sábado, 31 de julho de 2010

A Lenda do Cisne de Jules Watson

Sinopse: Um druida profetizou no momento do nascimento de Deirdre que ela seria a mais bela mulher depois de Helena de Tróia e que, devido a essa maldição de beleza, os homens lutariam por ela e o reino seria dividido. Criada na floresta, em reclusão, Deirdre não recebe qualquer visita a não ser a do rei cujo desejo em que ela se torne sua mulher tornar-se-á numa obsessão. Baseado num célebre mito irlandês, a história de amor entre Maeve - a rainha guerreira - e os seus desamores.

Opinião: Deirdre cresceu quase reclusa, por ordem do rei dos Ulaid, com ideias de vir a casar com ela. Quando faz 17 anos, ele decide que é chegado o tempo de se casar com ela. Mas Deirdre, um espírito livre, apercebe-se que não precisa de casar com o rei se não o deseja, e convence 3 irmãos, Naisi, Ardan e Ainnle a ajudá-la a fugir e resolver a sua situação. Mas o rei, com a ideia fixa do casamento, rapidamente faz com que haja uma escalada de violência à volta do assunto, e Deirdre e os 3 irmãos não vêem outra hipótese senão fugir do país. Será que alguém verdadeiramente compreenderá o espírito livre de Deirdre? Será que ela poderá alguma vez ser completamente livre, e respeitada pelo que é?

Tendo por base um cenário/tempo/cultura muito parecidos com aqueles explorados por Juliet Marillier nos seus livros, este livro poderá agradar aos fãs da mesma. É uma história épica, com amor, amizade, intriga e traição à mistura; e é aparentemente baseada numa lenda céltica. Toda a atmosfera é bastante mágica e etérea, e há uma ligação muito forte à Natureza, especialmente por parte de Deirdre.

Mas... e há sempre um mas... não me consegui ligar a este livro. Não consigo perceber porquê. Eu gosto dos livros da Juliet Marillier (os que li, pelo menos), portanto não é da temática. O último livro da Juliet que li, li-o em 2 dias, tendo 400 páginas. Com este, já vou no 6º dia e só li 534 (o livro tem 624 páginas, salvo erro). Estou decidida a parar por aqui, pois li o suficiente para ver onde vai parar a história, e não me consigo ligar suficientemente à mesma para continuar a ler. Creio que a escritora tem uma escrita elaborada, mas não é por isso. Acho que é a maneira como ela conta as coisas: acontece muita coisa no enredo, mas a maneira como ela escreve as coisas parece muito "parada" e descritiva e por vezes parece mesmo que ela está a engonhar, e eu dou por mim a vaguear com os pensamentos para outro lado, porque não me consigo prender à história. Raramente me acontece isto num livro, e por isso estou desgostosa, porque também raramente deixo um livro por acabar, mas não consigo acabá-lo agora.

Outra crítica que tenho a fazer é a edição. Quer dizer, 25 euros? Se não tivesse ganho o livro num passatempo, não teria comprado o livro, ou se o fizesse provavelmente dava o dinheiro como mal gasto. E a sinopse está um bocado mal feita, pois
Baseado num célebre mito irlandês, a história de amor entre Maeve - a rainha guerreira - e os seus desamores.
A rainha Maeve é apenas mencionada no livro, que pega numa parte da lenda da mesma em que ela entra muito pouco, por isso dizer que é sobre a rainha Maeve é enganar o leitor. E a frase "a história de amor entre Maeve e os seus desamores" parece-me mesmo muito mal construida.

Em resumo, penso que posso recomendar este livro, particularmente a fãs da Juliet Marillier ou interessados nos mitos irlandeses, mas com alguma cautela para o tipo de escrita. Ou talvez seja preciso estar no estado de espírito certo.

Título original: The Swan Maiden (2009)

Páginas: 624

Editora: Bertrand

Tradutor: Miguel Luz

domingo, 25 de julho de 2010

Anel Oculto de Anne Bishop

Sinopse: Depois de nos maravilhar com a Trilogia das Jóias Negras, a autora regressa ao mundo que a fez vencer o prémio Crawford Memorial Fantasy Award. Desta vez para nos contar a história de Jared, um Senhor da Guerra de jóia vermelha. Jared transgrediu todas as regras ao assassinar a sua rainha. Mas no reino dos Sangue, são poucos os homens que podem sobreviver sem estar sob a vigilância de uma rainha. Conseguirá Jared enfrentarar os seus próprios demónios e descobrir o significado de estar verdadeiramente ligado a uma Rainha?

Anel Oculto é um livro isolado, mas tem laços com os acontecimentos da trilogia — especialmente pela presença do inesquecível Daemon Sadi. O mundo de Bishop continua a ser gótico, sensualmente perigoso e por vezes violento. Um prazer de leitura para os fãs, e uma excelente descoberta para os novos leitores que são apresentados a uma sociedade complexa, exigente, e carregada de personagens tão reais que arrepiam.

Opinião: Mais um livrinho da série das Jóias Negras, este passa-se cronologicamente antes da trilogia, e complementa a criação do mundo dos Sangue. É sobre Jared, um homem vendido como escravo de prazer que acabou de matar a última Rainha que o possuia, e Lia, uma jovem corajosa e bondosa que está de uma certa maneira relacionada com a Senhora Cinzenta da qual muito se fala, neste livro e também na trilogia.

É bom poder ler um livro com personagens deste mundo que não têm umas Jóias tão poderosas, e poder ver o mundo dos Sangue da sua perspectiva. Também é muito bom poder ver descritos alguns dos acontecimentos que levaram à corrupção dos Sangue descrita na trilogia, e ver a Dorothea ser uma mazona, porque já duvidava das suas capacidades, pois na trilogia não se vêem muito depois de o Daemon lhe fugir. É interessante o personagem do novo Guarda-Mor que ela adopta, pois podemos ver ao longo deste livro a sua corrupção por Dorothea e evolução em malvadez.

