sábado, 29 de abril de 2017

Four Weddings and a Sixpence, Julia Quinn, Elizabeth Boyle, Laura Lee Guhrke, Stefanie Sloane


Opinião: Normalmente cansa-me ler antologias. Sabem sempre a pouco, e os autores nem sempre sabem trabalhar o formato em seu favor - levando a que as histórias pareçam por vezes apressadas e soem insatisfatórias. Pode-se dizer que é mais ou menos o caso de todas estas histórias: a diferença entre elas é a mestria com que as autoras me fizeram esquecer disso.

A premissa da história é apresentada em Something Old, uma espécie de prólogo pela nossa Julia Quinn, a cabeça de cartaz: quatro amigas numa escola de internato encontram um sixpence, que as lembra duma rima sobre casamento, e decidem ficar com a moeda e partilhá-la para lhes dar sorte. Adorei seguir a amizade das raparigas através dos contos, pessoas tão diferentes e ainda assim com algo em comum.

(Picuinhice do dia: são todas loiras ou descritas como próximo disso. Eu sei que estatisticamente os ingleses são mais loiros que, digamos, um povo latino, mas raios, nem uma morena? Ou uma ruiva, que estaria também bem adequada? A variedade de personalidades não se traduz fisicamente? Para compensar, quase todos os pares delas são morenos de olhos azuis. Yep, que grande variedade aí também.

E mais picuinhice: ugh, detesto este tamanho de livro dos mass market paperback. São minúsculos e um incómodo para manusear, ainda mais quando o papel é bem mais rígido do que devia ser. Se houvesse alternativa, podem crer que teria apostado nela.)

Something New, Stefanie Sloane: Anne Brabourne tem dois problemas. O tio quer muito que ela case antes dos 21 anos, ou leva-a para o campo; no entanto, ela não quer casar por amor (o casamento dos pais foi deveras tempestuoso), e quer encontrar um marido maleável. Entra em cena Rhys, duque de Dorset, que fica a saber do dilema dela e se oferece para opinar acerca dos homens em sociedade que encontrar e do seu potencial como maridos. Só que a coisa não lhes corre de feição, quando ele começa a encontrar defeitos em todos e ela começa a sentir emoções que não desejava.

Achei este muito apressado. Ao fim dum encontro, e já estão obcecados um com o outro. Era o género de coisa que seria melhor preenchida num livro completo. Eles têm química, no entanto, e gostei de ter os parentes respectivos a torcer por eles e tentar empurrá-los um para o outro. O final é engraçado, pela preocupação dela, mas a cena de sexo caiu um bocado do ar. Aquele capítulo podia ter sido usado para os desenvolver melhor.

Something Borrowed, Elizabeth Boyle: Já Cordelia Padley tem apenas um problema: disse às tias que tem um noivo, para elas pararem de lhe inventar pretendentes. Só que agora elas querem conhecê-lo. Entra em cena Kip Talcott, o noivo presumido, que se tornou conde e teve de assumir responsabilidades inesperadamente. Ambos partilharam em crianças o amor pela aventura e por explorar o mundo, mas isso parece coisa do passado.

Este soou-me a apressado mais pela rapidez com que o Kip entra na farsa do noivo. Estava pronto a pedir outra moça em casamento e tudo - por motivos mercenários, mas mesmo assim... porque de resto, é uma história bem divertida, em jeito de comédia. Os protagonistas reaproximam-se rapidamente, mas posso acreditar nisso, pela história partilhada. Adorei terem as tias dela a torcer por eles e cientes do que se passava. Adorava ter uma história para o Drew, o irmão menos sério dele, e para a Kate, a chaperone dela. (Talvez uma para a Pamela, a ex-futura noiva, que é tão mal tratada pela história.)

Something Blue, Laura Lee Guhrke: Lady Elinor Daventry tenciona ajudar o pai no que toca a uma acusação sobre o seu comportamento em tempos de guerra, e a maneira que encontra é casar com um homem influente que o ajude. Conta com a moeda mágica para lhe dar sorte, mas Lawrence Blackthorne tem objectivos contrários: é o advogado de acusação num processo contra o pai dela, e rouba-lhe a moeda como forma de a atrapalhar. Lawrence era, até há seis meses, noivo de Ellie, até lhe pedir algo extremo - apoiá-lo contra o pai no processo que investigava.

Achei o Lawrence um pouco parvalhão, pois esperava que a Ellie o apoiasse contra o próprio pai sem sequer confiar nela no que toca ao porquê; mas o conflito em si foi credível e o que me fez gostar tanto da história. O drama moral é interessante, especialmente opondo pessoas que foram comprometidas. É claro que a história ganharia se fosse um livro completo, mas funcionou assim para mim. (Achei amoroso que na vida passada deles, enquanto comprometidos, passassem o tempo a escapulir-se para curtir.)

... and a Sixpence in Her Shoe, Julia Quinn: e é por isso que a Julia é a nossa rainha, contando uma história, vá, apressada (tem o menor número de páginas disponível) - a corte dá-se numa semana e dois ou três encontros -, mas incrivelmente é cativante e interessante e curiosamente credível.

Beatrice Heywood vive com as tias idosas, cuidando delas e esforçando-se para manter a economia familiar. É sonhadora, leitora e uma estudiosa autodidacta de astronomia nas horas vagas. (Não acredita no poder da moeda, mas usa-a na mesma, para apaziguar as amigas.) Lord Frederick Grey-Osbourne é um académico, mas um acidente trágico deixou-o cego dum olho e descrente da sociedade. Até que tropeça quase literalmente na rapariga cabeça no ar que o faz confrontar com a sua situação...

Por mais curta que seja, gostei mesmo desta história; a Julia construiu-a duma forma inteligente. Primeiro porque gera uma discussão sobre a incapacidade do Frederick: é claro que há pessoas que vão pensar menos dele, ou que isso o diminui... mas também há pessoas que vão vê-lo pelo que é - um resmungão.

Caso da Bea, que quando lhe dá um encontrão por estar a olhar para as nuvens, recebe maus modos. E depois fica a olhar fascinada para ele, mas para o olho saudável dele, que é azul da cor do céu... e o Fred interpreta-a mal, pensando que ficou arrepiada com o olho cego. Achei este momento interessante porque o fez confrontar com o autopreconceito, e o obrigou a deixar de ter pena de si mesmo. (Além disso, a Bea tem uma curiosidade académica sobre o que é que o olho dele ainda pode fazer, que preconiza a existência do nervo óptico. É um momento intrigante, e tem o bónus de o desarmar.)

Depois, a história é inteligente porque mostra como estes dois são compatíveis, e como este é um encontro de iguais: ambos têm interesses académicos, e consegue-se ver como sendo parceiros, vão apoiar-se e ajudar-se um ao outro.

Bónus para um encontro rumo aos telescópios universitários, a que a Bea nunca teve e nunca poderia ter acesso, e que é amoroso pelos dois juntos; e pela tia dela que faz de chaperone e finge que está muito cansada para os deixar sozinhos. O final é no casamento dela, reunindo as quatro amigas, e é tão engraçado, entre decidirem o que fazer à moeda e meterem-se umas com as outras por ninguém ter esperado pelo casamento para pintar a manta... e especularem se a Bea também o fez. (E quando entra, metem-se com ela, mas passa-lhe ao lado, tipicamente alheada.)

Páginas: 416

Editora: Avon Books (HarperCollins)

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