terça-feira, 19 de março de 2013

Dearly, Departed, Lia Habel


Opinião: Uau, eu adorei este livro e estou de tal modo impressionada com o que a Lia Habel fez aqui que até estou de boca aberta. É porque o livro tem uma série de coisas que podiam actuar contra si, mas a autora consegue fazê-las funcionar duma maneira extraordinária. (E ainda melhor, tem um sentido de humor que me agrada.)

Primeiro, os zombies. Nunca percebi porque é que as pessoas acham tanta piada dos zombies, nem nunca vi filmes com zombies. (O meu único contacto com os mesmos foi o livro Guerra Mundial Z - gostei -, e The Walking Dead, primeira temporada da série e primeiro livro - também gostei, mas ainda não tive vontade de continuar a ver). Contudo, gosto muito mais do que a Lia Habel faz aqui. Cria uma série de explicações fisiológicas e científicas para, quando voltam à vida, se tornarem nos monstros irracionais ou manterem a sua humanidade. E a explicação para o que causa a doença é fantástica, e muito bem pensada. Pontos bónus para a autora.

Depois, o cenário. Para além de zombies, temos um bocadinho de uma história distópica/pós-apocalíptica (mais pós-apocalíptica, na verdade), e steampunk com uma base Vitoriana, e incorporação de outras tecnologias que não a do vapor. Toda esta mistura podia soar estranha e irreal, mas a autora consegue, não sei bem como, criar uma mistura interessante que me fez querer que ela revelasse mais deste mundo. Os primeiros capítulos têm um maior peso no worldbuilding, mas não os achei aborrecidos, pelo contrário, li com prazer.

E por fim, o romance. Até me apetece chorar de alegria por não ter tido de aturar um insta-love, porque se há história que não funcionava com isso, era esta. A reacção da Nora ao conhecer o Bram e os outros zombies é compreensivelmente os berros e o "tirem-me daqui", e lentamente, ao conhecê-los melhor, percebe que estas pessoas mantêm aquilo que eram antes de morrer, e que vale a pena conhecê-las. Melhor, a Nora e o Bram aproximam-se depois de se conhecerem como pessoas (uma lição sobre beleza interior aqui, pessoal), respeitam-se (a Nora não faz birra porque o Bram tem de ir para a guerra dar porrada a zombies e pode morrer, o Bram não a patroniza nem a trata como inútil mas faz o que pode para a manter segura... e tendo em conta que eu já vi as atitudes contrárias por aí, isto é quase miraculoso), e têm consciência que a sua ligação não é ideal, tem muitos entraves, e não vai durar para sempre. É um par interessante, e apetece-me dar-lhes um abraço, bolas. E a Lia Habel consegue fazer-me esquecer durante grande parte da história que ei, estas pessoas estão a apodrecer, lentamente mas estão, e nem me lembrei do factor nojento.

Adorei, adorei as duas protagonistas femininas da história. Sim, a Nora é tecnicamente a protagonista, mas eu vou proclamar a Pamela, a melhor amiga da Nora, como protagonista também, porque ela merece. A Pamela é a âncora da Nora quando ela esteve em baixo, é uma miúda que se debate com o seu lugar no mundo, mas não deixa que lhe dêem ordens, é esperta e percebe logo que há algo de errado, mas não quer ser ovelha e esperar que "o governo" lhe diga para panicar, e melhor, pega num arco a meio da história para salvar a família e basicamente vai dar porrada aos zombies. E no fim ainda dá uma lição a um snobezito armado em bom.

Por outro lado, a Nora é uma rapariga que não encaixa no modelo de lady Vitoriana normal, fica fascinada a ver documentários de guerra e não tem paciência para as exigências da sociedade. O que se resolve com um quase-rapto por zombies maus que a leva a aterrar no campo dos zombies bons. A sua reacção ao vê-los é a expectável (medo e fecha-se num quarto), mas ao conversar com o Bram ganha coragem e atreve-se a sair para a base, exigindo andar por ali armada com uma pistola e uma caçadeira, e ainda consegue com que o Bram se ofereça para a ensinar a lutar com uma espada. Ela chega a oferecer-se para lutar com a Companhia Z (a dos zombies bons)! E adoro quando está fechada no quarto e põe toda a gente em sentido quando larga aos berros, a pedir pelo Bram.

Quanto ao Bram, é um cavalheiro, com mais profundidade que esperava, e um líder, gostei de o ver a lidar com os zombies que o seguiam. Desenvolve uma atracção pela Nora, mas resiste, porque lembra-se de tudo o que não pode oferece-lhe. Respeita, ajuda-a, e preocupa-se com ela. Achei muito divertido como ele não consegue fechar a boca e revela tudo à Nora a certa altura. E a sua atitude ao ceder-lhe armas para a fazer sentir segura, e ao ensinar-lhe como usar a espada e como lutar contra zombies. É uma atitude melhor que a do Wolfe, que queria tratar a Nora como uma boneca de porcelana e como uma inútil.