As personagens, precisamente por serem menos poderosas, permitem-nos focar mais no aspecto das relações e laços que se formam entre elas, acabando por se delinearem algumas das personagens mais deliciosas do mundo das Jóias Negras. Por outro lado, entra em cena por dois ou três capítulos um velho conhecido, Daemon Sadi, durante o período em que é um escravo de prazer possuido por Dorothea. Podemos ver que já neste momento ele sonhava com a Feiticeira que havia de vir e que é o foco da trilogia... Outro momento de destaque é a cena final de confronto, que é mencionada de passagem no fim do Rainha das Trevas, precisamente por existir um paralelismo entre o que Jaenelle faz nesse livro e Lia neste.

Óptimo complemento para a trilogia, com uma boa tradução (como sempre), recomendável a quem goste deste mundo mas também a quem se queira introduzir no mesmo.

Título original: The Invisible Ring (2000)

Páginas: 368

Editora: Saída de Emergência

Tradutora: Cristina Correia

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Os Leões de Al-Rassan de Guy Gavriel Kay

Sinopse: Imagine uma Península Ibérica de fantasia, durante o período sangrento e apaixonante da Reconquista, onde realidade e fantasia se entrelaçam numa história poderosa e comovente

Inspirado na História da Península Ibérica, Os Leões de Al-Rassan é uma épica e comovente história sobre amor, lealdades divididas e aquilo que acontece aos homens e mulheres quando crenças apaixonadas conspiram para refazer – ou destruir – o mundo. Lar de três culturas muito diferentes, Al-Rassan é uma terra de beleza sedutora e história violenta. A paz entre Jaddites, Asharites e Kindath é precária e frágil, mas é precisamente a sombra que separa os povos que acaba por unir três personagens extraordinárias: o orgulhoso Ammar ibn Khairan – poeta, diplomata e soldado, o corajoso Rodrigo Belmonte – famoso líder militar, e a bela e sensual Jehane bet Ishak – física brilhante. Três figuras cuja vida se irá cruzar devido a uma série de eventos marcantes que levam Al-Rassan ao limiar da guerra.

Opinião: Bem, este livro foi uma boa surpresa e uma bela montanha-russa de emoções. Passa-se num espaço muito similar à Península Ibérica, num tempo muito próximo do da Reconquista Cristã em que 3 povos, e religiões, conviviam num equilíbrio precário. Neste mundo, convivem jaditas (= cristãos), adoradores de Jad, o deus sol; kindates (= judeus), adoradores das duas luas, branca e azul, existentes nesse mundo; e asharitas (= muçulmanos), adoradores das estrelas e Ashar.

São-nos apresentados 3 personagens representativos de cada uma das religiões, respectivamente Rodrigo Belmonte, militar, Jehane bet Ishak, médica e Ammar ibn Khairan, que é um pouco de tudo. Num acaso do destino, os seus caminhos cruzam-se; num tempo de turbulência e intolerância religiosa, irão formar um laço de amizade e, dados as circunstâncias, fazer o melhor que podem com as cartas que lhes calham.

Ainda bem que estive a ler este livro nas férias; se o lesse em tempo de aulas, no trajecto casa-faculdade no autocarro, as pessoas haviam de pensar que viajavam ao lado de uma maluquinha, por eu estar a dar risadinhas/lacrimejar/gritar algum impropério ao escritor. Pois a sua escrita é elaborada mas muito cativante, descrevendo cenários, personagens e acções de uma forma que os torna muito reais e que nos deixa completamente imersos na história. Outra coisa de destacar é as reviravoltas que o enredo dá e que não estamos à espera, ou o uso de linguagem deliberadamente vaga ou até evitar falar de determinado personagem durante um bocado (cheguei a estar 80 páginas para saber o que tinha acontecido a uns personagens secundários!) para nos manter em suspenso durante mais um pouco.

Recomendado a todos os que gostam de uma boa história, com um toque de fantástico e de história alternativa, de personagens fascinantes e de um enredo complexo mas muito interessante.

Título original: The Lions of Al-Rassan (1995)

Páginas: 548

Editora: Saída de Emergência

Tradutor: João Henrique Pinto

segunda-feira, 19 de julho de 2010

As Fabulosas Aventuras de Salomão Kane de Robert E. Howard

Sinopse: "Era um homem nascido fora do seu tempo... estranha mistura de Puritano e Cavaleiro, com uma pincelada de filósofo antigo, e muitas de pagão...Um desejo na alma guiava-o, uma urgência em corrigir todas as injustiças, proteger os mais fracos...Tão travesso e inquieto como o vento, era consistente apenas numa coisa: a fidelidade aos seus ideais de justiça e honestidade. Assim era Salomão Kane.”

Salomão Kane é uma das personagens mais carismáticas e apaixonantes da literatura fantástica. Criado por Robert E. Howard há quase um século, as suas aventuras estendem-se da Inglaterra do sec. XVI às florestas remotas de África, onde nenhum homem branco alguma vez colocara o pé. Esta é a saga de um homem destinado a combater fantasmas vingativos, demónios sanguinários e a mais negra magia, armado apenas com a sua espada e a sua fé. Um clássico a não perder!

Opinião: Vê-se mesmo que estes contos já foram escritos há algum tempo. Não por o seu conteúdo ser datado (e não é), mas porque acho que já não se escrevem livros de aventuras como este. Com uma escrita elaborada e ao mesmo tempo sucinta, Robert E. Howard pinta-nos um cenário, uma acção, um diálogo de maneira muito completa e satisfatória; cria aqui também um personagem muito interessante, Solomon Kane, herói errante, misterioso e recto.

