quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Em Chamas, Suzanne Collins


Opinião: Pouco tempo depois de ter vencido os Jogos da Fome, Katniss Everdeen prepara-se para o Passeio da Vitória, a ronda que o vencedor dos Jogos faz pelos vários distritos de Panem. Mas apesar de ter sobrevivido, isso não significa que esteja fora de perigo: a façanha que permitiu que a Katniss e o Peeta escapassem dos Jogos da Fome com vida está a ser interpretada pelas pessoas como um acto de rebelião, e o Presidente Snow ameaça-a pessoalmente para se comportar durante o Passeio. Mas quando toda a Panem está figurativamente a pegar fogo, será que a agitação vai parar?

Depois do quão absorvente foi Os Jogos da Fome, achei que não podia gostar tanto dos outros livros, mas enganei-me felizmente. Em Chamas começa com a Katniss e o Peeta no Passeio da Vitória, mas cedo podemos aperceber-nos que as pessoas estão inquietas, e que o barril de pólvora metafórico está prestes a rebentar. Achei bastante interessante ver como as coisas pareciam piorar de dia para dia para o Capitólio e como os sinais da rebelião vão aparecendo aos poucos. A Revolta (o título do terceiro livro) está aí a rebentar.

Os Jogos do Quarteirão foram uma das minhas partes favoritas. Temos uma certa sensação de repetição, porque já vimos como os Jogos funcionam no primeiro livro, mas os tributos escolhidos refrescam a situação. Acho que foi um erro tremendamente estúpido do Capitólio manipular as coisas de modo a que os tributos fossem vencedores passados. É que estes não são miúdos manipuláveis e assustados, são pessoas que já mataram e sobreviveram a uma provação terrível, sabem pensar por si próprios e fazer o Capitólio parecer mal-visto.

Aliás, como se vê nas entrevistas com o Caesar Flickman - os vencedores usam o circo mediático que o Capitólio constrói em torno dos Jogos da Fome para criticar o regime vigente. Adorei especialmente a maneira como o Cinna e o Peeta usaram este momento para "atiçar o fogo" da insurreição. A da Cinna porque foi muito corajoso desafiar o Capitólio e o presidente Snow daquela maneira e a do Peeta porque quase morri a rir quando ele larga aquela... bomba verbal dele. Não podia ter escolhido melhor maneira de lançar algum caos, até mesmo entre os habitantes do Capitólio.

Na arena... até tive pena de não poder conhecer melhor alguns dos vencedores. Deve ser um grupo interessante, pelo que vimos da Wiress e do Beetee, da Johanna e do Finnick, da Mags e até da Seeder e do Chaff. A arena desta vez é bastante engenhosa - assim como a maneira que o Beetee arranja para virar os Jogos contra si mesmos.

A Katniss... acho que a Suzanne Collins faz um excelente trabalho com ela. Consegue dar-lhe muitas nuances e construir uma personagem sólida. Todas as dúvidas, defeitos e inseguranças dela são as de uma pessoa real. Até a grande indecisão entre o Gale e o Peeta. Está a acontecer tanta coisa ao mesmo tempo que seria difícil a qualquer um focar-se na sua vida amorosa. Se bem que ainda não foi desta que consegui ver grande coisa do Gale ou perceber porque é que a Katniss gosta dele. O Peeta já nós sabemos que é awesome, uma pessoa bem resolvida, e (nas palavras da Katniss na arena) "o melhor deles todos" (os vencedores).

O fim... Suzanne Collins, não sabes fazer um fim minimamente fechado? Tens que incitar ardentemente a imaginação e curiosidade das pessoas? Se bem que acho que começo a compreender o que se vai passar no terceiro livro. Não sei os pormenores em específico, mas foi impossível ignorar os comentários e queixas das pessoas quando o livro saiu.

