no início do livro em que ele e outros homens do seu círculo estão juntos a falar, e comentam o leito conjugal. Ora o Marcus comenta que basta fazer amor com a sua mulher uma vez por semana, não era preciso mais, que tinha outros afazeres e mais cansa. (Lol.) A piada da coisa é que depois ele não tira as mãos de cima da Lillian, e um dos amigos com quem ele estava o goza por isso. E não esqueçamos a cena final, que é bom exemplo do temperamento dele, no bom sentido. Pelo menos fez-me rir, a reacção dele.

O Marcus é bastante teimoso e mandão, e para tal, é preciso teimoso e meio, personificado na Lillian. Já o disse antes, o par é perfeito, os seus feitios de índole semelhantes encaixam perfeitamente por se desafiarem mutuamente. Mas até tenho medo de imaginar os filhos deles.

Entre as outras meninas e meninos, e respectivas famílias, o elenco de personagens secundárias é practicamente tão irresistível quanto o parzinho. Concordas? Alguém que queiras destacar, seja pela positiva ou pela negativa?
Já disse que gosto bastante das wallflowers; gostei de conhecer melhor a Daisy pela sua relação com a Lillian, e deu para ver um pouco melhor da Evie, especialmente no que toca ao que ela está disposta quando está realmente desesperada. (A miúda tem cojones.)

Entre outras pessoas que gostaria de destacar, vou falar na Mercedes, a mãe das meninas americanas, porque me lembrou imenso da Mrs. Bennet na sua determinação para casar as filhas; e na duquesa viúva, a mãe do Marcus, porque a mulher é simplesmente louca da cabeça. Eu até compreendo alguma atitude mais retrógada e tradicionalista da parte dela, mas quando chegamos ao ponto de tentar magoar pessoas, bem, é ultrapassado um limite.

Sendo um romance, apesar de histórico, este livro centra-se na relação dos protagonistas que é bastante explosiva. Achas que a Lisa fez um bom trabalho no desenvolvimento desta relação?
Oh, very much. Adorei segui-los, e à maneira como o ódio evolui para amor. A sério, e pensar que eles começam o livro a maldizer-se mutuamente! Mas alguns momentos em que se permitem ser mais abertos aproximam-nos (a cena da pêra bêbeda é hilariante), e quando dão por eles, estão firmemente enrolados um no outro. Muito giro.

Parecem-me ser um par em que ambos estão bem um para o outro, porque as suas naturezas combativas podem significar que vão argumentar sobre tudo, mas isso também quer dizer que não há um que vai ceder sempre, pois isso não seria saudável. Nem a Lillian é mulher de ceder; e a resistência dela estimula-o e impede que se torne num tirano.

Mas o que mais apreciei é que apesar de ser um livro histórico, com problemas e dilemas do século XIX, a Lisa faz um bom trabalho na descrição dos sentimentos, emoções e pensamentos dos personagens, e faz com que sejam compreensíveis e credíveis para uma leitora do século XXI. Sinto que ela escreve duma forma bastante realista (com uma pequena, ou não tão pequena, excepção), e agrada-me.

Conta-me: o que gostaste mais nesta história? Houve alguma coisa que te tivesse desagradado?
Gostei: a relação da Lillian e do Marcus, e a maneira como a senti realista, devido ao modo como a Lisa escreve.

Detestei, com o ódio de mil sóis: a recta final do livro. Estava eu tão embalada, a elogiar a Lisa na minha cabeça pelo seu realismo no desenvolvimento da narrativa, feliz da vida por a Lillian e o Marcus se terem resolvido, e tumba, ela tinha de me contrariar e entrar no território de telenovela mexicana.

Porque foi isso que eu achei da cena toda do rapto: altamente incrível, no sentido em que não consegui acreditar na lógica de uma palavra sequer daquilo. Por um lado, se era para nos surpreender com a atitude do perpretador, era escusado passarmos o livro a ter "avisozinhos" sobre o carácter dele, porque o resultado é que a sua acção não é surpreendente - é só estúpida.

Por outro, não há qualquer explicação dada para as suas acções (daí o epíteto de estúpida). Não há foreshadowing de a pessoa estar desesperada a esse ponto. Porque a verdade é que não está. No epílogo, contado na sua voz, contempla outras hipóteses para se arranjar entretanto. E se elas existiam, para quê chegar ao ponto que chegou, arriscando-se a perder amigos e fazer deles inimigos? Alguém que se escapou a levar tiros dos maridos da mulheres com quem andou metido, para agora arricar o pescoço por tão pouco. *facepalm*

Yep, Lisa, isto fez tanto sentido como uma roda quadrada, caramba. O pior é que tenho medo que isto me estrague o próximo livro. Porque tenho a sensação que não vou conseguir desligar a minha voz cínica, que vai estar o tempo todo a gozar com o caminho de redenção que sem dúvida será percorrido, por causa deste acto supostamente imperdoável e irredimível, mas que para mim foi só mal escrito. Não me oponho à sua presença, apenas à maneira como foi apresentado.