O início da leitura foi algo relutante, mas depois comecei a entrosar-me nas histórias e acabei por gostar muito. Os contos têm alguma continuidade, pois há aventuras decritas num conto que são mencionadas num conto posterior. Destaque ainda para a edição, a capa, os desenhos introduzidos nas páginas entre o texto e o próprio tipo de letra, que ajudam a apreciar os contos. É composto pelos seguintes contos:

As Caveiras nas Estrelas: Kane, em viagem na Inglaterra, tem de escolher entre dois caminhos, um pela charneca, outro pelo pântano. As pessoas na aldeia mais próxima avisam-no contra o caminho da charneca, onde muitos homens têm desaparecido. Decide investigar e descobre um fantasma em busca de vingança.

A Mão Direita do Destino: Um feiticeiro condenado à morte procura vingança do homem que o traiu; Kane é uma testemunha involuntária da execução dessa vingança.

O Chocalhar de Ossos: Kane encontra um viajante que lhe parece familiar. Ficam juntos numa estalagem cujo dono não será honesto...

A Lua de Caveiras: Kane procura uma jovem inglesa raptada; em África, encontrá-la-à em Negari, uma cidade secreta, escrava de Nakari, a rainha vampira de Negari.

As Colinas dos Mortos: Kane recebe um bastão de N'Longa, feiticeiro africano, e segue viagem. Vai descobrir uma terrível cidade de vampiros e pedirá ajuda a N'Longa à distância.

Asas na Noite: Kane encontra uma vila habitada por uma tribo africana assolada por terríveis hárpias

Os Passos no Interior: Kane cruza-se com esclavagistas muçulmanos que levam uma tribo africana para ser vendida; tenta ajudá-los mas ele próprio é capturado... e decobrirá a importância do bastão que lhe foi dado por N'Longa.

O Regresso a Casa de Salomão Kane: único texto em forma de poema, relata, como o nome indica, o regresso de Kane à sua terra natal, em Inglaterra.

Título original: não se aplica; o título mais próximo é The Savage Tales of Solomon Kane (1968), que contém estes contos e mais alguns

Páginas: 192

Editora: Saída de Emergência

Tradutores: Luís Rodrigues, Jorge Candeias, Rogério Ribeiro, Luís Miguel Rocha, Safaa Dib

sábado, 17 de julho de 2010

Eis o Homem de Michael Moorcock

Sinopse: Quando a ficção-científica é de excelente qualidade, chamam-lhe literatura. Este é um desses casos...

Karl Glogauer é um homem dos nossos tempos. Quando o destino lhe oferece a possibilidade de viajar no tempo, ele não tem dúvidas quanto ao lugar e à época que quer visitar: a Terra Santa no tempo de Jesus. Mas o que poderia ser uma viajem turística à morte do Messias e ao nascimento da maior religião do mundo revela-se uma desilusão: Maria é a libertina da aldeia, José um velho amargo e Jesus Cristo apenas um deficiente mental.

Devotado ao ideal de um Jesus real e histórico, Karl acredita que tem de fazer alguma coisa. Reunindo seguidores, repetindo parábolas que consegue recordar e usando truques psicológicos para simular milagres, Karl toma o lugar do Messias. Mas fará sentido um Messias que, no final, não morra na cruz?

Opinião: Neste livro, acompanhamos Karl Glogauer em episódios do seu passado, que são intercalados com, e complementam, a acção principal, passada em 28-29 D.C. no Médio Oriente. Karl sempre se debateu com questões importantes acerca do cristianismo, como será que a ideia precedeu a realidade de Jesus Cristo? ou será que o cristianismo se baseou apenas numa mitificação? e se sim, será que isso altera os valores fundamentais do mesmo?
 
Tendo oportunidade de viajar no tempo, Karl escolhe o tempo e o espaço de Cristo, um pouco antes da sua crucificação. Crente na existência de um Jesus real e histórico, praticamente enlouquece ao descobrir que Jesus, filho de José e Maria, morador em Nazaré, é um deficiente mental. Focado em tornar real a existência do Cristo mitificado, apaga a sua própria identidade e assume a de um messias pregador, fazendo milagres explicáveis à luz da ciência do século XX e seguindo o percurso de Cristo descrito na Bíblia, fazendo cumprir inclusivé profecias ou comprometendo os seus seguidores para executar os últimos momentos de Cristo.
 
Lidando com a dualidade mito/realidade histórica, este livro curto põe o leitor a pensar nas questões anteriormente formuladas. A minha leitura foi rápida, mas apreciei-a muito, por fazer pensar nos fundamentos da religião cristã. Sendo sucinto, Moorcock consegue transmitir a mensagem e escrever uma narrativa muito interessante. Destaque ainda para uma Nota do Autor introduzida no final do livro, em que este fala de algumas leituras que o influenciaram filosoficamente neste contexto e da sua relação com a religião.

Título original: Behold the Man (1969)

Páginas: 96
 
Editora: Saída de Emergência
 
Tradutor: Luís Rodrigues


sexta-feira, 16 de julho de 2010

Os Ossos do Arco-Íris de David Soares

Sinopse: Uma vila assombrada por um misterioso visitante, vestido de negro, que traz consigo matilhas de cães. Uma alma prisioneira num corpo imprevisto que se transforma em algo que não deveria existir. Uma criatura fantástica que descobre a sua identidade com a ajuda de um inabilitado. Associando fantasia, realismo mágico e horror, David Soares convida-nos para uma viagem que não voltaremos a esquecer.

Opinião: Contém 3 contos: Cara-em-Obras, Hinos a um Ser Superior e Os Ossos do Arco-Íris. Já tenho ouvido falar muito deste escritor, e finalmente tive oportunidade de verificar o porquê de tantos elogios. Também pude perceber a classificação desta obra de realismo fantástico - se por um lado lida com situações com aspectos apenas existentes na imaginação do autor e de quem lê, por outro apresenta-nos cenas muito realistas.