Falando no Wolfe - para além do Bram, da Nora e da Pamela, mais dois personagens têm direito a capítulos no seu POV (ponto de vista), o Wolfe e o Victor -, era um personagem um pouco óbvio, no seu comportamento, e achei os seus POVs os menos úteis da narrativa, porque não esclarecem tão bem as suas motivações. Do Victor não posso falar muito sem spoilar, mas os seus capítulos ajudam a compreender outro lado da narrativa, apesar de não serem estritamente necessários para a mesma. (E numa nota à parte, acho piada a ver opiniões no Goodreads a queixarem-se da mudança de POVs. Meus caros, ide ler George R.R. Martin e depois falamos, sim? Depois do Martin, mudança de POVs é coisa que não me incomoda nem faz confusão, até gostei, por poder ver a perspectiva dos três personagens principais, a Nora, o Bram, e a Pamela.) Entre os outros personagens, gostei do grupo de amigos do Bram, principalmente da Chas ("Details!"), e do Renfield. E estou intrigada com a Vespertine Mink e o seu papel nos próximos livros, e com o Dr. Sam.

A história em si avança lentamente no início, mas nunca a achei aborrecida, porque estava mesmo tão cativada com o worldbuiding e as explicações que as páginas voaram. A partir do meio, a narrativa ganha intensidade, com a descoberta dos zombies em New London, e adquirindo um aspecto survivalista. Achei muito interessante a evolução da perspectiva do público em geral em relação aos zombies - de ignorância a "ok, alguns deles mantêm-se sãos, vamos ter de os aceitar na sociedade?" (o horror! a tragédia! num mundo cheio de regras e costumes, a confusão que os não-mortos vão gerar...). Acho que isto tem um grande potencial para ser explorado nos próximos livros.

Os últimos capítulos são um pouco mais apressados, no sentido em que cobrem várias semanas (em vez de vários dias no resto da história), e a Lia conseguiu pregar-me um susto ali a certa altura, mas apreciei o que ela estava a tentar fazer, fechando a história o mais que podia. No entanto, descobre-se uma certa coisa mesmo antes da última página, que vai dar pano para mangas no próximo livro, portanto diria que a história fica também algo em aberto. Oh, quero muito ver o que vai acontecer a seguir.

Páginas: 480

Editora: Del Rey/Ballantine Books (Random House)

20 comentários:

  1. EU AMEI ESTA COISA!! QUERO MAIS!!! JÁ!!!

    *fase de fã histérica terminada*

    Acertámos em cheio neste *.*

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    1. Jackpot, mesmo. Esta coisa das distopias/pós-apocalípticos está a correr muito bem, primeiro o Cinder e depois este... a minha vontade é ir a correr mandar vir o segundo, como fiz com o Scarlet. xD

      Ah... ainda estou meio com a cabeça no ar por causa do livro. É tão boa a sensação. :D

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  2. Muito bem mesmo =O Eu ainda perco cabeça com este e mando vir em inglês mas primeiro vou esperar que a Contraponto me responda...

    Eu nem sei o que vou ler a seguir =$

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    1. Vá, vais ver que publicam. ;) Também só há o segundo, não lhes custava muito...

      Dá-lhe um descanso para pensares no livro, se calhar antes de escreveres a opinião nem consegues pegar noutro, pelo menos comigo acontece assim, com estes livros bons. ;)

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  3. Mesmo, podiam ser queridos =x

    Se calhar vou é começar a escrever a opinião, a ver se me acalmo...

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    1. Faz isso, eu se não tivesse escrito esta, andava aqui a trepar as paredes de excitação. xD E depois se esperasse, era pior, esquecia-me de certeza de metade do que queria dizer... xD

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  4. I knew it XD Eu sabia que vocês iam adorar! :) Tenho aqui o 2º para ler, o problema foi a sinopse tuga que era uma vergonha! Parecia romance de YA sem brain (pun non-intended). Eu comecei a ler este livro para gozar com ele... e não consegui, porque é muito bom para YA e para zombies :) Ontem li um livro paranormal onde o gajo literalmente quase que violava a rapariga duas vezes... what happened to men? Como é que um zombie consegue ser melhor do que um homem?

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    1. Bem, foi mesmo fabuloso... Já dormi sobre o assunto e ainda estou super animada com o livro. ;) Haja alguns livros que nos surpreendem! :D

      *vai ler a sinopse em pt* Isto parece-me familiar... *vai ler a sinopse em ing* Pois, não admira que fosse uma vergonha, traduziram quase literalmente a sinopse em inglês, e é claro que assim aquilo não faz sentido nenhum. -.-

      (E se é para escreverem coisas como esse que descreves, mais valia certos autores estarem sentadinhos e quietos, realmente... :O)

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  5. Não chegaste a ir ver o Warm Bodies? Este livro lembrou-me imenso desse filme (não vou dizer livro porque gosto mais da heroína versão filme, tal como gosto da Nora), com a Nora a manejar uma arma e tudo.
    Confesso que preferia que o livro não tivesse aqueles POVs todos, preferia só ter os da Nora e os do Bram. :p

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    1. Nop, não não cheguei a ver... e se a história é assim tão parecida, mais não ir ver, não? :S

      Oh, não digas isso... nem a Pamela e a sua awesomeness? Como é que sabíamos o que é que se estava a passar em New London?