Honestamente, do que sei até agora, não me admiro nada. A Katniss é uma pessoa que vê as coisas "a preto e branco", que não gosta nada de manipulações e enganos, e é algo dada a guardar rancor, por isso as revelações das últimas páginas devem tê-la deitado abaixo. Apesar de ela ter reflectido neste livro a certa altura sobre ser um símbolo da revolta, acho que estava preparada para ser um símbolo morto, um mártir, não um símbolo vivo. Ela própria reconhece que não seria capaz de inspirar as pessoas.

Ainda mais irónico é ela e o mimo-gaio serem o símbolo da revolta. O mimo-gaio (mockingjay), um pássaro que foi originado pelo cruzamento entre uma ave selvagem e um palragaio (jabberjay), que por sua vez foi um animal manipulado duplamente pelo Capitólio e pelos rebeldes na primeira revolta. Tendo em conta isto, mais o facto de que a Katniss foge do sofrimento psicológico a sete pés, mais a maneira como ela se estava a tentar alhear nas últimas duas ou três páginas, mais a grande bomba que o Gale lança na última frase... oh, tenho a certeza que A Revolta vai ser um livro explosivamente dramático.

Título original: Catching Fire (2009)

Páginas: 268

Editora: Presença

Tradução: Jaime Araújo

5 comentários:

  1. É interessante ver alguém com uma opinião tão diferente da minha.

    Adorei o 1º volume, mas achei este muito fraquinho, especialmente por causa da qualidade inferior dos combates na arena e de Katniss ser uma personagens tão tapadas, estando demasiado preocupada em proteger o Peeta para fazer alguma coisa de jeito.

    Concordo que houveram certas personagens secundárias, especialmente entre os tributos, que valeram a pena. Achei interessante o desenvolvimento da vida de Katniss e Peeta depois dos primeiros jogos (como todos os seus traumas) e gostei de saber mais sobre o passado de Haymitch, mas de resto não me incentivou a perder tempo com o terceiro volume.

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  2. Sei que estou na minoria, mas gostei mesmo deste. Não dei tanta importância ao regresso à arena, porque só aparece no último terço do livro, e havia tanta coisa a acontecer que não senti que fosse a parte mais significativa do livro. Mas fez-me falta conhecer melhor os tributos, tal como já tinha feito no livro anterior. Aqui ainda mais, porque sendo todos vencedores de Jogos passados, devem ter umas boas histórias para contar.

    Concordo que a Katniss tem muitos defeitos, e um deles é ver só aquilo que está mesmo à frente dela, mas acho que são as suas falhas o que me faz gostar mais dela - não é a típica heroína. A melhor comparação que posso fazer é com o personagem Fitz, da Saga do Assassino da Robin Hobb, não sei se já leste - mas o Fitz farta-se de fazer asneiras, está cheio de defeitos, não concordo com a maior parte das decisões que ele toma, mas é um dos meus personagens favoritos.

    Pelos comentários que tenho lido, imagino que o terceiro livro esteja ainda mais distante do primeiro que este, por isso suponho que fazes bem em afastar-te dele. Parece ser o livro mais... controverso dos três.

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  3. Vou concordar contigo P7, o 1º volume acabou por ser os jogos em si e muitas coisas estavam por explicar e penso que este volume acabou por ser um excelente contibuto para isso.

    Tambem gostei muito do primeiro volume, sem duvida, mas faltava ali algo.

    E digo-te que não te enganas nada quanto ao 3 volume, vais ter mais uma leitura compulsiva, tal como os anteriores.

    Para isto ter atingido o máximo, só faltou aqui umas mortes crueis, tipo Martin, mas vais ter uma ou outra surpresa ;)

    BJ

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  4. Acho que "explosivamente dramático" é a expressão certa :/

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  5. Certo, queremos herói com defeitos, mas esta em particular mexeu-me com os nervos. É uma questão de feitios... Mas ainda bem que existe tanta gente a gostar, comigo a autora não se safava, pois o que me atraiu em primeiro lugar foi o timbre de "battle royale pós-apocalíptica".

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