A expressão que melhor descreve a minha leitura é primeiro estranha-se, depois entranha-se - durante o primeiro conto só conseguia pensar que raios, quem é que se lembra destas coisas?; a leitura dos outros já foi muito mais rápida e menos relutante. A escrita é muito elaborada, contendo derivações, descrições, introdução de factos e de outros personagens - se ao início não percebemos o que têm a ver com a trama principal (ou sequer qual é a trama principal), quase sempre estes aspectos estão enovelados de alguma maneira com a mesma. No entanto a escrita é muito crua e forte, descrevendo situações incómodas e que não agradarão a todos. Recomendado apenas a quem não seja muito sensível a tais coisas.

Páginas: 160

Editora: Saída de Emergência

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Na Sombra do Dragão de J. R. Ward

Sinopse: Nas sombras da noite da cidade de Caldwell, em Nova Iorque, trava-se uma guerra territorial entre vampiros e seus caçadores. Ali, existe um bando secreto de irmãos sem igual - seis guerreiros vampiros, defensores da sua raça. Possuído por uma criatura mortífera, Rhage é o mais perigoso membro da Irmandade da Adaga Negra.

Na irmandade, Rhage é o vampiro com o apetite mais forte. É o melhor lutador, o mais rápido a reagir aos impulsos e o amante mais voraz - pois dentro dele arde uma maldição feroz imposta pela Virgem Escrivã. Refém do seu lado mais obscuro, Rhage receia as vezes em que o seu dragão interior é libertado, tornando-o um autêntico perigo para todos os que o rodeiam.

Mary Luce, uma sobrevivente das teias mais trágicas da vida, é atirada, sem querer, para o mundo vampírico, ficando dependente da protecção de Rhage. Vítima da sua própria maldição fatal, Mary não está em busca de amor. Perdeu a fé nos milagres há muitos anos. Contudo, quando a intensa atracção animal de Rhage se transforma em algo mais emocional, ele sabe que deve ligar Mary a si próprio. E, enquanto os seus inimigos se aproximam, Mary luta desesperadamente para ganhar a vida eterna junto daquele que ama...
 
Opinião: Pus-me a ler este livro para descansar um bocadinho, mas acabei por lê-lo em pouco mais de um dia. Já tinha lido o primeiro da série e sabia mais ou menos o que me esperava, e apreciei-o por isso. Apesar de toda a moda dos vampiros, a autora apresenta-nos a sua interpretação da mitologia vampírica, criando um mundo interessante. O equilíbrio entre mitologia e romance é bom, se bem que penso que no livro anterior nos eram revelados mais aspectos da mitologia - talvez precisamente por ser o primeiro livro da série.
 
Gosto da ponte que é feita entre a mitologia, os personagens e as relações dos mesmos entre si. Um bando de homens da Irmandade a lutar e a viver na mesma casa é algo engraçado de ver, e a autora lida bem com essas cenas. A caracterização, sem ser exagerada, dá aos vários personagens da Irmandade uma personalidade distinta. A parte do romance também me parece bem construída, sem exagerar nas cenas íntimas entre os personagens principais (tanto na quantidade como na qualidade), nem nos deixar a perguntar como é que eles caíram nos braços um do outro tão depressa.
 
Um aspecto que me deixou menos convencida com o enredo deste livro foi o facto de o anterior ter um antagonista e um clímax no final do livro que são imediatamente resolvidos; neste livro, há um antagonista e uma situação que não tem o seu final neste livro - creio que serão resolvidos no próximo livro, sendo um motor de aproximação entre os 2 personagens principais do mesmo. Por um lado, esta situação deixou-me desiludida, mas por outra estou interessada em ler o próximo livro para ver como a história se desenvolve a partir daí - poderá até ser um artifício de escrita bem usado. Em geral, um romance com elementos sobrenaturais bem elaborado e que promete um bocado bem passado.

Título original: Lover Eternal (2006)

Páginas: 436
 
Editora: Casa das Letras
 
Tradutora: Maria Margarida Malcato

segunda-feira, 12 de julho de 2010

O Dom Volume II de Alison Croggon

Sinopse: Segunda parte do primeiro livro da saga 'As Crónicas de Pellinor'. Intitulado "The Gift" conta-nos a história de uma criança que perde os pais na guerra de Pellinor. Maerad, a criança, vem a descobrir que tem um maravilhoso Dom, mas não sabe o que fazer com ele. Só quando é descoberta por Cadvan, um dos grandes bardos de lirigion, a verdade da sua herança é revelada e Maerad saberá que tem de sobreviver às forças das trevas.

Opinião: Neste livro a jornada de Maerad continua, começando com a sua partida de Innail, atravessando Edil-Amarandh até Norloch, enfrentando toda a espécie de seres malignos, o cansaço da viagem, encontrando um irmão, um Elementar e pessoas que acreditam em si.

Sendo parte do mesmo manuscrito, este livro tem a mesma vibração tolkieniana que o anterior. A escrita continua lírica e descritiva; chegou a uma altura em que eu suspirava cada vez que havia uma enumeração de coisas, fossem flores, ervas aromáticas, frutas no mercado ou comida numa cozinha. Até fiquei a gostar da escrita da autora, apesar de geralmente não ser fã deste tipo de escrita, mas a paixão dela por enumerações é um pouquinho exagerada. Além disso, a escrita descritiva acaba por imprimir um ritmo estranho à história - momentos de aceleração intercalados com momentos retardados.

Maerad começa por ser uma jovem escrava, mas cresce e desabrocha ao longo da história, tornando-se mais confiante em si mesma, aprendendo com os erros mas mantendo uma juvenilidade com que os mais jovens se poderão identificar. Apreciei sobretudo a escritora fugir aos clichés e tornar o Predestinado desta história uma rapariga, como Maerad, em vez de um rapaz. Espero mesmo que isto facilite na introdução de raparigas ao género fantástico, dominado geralmente por rapazes.