A única coisa boa disto tudo é ter o Marcus à porrada numa estalagem. A noção disto foi tão hilariante, que durante a cena me deu um ataque de risota dos bons. Não conseguia parar de rir com a ideia do estóico Marcus perder a cabeça e andar à porrada.

Achas que a autora apresentou bem o “fosso” existente entre americanos e ingleses, nobres e novos-ricos?
Eu gostei da abordagem dela. É uma época tão rica, esta em que os americanos tinham feito a vida no seu país, e traziam a sua riqueza para Inglaterra, procurando validação casando as filhas com nobres ingleses, pois à riqueza só faltava aliar o título. E a nobreza recebia os americanos com sobranceria, deprezando-os por não aderirem completamente a uma estrutura social altamente estruturada e regrada.

E ao mesmo tempo, necessitando deles, pois nem sempre os títulos significavam prosperidade, e muitos nobres estariam na penúria não fossem as herdeiras americanas com os seus dotes, er, avantajados. A Lisa consegue explorar bem um pouco das diferenças entre os dois lados, os conflitos culturais e sociais, e espelhar a situação nas circunstâncias dos personagens. Não podia pedir mais.

Para além de ser adorável, um dos grandes pontos positivos da escrita da Lisa é a sua capacidade sensorial, pois quase que não só nos coloca lá como é capaz de nos fazer ver e sentir o mesmo que as personagens. Concordas?
Sim, creio que sim. Como disse, senti grande parte da narrativa como real, muito graças a como a Lisa escreve. Além disso, a sua escrita é bem imersiva e cativante, e ler os seus livros é uma experiência prazerosa. Passei um bom bocado com o livro (com uma pequena excepção), e sei que não será a última vez que lerei a autora (se bem que é melhor esperar um bocadinho para me esquecer da fúria com este fim).

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O livro escolhido pela Patrícia para eu ler no próximo A rainha manda... é:

A Árvore do Verão, Guy Gavriel Kay
Esta escolha este mês vem de um instinto qualquer. Ao deparar-me com este livro nos livros por ler da p7 não consegui deixar de pensar que ela apreciaria o trabalho de Guy nesta trilogia, mesmo que seja mais bruto em termos de matéria do que por exemplo, Os Leões de Al-Rassan. Para além de ser uma leitura leve, é um regresso às origens e a um autor que ambas apreciamos. Espero que ela goste e que não tenha vontade de me bater a seguir.

Nunca, querida, só me ouvirias a resmungar muito. Mas não creio que este autor me dê vontade disso, eheheh.

Podem descobrir o livro que sugeri à Patrícia para Março, e o porquê de o ter escolhido, aqui.

8 comentários:

  1. adoro esta série da Lisa Kleypas. O meu favorito é o 4º, o da Daisy, amo!

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    1. Estou bastante curiosa para ver o que vai acontecer à Daisy, a personalidade dela é um pouco mais low profile que a irmã, por isso estou para ver que dramas (xD) lhe estão reservados. ^_^

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  2. OMD, não!!! lê o seguinte JÁ!! eu tinha um ódio de morte ao Sebastian, e ainda por cima a Evie é a minha wallflower favorita, mas a história deles é do melhor. <3
    É tão divertido ver aquele pulha ficar totalmente rendido pela fofa da Evie, eles são ambos personagens surpreendentes. Já para não falar que o casamento deles é das cenas mais hilariantes que já li em toda a minha vida. Foram lágrimas de riso. Lágrimas!

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    1. Loool é que pelos teus comentários e pelos de toda a gente, as expectativas são tantas! Tenho vontade de o ler, mas ao mesmo tempo tenho medo de borrar a pintura. xD Acho que vou deixar passar um bocadinho de tempo, porque se for ler agora sei que vou passar o tempo todo a tentar autosabotar-me a leitura, sempre a resmungar com o fim deste. :P

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    2. Ai se eu te pudesse abanar neste momento xD

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    3. A culpa não é minha! Vocês é que andam aí há séculos a falar bem do livro e a deixar-me nervosa com a leitura. xD

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    4. *facepalm*

      Okay, eu volto para ler os "porque é que demorei tanto a ler este livro" e variantes, na opinião do Devil in Winter.

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    5. Considera isto permissão para me atirares com um "I told you so", ou vários, quando isso acontecer. :P Não ficarei ofendida. xD

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