segunda-feira, 17 de abril de 2017

100 Hours, Rachel Vincent


Opinião: Esta é uma pequena mudança de género e de tom para a autora; nunca lhe vi um livro tão claramente a pender para o thriller. E que bem que me soube: devorei-o num instante a passei uns bons bocados com ele.

100 Hours conta com essa premissa mesmo, decorre em 100 horas, e descobrimos o que decorre nelas com duas primas e o seu grupo de amigos. Maddie é a "boazinha", e desaprova o comportamento VIP da prima. Genesis é a herdeira de um império de transportes, e age como se toda a gente estivesse à sua disposição.

No caso, é bem verdade. O que eram para ser umas férias nas Baamas para o grupo de amigos, acaba por ser uma escapadela à Colômbia, a reboque da Genesis, que quer ver o país de origem da sua família. A visita das praias mais recônditas expande-se para uma expedição no meio da selva - onde os jovens são interceptados e raptados por um grupo cujos motivos não são os mais óbvios...

Diverti-me bastante com a parte inicial, a descrição de um grupo de jovens maioritariamente rico, habituado a fazer o que quer. Pode ser um pouco exagerado; mas por outro lado, acho esta parte algo credível. Acredito que com dinheiro e liberdade, qualquer um podia portar-se de forma mais excêntrica.

Além disso, diverti-me a ler sobre gente não "boazinha": miúdos que se embebedam, fazem a festa, traem o namorado, dizem coisas ridículas sobre as amigas. De certo modo é realista também, na forma como adolescentes adoptam comportamentos extremos. E achei refrescante o tipo de comportamento deles.

Gostei mesmo da Genesis. Tem um feitio lixado, é cheia de si, tem a mania que sabe tudo e guia os amigos como se fosse dona da vida deles, age como uma herdeira mimada, comete pecados difíceis de aceitar. Gosto que seja difícil de gostar, alguém tão obviamente não-"boazinha". Gosto do outro lado que ela revela, a adolescente treinada pelo pai para todo o tipo de situações perigosas, a pessoa analítica e inteligente, lutadora com experiência e dotada de um tipo de lealdade que a impede de deixar quem quer que seja para trás.

A Maddie também tem o seu quê de interessante. Cedo na história atravessa-se-lhe um momento complicado, algo que eu achava que a autora não ia ter coragem de fazer... pontos bónus por tê-lo feito. Tem um desafio suplementar - é diabética e a bomba de insulina portátil precisa ainda assim de ser reposta. Sem grandes capacidades, vai longe e dá o seu contributo para avançar a narrativa e ajudar os seus. (E o Luke é amoroso, especialmente na sua dedicação canina e determinada.)

A meio da narrativa a acção começa a sério, e os motivos dos raptores são bem diferentes do óbvio, e é fascinante ver essas revelações mostrarem-se... nem sequer tem exactamente a ver com as nossas protagonistas, mas mais com os, digamos, pecados dos seus respectivos pais. Aquilo que descobrios é altamente sugestivo e intrigante.

A parte final, então, é de roer unhas. A reviravolta é muito boa, e fascina-me pensar nas suas implicações; além disso, as acções involuntárias da Genesis provocam uma tragédia muito maior do que ela esperava, e estou curiosa em ver como isso a afecta no segundo livro. Por fim, temos um cliffhanger do mal, o estado de toda a gente fica em suspenso, e lá volto eu a roer as unhas.

Dois destaques ainda: a maneira como a situação actual na Colômbia é apresentada. A autora tenta desmistifcar algumas das ideias preconcebidas sobre o país, creio eu. E como a narrativa mostra um grupo de emigrantes a ser bem sucedido nos EUA. Isso é muito interessante.

Por fim, tenho a dizer que não sendo particularmente extraordinária, esta é uma boa história, que me deu gozo acompanhar, com um tom que me agradou e um conjunto de personagens cativante de acompanhar, e cujo resultado espero com curiosidade no próximo ano.

Páginas: 368

Editora: Katherine Tegen Books (HarperCollins)

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