Outra coisa que aprecio é a vulnerabilidade transmitida por Maerad. Pode ser capaz de destruir um wight, mas ainda tem o período. É familiar de um Elemental, mas maravilha-se ao encontrar o irmão que julgava morto. São os pequenos momentos de normalidade que tornam a história mais real. As personagens que a rodeiam são interessantes e bem construídas; fiquei com vontade de descobrir mais sobre o bardo Cadvan.

O final põe Maerad em fuga, possivelmente em posição de ser perseguida por todos os bardos, mas ao mesmo tempo já é um Bardo reconhecido. Fiquei satisfeita com o final mas ao mesmo tempo insatisfeita - agora quero ler o livro seguinte.

Título original: The Gift/The Naming (2001) [2ª metade do original]

Páginas: 304

Editora: Bertrand

Tradutora: Irene Daun e Lorena; Nuno Daun e Lorena

domingo, 11 de julho de 2010

O Dom Volume I de Alison Croggon

Sinopse: O primeiro livro de Alison Croggon publicado em Portugal, intitulado O Dom, conta a história de uma criança que perde os pais na guerra de Pellinor.

Maerad, a criança, vem a descobrir que tem um maravilhoso Dom, mas não sabe o que fazer com ele. Só quando é descoberta por Cadvan, um dos grandes bardos de lirigion, a verdade da sua herança é revelada e Maerad saberá que tem de sobreviver às forças das trevas.

Sobre este livro escreveu a Bookseller que é «…uma história mágica que nos lembra Tolkien. É uma aventura cheia de paixão, personagens cativantes e cenários de enorme beleza. O Dom é uma história poderosa e marca o início de uma magnífica saga fantástica.»

Opinião: O livro começa com uma nota da autora, em que esta afirma que a história que vamos ler é uma tradução do Enigma da Canção da Árvore, ou Naraugh Lar-Chanë, uma lenda da civilização perdida de Edil-Amarandh. Um aviso que é altamente credível, tanto que a autora teve que colocar uma nota no seu website dedicado às Crónicas de Pellinor lembrando que os livros são ficcionais.

A história foca-se em Maerad, uma jovem escrava numa pequena aldeia descoberta por Cadvan, um bardo que a reconhece como outro da sua espécie. Neste livro, os bardos são pessoas que nascem com o Dom, a capacidade de usar a Palavra, uma espécie de linguagem mágica com a qual não se pode mentir, e que é usada em várias vertentes da arte e ciência, como componentes de um todo, o Conhecimento.

Maerad é ajudada a fugir por Cadvan, e ambos passam por alguns apertos até chegarem a Innail, uma das cidades-escola onde são treinados os bardos. Lá Maerad é apresentada a alguns bardos, mas rapidamente Cadvan chega à conclusão que terão de partir, pois relatos inquietantes percorrem o continente de Edil-Amarandh, onde se passa a história.

Como mencionado na sinopse, pode-se de facto fazer uma comparação entre esta história e Tolkien, ainda mais quando a própria autora se confessa uma fã de Tolkien. E há certamente muitas parecenças: a geografia (o mapa incluido no livro mostra uma geografia que me lembra a da Terra Média); a inclusão de apêndices sobre a língua, história e sociedade dos bardos; a própria Palavra é reminiscente da linguagem élfica de Tolkien; a história em si, enquanto a lia, dava-me uma sensação épica pouco frequente e que só posso associar ao Senhor dos Anéis.

Contudo, é redutor dizer que este livro é uma cópia de Tolkien. A criação de bardos é uma coisa interessante e que presentemente não me parece ter equivalente na saga tolkieniana. A autora, conhecida anteriormente a este livro pela sua poesia, tem uma linguagem muito cuidada e descritiva que denota a sua capacidade lírica - aspecto que ao início me dificultou a leitura. Mas cedo me habituei à sua escrita; e Maerad e Cadvan são personagens cativantes, que nos levam a seguir avidamente as suas aventuras.

O ritmo neste livro é algo lento, mas isso deve-se ao facto do original em inglês ter sido partido em duas partes, das quais esta é a primeira, correspondendo portanto à introdução ao mundo e aos personagens, sendo por isso menos rápido no desenrolar da história. Isso leva a que Maerad, e também o leitor, fiquem sem saber de muita coisa, o que pode ser um pouco frustrante, e potencialmente afastar alguns leitores - mas aí só se podem pôr as culpas na edição.

Pela promessa que a história demonstra, pelos personagens e até pela escrita, penso que vale a pena dar uma oportunidade ao segundo volume. Fiquei cativada e com vontade de pegar no mesmo.

Título original: The Gift/The Naming (2001) [1ª metade do original]

Páginas: 216

Editora: Bertrand

Tradutores: Irene Daun e Lorena; Nuno Daun e Lorena

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Jóia Perdida de Anne Bishop

Sinopse: Neste enfeitiçado volume do mundo das Jóias Negras, um escritor enlouquecido descobre que é descendente dos Sangue. Mas quando percebe que os seus sonhos de grandeza e fama são apenas uma fantasia, decide vingar-se. Os Sangue vão pagar caro por o substimarem e a primeira vítima vai ser a família SaDiablo.

Surreal SaDiablo e o Príncipe Rainier recebem um convite para visitar uma velha mansão que personifica os mitos e poderes mágicos dos Sangue. Mas a mansão é, na verdade, uma poderosa armadilha mortal para capturar outros Sangue e usá-los como marionetas para inspirar a sua escrita. As suas vidas dependem agora de um jogo de enigmas.

Enquanto Surreal e Rainier lutam para escapar à armadilha mortal, Daemon Sadi e o seu meio irmão Lucivar preparam-se para aparecer no máximo das suas forças. E prometem que quem os provocou, vai arrepender-se...

Opinião: Um escritor plebeu, Jarvis Jenkell [JJ], descobre que é Sangue; escreve então alguns livros com um personagem que descobre que é Sangue, num espelho da sua situação, mas não é por isso que será aceite. O último livro que está a preparar contém este seu personagem a ficar preso numa casa assombrada.

