sábado, 17 de julho de 2010

Eis o Homem de Michael Moorcock

Sinopse: Quando a ficção-científica é de excelente qualidade, chamam-lhe literatura. Este é um desses casos...

Karl Glogauer é um homem dos nossos tempos. Quando o destino lhe oferece a possibilidade de viajar no tempo, ele não tem dúvidas quanto ao lugar e à época que quer visitar: a Terra Santa no tempo de Jesus. Mas o que poderia ser uma viajem turística à morte do Messias e ao nascimento da maior religião do mundo revela-se uma desilusão: Maria é a libertina da aldeia, José um velho amargo e Jesus Cristo apenas um deficiente mental.

Devotado ao ideal de um Jesus real e histórico, Karl acredita que tem de fazer alguma coisa. Reunindo seguidores, repetindo parábolas que consegue recordar e usando truques psicológicos para simular milagres, Karl toma o lugar do Messias. Mas fará sentido um Messias que, no final, não morra na cruz?

Opinião: Neste livro, acompanhamos Karl Glogauer em episódios do seu passado, que são intercalados com, e complementam, a acção principal, passada em 28-29 D.C. no Médio Oriente. Karl sempre se debateu com questões importantes acerca do cristianismo, como será que a ideia precedeu a realidade de Jesus Cristo? ou será que o cristianismo se baseou apenas numa mitificação? e se sim, será que isso altera os valores fundamentais do mesmo?
 
Tendo oportunidade de viajar no tempo, Karl escolhe o tempo e o espaço de Cristo, um pouco antes da sua crucificação. Crente na existência de um Jesus real e histórico, praticamente enlouquece ao descobrir que Jesus, filho de José e Maria, morador em Nazaré, é um deficiente mental. Focado em tornar real a existência do Cristo mitificado, apaga a sua própria identidade e assume a de um messias pregador, fazendo milagres explicáveis à luz da ciência do século XX e seguindo o percurso de Cristo descrito na Bíblia, fazendo cumprir inclusivé profecias ou comprometendo os seus seguidores para executar os últimos momentos de Cristo.
 
Lidando com a dualidade mito/realidade histórica, este livro curto põe o leitor a pensar nas questões anteriormente formuladas. A minha leitura foi rápida, mas apreciei-a muito, por fazer pensar nos fundamentos da religião cristã. Sendo sucinto, Moorcock consegue transmitir a mensagem e escrever uma narrativa muito interessante. Destaque ainda para uma Nota do Autor introduzida no final do livro, em que este fala de algumas leituras que o influenciaram filosoficamente neste contexto e da sua relação com a religião.

Título original: Behold the Man (1969)

Páginas: 96
 
Editora: Saída de Emergência
 
Tradutor: Luís Rodrigues


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