Opinião: Este era o único livro da Jane Austen que me faltava ler - tenho tido muita sorte com esta autora, em vários momentos da minha vida tenho tropeçado num ou outro livro dela e apanhei-os em momentos em que já tinha maturidade para apreciar certas nuances que os livros nos apresentam.
No caso deste, é talvez o mais controverso da autora, a par de Emma, ambos por apresentarem heroínas atípicas. Da Emma a autora chegou a dizer que ia criar uma heroína que ninguém além dela fosse gostar, ou seja, tornou-a propositadamente difícil de gostar - chego a atrever-me a dizer que a Jane se deve ter divertido à grande a criar uma menina rica armadona em boa do século XIX.
No caso da Fanny, há duas, ou até três, vertentes que afastam o leitor dela. A primeira é que nos outros romances austenianos temos heroínas cujo objectivo, mais ou menos explicitamente, é casar e alcançar a felicidade através dum bom casamento (se bem que têm conceitos diferentes deste termo). A Fanny, por outro lado, nunca considerou casar como um objectivo de vida, seja pela sua posição social em relação aos tios e às primas, seja porque o seu coração esteve desde sempre ocupado, e acho que ela nunca considerou que o desejo do seu coração se realizasse.
A segunda vertente, mais ou menos relacionada com a anterior, é que a Fanny tem um sentido fantástico de quem é e de onde pode ir ou quem pode ser. Todas as outras protagonistas de Austen debatem-se com o seu lugar no mundo e tentam perceber os limites que a vida e o mundo lhes impõem. Assim, a Fanny tem menos por onde evoluir como pessoa, e com a sua perspectiva mais calma, quase epicurista, da vida, acaba por parecer uma protagonista fraca.
Uma terceira vertente é que a Jane, vendo que não ia ter trabalho nenhum com a Fanny, dedicou-se a criar uma espécie de comédia de costumes, em que usa e abusa, muito mais que em qualquer livro dela, do comentário social. Diversas situações são-nos apresentadas, em que a autora aproveita para criticar comportamentos e atitudes, dando ao leitor a oportunidade de apreciar a moralidade delas. Isto é muito visível nalgumas personagens que contrastam, como Edmund e o seu pai contra a Maria e a Júlia, e a Mary e o Henry.
Resta-me apontar pequenas minudências em que reparei na leitura, mas isso pode ficar para outra (re)leitura. Gostava de ver agora algumas adaptações, para poder comparar agora que li o livro. Nunca vi a de 1999, e sinto que as pessoas são demasiado duras para com a de 2007, e por isso gostava de as (re)ver.
Título original: Mansfield Park (1814)
Páginas: 448
Editora: Book.It
Tradução: Mafalda Dias
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