Coincidentalmente, Jaenelle decide criar uma casa arrepiante, ao saber de muitos preconceitos que os plebeus têm sobre os Sangue, e parece que é aí que JJ se passa - cria uma casa assombrada mortal e convida Surreal, Lucivar e Daemon de modo a que estes pensem que é uma convocatória de Jaenelle. Por sorte, só Surreal e Rainier entram na casa, mas têm de enfrentar alguns feitiços bem criados por Viúvas Negras.

Apreciei muito poder passar mais um livrinho com os SaDiablo, pois estes personagens criados pela Anne Bishop são muito carismáticos e engraçados. Foi interessante ver a Surreal e o Rainier presos na casa assombrada do escritor, e a situação é descrita como se fosse um filme de terror. Intercaladas com estas cenas, temos o Daemon e a Jaenelle a tentar perceber a situação de fora e o Lucivar... bem está entretido com a Marian e o Daemonar. Mas quando aparece, é para rebentar com a casa, hehe.

A Surreal e o Rainier fazem por merecer a descasca que o Lucivar lhe reserva no final. Eu sei que não há filmes de terror no mundo dos Sangue, mas bolas, acho que aprendemos com os mesmos que andar a vaguear por uma casa assombrada não é boa ideia. O escritor criou um casa assombrada mesmo à filme de terror, mas creio que a sua revolta não é exactamente justificada. Podia ter resolvido a sua situação de muitas outras maneiras, se compreendesse como funcionam os Sangue, mas aí também foi mal-aconselhado... Devia ter procurado saber como são os Sangue de uma fonte mais segura. Aquilo que descobriu erradamente levou a que direccionasse a sua cólera injustificada contra os SaDiablo... E ninguém se mete com os SaDiablo, logo espera-se que a coisa não corra bem para o lado do escritor.

Temos também algumas cenas em que podemos conhecer um pouco melhor alguns personagens desta família, muito boas. O livro em si pode parecer irrelevante para a trilogia, mas eu leria qualquer coisa com estes personagens magníficos criados pela Anne Bishop. A escrita continua boa, a história em si é um bónus e os personagens iguais a si mesmos. Recomendo a quem adora o mundo das Jóias Negras.

Título original: Tangled Webs (2008)

Páginas: 320
Editora: Saída de Emergência

Tradutora: Cristina Correia

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Teias de Sonhos de Anne Bishop

Sinopse: Teias de Sonhos é a forma ideal de travar conhecimento com o mundo negro e fantástico de Anne Bishop. Depois da aclamada Trilogia das Jóias Negras, Teias de Sonhos vai ainda mais longe e faz incidir a luz sobre os acontecimentos mais ocultos do passado de cada uma das suas fascinantes personagens.

Qual a origem das jóias e do seu poder? Qual o passado de Saetan, o Senhor Supremo do Inferno? O que esconde a vida pessoal do misterioso Lucivar? Conseguirá Jaenelle ser feliz ou terá sacrificado a sua felicidade com Daemon para poder salvar o mundo?

Com um enredo tão sensual quanto perverso, Anne Bishop oferece-nos mais uma prova irrefutável de ser uma das vozes mais fortes da dark fantasy.

Opinião:
Tecedeira de Sonhos
Um conto curtinho, mas muito interessante sobre a criação da Aranha Tecedeira de Sonhos. Achei um bocado confuso ao início, mas apreciei conhecer a origem duma personagem com alguma importância na trilogia e a sua relação com a antiga raça que originou os Sangue.
 
O Príncipe de Ebon Rih
Passado entre o 2º e o 3º livros da trilogia, ficamos a saber como Lucivar e Marian se conheceram. Lucivar tem um feitiozinho dos diabos, por isso é curioso ver a mulher que lhe dá a volta. É muito gira a maneira como discutem e se aproximam ao mesmo tempo um do outro. Também é interessante a maneira como a Marian é introduzida e aceite na família SaDiablo. Fiquei foi chateadíssima com a interferência da Luthvian, porque demonstra o quão mesquinha é; além de que gostava que se fosse para ela se intrometer, fosse uma intromissão de jeito, isto é, mais composta, assim só pareceu que ela é patética. Mas talvez seja mesmo para sublinhar a sua mesquinhez. Outra coisa interessante foi o desenvolvimento entre Lucivar e Karla. Gosto tanto da personagem dela que saber mais qualquer coisa sobre a Senhora "beijinho, beijinho" é uma bênção.
 
Zuulaman
É a resposta à pergunta sobre porque é que Saetan não tentou recuperar Daemon ou Lucivar quando estes lhe foram tirados quando eram crianças. Descobrimos o que aconteceu ao 3º filho de Saetan e Hekatah - não é bonito -, vemos quão malvada ela verdadeiramente é e descobrimos aquilo que Saetan é capaz de fazr quando destroçado e destruído.
 
O Coração de Kaeleer
Ocorre após o 3º livro da trilogia, dá-nos as respostas que o fim deste livro possa ter deixado quanto ao destino de algumas personagens. Duas feiticeiras maliciosas que escaparam à "purga" ocorrida no 3º livro e começam a espalhar rumores maliciosos sobre Daemon que poderão magoar Jaenelle: A relação de ambos está fragilizada depois do "Rainha das Trevas", mas ironicamente esta interferência acaba por ajudar a juntá-los. Ficamos a saber mais sobre a nova jóia da Jaenelle. A Surreal e o Lucivar também aparecem, com resultados engraçadíssimos. Daemon, no fim, ensina às feiticeiras o que é dançar com o Sádico. Podemos assistir ao casamento de Daemon e Jaenelle, tão giros e como se adoram!
 
Título original: Dreams Made Flesh (2005)

Páginas: 400

Editora: Saída de Emergência
 
Tradutora: Cristina Correia

terça-feira, 6 de julho de 2010

Sangue-do-Coração de Juliet Marillier

Sinopse: Uma floresta assombrada. Um castelo amaldiçoado. Uma jovem que foge do seu passado e um homem que é mais do que parece ser. Uma história de amor, traição e redenção...

