sexta-feira, 13 de março de 2015

The DUFF, Kody Keplinger


Opinião: Ah, finalmente percebo o encanto desta autora, e posso dizer que não fiquei imune. Ela era muito nova quando escreveu e publicou este livro, levando a algumas imperfeições e ingenuidades; mas o talento está lá, e ela escreve com uma voz tão honesta e realista sobre adolescentes que eu devorei o livro.

A Bianca é uma rapariga perfeitamente normal, com uma voz deliciosa de acompanhar. Sarcástica, cáustica, pessimista, e usando aquela atitude tipicamente jovem de "eu sei tudo, ou pelo menos sei mais do que os outros", combinando com uma série de inseguranças derivadas das situações por que passa no livro. Acho que é esse balanço que torna tão credível ler sobre ela e a sua história, porque ela tem 17 anos, não sabe tudo sobre o mundo (apenas pensa que sabe), e vai fazer asneiras a torto e a direito, obviamente.

Entra em cena o Wesley, o "Zé vai com todas" lá do sítio, que comenta com ela se pode falar um bocadinho com ela, explicando que é a DUFF do grupo de amigas dela, a rapariga menos atraente do grupo, e que se for visto a ser simpático com ela, é possível que as amigas lhe dêem bola. Ora a Bianca explode, e as reacções dela que se seguem são imprevisíveis mas com resultados muito divertidos.

Gostei que a história tivesse um olhar brutalmente honesto sobre sexualidade nesta idade. Os americanos às vezes gostam de fingir que ninguém abaixo de 18 anos tem sexo, mas é claro que isso não é verdade. E este acaba por ser um olhar positivo, porque há sexo seguro, e porque se tenta derrubar etiquetas de "galdéria" e afins. É claro que não é tudo fácil, a própria Bianca tem dificuldade em largar essa atitude crítica sobre o que as outras mulheres e jovens fazem, mas o importante é que aprende com os erros.

A questão da DUFF também é muito interessante de seguir, precisamente por causa das etiquetas, as que damos a nós próprios, e as que damos aos outros. Por vezes deixamo-nos dirigir por aquilo que elas representam, e não por aquilo que queremos ser e fazer. Achei tão giro a Bianca ver que as amigas também tinham momentos em que achavam que eram as DUFFs do grupo, o que lhe permitiu perceber que todos temos inseguranças, e que as expectativas dos outros não devem condicionar as nossas.

Além disso, a Bianca tem uma situação complicada em casa, com o divórcio dos pais, e um, er, "demónio" do passado do pai que o volta para o assombrar, e além de serem o mote para os acontecimentos do livro, gostei de seguir o percurso que ela fez para lidar com isso. Custou-me vê-la fechar-se, esconder coisas, afastar-se das amigas, procurar distrações, negar o óbvio, mas são reacções muito humanas, e compadeci-me dela. Na sua situação, quantos não fariam o mesmo?

No entanto, a coisa que mais fantástica de seguir foi a relação da Bianca com o Wesley. A coisa começa com um impulso da Bianca, nascido da frustração com o resto da sua vida, mas evolui para uma situação em que se percebe que ambos procuram conforto físico como forma de lidar com as faltas que outros na sua vida deixam, por omissão ou falta de comparência.

Apesar de a relação começar por ser uma de amor-ódio, percebemos que têm mais em comum do que admitiriam de início, e os desgraçados também percebem, só que têm dificuldade em admiti-lo. A certa altura são adoráveis juntos, mesmo quando não percebem que aquilo já não é só físico, e a parte final é fofa. Pela tentativa de mudança de atitude do Wesley, que queria genuinamente ser diferente, e pela asserção da Bianca, que diz que não vai mudar por ninguém. Teimosa, mas sabe o que quer, e é isso que gosto nela.

O ponto negativo que posso apontar é a inexperiência da Kody a nível de escrita, que se traduz numa história que podia ser mais completa. Há cenas que eu gostava que ela tivesse escrito, principalmente mais cenas da Bianca e do Wesley, para preencher melhor a imagem da sua relação. E de certo modo, a história tem aquele tom clássico, a pender para o cliché - mas ao mesmo tempo a Kody faz umas coisas interessantes com os lugares-comuns e dá-lhes uma volta.

É um livro pequenino, bem giro, que se devora e que encanta pela escrita da autora e pelo tom sincero com que escreve. Pelas personagens que dá gozo acompanhar e pela história simples, mas com significado. Não será a última vez que leio esta autora.

Páginas: 352

Editora: Hodder & Stoughton

4 comentários:

  1. Ainda bem que gostaste. Eu adorei este livro na altura em que o li. Sinceramente dos que li dela até hoje foi o que mais gostei. Hás-de ler o livro dela que tem duas short stories (penso que seja Secrets & Lies), tem um conto sobre uma das amigas da Bianca e é também bastante engraçado.

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    1. Agora fiquei curiosa para ler mais coisas dela! Não pensei vir a gostar tanto. ^_^ E gostava de ler mais sobre a Casey e a Jessica, gostei mesmo que não fossem personagens estereotipadas. :)

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    2. Não me lembro qual, mas é uma delas que tem protagonismo no conto que eu falei. E vai sair um livro novo com outros personagens passado neste cenário, logo há uma grande probabilidade de termos direito a mais Bianca e mais Wesley. Yeaaaaaah

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    3. Sei que uma das protagonistas deste novo livro é a irmã do Wesley, por isso, talvez. Gostava bastante de os ver, especialmente se tiver passado algum tempo. Adorava ver o que lhes aconteceu. ^_^

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