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    2. Mas mas mas eu não queria saber do que se estava a passar em New London, só do que se passava entre o Bram e a Nora ahah xD

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    3. On other news: o meu precious baby Scarlet CHE-GOU :3

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    4. Vamos ler!!! Vamos, vamos, vamos? *grins*

      Btw, estou a rir-me muito com uma "conversa" que estás a ter no Tumblr. ;)

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    5. OMG, viste?? (cuidado que andam lá spoilers p o CP2!!)
      xD Estou na linha de fogo neste momento, o hate às vezes não pode ser ignorado, tem de ter resposta. É todos os dias diversão sem fim naquela tag. B*TCHES ARE GOING DOWN :MWAHAHA:

      Quando queres ler? xD

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    6. Acho que a única pessoa que eu sigo que poderá falar de CP2 é a Cassandra Clare, e ela não há de pôr spoilers tão cedo, pelo menos sem avisar. (Espero eu.)

      Oh, eu nem me aproximo da tag, porque não vale a pena tanta negatividade, mas gostei que desses uma descasca a essa pessoa. xD Ainda não percebi porque é que aquele pessoal se mantêm a falar daquilo se não gostam.

      Vou acabar aquele que estou a ler ainda hoje, portanto estou disponível para começar amanhã, se quiseres. ;)

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    7. Exacto, cada um pensa e diz o que quiser mas supostamente vai-se às tags no tumblr para fangirlar, e é a primeira vez que acontece eu visitar uma e pimbas, HATE HATE HATE *DIÁRIO* sem pés nem cabeça, gente constantemente (as mesmas pessoas e tudo) a chorar sobre o leite derramado, a postar cenas tristes... WHY...É bater no ceguinho, também tive os meus preferidos quando saíram aqueles nomes, e acho que todas nós fizemos figas para não ser este ou aquele, mas está escolhido, assunto encerrado, daqui para a frente é só fangirling yeah!!---estava bem enganada. O__O Acreditas que já li um post em que alguém dizia que o Theo e o outro que vai fazer de Eric tinham 50 anos? FOR REAL??? Esta gente quer ter problemas.
      É oficialmente a semana do meu meltdown no Tumblr por causa do Divergent.
      Mas olha que aquilo está equilibrado, e eu diria até que a maior parte do fandom já se habituou à ideia do casting, vê-se pelos posts de imagens e gifs, QUE EU FAÇO TODA A QUESTÃO DE FAZER REBLOG QUASE SEMPRE. xD DIVERGENT, DIVERGENT EVERYWHERE.

      Ok, amanhã, parece-me bem. Mais alguém queria ler lá no grupo? não me recordo...

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    8. Damn, este pessoal deixou-te mesmo irritada. xD Gods, 50 anos? Mas estes meninos precisam de óculos? :P Só negatividade, afasta-te do tag que ainda vais ter um AVC. ;)

      Isto lembra do Twilight, em que as pessoas chegavam a dizer mal do cabelo do Pattinson, e agora é a característica mais reconhecida do franchise (sim, ainda estou a falar do cabelo dele xD). Vais ver, daqui a uns anos toda a gente se baba pelos músculos do Theo ou assim. xD

      A Patrícia disse que ia esperar pela edição portuguesa, as outras meninas não se manifestaram... achas que vale a pena abrirmos um tópico? Pelo menos ficava aberto para comentários ao longo do ano, se mais alguém quiser ler.

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    9. Muito! Mas já bloqueei algumas haters de maneira que as idiotices delas já não me aparecem na dash, ou realmente um dia tinha um AVC, e eu quero estar viva para ver o filme.
      É por estas e por outras que se calhar é melhor não fazerem filmes dos livros da Juliet, era para eu me incomodar constantemente.

      Uns anos? dá-lhes uns mesitos! deixa aparecer imagens das filmagens e assim, que eu até vou ter pena de já não saber onde as haters andam para ver como mudaram de opinião.

      Sim, acho que sim, abre lá um tópico, quanto mais não seja para a posteridade. xD

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    10. Ahahaha, agora fizeste-me conjurar uma imagem mental hilariante: o anúncio de irem fazer um filme de Sevenwaters, e tu à paulada com os palermas que se atreverem a dizer mal da Sorcha ou do Red. xD

      Feito, tópico aberto.

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    11. I WOULD HUNT THEM ALL DOWN. Nem é bom pensar. ;_____;

      Okidoki!

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