Whistling Tor é um lugar de segredos, uma colina arborizada e misteriosa que alberga a fortaleza deteriorada de um chefe tribal cujo nome se pronuncia no distrito em tons de repulsa e de amargura. Há uma maldição que paira sobre a família de Anluan e o seu povo; os bosques escondem uma força perigosa que pronuncia desgraças a cada sussurro.

E, no entanto, a fortaleza abandonada é um porto seguro para Caitrin, a jovem escriba inquieta que foge dos seus próprios fantasmas. Apesar do temperamento de Anluan e dos misteriosos segredos guardados nos corredores escuros, este lugar há muito temido providencia o refúgio de que ela tanto precisa.

À medida que o tempo passa, Caitrin aprende que há mais por detrás do jovem desfeito e dos estranhos membros do seu lar do que ela pensava. Poderá ser apenas através do amor e da determinação dela que a maldição será desfeita e Anluan e a sua gente libertados...

Opinião: Sou nova no universo da Juliet Marillier (li até agora apenas os livros da Saga das Ilhas Brilhantes e O Espelho Negro das Crónicas de Bridei), mas este foi um dos livros que mais gostei. A narradora fala na 1ª pessoa e tem uma voz muito forte. Começa por ser uma jovem rapariguinha assustada, Caitrin, que, num rasgo de coragem, foge de parentes abusivos e chega a Whistling Tor [WT]. É aqui que conhece Anluan, o chefe da zona, um jovem aleijado, mas acima de tudo reprimido por achar que não é capaz. WT é um espaço de fantasmas, espectros e maldições e Caitrin irá mudá-lo para sempre.
 
Foi uma leitura fantástica, houveram momentos em que estava arrepiada para continuar a ler a história. A maldição sobre WT é terrível e afecta todos os moradores, mas também acabam por haver alguns bons momentos. A parte final é tristíssima, deixando-me à beira das lágrimas quase sempre, mas em geral adorei o livro, tão bonito como qualquer um da Juliet (pelo menos do que eu conheço), e com certeza ficará entre um dos meus livros favoritos; pelo menos é o meu livro favorito até agora da Juliet, juntamente com O Filho de Thor.

Uma última palavra de apreço pelo trabalho de tradução, pois é raro ler um livro sem tropeçar nalguma expressão que me pareça fora do lugar, ou mal traduzida (especialmente com o[s] tradutor[es] anterior[es] da JM). Mas li este livro duma ponta à outra sem uma sensação de estranheza em relação ao texto - parabéns à tradutora.
 
Editora: Bertrand
 
Tradutora: Marta Teixeira Pinto

domingo, 4 de julho de 2010

Rainha das Trevas de Anne Bishop

Sinopse: Há setecentos anos, num mundo governado por mulheres e onde os homens são meros súbditos, uma Viúva Negra profetizou a chegada de uma Rainha na sua teia de sonhos e visões.Incapazes de atingir Jaenelle, a jovem Rainha, os membros corruptos dos Sangue fazem um jogo perverso de diplomacia e mentira, procurando destruir aqueles que sempre deram tudo por ela. E revertem as culpas para o seu tutor, Saetan, que passa a ser visto como a maior das ameaças ao poder instituído.

Com Jaenelle como Rainha, a chacina do povo e a profanação das terras irá terminar. Porém, onde se fechou uma porta poderá abrir-se uma janela... E mesmo que Jaenelle possa contar com os seus aliados, talvez não seja suficiente: só um terrível sacrifício poderá salvar o coração de Kaeleer...
 
Opinião: Ler este livro foi como andar numa montanha russa: em cima, em baixo, em cima, em baixo... A primeira parte focou-se no retorno de Daemon, a sua integração na corte, as ameaças mais ao largo de Hekatah e Dorothea... Destaque para quaisquer cenas com Surreal, que com aquela feitiozinho e aquela boca grande deixa-nos na risota. As cenas sobre a interacção machos-fêmeas dos Sangue também são muito giras - as relações homens-mulheres são retratadas com o humor habitual de Bishop. A dança entre Daemon e Jaenelle, particularmente, deixaram-me a pensar "oh... tão fofos".
 
Foi bom rever algumas personagens que não haviam tido tanto destaque nos outros livros, como Wilhelmina, Surreal ou Daemon. E conhecer outras personagens como o Colmilho Cinzento. O que só me fez ficar mais entristecida com os acontecimentos na segunda parte. Houveram algumas mortes. O Daemon teve que fazer uma coisa difícil. A Jaenelle uma coisa ainda mais difícil. Mas em guerra, ou ameaça de guerra, por vezes vale (quase) tudo. Quando se pode perder toda uma terra, todo um povo... A purificação do povo dos Sangue acabará por ser a melhor e mais difícil escolha.
 
A segunda parte acaba por ser angustiante devido aos acontecimentos, e no fim não fica tudo bem, como num final cor-de-rosa. Mas o livro acaba definitivamente numa nota positiva, e isso é que me deixou completamente satisfeita com o final e com este último livro da trilogia.

Título original: Queen of the Darkness (2000)

Páginas: 400
 
Editora: Saída de Emergência
 
Tradutora: Cristina Correia

sábado, 3 de julho de 2010

Almanaque do Dr. Thackery T. Lambshead de Doenças Excêntricas e Desacreditadas

Sinopse: Publicado pela primeira vez em 1915, durante a I Grande Guerra, o Almanaque do Dr. Thackery T. Lambshead de Doenças Excêntricas e Desacreditadas foi durante trinta anos difundido a médicos de todo o mundo em folhas de carbono ou fotocópias. O trabalho do Dr. Lambshead inspirou génios clínicos de todo o mundo, e Portugal não foi excepção, encontrando no Dr. Anófeles Calamar Trindade e no seu Compêndio Médico de Doenças Notáveis e Invulgares uma referência incontornável. Por ocasião da primeira edição portuguesa do Almanaque, foi o próprio Dr. Lambshead, agora com mais de cem anos de idade, que decidiu confiar a edição às mãos capazes, se bem que ainda jovens, do Dr. João Seixas. É a ele que coube a tarefa de reunir novas descobertas propostas por um formidável leque de eminentes especialistas médicos portugueses, seguindo na peugada do grande pioneiro clínico Dr. Anófeles Calamar Trindade. Pela primeira vez, as suas descobertas são apresentadas num volume único e insubstituível, onde se juntam ao trabalho de colegas norte-americanos e britânicos de grande reputação como o Dr. Alan Moore, Dr. Neil Gaiman, Dr. Jeff Vandermeer ou o Dr. China Miéville, entre muitos outros.

Opinião: Para uma estudante de Saúde como eu, não podia deixar passar um livro destes. Apesar de saber que as doenças são fictícias, não pude deixar no fim da leitura de ter umas tendências ligeiramente hipocondríacas devido às doenças apresentadas.

A primeira parte do livro corresponde ao original inglês, que consiste numa variedade de maleitas apresentadas, umas muito giras, outras que me pareceram algo repetitivas, não na doença em si, mas no tipo de escrita, dado que alguns escritores contribuiram com mais que uma entrada para o Almanaque. No entanto, muitas das doenças apresentadas ficaram-me na memória, seja pela ideia ou pela maneira como foram descritas. Como conteúdos extra, para compor o aspecto de almanaque, temos por exemplo uma biografia e uma introdução do Dr. Thackery T. Lambshead, uma lista de memórias dos doutores que contribuiram para o almanaque e do seu encontro com o Dr. Lambshead, uma lista de doenças apresentadas em edições anteriores do almanaque nas várias décadas do século XX, e, por fim, pequenas biografias dos doutores que contribuiram para o almanaque. São estes complementos que dão veracidade ao almanaque e que tornam mais interessante a sua leitura.

Na segunda parte do livro, temos uma adição da edição portuguesa, o Compêndio Médico Calamar Trindade de Doenças Notáveis e Invulgares, com contrbuições portuguesas. Tem uma introdução e pequenas biografias dos contribuintes, mas foram as descrições das doenças que me chamaram a atenção, pois acabei por apreciá-las mais que às do original.

Em geral, foi um livro interessante de ler. Pude denotar um cuidado em pesquisar dados científicos para descrever algumas das doenças, como uma em que se falava do ciclo de vida duns parasitas. Como referi, algumas doenças deixaram-me meio hipocondríaca, apesar de não ser nada dada a essas coisas. Apreciei ler este livro e diverti-me muito a lê-lo.

Título original: The Thackery T. Lambshead Pocket Guide to Eccentric & Discredited Diseases (2003)

Páginas: 464

Editora: Saída de Emergência

Edição portuguesa organizada por João Seixas.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Herdeira das Sombras de Anne Bishop

Sinopse: Há setecentos anos, num mundo governado por mulheres e onde os homens são meros súbditos, uma Viúva Negra profetizou a chegada de uma Rainha na sua teia de sonhos e visões. Jaenelle chegou para ocupar o seu lugar, mas mesmo a protecção dos Senhores da Guerra não impediu que os seus inimigos lhe provocassem um terrível mal. Agora é necessário protegê-la até às últimas consequências. Mas será que ainda é possível recuperar Jaenelle? Há, no Reino, três homens dispostos a dar a sua vida pela Rainha prometida. Mas as atrocidades cometidas mostram que há quem esteja disposto a tudo para controlar ou destruir Jaenelle. Para todo o sempre.

Opinião: O primeiro livro desta série deixou-me com uma sensação dúbia - por um lado fiquei um pouco confusa com o mundo e a sociedade estruturados por Bishop, por outro o final deixou-me com vontade de dar uma oportunidade à escritora e continuar a ler a trilogia das Jóias Negras. Finalmente pude lançar-me a este segundo livro da série e fiquei completamente cativada.

O livro está dividido em 5 partes, em que em cada uma lemos sobre um dado período de tempo da história de Jaenelle. São-nos pintadas cenas, que são se traduzem subtilmente na passagem do tempo. Podemos acompanhá-la, e aos que a rodeiam, na tentativa de recuperação do que sofreu no livro anterior. Somos apresentados aos momentos negros e aos melhores momentos (não muitos por agora) - graças ao humor peculiar de Bishop, somos apresentados aos momentos em que Jaenelle faz qualquer coisa de extraordinário pelos olhos dos machos que a rodeiam, que ficam completamente sem palavras.

Graças aos maus momentos, Jaenelle sente-se relutante em formar uma corte, como Rainha dos Sangue de direito, No entanto, vai ficando rodeada de bons amigos, Príncipes de Guerra e Rainhas, que no final acabam por ser verdadeiramente uma corte. Ficamos a conhecer estes personagens (se bem que queria conhecê-los melhor), a são desenvolvidos outros personagens, como Lucivar, Saetan e os demónios-mortos que o rodeiam, que não conseguem deixar de mimar a Jaenelle, que é como uma filha para todos.

Daemon, preso no Reino Distorcido, aparece pouco durante o livro, dada a sua condição, mas faz todo o sentido na história e parece que já não será assim no terceiro livro. As vilãs, especialmente Hekatah, continuam a formar esquemas para dominar o poder que é Jaenelle, mas creio que falham em compreendê-la verdadeiramente, e aos laços que a ligam aos que a rodeiam, pois graças a isso os seus planos falham sempre, hehe.

Resumindo e concluindo, recomendo, pois o mundo de Bishop é negro mas delicioso, com um humor peculiar muito giro e uns personagens inesquecíveis.

Título original: Heir to the Shadows (1999)

Páginas: 432

Editora: Saída de Emergência

Tradutora: Cristina Correia